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um inédito

poema do homem que largava frutos
Valter Hugo Mãe


eu vi um homem alto demais para caber nas casas. era muitas vezes dobrado como um papel e posto num canto como guardado. muito tempo o vi um dia em que ficou no parque sentado. estava na relva e todas as coisas que pertenciam às árvores pareciam querer conhecê-lo. algumas crianças gritavam com ele convictas de que não as ouvia lá no cimo da sua cabeça. as coisas que pertenciam às árvores por vezes afugentavam as crianças, e um homem assim competia com elas. frutos caíam com peso no chão, mal esquivados às cabeças tontas que se assustavam. eu vi esse homem alto demais a ir embora. algures no fundo da rua virou à direita. não o pude alcançar com a minha pequena bicicleta e começou a chover. juro que ainda percebi, acima dos prédios, a sua mão esticada no ar para se proteger da água ou abrir um alçapão no céu

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© Instituto Camões, 2005