|
João Chevalier (1722-1801)
|
|
|
|
Artigo de João Chevalier publicado nas Philosophical Transactions da londrina Royal Society. Relata as observações de eclipses dos satélites de Júpiter, realizadas em Lisboa, em Junho de 1757, com um telescópio gregoriano de 7 pés (2,27 m) de distância focal.
[clique na imagem para a ampliar]
|
|
|
|
João Baptista Chevalier, presbítero da Congregação do Oratório de São Filipe de Néri, era filho de um comerciante francês radicado em Portugal, e de Luísa Teresa Verney, irmã de Luís António Verney (1713-1792). Nasceu em 12 de Março de 1722, provavelmente em Lisboa, tendo ingressado aos 13 anos na Congregação do Oratório. Segundo Banha de Andrade D. João V encarregou-o de formar a biblioteca do Convento de Mafra e, posteriormente, a da Casa dos Oratorianos, no palácio das Necessidades.
As suas primeiras publicações eram de cariz religioso, mas a partir de 1751 começou a interessar-se cada vez mais pela astronomia. Entre este ano e 1760 Chevalier fez inúmeras observações astronómicas, muitas delas comunicadas aos seus correspondentes em Paris e em Londres.
Em 1760 seria forçado a sair de Lisboa, tendo ficado com residência fixa em Freixo de Espada à Cinta, por ter entrado em rota de colisão com o Marquês de Pombal. Esta situação aconteceria igualmente com outros oratorianos, entre os quais Teodoro de Almeida. Passado algum tempo Chevalier conseguir sair de Freixo de Espada à Cinta e dirigiu-se para Paris, onde estava em 1761 e 1762. Da Paris passaria para Bruxelas, onde iria permanecer por mais de trinta anos.
Em Bruxelas seria eleito membro da Academia Imperial e Real das Ciências e Belas Letras, a partir de 1769. A partir de 1772 Chevalier seria nomeado bibliotecário da Biblioteca Real de Bruxelas, que fora anexada à Academia. Manteria este cargo durante 22 anos. Na sequência da revolução francesa, de uma revolta da população belga contra o imperador austríaco José II, e da primeira invasão da Bélgica pelos exércitos de Napoleão, Chevalier viria a ser eleito director da Academia. No entanto, uma segunda invasão francesa ditaria o encerramento da Academia Imperial, que só viria a reabrir em 1816, após a morte de Chevalier.
Chevalier seria forçado a deixar Bruxelas, tendo-se refugiado em Praga. Os pormenores do período final da sua vida não estão bem esclarecidos, não se sabendo ao certo se faleceu em Praga ou em Viena, em 23 de Agosto de 1801.
Actividade científica
É a partir de 1751 que se conhece o interesse de Chevalier pela astronomia. Rómulo de Carvalho, ao estudar a correspondência do astrónomo francês Joseph-Nicolas Delisle (1688-1768) com vários astrónomos portugueses, encontrou uma primeira carta de Chevalier ao português Soares de Barros, que trabalhava com Delisle em Paris. Nessa carta alude-se a uma comunicação anterior de Delisle a Chevalier. Esta comunicação inseria-se numa rede de correspondência criada por Delisle para recolher informações sobre observações astronómicas de várias partes do mundo para a determinação da longitude de determinados locais.
Na primeira missiva de Chevalier a Delisle, o oratoriano português comunicava-lhe que tinham sido feitas diversas observações em Portugal para determinação de longitudes e latitudes, em observatórios instalados no Colégio de Santo Antão, na Congregação do Oratório e no Convento de São Vicente de Fora, em Lisboa, e no Convento de Mafra.
Posteriormente, Chevalier enviaria a Delisle resultados de observações do eclipse da Lua de 10 de Janeiro de 1752, observado também pelo próprio Chevalier. Na sequência desta correspondência, Chevalier viria a ser admitido na Academia das Ciências de Paris como sócio correspondente de Delisle.
Entre as observações astronómicas feitas por Chevalier conta-se a observação do trânsito de Mercúrio sobre o Sol, em 6 de Maio de 1753. Delisle tinha preparado os seus correspondentes com grande cuidado, enviando-lhes avisos com instrumentos para observação, e pedindo-lhes o envio dos resultados. Para além destas informações, Chevalier enviaria também a Delisle dados de outros observadores deste trânsito em Portugal.
Outras observações realizadas por Chevalier e enviadas a Delisle foram a observação da emersão do primeiro satélite de Júpiter, em 30 de Abril de 1753, e do terceiro satélite de Júpiter em 5 de Junho. Ainda neste mesmo ano de 1753, Chevalier observaria o eclipse do Sol de 26 de Outubro, de que enviou também informação ao astrónomo francês. Faria entretanto outras observações de imersões de satélites de Júpiter.
Entre 1754 e 1758 Chevalier publicou 9 comunicações nas Philosophical Transactions da Royal Society de Londres. Nestas comunicações, Chevalier descrevia as observações que fez em Lisboa dos satélites de Júpiter e do eclipse do Sol acima referido, bem como observações de eclipses da Lua ocorridos em 1755 e 1757. Em 23 de Maio de 1754 viria a ser eleito como sócio da Royal Society. Após 1758, Chevalier continuaria a fazer observações astronómicas, tendo observado, nomeadamente, a passagem do cometa Halley, entre 5 de Abril e 22 de Junho de 1759.
Na sequência da sua saída forçada de Portugal, Chevalier seria eleito membro da Academia Imperial e Real das Ciências e Belas Letras de Bruxelas, onde vivia. Há notícias de observações astronómicas realizadas nesta cidade, em 1773. No entanto, queixar-se-ia por diversas vezes da falta de condições para a realização das observações. Continuaria a corresponder-se com Paris, mas após a morte de Delisle, em 1768, essa correspondência seria feita com Cassini de Thury (1714-1784).
Apesar das dificuldades para realizar observações astronómicas, temos conhecimento de algumas que fez, nomeadamente, do trânsito de Mercúrio de 1 de Novembro de 1782, dos eclipses totais da Lua de 18 de Março e de 10 de Setembro de 1783, e do eclipse do Sol de 3 de Abril de 1791. Dedicou-se igualmente a observações meteorológicas.
Publicações
Relação das magnificas festas, com que na cidade de Lisboa foi applaudida a canonisação de S. Camillo de Lellis. Lisboa, 1747.
Relação das solemnes exequias dedicadas... pelos PP. da Congregação do Oratorio... á defunta magestade d'el-rei D. João V. Lisboa, 1751.
Dialogo sobre os Concílios, 1751.
Dialogo da História Grega, 1751.
Dialogo dos Principes da Europa, 1751.
Dialogo da Historia Sagrada, 1752.
Observationes Eclipsium Satellitum Jovis habitae Ulissipone…, Anno 1753, in Philosophical Transactions, V. 48, 1754, p. 543.
Observatio Solis defectus Ulissipone habita, …, die 26ª Octobris 1753, in Philosophical Transactions, V. 48, 1754, pp. 546-548.
An Account of some astronomical Observations taken at Lisbon… in the Year 1753, in Philosophical Transactions, V. 48, 1754, pp. 548-550.
Observationes Eclipsium Satellitum Jovis habitae Ulissipone…, Anno 1754, in Philosophical Transactions, V. 49, 1755, p. 48.
Observatio Eclipsis Lunae Die 27 Martii, Ann. 1755…, in Philosophical Transactions, V. 50, 1757, pp. 374-375.
Observatio Eclipsis Lunae Die 4ª Februarii, Ann. 1757…, in Philosophical Transactions, V. 50, 1757, pp. 376-377.
Observationes Eclispsum Satellitum Jovis Ulissipone habitae …, in Philosophical Transactions, V. 50, 1757, p. 377.
Observationes Eclipsum Satellitum Jovis Ulissipone habitae …, Anno 1757, in Philosophical Transactions, V. 50, 1757, p. 378.
Observatio Eclipsis Lunae Die 30 Julii 1757…, in Philosophical Transactions, V. 50, 1758, pp. 769-771.
Vida e milagres de Sancto Emygdio, bispo e martyr, advogado contra os tremores de terra. Lisboa, 1761.
Fernando Reis e Luís Tirapicos
Bibliografia
ANDRADE, António Alberto Banha de, “Processo pombalino contra os oratorianos”, in Arquivos do Centro Cultural Português, Paris, Centro Cultural Português, 1969, vol. 1, pp. 250-296.
ANDRADE, António Alberto Banha de, “João Chevalier”, in Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, Lisboa, Verbo, 1993, vol. 5, pp. 229-230.
CARVALHO, Rómulo de, Portugal nas Philosophical Transactions, nos Séculos XVII e XVIII, Coimbra, 1956.
CARVALHO, Rómulo de, A Astronomia em Portugal no Século XVIII, Lisboa, ICLP, 1985.
CARVALHO, Rómulo de, “João Chevalier, Astrónomo Português do Século XVIII”, in Actividades Científicas em Portugal no Século XVIII, Évora, Universidade de Évora, 1996, pp. 267-321.
PEIXOTO, Jorge, “O Padre João Chevalier, Oratoriano de Lisboa, Bibliotecário da Biblioteca Real de Bruxelas”, Biblos. Vol. XLI. Coimbra. 1965. p. 345 366.
|
|