Época Medieval

Renascimento em Portugal

Sob o Signo das Luzes

A Filosofia Portuguesa do Séc. XIX
até à Proclamação da República
A Filosofia Portuguesa depois de 1910

Sebastião Toscano

Teólogo agostinho (n. Lisboa 1515 - m. Porto 1583) foi uma das mais altas expressões da mística portuguesa do renascimento, sobretudo através da sua obra intitulada Mística Teologia, publicada em latim em 1568, com uma primeira versão em castelhano de 1573.

Esta obra constitui não apenas um tratado de contemplação mística, como também um guia espiritual para gente comum, abordando temas como os da direcção espiritual da conduta; a busca da perfeição; a articulação entre a vocação e os temperamentos individuais e, sobretudo, o problema das relações entre a vida activa e a vida contemplativa, tema central dos grandes prosadores místicos.

Para o místico português, a vida activa é a dos que se ocupam dos «trafegos e negócios deste mundo», e a contemplativa a dos que «fora dos negócios humanos se dão à contemplação das cousas divinas».

Ambos os caminhos podem conduzir a Deus, mas, sem desvalorizar a acção mundana, o seu pendor místico leva-o naturalmente a considerar a vida contemplativa como o caminho mais curto, sobrepondo-se à vida activa em dignidade, por oito ordens de razões: em razão do objecto, que é Deus, e da potência principal do homem que o considera; por ser mais contínua; por ser de maior deleite e contentamento; porque o contemplativo, necessitando de poucas coisas, se assemelha a Cristo; porque a vida contemplativa é amada por si, como fim no qual consiste o bem, sendo que a vida activa se considera como meio para outra coisa; porque a primeira se traduz na tranquilidade e a segunda na tribulação; porque uma se ocupa das coisas divinas, e a outra das humanas; finalmente, porque a contemplativa «é segundo o que é mais próprio ao homem», ou seja, segundo o espírito .

É esta a que convém aos místicos, «gente recolhida e devota, dada à oração e contemplação», consistindo a teologia mística em «sentir Deus dentro da alma, por um alumeado conhecimento, doce, suave e amoroso» e não tanto em exercícios racionais traduzíveis pelo discurso. Com esse fim, expõe as nove coisas que pertencem à vida contemplativa, à maneira de sucessivos estádios: ouvir, ler e orar, a que se refere como princípios; meditação, cogitação, consideração e especulação, que considera como consequências desses princípios e, finalmente, a contemplação e o espanto.

Não menor expressão deste pendor místico é a consideração que faz do «livro das criaturas» como livro escrito por Deus, lido à luz do simbolismo místico dos vitorinos.

Obras
Oração fúnebre de Afonso de Albuquerque, Lisboa, 1566; Mística Teologia, Lisboa, 1568; Commentarii in Jonam Prophetamm, Veneza, 1573.

Bibliografia
Mário Martins, «A Mística Teologia de Frei Sebastião Toscano», in Biblos, Coimbra, 32 (1956), pp. 401-429; Armando de Jesus Marques, «Da vida e escritos do humanista português Frei Sebastião Toscano» in Portugiesische Forschungen der Gorresgesellschaft Erts Reich, 6, Munique-Vestfália, 1966, pp. 28-61.

Pedro Calafate


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