Teresa Salomé Mota


Georges Zbyszewski (1909—1999)





Georges Zbyszewski nasceu na Rússia, filho de uma condessa russa e de um oficial polaco. Durante a revolução russa, a família de Zbyszewski refugiou-se na França, acabando por adoptar a nacionalidade francesa. Zbyszewski estudou em Paris a partir dos oito anos de idade, completando na Universidade desta cidade, em 1931, uma licenciatura em Ciências Naturais. Logo de seguida, tornou-se assistente de Jacques Boucart (1891—1965) no laboratório de Geografia Física e de Geologia Dinâmica da referida Universidade. Foi neste laboratório que travou conhecimento com algumas das personalidades científicas francesas mais importantes ligadas à Geologia, caso de Alfred Lacroix, Michel Lévy, Léon Bertrand, Charles Jacob, entre outros. Foi no mesmo laboratório que se encontrou, pela primeira vez, com os poucos cientistas portugueses que, na altura, estudavam em França, nomeadamente, o geólogo Carlos Teixeira (1910-1982) e os geógrafos Orlando Ribeiro (1911—1997) e António de Medeiros Gouveia (1900—1972).

Fotografia adaptada de Georges Zbyszewski, Arquivo Histórico do ex-IGM.

Subvencionado tanto pelo governo francês como pelo Instituto para a Alta Cultura, Zbyszewski iniciou trabalho de campo em Portugal no ano de 1935, estudando a Quaternário do país sob a orientação de Jacques Boucart, a fim de preparar a sua tese de doutoramento. Os trabalhos de campo em Portugal estenderam-se até ao ano de 1939. Quando deflagrou a II Guerra Mundial, o governo francês encarregou Zbyszewski de recolher informações sobre as reservas mineiras em Portugal, nomeadamente, das de volfrâmio, minério de que o país era um dos maiores produtores mundiais. Desde as suas primeiras viagens em território português, Zbyszewski procurou o apoio dos Serviços Geológicos (SG). Em Janeiro de 1940, Zbyszewski foi contratado como geólogo por esta instituição, a convite do seu chefe, António Quaresma Vianna (1887—1949).

Zbyszewski trabalhou nos SG durante cerca de quarenta anos; reformou-se em 1979. Dele, dizia o seu amigo Carlos Teixeira que era “alegre, (com) boa disposição permanente, espírito brincalhão…”, incansável no trabalho de campo, tendo-se adaptado perfeitamente ao modo de vida português. Também antigos alunos e discípulos de Zbyszewski lembram a sua personalidade marcada pela bonomia, a boa disposição e as anedotas ingénuas.

Grande parte da obra científica de Georges Zbyszewski resultou da sua actividade enquanto geólogo dos SG. No âmbito da actuação da Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos (DGMSG), Zbyszewski apoiou também muitos dos trabalhos levados a cabo pelo Serviço de Fomento Mineiro (SFM), realizando para esta instituição estudos de Geologia Regional, leitura e interpretação de sondagens, avaliação da viabilidade económica de jazigos minerais, entre outros. O estudo da bacia de Rio Maior, em particular das lignites do Espadanal, realizado durante a década de 1940 e, no final da mesma década, o estudo das jazidas de sal-gema e sais de potássio na área tifónica são disso exemplo. O interesse que a questão do diapirismo suscitou a Zbyszewski levaram-no a dedicar a sua tese de doutoramento a este tema, tendo-se doutorado em Ciências Naturais pela Faculdade de Ciências da Universidade de Paris em 1958.

Desta forma, Zbyszewski foi autor de mais de duzentas e noventa publicações, em domínios da Geologia que abrangem, entre outros, a Estratigrafia, a Paleontologia, a Geologia Regional e a Cartografia Geológica. Esta foi, aliás, uma das áreas em que Zbyszewski se destacou, tendo sido responsável por quarenta e cinco cartas geológicas na escala 1/50 000, diversas outras em diferentes escalas e numerosas notícias explicativas. O Quaternário foi um dos temas que mereceu ao geólogo particular interesse, tendo-lhe dedicado grande parte dos seus estudos. Associado a este interesse, estão os trabalhos de Zbyszewski na área da Arqueologia Pré-Histórica, tendo o seu contributo sido decisivo para o desenvolvimento desta disciplina em Portugal. O estudo do Meso-Cenozóico foi outro que dominou a actividade científica de Zbyszewski. Também muitos dos trabalhos realizados por Zbyszewski estiveram directa ou indirectamente relacionados com o domínio da Geologia Aplicada, como foi o caso do estudo das lignites e dos depósitos de diatomitos, da pesquisa de águas, dos sais de potássio e sal-gema e dos estudos de viabilidade económica do aproveitamento da energia geotérmica, entre outros.

A obra científica escrita de Zbyszewski começou por ser publicada em francês e, essencialmente, em periódicos franceses; no entanto, com o tempo, e à medida que o geólogo ganhava raízes em Portugal, os seus trabalhos passaram a ser escritos em português e publicados, na sua grande maioria, em periódicos nacionais. De entre eles destacam-se as Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal e o boletim da Sociedade Geológica de Portugal.

Zbyszewski participou em numerosos congressos e reuniões científicas, quer a título individual, quer como representante dos SG. O geólogo foi, desde 1956, o representante permanente dos SG na Comissão de Estratigrafia do Congresso Internacional de Geologia. Zbyszewski pertenceu a numerosas instituições e sociedades científicas portuguesas e estrangeiras — caso da Sociedade Geológica de França, a Associação Portuguesa de Arqueólogos, e a Sociedade Pré-histórica Francesa — e o reconhecimento do seu trabalho valeu-lhe os títulos de Cavaleiro das Palmas Académicas em 1959 e de Cavaleiro da Ordem Nacional de Mérito em 1969, atribuídos pelo estado francês. Em virtude de todo o trabalho por si realizado, Zbyszewski foi também premiado pela Academia de Ciências de Paris em 1961.

A partir de 1973, Zbyszewski leccionou como Professor Auxiliar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, privilegiando sempre o trabalho de campo na sua actividade docente.

Teresa Salomé Mota



Bibliografia

S/a, Volume d´Hommage au Géologue Georges Zbyszewski, (Paris, Éditions Recherche sur la Civilisations, 1984)

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