Revista Digital sobre Tradução - Número 2 - Fevereiro 2003

Dicionário de Tradutores e Intérpretes de Língua Portuguesa
Fernão de Ávila

São escassos os dados biográficos que possuímos sobre Fernão de Ávila. Sabemos que Fernão de Ávila, enquanto escravo do Rei D. Manuel I, viveu em Portugal, mas desconhecemos com que idade aqui terá chegado, como desconhecemos donde e quando foi trazido.

Castelo de S. Jorge da Mina

A falta de dados impede-nos de incluir Fernão de Ávila no rol dos línguas dos Descobrimentos. A sua actividade de língua de que temos notícia aponta-o como intérprete junto dos angariadores de escravos do Benim. Atesta a sua actividade de “limgoa do resgate” uma carta enviada a D. Manuel por Manuel de Góis, capitão de S. Jorge da Mina, em Janeiro de 1510. Aí se refere que Fernão de Ávila se encontrava nessa altura em S. Jorge da Mina, após ter desempenhado o cargo de língua do resgate de escravos junto do feitor do Benim durante três anos. O texto refere ainda a sua mulher e uma filha pequena, também residentes em S. Jorge da Mina.

É bem possível que o língua tenha chegado a S. Jorge, vindo do Benim, em 1509. Com efeito, em Fevereiro e Março desse ano, os nomes de Fernão de Ávila e de sua mulher Catarina constam do “Rol dos moradores da cidade de S. Jorge da Mina a quem João Mealhas, vedor do forno da mesma cidade, fará a distribuição das rações de pão”. Nestes documentos, marido e mulher são dados como escravos do Rei.

Marcas de escravos

Terá, algum dia, Fernão de Ávila usufruído do estatuto de escravo forro, como recompensa da sua actividade de língua... Por enquanto, a pesquisa não nos permite responder afirmativamente. Em todo o caso, a carta de Manuel de Góis atribui essa pretensão a Fernão de Ávila. Diz a carta: “veo provisam de Vossa Alteza em que o dito escpravo fosse estar em Benim com ho feitor tres annos e que avia por bem que o dito escpravo ficasse forro do quall aquy nam ha mais certeza que dize-lo elle e alguuas pessoas que viram a dita provisam nos despachos do feitor (...)”. O Capitão de S. Jorge da Mina pretendia uma resposta do Rei. Desconhecemos se algum dia a terá recebido.








Fonte:

Doc. 130 e 132, “Rol dos moradores da cidade de S. Jorge da Mina a quem João Mealhas, vedor do forno da mesma cidade, fará a distribuição das rações de pão...” e Doc. 180, “Carta de Manuel de Góis para D. Manuel sobre um escravo forro, chamado Fernão de Ávila...” de Portugaliae Monumenta Africana, vol. V, Lisboa: INCM, 2002.


Carlos Castilho Pais

 

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