Jules Cornu
(Villars-Mendraz [Suíça], 24-02-1849 - Leoben [Áustria], 27-11-1919)

Cabeçalho do necrológio de Cornu na Revista Lusitana [XXIII, p. 200]

Doutorou-se na Universidade de Basileia. Aí ensina (1875-7), até se tornar professor de Filologia Românica na Universidade de Praga (1876), onde fica durante um quartel. Até que em Graz lecciona a cadeira que fora de Hugo Schuchardt. Durante dez anos em Graz ensina. «Em 1911 a morte de um filho estremecido, que fazia conceber as mais belas esperanças, desgostara-o por forma tal que pedira a aposentação» (Gazette de Lausanne, citada por José Joaquim Nunes, «Dr. Julio Cornu», Revista Lusitana, XXIII, p. 200). Faleceu com 71 anos «após longa e penosa enfermidade». Visitara Portugal, como se lembra no parecer para admissão na Academia das Ciências de Lisboa, cujo relator foi Leite de Vasconcelos: «Em 1878, 1880 e 1891 esteve em Portugal, e procedeu [com o fim de explorar a nossa antiga literatura, não só a impressa, mas ainda a inédita] a muitas investigações na Bibliotheca Nacional e na Torre do Tombo, pois é nesses estabelecimentos que se conserva a maior parte da Livraria de mão dos vários monges de Alcobaça, da qual o sr. Cornu desejava fazer extractos, e publicar, como publicou, alguns textos [...]. Ao mesmo tempo que estudava a lingua nos textos, aprendia-a tambem no uso vivo, e isto facilitava-lhe immenso as investigações litterarias» (transcrito na Revista Lusitana, IV, pp. 282-283).

Livraria de Alcobaça na Sala de Reservados na Biblioteca Nacional (no Convento de S. Francisco) [História da literatura portuguesa ilustrada, I, p. 140]

Sobre a obra de Cornu, copiamos o que escreveu J. G. Herculano de Carvalho no verbete sobre o filólogo suíço para a Enciclopédia luso-brasileira de cultura da Verbo: «O campo da sua investigação abrangeu particularmente o francês (dialectologia, etc.), o espanhol e o português, e a métrica latina; mas a sua obra principal foi a Grammatik der portugiesischen Sprache, que, como parte do Grundiss der romanischen Philologie de G. Gröber (separ. Strassburg, 1888; 2.ª ed., 1906), constituiu a primeira gramática histórica  do português (sem incluir a sintaxe)». José Leite de Vasconcelos (Revista Lusitana, II, pp. 359-364) recenseia os trabalhos de Cornu relativos a Portugal, e particularmente o citado opúsculo no Grundiss sobre «A língua portuguesa». Citem-se ainda os vários estudos publicados na revista Romania (IX, XI, XII, XIII), que versam sobre as partículas arcaicas er e ar, sobre a métrica do Cancioneiro Geral, sobre a etimologia de «bravo»; aí também edita textos antigos (um tratado de devoção, a Vida de Santa Eufrosina, a Vida de Maria Egípcia).