VOZES DO MAR

Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso delíquio d'oiro intenso,
Donde vem essa voz cheia de mágoas
Com que falas à terra, ó mar imenso?...

Tu falas de festins, e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar?
Falas de caravelas encantadas
Que dormem em teu seio a soluçar?

Tens cantos d'epopeias? Tens anseios
D'amarguras? Tu tens também receios,
Ó mar cheio de esperança e majestade?!

Donde vem essa voz, ó mar amigo?...
... Talvez a voz do Portugal antigo,
Chamando por Camões numa saudade!
Florbela Espanca
Poesia Completa
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000

Nasceu em 1894, em Vila Viçosa, no Alentejo, e faleceu em 1931, em Matosinhos. Com apenas oito anos, escreveu o seu primeiro poema conhecido, intitulado «A Vida e a Morte». Estudou em Évora e, malogrado o seu primeiro casamento, veio para Lisboa em 1919, frequentando o curso de Direito.
No mesmo ano, publica Livro de Mágoas, o primeiro livro de poemas. Seguem-se Livro de Sóror Saudade, em 1923 e, postumamente, Charneca em Flor e o livro de contos As Máscaras do Destino (1931).
Embora também tenha escrito em prosa, Florbela Espanca é conhecida sobretudo pelos seus sonetos, os quais têm sido objecto de sucessivas edições. Prolongando o gosto finissecular, a obra de Florbela acentua a nota pessimista e a atitude de sofrimento inerente à condição do Poeta.

Aos títulos já referidos, junta-se também à obra de Florbela Espanca:

Diário do último ano: seguido de um poema sem título (1981; Reprodução facsimilada do texto manuscrito, com prefácio de Natália Correia)


Para saber mais sobre Florbela Espanca.
Ler alguns sonetos.
Florbela Espanca em tradução francesa.


© Instituto Camões, 2002