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Vamos assinalar a resposta correcta.

1. A súbita decisão de ir a Sintra foi despertada no narrador
pela proximidade da estação de caminho de ferro.
pelo movimento dos viajantes a caminho da estação.
pelo aborrecimento causado pelo cliente da mesa do lado.
pela vontade de fugir à confusão do café.

2. O narrador comprou o bilhete para Sintra
e apanhou o rápido, que saía daí a cinco minutos.
e apanhou o rápido, que estava atrasado cinco minutos.
mas já não apanhou o rápido, pois só tinha cinco minutos.
e esperou cinco minutos pelo combóio que partia após o rápido.

3. O narrador possui memórias felizes de Sintra. Recorda com agrado
as longas estadas em Sintra, vinte anos atrás.
as noites passadas em Sintra, há vinte anos.
umas férias de Verão passadas em Sintra.
os passeios à vila e à serra, há muito tempo atrás.

4. Chegado ao seu destino, o narrador sente um desejo mais forte de
passear a pé para ver as fontes e a paisagem.
visitar o Palácio Real.
subir ao Palácio da Pena.
confirmar se ainda há cisnes pretos no lago.

5. Da vila, o cimo da Pena impõe-se ao narrador como
um cenário paradisíaco.
uma vista inesquecível.
um ponto de interesse turístico.
um lugar cheio de mistério.

 

 

          REGRESSO À CÚPULA DA PENA [excerto]

    
Nisto, uma tropa de viajantes apressados, ajoujados de malas e sacos, atravessou o largo de corrida, a caminho da estação. Olhei o relógio lá em cima, e conferi as horas no pulso: «À 1.50 sai o rápido de Sintra», comentei. E dei um pulo. O cavalheiro que, na mesa ao lado, se esforçava por ler nas entrelinhas do jornal, sobressaltou de medo, receando talvez uma agressão. Paguei a despesa, e, atrás do grupo, que já subia os degraus da entrada, deitei a correr através do largo cheio de sol e de estrépito.

Fui direito à bilheteira:
― Sintra, ida e volta. Ainda apanho o rápido?
O empregado olhou o relógio e respondeu com placidez:
― Tem cinco minutos.

     Era então certo! Surpreendido e feliz, impaciente como há vinte anos com a lentidão dos ascensores, subi a dois e dois a escadaria. Era como se tivesse acertado com o número da sorte grande, um júbilo estranho, esta certeza tão minha de que alguma coisa continuava, um segredo só entre mim e o mundo do meu regresso... Daí a momentos, encaixado por milagre na carruagem de segunda, com este grato sabor de fumarada na língua, tornei a ouvir o apito nostálgico da locomotiva, o mesmo de há... «Mas que seca!», pensei. «Deixe o que lá vai! Hoje é hoje!»
     Aqueles passeios a Sintra tinham sido sempre o meu regalo. Amava as hortas, as praias, os toiros, o futebol: mas sempre que me apetecia fugir deste simulacro de Inferno aberto em Céu ― Sintra comigo. Por lá andava todo o santo dia, de chapéu na mão, assobio na boca, a boa sombra, Seteais, as fontes, almoço no Lawrence (ou no Pombinha, conforme o orçamento), depois os Capuchos, as ruínas, a Pena... Cheguei mesmo a dormir uma noite, sozinho, nas ameias do Castelo dos Mouros. Foi no Verão, não há memória dum Agosto assim tão quente. A coisa mais extraordinária, nunca o hei-de esquecer, foi que o Sol se pôs no mesmo instante em que a Lua rompeu, e vinha cheia! Um espectáculo como nunca vi outro, nem sol da meia-noite, nem auroras boreais. Eram dois sóis, qual deles o maior, qual o mais vermelho, suspensos no horizonte, em lados opostos do mundo. Parecia uma alucinação ou um caso de espelhismo natural. Durante instantes tive a ilusão dum «fenómeno» ou cataclismo: o universo parava, e ficava retido entre aqueles dois bugalhos enormes de luz vermelha e baça... Depois o Sol afundou-se, e a Lua subiu, empalideceu, esfriou, fez-se uma lua de balada à Soares de Passos. Enfim, lá fiquei essa noite, e por sinal que me fartei de bater os queixos com frio, sem sobretudo, no Agosto mais quente de que rezam lendas encantadas.
     E aqui vou eu agora a caminho de Sintra, sem mais nem menos, só porque uma tropa fandanga se lembrou de atravessar o largo, à hora a que dantes havia um rápido, e eu ali sentado a remoer problemas na esplanada do Suisso! Olhando a paisagem dura do Cacém, ocorreu-me esta pergunta estúpida: «Se ainda haverá cisnes pretos no lago?»
     Chegado a Sintra, desentorpeci as pernas andando até à vila. O que sempre me atraía ali eram sobretudo as verduras, as sombras, as fontes, a paisagem, a altitude. Postado agora na arcaria ogival do Palácio Real, olhei o alto da Pena, e quis ter asas para galgar os penhascos, roçar os cimos do arvoredo, ir poisar naquelas torres e ameias dignas do Walt Disney. Mas, com franqueza, nem asas, nem pernas. Vista cá de baixo, da vila, a Pena pareceu-me um caso de respeito, ninho de águias, rochedo mitológico, amontoado de ciclopes exasperados, de garras crispadas, a agatanhar o céu. Como é que eu pude outrora trepar aquilo a pé, depois da caminhada desde Lisboa, como cheguei a fazer? E o que é que me atraía agora lá acima, que memória, que enamorado pensamento, que secreto desejo, anseio de galgar o hiato do tempo, desgarradora saudade ou largueza de vistas? Porque era ali que a vontade me estava chamando.
     Corri a tomar uma tipóia que envelhecia no largo, agarrada às pilecas, e mandei bater para a Pena. Não, nem Seteais, nem Capuchinhos, nem sequer a Cruz Alta: a Pena! Daí a pouco, perna cruzada, chapéu no regaço, assobio na boca, a alma à larga, a brisa fresca no suor da calva ― por entre o gemer das molas e o bufar das bestas gastas, eu trepava a serra das serras. Mandei parar nas fontes e bebi, repetindo os gestos consabidos de quem refaz um velho conhecimento ou pratica um ritual.


José Rodrigues Miguéis, Léah e outras Histórias, Lisboa, Editorial Estampa, 1997 (11ª ed.)

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