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Abraão Zacuto (1450-1522)
Luciano Pereira da Silva, foi do Almanach de Zacuto que se deduziram todas as tábuas solares quadrienais calculadas em Portugal até à publicação das tábuas do Sol de Pedro Nunes. Esta obra foi várias vezes reeditada ao longo dos séculos XV e XVI.
Redigido em hebraico, sob o título Hajibur Hagadol, o Almanach Perpetuum Celestium Motuum é constituído por um conjunto de tábuas astronómicas de diversos tipos e para diversos fins, precedidas de explicações ou cânones sobre o seu uso. O Almanach foi preparado para o ano raiz de 1473 (é essa a sua época, como se diz), o que significa que os números inscritos nas suas tabelas estão calculados para esse ano, ou para determinados períodos de vários anos que nele se iniciam, sendo necessário fazer correcções quando se pretendesse conhecer os valores dos elementos tabelados para qualquer ano posterior aos períodos fixados nas tabelas. O Almanach Perpetuum terá sido escrito entre os anos de 1473 e 1478, data que é referida pelo seu autor na sua introdução. O livro foi reeditado em Leiria em 1496, tendo sido traduzido do hebreu para o latim e do latim para o castelhano por Mestre José Vizinho, médico da corte de D. João II e astrónomo, que foi discípulo do autor. O Almanach reproduz o movimento dos astros por referência a determinadas coordenadas astronómicas. Prevê os momentos e coordenadas de acontecimentos celestes, as chamadas efemérides. Assim, as tabelas nele apresentados permitiam determinar a posição dos astros, determinar o momento dos eclipses e fazer diversos cálculos astronómicos e astrológicos. Segundo afirma Crespo, "A curiosidade pela determinação da posição dos astros na esfera celeste em função do tempo não era meramente científica. Servia essencialmente fins astrológicos, utilizando a palavra no sentido da previsão de acontecimentos e dos comportamentos das pessoas em função dos astros. Servia ainda propósitos de medicina, agronómicos, meteorológicos, religiosos e outros, sendo a organização das tabelas destinada, em muitos casos, a satisfazer esses fins. O livro não trata porém esses assuntos, fornece apenas os dados astronómicos a partir dos quais se faziam as especulações relativas às referidas ciências." (Crespo, p. 123) Com base nas primeiras quatro tábuas solares do Almanach era possível determinar com rigor o lugar do sol na eclíptica. Com este valor, recorrendo a uma quinta tábua, era possível obter o valor da declinação do Sol, parâmetro astronómico necessário ao cálculo da latitude do lugar de observação quando utilizada a medida da altura meridiana desse astro. Estas tábuas eram utilizáveis directamente para os anos 1473 a 1476. Para os anos posteriores, era necessário fazer alguns cálculos, por sua vez facilitados por uma outra que Zacuto incluiu na obra. O grau de precisão oferecido por estas tábuas era tal que elas foram utilizadas como base de diversas outras tábuas destinadas aos marinheiros, onde se indicavam os resultados dos cálculos requeridos pelas tábuas de Zacuto. Para além desta obra, sem dúvida a mais importante que elaborou, publicou ainda uma crónica intitulada Livro das Genealogias, que inclui dados autobiográficos, e dois tratados astrológicos, Juízos astrológicos e Tratado de las Ynfluencias del cielo, ao qual está anexo um texto intitulado De los eclipses del Sol y de la Luna. O Tratado de las Ynfluencias del cielo Zacuto, que Luís de Albuquerque classifica de "meteorologia astrológica", incluía um prognóstico sobre um dilúvio na Europa. Existia um prognóstico de Joannes Stoeffler e Jacob Pflaum para os dias 4 e 5 de Fevereiro de 1524, que teve grande difusão provocando pânico e motivando uma série de textos que rebatiam o prognóstico. Zacuto previa no seu Tratado de las Ynfluencias del cielo um dilúvio universal para o ano de 1503, que não teve mais impacto porque ficou manuscrita e conhecida por um número restrito de pessoas. Fernando Reis Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de, "Zacuto, Abraão", in Dicionário de História de Portugal, Porto, Figueirinhas, 1981, Vol. VI. Apontadores Abraham Zacuto |
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