Aprender a brincar http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix-dp5.html Mon, 18 Nov 2024 18:36:24 +0000 Joomla! - Open Source Content Management pt-pt naoresponder.plataforma.cvc@fbapps.pt (Centro Virtual Camões) José Leite de Vasconcelos http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/jose-leite-de-vasconcelos-dp5.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/jose-leite-de-vasconcelos-dp5.html José Leite de Vasconcelos, por Elisabeta Mariotto

José Leite de Vasconcelos

José Leite de Vasconcelos
(1858-1941)

José Leite de Vasconcelos Pereira nasceu em Ucanha, concelho de Tarouca, a 7 de julho de 1858. Passou a infância e a adolescência no meio rural, onde teve contacto com as tradições e os costumes locais. Aos 18 anos, deixou a Beira para ir viver no Porto, onde exerceu a atividade de docência, num liceu, para ajudar no sustento da sua família. Licenciou-se em Ciências Naturais, em 1881, e em Medicina, pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 1886. Durante o curso de Medicina, escreveu uma das suas primeiras obras: Tradições Populares Portuguesas. Na sua tese de licenciatura, intitulada A Evolução da Linguagem, já dava sinais das duas paixões que iriam determinar a sua carreira: a filologia e a arqueologia. Exerceu a profissão de médico durante apenas um ano, assumindo as funções de subdelegado de saúde do Cadaval, distrito de Lisboa. Em 1888, tomou posse na Biblioteca Nacional, onde trabalhou durante 23 anos. Em 1901, doutorou-se em Filologia, com honras, na Universidade de Paris, com a tese Esquisse d'une dialectologie portugaise. Empenhou-se na criação de um museu dedicado ao conhecimento das origens e tradições do povo português, criando o Museu Etnográfico Português (atual Museu Nacional de Arqueologia). Inicialmente, este museu estava instalado numa sala da Direção dos Trabalhos Geológicos, tendo sido transferido, em 1900, para uma ala do Mosteiro dos Jerónimos. Em 1911, foi convidado a lecionar Filologia Clássica na recém-criada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sendo, assim, obrigado a abandonar a Biblioteca Nacional, mas sem deixar de dirigir o Museu Etnográfico. Na Faculdade de Letras, lecionou também Numismática, Epigrafia e Arqueologia. Reformou-se em 1929, quando começou a dedicar-se, exclusivamente, à escrita. Faleceu em Lisboa, a 17 de maio de 1941, deixando, como legado, obras que compreendem as áreas da etnografia, filologia, arqueologia, numismática e epigrafia.

Leite de Vasconcelos é considerado o fundador da dialetologia portuguesa. Desenvolveu o primeiro estudo sobre o Mirandês, publicado em 1882, sob o título O Dialecto Mirandez, estudo este que foi, posteriormente, aprofundado e publicado numa obra de dois volumes, intitulada Os Estudos de Filologia Mirandesa (1900-1901). Em 1894, publicou a Carta Dialectológica de Portugal Continental, na qual distingue os dialetos portugueses. Em 1901, na sua tese de doutoramento, acrescentou os dialetos insulares (açoriano e madeirense) e os dialetos do "ultramar" (brasileiro e indo-português), além dos dialetos crioulos, o português dos judeus (Amesterdão e Hamburgo) e o Galego. Continuou a desenvolver seus estudos sobre os dialetos portugueses, acrescentando ao Mapa Dialectológico de Portugal Continental (1929) três variedades do dialeto de Trás-os-Montes: Peso da Régua, Alijó e Boticas (Barroso).

Os estudos de Leite de Vasconcelos serviram de inspiração e orientação a vários linguistas, que se dedicaram a continuar o trabalho de investigação e de descrição dos dialetos portugueses. Paiva Boleó publicou, em 1958, juntamente com Maria Helena Santos Silva a obra Mapa de Dialectos e Falares de Portugal Continental, um estudo baseado nas investigações de Leite de Vasconcelos. Lindley Cintra também se dedicou exaustivamente ao estudo sobre os dialetos portugueses. Em 1971, elaborou uma Nova Proposta dos Dialectos Galego-Portugueses, apresentando, anos mais tarde, Estudos de Dialectologia Portuguesa (1984). Em 1992, publicou o Mapa dos Dialectos de Portugal Continental e da Galiza, onde expande a classificação dos dialetos portugueses feita por Vasconcelos, distinguindo os dialetos galegos, os dialetos portugueses setentrionais, os centro-meridionais e os dialetos leonenses. Todos estes estudos foram influenciados pelas investigações de Leite de Vasconcelos, o que nos leva a concluir que a sua obra foi de extrema importância para o desenvolvimento da linguística em Portugal.

Segundo Manuel Heleno (1960), Leite de Vasconcelos dominava as mais variadas fontes de saber que lhe permitiam um poder de se relacionar de forma única com história da cultura portuguesa. Além disso, sua obra caracterizou-se por um profundo sentido nacional devido à aplicação das conquistas da ciência universal ao campo português, tendo todo o seu trabalho aberto novas perspetivas à ciência em Portugal.


Bibliografia ativa:

• Castro, I. (2005). Os Opúsculos de Leite de Vasconcelos. http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/etnologia/opusculos/index.html

• Guimarães, R. D. (2010). José Leite de Vasconcelos e o Percurso da Dialectologia Portuguesa. http://repositorio.utad.pt/handle/10348/1530

• Heleno, M. (1960). José Leite de Vasconcelos: Livro do Centenário (1858-1958). Lisboa: Imprensa Nacional.


Bibliografia passiva:

• Vasconcelos, L. (1882). O Dialecto Mirandês. Revista Lusitana. Lisboa.

• Vasconcelos, L. (1894). Carta Dialectológica de Portugal Continental. Lisboa.

• Vasconcelos, L. (1897). Mapa Dialetológico do Continente Português. Lisboa.

• Vasconcelos, L. (1900-1901). Os Estudos de Filologia Mirandesa. Lisboa.

• Vasconcelos, L. (1901). Esquisse d'une dialectologie portugaise. Paris. Université. (Edição portuguesa: Esquisse d'une dialectologie portugaise. Lisboa. Instituto Nacional de Investigação Científica / Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. 3ª edição. 1987).

• Boleó, P. & Silva. M. H. S. (1958). Mapa de Dialectos e Falares de Portugal Continental. Coimbra: Universidade.

• Cintra, L. (1971). Nova Proposta dos Dialectos Galego-Portugueses. In: Boletim de Filologia XXVI. Lisboa: Centro de Estudos Filológicos.

• Cintra, L. (1984). Estudos de Dialectologia Portuguesa. Lisboa: Sá da Costa.

• Cintra, L. (1992). Mapa dos Dialectos de Portugal Continental e da Galiza. In: Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo. Lisboa: Comissão para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses. Lisboa: União Latina.

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Thu, 13 Dec 2012 14:59:46 +0000
João de Andrade Corvo http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/joao-de-andrade-corvo-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/joao-de-andrade-corvo-dp8.html João de Andrade Corvo, por Elisabeta Mariotto

João de Andrade Corvo

João de Andrade Corvo
(1824-1890)

João de Andrade Corvo nasceu em Torres Novas, a 30 de janeiro de 1824. Dez anos depois, transferiu-se com a família para Lisboa, realizando os seus estudos na capital portuguesa. Foi um homem de múltiplos interesses. Frequentou os cursos de Matemática e Ciências Naturais, Engenharia e Medicina e desempenhou as funções de agrónomo, professor, escritor e político. Como agrónomo, desenvolveu vários estudos sobre a agricultura e foi professor do Instituto Agrícola e da Escola Politécnica de Lisboa. Publicou, na Coleção Biblioteca de Agricultura e Ciências, algumas obras dedicadas ao ensino agrícola. Desenvolveu desde cedo o gosto pela poesia, publicando poesias e artigos em vários jornais e revistas da época. Foi um dos fundadores da Sociedade Escolástica Diplomática, a que pertenceram Mendes Leal, Tomaz de Carvalho, Luiz Augusto Palmeirim, entre outros. Escreveu notáveis romances, como Um ano na Corte (1850-1851), a sua obra mais popular, e Sentimentalismo (1871). Também foi autor de textos dramáticos históricos, como Um Conto ao Serão (1852), O Astrólogo (1859) e O Aliciador (1859), peças às quais o público respondia com entusiasmo. Como político, iniciou sua carreira, em 1865, como deputado, assumindo, no ano seguinte, o cargo de ministro das obras públicas até 1868, contribuindo para o desenvolvimento da rede ferroviária nacional. Em 1869, foi enviado para Madrid para exercer o cargo de Ministro de Portugal, permanecendo um ano na capital espanhola. Foi ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, entre 1871 e 1878, durante o governo de Fontes Pereira de Melo. Faleceu a 16 de fevereiro de 1890.

Andrade Corvo foi um homem que se dedicou ao desenvolvimento de Portugal. Acreditava que o crescimento do país dependia do investimento no ensino, considerando que a civilização, a liberdade, o progresso e a indústria do país estariam diretamente ligados ao nível de instrução do seu povo. Além disso, acreditava que Portugal tinha forças e oportunidades suficientes para se reerguer enquanto potência e, para tanto, deveria dedicar-se ao trabalho, à ciência, à educação moral e à correta administração pública. Só assim o país conseguiria o respeito que outros Estados de pequeno porte como a Dinamarca, a Bélgica e a Holanda haviam conquistado.

Enquanto ministro dos negócios estrangeiros, lançou, em 1877, um conjunto de iniciativas de exploração destinadas a conhecer a zona que separava Angola de Moçambique. Dez anos mais tarde, durante o mandato do ministro dos negócios estrangeiros Henrique de Barros Gomes, lançou-se o projeto que ficou conhecido como "Mapa cor-de-rosa". Neste projeto, Portugal manifestava a sua pretensão a unificar os territórios de Angola e Moçambique numa vasta faixa que ligava o Oceano Atlântico ao Oceano Índico. No entanto, isto provocaria uma crise nas relações diplomáticas de Portugal com o Reino Unido, pois ambos manifestavam o interesse em dominar a mesma região. O objetivo inglês era construir uma ferrovia que atravessaria todo o continente africano, ligando o Cairo à Cidade do Cabo.

Andrade Corvo foi um homem à frente do seu tempo. Anteviu os perigos dos ideais germânicos, fundados sobre a identidade de raça e o desejo de supressão dos pequenos estados para a formação de um grande império. Considerava que as teorias antropológicas que vigoravam no século XIX e que dividiam a humanidade em distintas raças eram uma fantasia perigosa e que tinham sido inventadas para justificar as violências e o desejo de dominação dos grandes impérios. Acreditava que não existia fundamento na separação da humanidade em raças, constituídas por nacionalidades específicas, pois os Estados Unidos representavam o exemplo oposto de que uma nação erguida pela convergência de povos poderia se edificar e atingir um alto nível de desenvolvimento capaz de conquistar o respeito das outras nações desenvolvidas. Desta forma, Andrade Corvo considerava que a única garantia de superação das ameaças que enfrentavam as pequenas e médias nações europeias, no confronto das ambições imperiais germânicas, seria a criação de uma instituição que regulasse o direito internacional e a autonomia das nações. Além disso, também esteve envolvido em projetos de desenvolvimento das colónias portuguesas, na criação de infra-estruturas nas colónias e no processo de abolição da escravatura.

João de Andrade Corvo é considerado, por muitos, o pai da diplomacia portuguesa moderna. Revelou, durante toda a sua vida, uma capacidade única de analisar os principais desafios políticos e as estratégias que Portugal deveria adotar para se reerguer como potência e conquistar o respeito perante o mundo.


Bibliografia ativa

• Lemos, R. S. (2007). João de Andrade Corvo: ficha bio-bibliográfica. Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Edição Eletrónica: http://www.fd.unl.pt/ConteudosAreasDetalhe_DT.asp?I=1&ID=1736

• Calafate, P. (2006). Guerra Junqueiro. In: Portugal como problema – Século XIX: A decadência. Lisboa : Fundação Luso-Americana.

• Calafate, P. (2009). O Pensamento Político e Geoestratégico de João de Andrade Corvo. Revista Estudos Filosóficos. Vol. 3 (67-75).


Bibliografia passiva

• CORVO, J. A. (1854) - Memória sobre a mangra : ou doença das vinhas nas ilhas da Madeira e Porto Santo. Lisboa : Typ. da Academia Real das Sciencias.

• CORVO, J. A. (1868) - A questão do caminho de ferro de sueste. Lisboa : Typographia Portugueza.

• CORVO, J. A. (1863) - Um ano na corte. Porto : Em casa da viuva Moré.

• CORVO, J. A. (1866) - A instruçäo publica : discurso pronunciado nas sessöes de 9, 10 e 11 de Abril de 1866. Lisboa : Typ. da Sociedade Typ. Franco-Portugueza.

• CORVO, J. A. (1870) – Perigos. Lisboa : Typ. Universal.

• CORVO, J. A. (1871) - O sentimentalismo. Coimbra : Imprensa da Universidade.

• CORVO, J. A. (1874) - Aboliçäo da emigraçäo de chinas contratados em Macau : relatório e documentos apresentados às cortes na sessäo legislativa de 1874. Lisboa : Imprensa Nacional.

• CORVO, J. A. (1875) - Agricultura : relatório sobre a Exposiçäo Universal de Paris. Lisboa : Imprensa Nacional.

• CORVO, J. A. (1881) - Da água para as regas. Lisboa : Empreza Commercial e Industrial Agrícola.

• CORVO, J. A. (1881) - Economia política para todos. Lisboa : Empreza Commercial e Industrial Agricola.

• CORVO, J. A. (1883) - Os motores na indústria e na agricultura Lisboa : Empreza Commercial e Industrial Agricola, 1883.- 158 p. : il. ; 16 cm.

• CORVO, J. A. (1883-1887) - Estudos sobre as províncias ultramarinas. Lisboa : Typografia Real das Sciencias.

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Thu, 13 Dec 2012 14:55:17 +0000
Guerra Junqueiro http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/guerra-junqueiro-dp29.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/guerra-junqueiro-dp29.html Guerra Junqueiro, por Elisabeta Mariotto

Abílio Manuel Guerra Junqueiro

Abílio Manuel Guerra Junqueiro
(1850-1923)

Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 17 de setembro de 1850. Fez os estudos os preparatórios no Liceu de Bragança e frequentou o curso de Teologia da Universidade de Coimbra durante dois anos. Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, transferiu-se para o curso de Direito daquela universidade, concluindo-o em 1873. Ainda durante o curso de Direito, começou a manifestar notável talento poético, sendo considerado um dos nomes mais promissores da nova geração de poetas portugueses da época. Em 1868, publicou o opúsculo O Aristarco Português e a obra Baptismo de Amor. Sendo antimonárquico, manifestou as suas ideias republicanas em 1873, publicando o poemeto À Hespanha Livre, em que celebrou a proclamação da república espanhola. Em 1874, publicou A Morte de D. João, obra que obteve um enorme sucesso, recebendo apreciações críticas de escritores de grande renome como Camilo Castelo Branco e Joaquim Pedro de Oliveira Martins. Em Coimbra, começou a sua carreira literária promissora como redator do jornal literário A Folha. Transferindo-se posteriormente para Lisboa, foi colaborador de jornais políticos e artísticos, como o jornal A Lanterna Mágica. Entrou para o funcionalismo público e tornou-se secretário-geral do governador civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo. Em 1878, foi eleito deputado pelo círculo de Macedo de Cavaleiros, nunca deixando de se dedicar, entretanto, à literatura. Publicou, em 1879, a obra A musa em Férias, que reúne grande parte das suas poesias. Faleceu em Lisboa a 7 de julho de 1923.

Guerra Junqueiro teve um papel extremamente importante no cenário cultural de Portugal. Foi classificado o "Victor Hugo português" devido à sua importância e foi considerado, por muitos, o maior poeta social português do século XIX. Recebeu o reconhecimento de escritores contemporâneos importantes, como Eça de Queirós, que o considerou "o grande poeta da Península", como Sampaio Bruno, que viu nele o maior poeta da contemporaneidade, e como Teixeira de Pascoais, que o classificou "um poeta genial". Fernando Pessoa também manifestou a sua admiração por Guerra Junqueiro, classificando Pátria uma obra "superior aos Lusíadas". Da mesma forma, Miguel de Unamuno, escritor espanhol, também considerou-o "um dos maiores poetas do mundo".

A sua obra poética aborda temas sociais que refletem o panorama da sociedade portuguesa dos finais do século XIX e do início do século XX. O anticlericalismo e o ataque à burguesia corrupta são temas marcantes da obra de Guerra Junqueiro, que apresenta um profundo descontentamento com a decadência de Portugal e com postura do rei Dom Carlos e de toda a dinastia Bragança face ao destino do país. Considerava que Portugal estava entregue a uma monarquia que indiferente ao desenvolvimento do país, e desprovida de moral, porquanto entregue aos interesses ingleses. Junqueiro considerava, portanto, que o país havia entrado numa decadência moral e que só poderia se reerguer quando conseguisse redefinir a sua própria identidade, através da revolução moral.

Guerra Junqueiro foi militante do Partido Progressista durante o período monárquico e colaborou ativamente com a República após a sua instauração, em 1910. Obteve reconhecimento dos seus serviços em prol do ideal Republicano, sendo nomeado Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa na Suíça, função que ocupou até 1914.

Manifestou a sua oposição à monarquia em poemas como Finis Patriae, Canção do Ódio e Pátria, instigando nos seus leitores um sentimento de descrédito em relação ao sistema de governo em vigor. Uma das maiores críticas de Junqueiro à monarquia deveu-se à cedência do rei Dom Carlos ao Ultimato Inglês, que resultou, em 1890, no fim do projeto colonial português do Mapa Cor-de-Rosa. Este projeto visava os territórios da costa de Angola à costa Moçambicana.

Guerra Junqueiro marcou, inegavelmente, o cenário da cultura e da literatura portuguesas. Foi reverenciado por vários escritores de renome e continua a ser considerado uma figura de extrema importância no panorama português. Além de grande escritor, foi uma personagem politicamente ativa na instauração da república portuguesa. Obteve reconhecimento não só a nível nacional, mas também internacional, tendo ultrapassado fronteiras e influenciado pensadores de todo o mundo.


Bibliografia ativa

• Amaral, M. (2000-2012). Guerra Junqueiro. In: Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico. Edição eletrónica: http://www.arqnet.pt/dicionario/guerrajunqueiro.html

• Calafate, P. (2006). Portugal como problema – Século XIX: A decadência. Lisboa : Fundação Luso-Americana.

• Pereira, H. M. S. (2008). Guerra Junqueiro. In: Revisitar e Descobrir Guerra Junqueiro. Universidade Católica Portuguesa do Porto. Edição eletrônica: http://artes.ucp.pt/guerrajunqueiro/revisitardescobrir.html


Bibliografia passiva

• Junqueiro, G. (1874). A Morte De D. João. Porto : Livraria More.

• Junqueiro, G. (1875). Contos para a Infância.

• Junqueiro, G. (1879). A Musa Em Férias. Lisboa : Typographia Universal.

• Junqueiro, G. (1885). A velhice do padre eterno. Porto : Livraria Minerva.

• Junqueiro, G. (1890). Finis Patriae. Porto : Empreza Litteraria e Typographica-Editora.

• Junqueiro, G. (1892). Os Simples. Porto : Typographia Occidental.

• Junqueiro, G. (1903). Oração Ao Pão. Porto : Livraria Chardron.

• Junqueiro, G. (1915). Pátria. Porto : Livraria Chardron.

• Junqueiro, G. (1920). Poesias Dispersas. Porto : Livraria Chardron.

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Thu, 13 Dec 2012 13:19:03 +0000
Moniz Barreto http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/moniz-barreto-dp6.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/moniz-barreto-dp6.html Normal 0 21 false false false MicrosoftInternetExplorer4

Moniz Barreto, por Carlos Leone

De origem goesa, onde cursou o Liceu e se familiarizou com a Literatura e a língua inglesas (algo incomum na cultura portuguesa de então, sobretudo francófona), Moniz Barreto (1863-1899) terá sido o principal autor entre os que ensaiaram uma via científica na crítica literária, muito embora a sua morte prematura não lhe tenha permitido alcançar uma influência sobre o seu tempo, com o qual veio a partilhar uma antipatia a Inglaterra por força da questão do Ultimato de 1890.

Em Lisboa frequentou desde 1880 o Curso Superior de Letras, escola onde foi aluno de Teófilo Braga, Jaime Moniz, Ferreira-Deusdado, Adolfo Coelho, entre outros. Os ensaios que escreverá evocam-nos várias vezes, quase sempre saudosamente; no entanto não se distinguiu entre os colegas (o que não significa que estes o desconsiderassem). Mas a instituição teve influência duradoura no espírito do jovem Moniz Barreto pelo ambiente positivista instaurado por Teófilo e seus seguidores (mesmo se se tratava de um positivismo com originalidades pouco comteanas).

Assim, a uma formação juvenil tradicionalista sucedeu uma imersão na variante local do espírito materialista não dialético corrente em Portugal à época, com toda a singularidade que isso acarretava e que decerto terá transparecido aos olhos de Moniz Barreto quando, na década seguinte, frequentou em Paris vários seminários da Universidade local. Uma combinação improvável e de árdua conciliação, mais a mais tendo Moniz Barreto experimentado desde muito cedo as manhas do «Portugal histórico»: sem oportunidade de desenvolver a atividade científica regular que talvez o tivesse feito aprimorar o seu genuíno compromisso com o trabalho intelectual, começou por ser bibliotecário (na Câmara Municipal de Lisboa) e deu início a uma intensa atividade como crítico e publicista na Imprensa do seu tempo: Jornal de Comércio, O Repórter e, entre outros, sobretudo a Revista de Portugal dirigida por Eça, foram tribunas de distinção para o jovem letrado que assim persistiu na exposição das suas tendências intelectuais sincréticas mais do que as questionou. O golpe de misericórdia deu-se na forma, ainda hoje tão usual, de um concurso simulado para admissão ao professorado (nos caso um lugar de docente de História no Colégio Militar) do qual Moniz Barreto foi excluído para se proceder a um ajuste direto. Ainda tentou o jornalismo no Brasil, onde a desilusão chegou rápida, e a partir de 1894 fixou-se em Paris. Aí, as desilusões anteriores, os problemas de saúde e a escassez de meios de subsistências, aliadas a um temperamento dado ao isolamento, foram o bastante para o seu pensamento e o seu estilo não evoluírem. Morreu literalmente consumido em 1899, consumido por si e pelo país que amava, ignorado pela Pátria de acolhimento.

Tinha sido ‘lançado’ por Eça quando, no primeiro número da sua Revista de Portugal (1889), publicou “A Literatura Portuguesa Contemporânea”, trabalho no qual as marcas da ciência em clave positivista estão já bem patentes. Na década seguinte, até à sua morte, nunca abdicou dessa cientificidade mas aprofundou-a num sentido cada vez mais psicologicizante (em especial no seu Oliveira Martins de 1892). Rapidamente reconhecido como um autor a considerar (Silva Gaio dedicar-lhe-á em 1894 a integralidade do volume I da sua obra Os Novos), certo é que a sua restante produção é pontual e dispersa, tendo sido coligida em volume apenas no século XX em antologias de Vitorino Nemésio (Ensaios de Crítica, 1944) e de Castelo Branco Chaves (Estudos dispersos, 1963).

A sua ambição científica nunca encontrou um trabalho que lhe permitisse exprimir-se completamente; quando morreu, em Paris, tinha-se isolado mesmo dos seus amigos mais próximos, por força de um orgulho que o levava a rejeitar apoios. Esse temperamento sobressai também nos textos, ora apaixonantes ora entediantes, mas sempre carregados de convicção, mesmo quando tenta, sem sucesso, distanciar-se da sua própria condição (Eça, com o tempo, cansou-se disso mesmo). Fiel ao europeísmo das correntes intelectuais do seu tempo, Guilherme Moniz Barreto estudou com igual interesse não só autores portugueses mas também estrangeiros (como Taine, talvez a sua maior influência teórica), e por isso, hoje, a Imprensa Nacional ultima uma nova edição das suas obras, refundindo as duas edições anteriores segundo novos critérios.

Sobre Moniz Barreto, cf. Barreto, Guilherme Moniz» por António Salgado Júnior, em Prado Coelho, J., dir., Dicionário de Literatura, vol. 1, pp.178, Mário Figueirinhas Editor, Porto, 1997 (4ª ed.) e o mais recente estudo, de 1989, por António Braz Teixeira, «Barreto (Guilherme Moniz)» in Enciclopédia Logos, Verbo, Lisboa/São Paulo (reimpr. 1997, col. 610/611).

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
Oliveira Martins http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/oliveira-martins-dp11.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/oliveira-martins-dp11.html Normal 0 21 false false false

Oliveira Martins, por Sérgio Campos Matos

Oliveira Martins
Oliveira Martins

Historiador, economista, antropólogo, crítico social e político, a sua ação e os seus trabalhos suscitaram controvérsia e tiveram considerável influência, não apenas em historiadores, críticos e literatos do seu tempo e do século XX, mas na própria vida política portuguesa contemporânea.

Desde 1867, Oliveira Martins experimentou diversos géneros de divulgação cultural: romance e drama históricos, ensaios de reflexão histórica e política e doutrinária. Mas essas tentativas, de valor desigual, não alcançaram grande sucesso. Em 1879, dá-se uma inflexão no seu percurso intelectual, com o início da publicação da Biblioteca das Ciências Sociais, de sua exclusiva autoria. Embora alheia a intenções doutrinárias e ao espírito de sistema dominante na época (positivismo, determinismos vários), não deixaria de, pontualmente, exprimir estas tendências. Pelo largo fôlego e diversidade de matérias que pretendia abarcar - história peninsular, história nacional e ultramarina, história de Roma, antropologia, mitos religiosos, demografia, temas de economia e finanças, etc. - a coleção constituiu um projeto sem precedentes no meio cultural português da Regeneração, com o objetivo de generalizar todo um conjunto de saberes entre um público alargado. O empreendimento editorial ficaria marcado pelo autodidatismo de Oliveira Martins, uma curiosidade científica sem limites e um bem evidente pendor interdisciplinar e globalizante. Esse autodidatismo é afinal indissociável do próprio percurso biográfico e profissional do historiador.

Na verdade, devido à morte do seu pai, Martins não chegara a concluir o curso liceal e cedo se dedicou à atividade profissional como empregado em duas casas comerciais (1858-70). Exerceu depois funções de administrador de uma mina, na Andaluzia (Santa Eufémia, 1870-74). De novo em Portugal, dirigiu a construção da linha ferroviária do Porto à Póvoa e Famalicão e foi administrador da respetiva Companhia ferroviária. Entretanto era eleito presidente da Sociedade de Geografia Comercial do Porto (1880) e depois nomeado diretor do Museu Industrial e Comercial do Porto (1884). Exerceu ainda as funções de administrador da Régie dos Tabacos (desde 1888), da Companhia de Moçambique (1888-90) e fez parte da comissão executiva da Exposição Industrial Portuguesa (1888).

Em 1885, Oliveira Martins aprofundava a sua prática de redator da imprensa periódica com a fundação d'A Província (1885) e depois, já em Lisboa, d'O Repórter (1888). Para além destas experiências profissionais tão diversas e na sequência de várias candidaturas a deputado (1878-83), convicto da necessidade de reformar profundamente a vida política nacional, aderia ao Partido Progressista (1885), partido em que dinamizaria a chamada Vida Nova. Era eleito deputado (sucessivamente, de 1886 a 1894) e, em 1899, nomeado Ministro da Fazenda no ministério de José Dias Ferreira. Desempenharia este cargo apenas por quatro meses, devido a divergências com o chefe do governo.


Na sua extensa obra podem distinguir-se as seguintes fases:

1867-1871: estreia, em múltiplos géneros (romance histórico, drama, crónica, crítica literária, artística, social e política); é uma fase sincrética de experimentação de ideias e primeiros tentâmes críticos.

1872-78: ensaio de temática histórica (1872 e 1878); crítica social e política; textos de doutrina e reflexão sobre o socialismo (1872-73); crónica de atualidade, de incidência diversa (Revista Ocidental, 1875); desenvolve-se e alarga-se, em termos de problemática, a anterior experimentação, centrando-se agora em três grandes áreas, a história e o pensamento social e político e os estudos sobre finanças. De apologista de uma república social e federalista, na sequência do malogro da República em Espanha, depressa passa a crítico sagaz do republicanismo (1873-74) e teórico do socialismo catedrático.

1879-1885: publicação da Biblioteca das Ciências Sociais, de temática muito variada, em que à aprendizagem do seu autor corresponde, de imediato, a apresentação pública dos resultados dessa autoformação. Define-se um vasto projeto de divulgação cultural e científica. Aprofunda-se e estrutura-se a visão da história de Portugal e abrem-se novos campos à sua curiosidade científica: geografia, arqueologia, antropologia, sociologia, psicologia coletiva, economia.

1885-1894: crónica política na imprensa periódica, ensaísmo histórico (por exemplo, Portugal nos Mares), biografias históricas e crónicas de viagem (respeitantes a Inglaterra e Espanha). Corresponde, em parte, à fase de mais intensa atividade política (1885-1892), ao abandono da Biblioteca das Ciências Sociais e à conceção de um plano de biografias históricas (desde 1889), concentrando-se o seu interesse no período áureo da história nacional (dos finais do séc. XIV ao séc. XVI) e nas suas personalidades representativas (Os filhos de D. João I, Nuno Álvares Pereira, D. João II). Esse tempo forte encerrava, a seu ver, as melhores experiências políticas e éticas para o presente.


Oliveira Martins

Oliveira Martins


Quer no plano historiográfico quer no plano político-ideológico, Oliveira Martins ocupa um lugar singular no panorama cultural e político português da segunda metade do séc. XIX, que sempre resiste a quaisquer etiquetas que se lhe aponham. Teórico do socialismo de inspiração proudhoniana, evoluindo depois no sentido do reconhecimento da relevância da autoridade e da razão de Estado? Mentor do grupo dos Vencidos da Vida, no final do decénio de 1880? Historiador romântico, cultor de uma história narrativa, dramática, de expressão artística? Historiador metafísico, pessimista, filósofo da história? Divulgador de uma antropologia de cariz evolucionista e darwinista? Poderá admitir-se tudo isso, sem dúvida. Mas também é verdade que não deixou de manifestar uma intencionalidade científica (veja-se, por exemplo a História da Civilização Ibérica, 1879), teorética, de integração de uma pluralidade de métodos e saberes (geografia, antropologia, economia, ciência política, psicologia, história) numa leitura global da evolução histórica nacional e da própria humanidade.

Como também evidenciou, sobretudo nas biografias históricas do final da vida, a par de indiscutíveis qualidades literárias e ensaísticas, empenho na pesquisa e utilização de fontes, nas quais procura escorar as suas obras. Sem esquecer a preocupação em rever aturadamente os seus trabalhos e pontos de vista anteriores: lembrem-se as sucessivas reestruturações a que submeteu o plano da Biblioteca das Ciências Sociais, a revisão da História de Portugal, tendo em conta diversas críticas que lhe haviam sido dirigidos, a reelaboração de Os Lusíadas. Ensaio sobre Camões e a sua obra (versão original, 1872) em 1891, ou as diversas propostas de periodização do percurso histórico nacional que sucessivamente adotou. Todavia, as qualidades do prosador de largos dotes artísticos sobrepõem-se, por vezes, às exigências do rigor histórico.

No plano político, não deixa de ser sintomático o modo tão díspar como a sua intervenção na sociedade portuguesa foi julgada pelos seus contemporâneos. É um facto que aceitou o apoio de regeneradores numa candidatura independente a deputado (1878). Tal como aceitaria ser candidato oficial pelo Partido dos Operários Socialistas de Portugal às eleições de 1879, ou ainda integrar uma lista republicana candidato às eleições municipais de 1883, no Porto. São conhecidas as suas intenções reformadoras quando aderiu ao Partido Progressista (1885). Percurso muito criticado e discutido, deve contudo compreender-se tendo em conta a apreciação que Oliveira Martins fazia da vida política nacional e das suas insuficiências no ponto de vista da relação entre os políticos e a sociedade civil e sobretudo das limitações da opinião pública. Bem como nunca perdendo de vista o quadro do seu projeto reformista, independente e suprapartidário, não prescindindo, todavia, do concurso dos partidos políticos, e tendo em conta a subalternização da questão formal do regime (atitude que partilhava com Antero de Quental). A multiplicidade de pontos de vista que sempre aflora em tão diversa reflexão teórica complexifica extremamente a compreensão do seu legado.

Ainda hoje a obra de Oliveira Martins suscita interpretações e juízos tão desencontrados como há um século atrás - sobretudo no que respeita à sua historiografia e ao pensamento social e político que deixou. O que permanece indiscutível é a indelével presença do seu espírito crítico entre nós, a fina lucidez da sua compreensão dos problemas portugueses.


Bibliografia Ativa

(selecionada)

Febo Moniz, Lisboa, Empresa Lusitana Ed. s.d. (1867);

Os Lusíadas. Ensaio sobre Camões e a sua obra, em relação à sociedade portuguesa e ao movimento da Renascença, Porto, Imprensa Portuguesa Ed., 1872.;

Teoria do socialismo (pref. de António Sérgio), Lisboa, 1952 (1.ª ed., 1872);

Portugal e o Socialismo (pref. de António Sérgio), 2.ª ed., Lisboa, 1953 (1873);

A circulação fiduciária. Memória apresentada à Academia Real das Ciências de Lisboa, Lisboa, PAMP, 1923 (1878);

História da civilização ibérica, 8.ª ed., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1946 (1.ª ed., 1879);

História de Portugal. Edição crítica (introd. de Isabel de Faria e Albuquerque e pref. de Martim de Albuquerque), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, s.d. [1988];

Portugal Contemporâneo, 3 vols., Lisboa, Guimarães Editores,, 1953 (1.ª ed., 1881);

O Brasil e as colónias portuguesas, 5.ª ed., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1920 (1.ª ed., 1880);

Elementos de Antropologia, 7.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1954 (1880);

As raças humanas e a civilização primitiva, 4.ª ed., 2 vols., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1921 (1881);

Sistema dos mitos religiosos (pref. de José Marinho), 4.ª ed., Lisboa, 1986 (1882);

Quadro das instituições primitivas, 3.ª ed., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1909 (1883);

O Regime das riquezas, 3.ª ed., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1917 (1883);

Tábuas de cronologia e geografia histórica, Lisboa, Livraria de António Maria Pereira Ed., s. d. ( 1.ª ed., 1884);

Política e economia nacional, 2.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1954 ( 1.ª ed, 1885);

História da República Romana, 4.ª ed., 2 vols, Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1927 (1885);

Camões, Os Lusíadas e a Renascença em Portugal, 4.ª ed., Lisboa, Guimarães Ed., 1986 (texto correspondente ao da 2.ª ed., 1891);

Portugal nos Mares, Lisboa, Guimarães Editores, 1994 (1889 e 1924);

Os filhos de D. João I, 2 vols., Lisboa, Guimarães Editores, 1983 (1.ª ed., 1891);

A vida de Nun'Álvares, 9.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1984 (1.ª ed., 1893);

A Inglaterra de hoje, Lisboa, Guimarães Editores, 1951 (1893);

Cartas peninsulares, Lisboa, Liv. António M.Pereira, 1895;

O Príncipe Perfeito (pref. de H. Barros Gomes), 6.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1984;

Dispersos (sel., pref. e notas de António Sérgio), 2 vols, Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1924;

Correspondência de J.P. de Oliveira Martins, (pref. e anotada por F.A. de Oliveira Martins, Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1926;

Perfis (pref. de Luís de Magalhães), Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1930;

Páginas desconhecidas (Introd., coorden. e notas de Lopes de Oliveira), Lisboa, Seara Nova, 1948;

Literatura e filosofia (pref. de Cabral do Nascimento), Lisboa, Guimarães Editores, 1955;

O Jornal, Lisboa, Guimarães Editores, 1960;

Política e história, 2 vols., Lisboa, Guimarães Editores, 1957;

Fomento rural e emigração, 3.ª ed., Lisboa, Guimarães Editores, 1994.



Bibliografia Passiva

Cadernos do Noroeste. Actas do Colóquio Oliveira Martins, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, vol.7, n.º 1, 1994;

Pedro CALAFATE (introd. e selecção de textos), Oliveira Martins, Lisboa, Ed. Verbo, 1990;

Fernando CATROGA, "História e ciências sociais em Oliveira Martins", in História da História em Portugal sécs. XIX-XX, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996, pp. 117-159;

Fidelino de FIGUEIREDO, História d'um "Vencido da Vida", Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1930;

Paulo FRANCHETTI, "No centenário da morte de Oliveira Martins", J.M. Eça de Queiroz, J.P. Oliveira Martins, Correspondência, São Paulo, UNICAMP, 1995;

V. Magalhães GODINHO, Ensaios III. Sobre teoria da história e historiografia, Lisboa, Sá da Costa, 1971;

Manuel Viegas GUERREIRO, Temas de antropologia em Oliveira Martins, Lisboa, ICLP, 1986;

Amadeu Carvalho HOMEM, "Oliveira Martins", História de Portugal (dir. de João Medina), vol. IX, Lisboa, Ediclube, 1993, pp.145-148;

Inventário do espólio de Oliveira Martins (org. de Maria José Marinho e A. Braz de Oliveira; cronol. de Carlos Maurício), Lisboa, 1995;

Joaquim Pedro de Oliveira Martins. In Memoriam, s.l., n.d.(1902);

Eduardo LOURENÇO, "Lembrança de Oliveira Martins - história e mito", Oliveira Martins e os críticos da História de Portugal, Lisboa, IBNL, 1995;

Álvaro M. MCHADO, Les romantismos au Portugal. Modeles etrangers et orientations nationales, Paris, FCG, 1986;

Guilherme de Oliveira MARTINS, Oliveira Martins. Uma biografia (pref. de Eduardo Lourenço), Lisboa, s.d.;

Sérgio Campos MATOS, "Na génese da teoria do herói em Oliveira Martins", Estudos em homenagem a Jorge Borges de Macedo, Lisboa, INIC, 1992, pp. 475-504;

Id., Historiografia e memória nacional no Portugal do século XIX (1846-1898), Lisboa, Ed. Colibri 1998;

Carlos C. MAURÍCIO, A imagem humana. O caso de Oliveira Martins, 1867-1955, Lisboa, ISCTE, 1995 (dactil.);

João MEDINA, As Conferências do Casino e o socialismo em Portugal, Lisboa, Pub. D. Quixote, 1984;

Augusto Santos SILVA, Oliveira Martins e o socialismo, Porto, Afrontamento, 1987;

Id., Palavras para um país, Lisboa, Celta, 1997;

Albert SILBERT, "Oliveira Martins et l'Histoire", Regards sur la génération portugaise de 1870, Paris, FCG, 1970;

Abdoolkarim A. VAKIL, "Caliban na Biblioteca: Oliveira Martins, ciências sociais, cidadania e colonialismo", Estudos Portugueses e Africanos, n.º 25/26, 1995, pp.109-127;

"Leituras de Oliveira Martins. História, ciências sociais e modernidade económica" (1995), Actas do Congresso Internacional Oliveira Martins: literatura, história e política (no prelo).


Obras Traduzidas em Espanhol

História de la Civilización Ibérica (trad. Luciano Taxonera), Madrid, 1894 (há várias outras edições, de 1926, 1946, etc.; há também duas edições pub. em Buenos Aires, com revisão e prólogo de Xavier Bóveda, 1944 e 1951 e uma sob o título de La Civilización Ibérica, México, Ed. Intercontinental, 1944);

Los Hijos de D. Juan I. pincepes, guerreiros y navegadores fundadores de un imperio, Buenos Aires, Ed. Atalaya, 1946;

Navegaciones y Drescobrimentos de los portugueses anteriores al viaje de Colon, Madrid, 1892 (há trad. francesa de Alexandre Boutroue, Paris, 1893).


Obras Traduzidas em Inglês

The History of Iberian Civilization (trad. de Aubrey Bell e pref. de S. Madariaga), Londres, Oxford University Press, 1930;

The Golden Age of Prince Henry the Navigator (trad. de Os filhos de D. João I com anotações de Johnston Abraham and W. E. Reynolds, Londres, Chapman and Hall, 1914;

The England of Today (trad. de C.J. Wildey), Londres, G. Allen, 1896.


Iconografia

Duas fotos reproduzidos em Guilherme de Oliveira MARTINS, Oliveira Martins. Uma biografia (pref. de Eduardo Lourenço), Lisboa, s.d, junto à p.208 e uma terceira reproduzido em António José Saraiva, História ilustrada das grandes literaturas. Literatura portuguesa, Lisboa, Ed. Estúdios Côr, 1966, p.240


Trechos Significativos de Algumas Obras

História de Portugal. Edição crítica (introd. de Isabel de Faria e Albuquerque e pref. de Martim de Albuquerque), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, s.d. [1988];

"Advertência, vol. I, pp.VII-VIII (concepção de história: "A história é sobretudo uma lição moral (...) facto incontestável na vida das sociedades", 1.32, p. VIII);

Idem, vol.II, p.262 (sobre D. João VI: "Representante quase póstumo.... filha do Barbadão")

História da Civilização Ibérica, 8.ª ed., Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1946 (1.ª ed., 1879): livro IV, cap. 11 pp.221-222 ( o misticismo espanhol: "A força criadora da natureza produziu espontaneamente um fenómeno singular na Europa (...) Marrocos e a Espanha"; o futuro dos povos peninsulares: Livro Quinto, cap. III, pp.327-328: "Nós acreditamos firme e diremos até piamente (...) a Espanha do passado");

Portugal contemporâneo, vol. 3, Lisboa, Guimarães Ed., 1953, Livro VI, cap-IV- Conclusões, pp.302-310 (reflexão sobre Portugal e os seus problemas cerca de 1881: "O que nos interessa a nós saber(...) Ser-lhe-á dado acordar ainda a tempo?"

História da República Romana, 4.ª ed., vol.II, Lisboa, Parceria A.M.Pereira, 1927 (1885), pp.357-359: "Finalmente! As províncias estavam submetidas (...) acabara de reduzir a pó a força antiquíssima do Senado."(sobre César).


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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
Pinheiro Chagas http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/pinheiro-chagas-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/pinheiro-chagas-dp8.html Normal 0 21 false false false MicrosoftInternetExplorer4

Pinheiro Chagas, por Carlos Leone

Pinheiro Chagas
Pinheiro Chagas

Último nome maior da primeira geração de críticos literários que Portugal conheceu, Pinheiro Chagas (Lisboa, 1842-1895) foi também, e mais celebremente, o «fiel inimigo» de Eça de Queirós, o qual o crismou de «brigadeiro Chagas», reprovando-lhe o seu patrioteirismo agarrado ao passado. Com efeito, muito do sucesso do trabalho de Chagas junto do público deveu-se à sua capacidade para – no teatro, na historiografia, na política, na novela, na poesia – tocar com sucesso as cordas mais patéticas da sentimentalidade portuguesa do seu tempo. Isso mesmo torna-o uma leitura um pouco frustrante, hoje, devido ao sucesso posterior do estilo e da atitude de Eça junto do mundo literário (e da cultura em geral) de Portugal. Mas o seu trabalho inicial, no jornalismo literário, merece consideração por aí se encontrar já tudo o que depois viria a celebrizá-lo, mas ainda numa forma muito primitiva e ingénua (os dois volume de crítica, Ensaios Críticos e Novos Ensaios Críticos, serão em breve republicados pela INCM).

Pinheiro Chagas viu publicados os seus Ensaios Críticos (Porto, 1866), ainda muito jovem. Os ensaios aí reunidos tinham sido escritos e publicados quando tinha pouco mais de vinte e um anos e reunidos com pouco mais de vinte e três (cf. «Nota» final ao livro). No caso de Chagas e de tantos outros depois dele, vemos que muita da crítica que deixou marca foi feita por gente implausivelmente nova, quase sempre com posições muito diversas: Chagas e os «Vencidos da Vida»; Fidelino e Pessoa; Régio e Cunhal; Gaspar Simões e Casais Monteiro… Assim se acompanha o que houve vivo e ativo desde a segunda metade do século XIX até à segunda metade do século XX. Longe de ser uma exceção, Pinheiro Chagas é apenas um exemplo possível de como é entre os menos experientes que surgem, tantas vezes, os mais relevantes para a História da República das Letras. Só desde o momento que essa História, da Literatura e da Crítica, começou a ser feita sistematicamente dentro da Universidade, desde meados do século XX, é que se operou a dupla mutação face à crítica «impressionista» (termo ainda aplicável, aliás, a quase tudo o que um David Mourão-Ferreira cometeu na crítica, como o próprio admitia) em que Chagas se exercitou nos seus ensaios: a constituição de um público no sentido moderno do termo, falta tantas vezes lamentada tanto por Chagas como por outros depois dele (como ainda no caso do Inquérito Literário de Boavida Portugal, em 1915); e a criação de um establishment universitário em contacto regular com aquela Europa moderna que a geração de Chagas e Eça – e mesmo antes dela – tomava por ideal normativo. Sem estas duas mudanças, e a mudança social que se produziu com elas no último quartel do século XX, o mundo literário e social de Chagas permaneceria sendo o nosso.

Nesse mundo, a prosa tendia à solenidade e o número de carateres ainda não era a ultima ratio da escrita, nem mesmo da jornalística. Quem conhecer as longas aberturas dos textos do início do século XX sentir-se-á à vontade entre a prosa dos novos de meados do século XIX, com as suas extensas divagações sobrecarregadas de erudição clássica e moderna.

Como Chagas explica nas suas «Duas palavras d’Introducção», Ensaios Críticos reúne alguns dos textos do «primeiro ano do meu noviciado jornalístico.». Nele, e em tudo o que mais se propunha fazer, «a missão da crítica era elevadíssima», mesmo se a adulação colhe sempre mais adeptos, tanto entre os maiores como entre os menores: «Perante a vaidade todos somos iguais». E a modéstia do aspirante a critico, a homem de letras naquela aceção que hoje desapareceu, só torna a leitura dos ensaios mais esmagadora: aquela ideia de cultura já não existe, aquela língua portuguesa já não existe, aquela Pátria já não existe.

Os Novos Ensaios Críticos não trazem nada de novo ao leitor, seja nos temas, seja no seu tratamento. Lançado apenas um ano depois do primeiro volume de ensaios, resulta do sucesso público do seu predecessor e pretende, sim, juntar ao já conhecido alguns ensaios inéditos, escritos sem a pressão do quotidiano jornalístico e assim menos sujeitos a erros e mais propícios à perenidade. Ou assim Pinheiro Chagas pretendia.

Na realidade, retoma e desenvolve os mesmos temas e autores para reiterar as suas ideias já estabelecidas. Por vezes isso resulta numa sistematização de argumentos mais clara, como sucede em «As memórias do Judas», onde o comentário ao romance homónimo serve para fixar uma relação entre o idealismo em arte e o espiritualismo na vida, por oposição à degeneração do Romantismo em Arte e sua sequela social, o materialismo. Sendo escasso, é do mais relevante que se pode encontrar. Novo, com efeito, só o elogio a Júlio Diniz e a saudação à estreia de Silva Gaio na ficção (Mário).

A posição social como crítico cimentava-se e já se sente a referência à polémica de Antero com Castilho (leia-se a segunda secção do ensaio «Thomaz Ribeiro»). Assim também com toda a sua geração. Até por isso, é apropriado o ensaio final ser sobre o Em Paris, de Ramalho Ortigão. Neste livro, nem haverá necessidade de qualquer nota final, pois é já a sociedade ilustrada do final do século XIX português que aqui fala entre si, sem ilusões quanto ao presente, apenas dúvidas sobre o futuro e discordância a respeito do passado. Sobre Pinheiro Chagas, cf. «Chagas, Manuel Joaquim Pinheiro» por Hernâni Cidade, em Prado Coelho, J., dir., Dicionário de Literatura, vol. 1, pp.178, Mário Figueirinhas Editor, Porto, 1997 (4ª ed.).

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
Rafael Bordalo Pinheiro http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/rafael-bordalo-pinheiro-dp17.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/rafael-bordalo-pinheiro-dp17.html Normal 0 21 false false false

Rafael Bordalo Pinheiro, por Matilde Tomaz do Couto

Rafael Bordalo Pinheiro
Rafael Bordalo Pinheiro

Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) revelou-se um espírito brilhante, ímpar de criatividade, que aplicou a uma contínua intervenção atenta e crítica à vida portuguesa. Permanecem de surpreendente atualidade os seus comentários à política, à economia, à sociedade da época, nas revistas de caricatura e humor que editou, atitude que não raro refletiu na cerâmica que, a partir de 1884, logra revitalizar nas Caldas da Rainha.

Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro nasce na Rua da Fé, em Lisboa, aos 21 de março de 1846, terceiro filho duma extensa prole de doze irmãos, a quem se seguiria o célebre retratista Columbano (1857-1929). Foram seus pais o pintor romântico Manuel Maria Bordalo Pinheiro (1815-1880) e D. Maria Augusta do Ó Carvalho Prostes.

Com nove anos, ingressa no Liceu Central das Mercieiras e, quatro anos após, na Academia Real das Belas Artes de Lisboa, onde virá a frequentar classes de Desenho até 1871. Entretanto, em 1865, matricula-se ainda no Curso Superior de Letras, quando já tivera também, com apenas catorze anos, o seu primeiro contacto com o palco, ao integrar o elenco duma peça que sobe à cena no Teatro Garrett. Este interesse que muito cedo despertara e o acompanhará por toda a vida certamente o motiva a inscrever-se, por essa época, no Curso de Arte Dramática do Conservatório de Lisboa. Todavia, não chega a concluir os estudos em qualquer destas áreas, pois o cumprimento disciplinado dos programas escolares escapa ao seu temperamento irrequieto.

Em 1863, dá início à vida profissional como amanuense da secretaria da Câmara dos Pares, ocupação que dificilmente conviria ao seu caráter, mas que parece manter até 1875.

Data de 15 de setembro de 1866 o casamento de Rafael com D. Elvira Ferreira de Almeida, enlace romanesco apadrinhado por Júlio César Machado (1835-1890), que se realiza contra a vontade da família da noiva. Do tempo então passado na Quinta da Broa, na Golegã, resultam apontamentos a desenho e aguarela tomados do natural, que fixam a paisagem e os costumes da região.


Rafael Bordalo Pinheiro ... Genuinamente português por constituição e por temperamento, de olhos pretos, nariz grosso, cabelo crespo, tendendo para a obesidade, ele é um sensual, um voluptuoso, um dispersivo, um desordenado. Uma das mais belas virtudes que ele não tem, é a que consiste em vencer os impulsos da natureza. Desgraçadamente, observa-se com frequência que os homens rígidos, que mais exemplarmente triunfam das próprias paixões, não triunfam de mais nada.

Ramalho Ortigão, 1891


Estreia-se nos salões da Sociedade Promotora das Belas Artes em Portugal, em 1868, no qual seu pai também figura, não passando despercebidos os trabalhos a aguarela que apresenta de tipos populares da capital, como a “Vendedeira de Queijos”, o “Vendedor de Fósforos” ou o “Vendedor de Palitos e Rocas”. Na exposição de 1870, denunciam-se já os seus predicados de fino observador e a intuição do caricaturista, em obras intituladas “O Espirra-Canivetes”, “Os Jogadores de Gamão” ou a série de “O Homem que ri”. Até 1874, Rafael mantém uma presença assídua nos certames da Promotora, com cenas de costumes, algumas notadas pelo seu realismo.

Contudo, a carreira artística de Bordalo encontraria outras vias de desenvolvimento, passando ainda pelo jornalismo, a ilustração e a decoração. Como exemplo, cite-se o livro de Júlio César Machado, “Os Teatros de Lisboa” (1875), que é documentado com perto de 250 belos desenhos de Rafael Bordalo. De notar que, entre 1873 e 1875, colabora como ilustrador nos periódicos estrangeiros “Illustración de Madrid”, “Illustración Española y Americana”, “El Mundo Cómico”, “El Bazar” e em várias revistas francesas e inglesas, além do prestigiado “Illustrated London News”, que lhe dirige convites de trabalho em Londres, que Bordalo não aceita.

Mas será com a caricatura artística que o génio de Rafael Bordalo Pinheiro deixará uma marca indelével e inconfundível no século XIX português. O seu lápis traduz no quotidiano a perspicaz e oportuna observação do humor bordaliano, caracteriza a política do País escalpelizando os seus ícones, cria símbolos das realidades nacionais, dos quais o Zé Povinho se ergue como a imagem dum povo explorado e sofredor, mas conformado com a sorte que lhe cabe. Bordalo perfila-se como o crítico, mas também como o lutador em defesa dos valores e da dignidade de Portugal. O momento mais alto e mais sentido será, sem dúvida, o da crise do “Ultimatum” britânico de 1890, que motiva inúmeras páginas patrióticas e a personificação da Inglaterra na figura anafada e arrogante de John Bull.

Em 1870, o sucesso obtido por uma caricatura alusiva à peça em cena intitulada “O Dente da Baronesa” revelara um talento e iria despoletar uma paixão. Esse ano vê surgir sucessivamente o espirituoso álbum de caricaturas “O Calcanhar d’Aquiles”, a folha humorística “A Berlinda”, da qual saem sete números, e “O Binóculo”, periódico semanal à venda apenas nos teatros, com quatro números publicados. Deu ainda à estampa o “Mapa de Portugal”, cujo êxito foi assinalado por vendas superiores a 4000 exemplares, no espaço de um mês.

Data de 1875 a iniciativa então de maior alcance, com a criação do primeiro jornal dedicado à crítica social: “A Lanterna Mágica”. São companheiros de Bordalo neste empreendimento Guilherme de Azevedo (1840-1882) e Guerra Junqueiro (1850-1923), um projeto que faz a crónica dos factos sociais, enquanto tece a crítica às políticas e às instituições. Neste contexto, nasce a figura do Zé Povinho, tão acertada no seu conteúdo, que permanece no imaginário português com uma reforçada carga simbólica.

Definia-se o vasto campo da atuação de Bordalo, não só de expressão artística e de vivacidade de espírito crítico, mas de intervenção cívica e patriótica.

Surgindo nessa época uma proposta de colaboração em “O Mosquito”, jornal brasileiro de humor, no verão de 1875, parte para o Rio de Janeiro, onde viverá quatro anos, apesar duma difícil adaptação ao meio. A sua permanência no Brasil fica ainda assinalada pela criação de duas revistas de caricaturas: o “Psit!!!” (1877) e “O Besouro” (1878-79). É a oportunidade para nascerem do seu lápis novas personagens-tipo da sociedade carioca, tais como o Psit!, o Arola ou o Fagundes.

Em Lisboa, publicava-se o “Álbum de Caricaturas: Frases e Anexins da Língua Portuguesa” (1876), ilustrado com desenhos de Bordalo.

Logo após o seu regresso à Pátria, em meados de 1879, dá início à publicação de “O António Maria”, cujo título alude a António Maria Fontes Pereira de Melo, figura política dominante que presidira ao Ministério. Até janeiro de 1885, nas páginas desta revista onde também colaborou Guilherme de Azevedo, conjuga-se um combate de ideias que visa os partidos no exercício do poder e as debilitadas instituições da monarquia. Em simultâneo, vão saindo as folhas do “Álbum das Glórias”, 42 caricaturas de personalidades e instituições portuguesas, comentadas por literatos contemporâneos. Na sua globalidade, estas obras, a que ainda acrescem edições do “Almanaque do António Maria”, constituem o cerne da obra gráfica de Rafael Bordalo Pinheiro, o apogeu do criador e um momento ímpar na cultura portuguesa.

É por esta época que Rafael Bordalo Pinheiro integra o Grupo do Leão (1881-89), importante formação livre apoiada por Alberto de Oliveira (1861-1922), que reúne artistas, escritores, intelectuais em torno de Silva Porto (1850-1893) e inclui os pintores José Malhoa (1855-1933), António Ramalho (1859-1916), João Vaz (1859-1931), Moura Girão (1840-1916), Henrique Pinto (1853-1912), Ribeiro Cristino (1858-1948), Rodrigues Vieira (1856-1898), Cipriano Martins e ainda Columbano, que pinta o célebre retrato de grupo (1885) onde figuram estes protagonistas à mesa do Leão d’Ouro, acompanhados por Manuel Fidalgo e outro dos criados daquela cervejaria lisboeta. Também Rafael caricatura os mesmos na “Alegoria ao Grupo do Leão”, óleo a simular azulejo em que cada artista surge com os atributos do seu género de pintura.

De 1885 a 1891, publica os “Pontos nos ii”, revista com idêntica intenção e semelhante na postura de defesa das causas portuguesas e de denúncia clara das manobras políticas, em que assumem particular relevo a “Questão com a Inglaterra”, o “Monopólio dos Tabacos”, o “Ultimatum” e a “Revolta do Porto de 31 de janeiro”. É na sequência das empenhadas páginas dedicadas a este último acontecimento que o jornal é encerrado pelo Governo Civil de Lisboa, logo após o número de 5 de fevereiro de 1891.

Será a oportunidade para o rápido reaparecimento de “O António Maria”, numa 2ª série que perdurará até 1899. Em 1900, dá lugar a “A Paródia”, revista que atesta o desencanto de Rafael Bordalo face à vida política do País, substituindo-a cada vez mais pelo comentário do seu desenho aos eventos e às personalidades do meio artístico lisboeta, e dando espaço à colaboração do filho Manuel Gustavo (1867-1920). No entanto – ou por isso mesmo –, é nas capas dos primeiros números desta revista que caricatura os variados aspetos da realidade socioeconómica, de forma tão certeira que a sua aplicação continua a ser lembrada com acuidade, seja “A Política: a Grande Porca”, “A Finança: o Grande Cão”, “A Economia: a Galinha Choca” ou “A Retórica Parlamentar: o Grande Papagaio”.

Refere a estudiosa do artista, Irisalva Moita: “concorria em Rafael Bordalo Pinheiro um tão importante conjunto de predicados necessários ao caricaturista – espírito crítico, poder de síntese, penetração psicológica, amor ao próximo, desenho incisivo e rápido, intuição, poder de fixação do essencial – que era neste campo que o Artista havia, forçosamente, de se encontrar.”. Lembre-se que é ele ainda o pioneiro, nas suas revistas, da banda desenhada portuguesa.

A criação da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha sob a direção artística de Bordalo e a sua instalação na vila, em 1884, contribui decisivamente para a revitalização da ancestral cerâmica local, quer pela revolução das formas, quer pela gramática decorativa de raiz francamente naturalista e tantas vezes duma exuberância a desafiar a realidade. É a oportunidade de passar à argila a caricatura e o humor, entre muitos outros motivos criando os bonecos de movimento, como o Zé Povinho, a Velha Maria, a Ama das Caldas, o Cura, o Sacristão, o Polícia. Por outro lado, executa cerca de 60 figuras da Paixão de Cristo (1887-99) para as Capelas do Buçaco, esculturas em terracota de grande animismo, individualidade e movimento, uma encomenda do Governo português para 86 figuras, que não foi concluída, e se pode apreciar no Museu de José Malhoa, nas Caldas da Rainha. Mas não só a faiança das Caldas deve a Bordalo Pinheiro o desbravar de caminhos. Também a arte do barro portuguesa em geral colhe benéfico fruto da ação e da inspiração desse notável vulto da nossa cultura.

Dirige ainda a construção do Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Paris de 1889, empreendimento grandioso que reúne e valoriza os produtos nacionais, alcançando aí a cerâmica das Caldas notável sucesso e sendo o artista galardoado com medalha de ouro. Em 1892, em colaboração com Ramalho Ortigão (1836-1915), realiza outro importante projeto internacional: a decoração da secção portuguesa da Exposição Colombiana de Madrid, segundo programa de motivos náuticos de grande visibilidade.

Aos 58 anos, quando a sua produção artística ainda teria muito a revelar, Rafael Bordalo Pinheiro morre em Lisboa, no dia 23 de janeiro de 1905.

Bordalo, espírito criador, grande talento de artista, renovador da cerâmica das Caldas, o caricaturista “pai” do Zé Povinho, deixa uma obra que se identifica com o próprio País e o seu povo, não só pelo génio do Artista, mas também pela intervenção do Homem.


Bibliografia sumária

Couto, Matilde Tomaz do – A Arte do Barro nas Caldas, in “Museu de José Malhoa: Roteiro”, Caldas da Rainha, Museu de José Malhoa, 2005.

Couto, Matilde Tomaz do – Os Passos da Paixão de Cristo segundo Rafael Bordalo Pinheiro, in “Monumentos”, n.º 20, Lisboa, DGEMN, Março 2004.

França, José-Augusto – Rafael Bordalo Pinheiro: o Português tal e qual, Lisboa, Livraria Bertrand, 1981.

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. 4, Lisboa – Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, Limitada, s. d..

Guia do Museu Rafael Bordalo Pinheiro, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, s. d..

Moita, Irisalva – A Caricatura na Obra Cerâmica de Rafael Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, Museu de José Malhoa, 1987.

Ortigão, Ramalho – A Fábrica das Caldas da Rainha, Porto, 1891.

Pinto, Manoel de Sousa – Raphael Bordallo Pinheiro: O Caricaturista, Lisboa, Livraria Ferreira, 1915.

Raphael Bordallo Pinheiro aos quadradinhos, Lisboa, Bedeteca de Lisboa, 1996.

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
Rebello da Silva http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/rebello-da-silva-dp12.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/rebello-da-silva-dp12.html Normal 0 21 false false false

Rebello da Silva, por Carlos Leone

Rebello da Silva
Rebello da Silva

Luiz Augusto Rebello da Silva (Lisboa, 1822-1871) foi um prolífico escritor, professor do Curso Superior de Letras (por recusa de Herculano) e homem público (sócio da Academia Real das Ciências desde 1854). Publicou abundantemente sobre Literatura, e fê-lo de acordo com os padrões da sua época: desde a diferença primacial entre Poesia e Prosa até aos géneros dominantes entre o público seu coetâneo (Romance e Teatro), não hesitou em escrever História literária e política enquanto se ocupava dos acontecimentos do quotidiano (estreias, óbitos), sempre atento às adjacências ainda hoje usuais (Jornalismo e Politica). As suas Obras Completas (41 vols., Empreza de História de Portugal, Lisboa), datadas de1909, incluem também um estudo em três volumes sobre a Arcádia Portuguesa, uma Memória biográfica e literária acerca de Manuel Maria Barbosa du Bocage, bem como vários outros trabalhos em que a literatura é fundamental; em aprticular, Apreciações Literárias, uma recolha póstuma (em três volumes) feita pelos editores, de textos dispersos pela Imprensa da época, incluindo mesmo (no volume III) um estudo sobre o Infante D. Henrique que, os próprios editores o admitem, aí figura apenas por conveniência de paginação. Entre as apreciações, encontramos o cânone consensual, ou quase, das Letras portuguesas de meados de Oitocentos: Garrett (com quem debateu no Parlamento) e Herculano (com quem conviveu de perto na Biblioteca da Ajuda), Lopes de Mendonça (qua crítico) e já Camilo Castello Branco e Bulhão Pato.

Diferenciando Bocage dos seus seguidores e identificando no combate a estes a filiação de Garrett na escola de Filinto (sem aderir ao seu rigorismo linguístico), Rebello da Silva desenvolve toda a sua argumentação no sentido de o diferenciar dos seus antecessores locais e os colocar entre os seus congéneres europeus, chefes de fila do Romantismo nas várias línguas de cultura da Europa do século XIX, em particular Goethe. Esta contextualização de Garrett ocorre no âmbito de uma reavaliação da Literatura Moderna, valorizando o medieval, próprio da cultura nacional genuína e do seu específico génio linguístico, em detrimento da Literatura artificialmente clássica do Renascimento e do gosto neoclássico (também designado «escola francesa»). No caso português, isto significa:

A primitiva lírica portuguesa está nas cantigas dos Cancioneiros; nos solaus e rimances de Bernardim Ribeiro; ou nas coplas de Gil Vicente. Será aquela a linguagem e o sentir do povo de então? De certo é. O verniz, que lhe deu a corte, o reflexo aristocrático, que cega os olhos do poeta, a lisonja que lhe ri nos lábios, vem só à superfície; o fundo ficou o mesmo.
(I, 35)

É o caráter revolucionário e moderno da D. Branca de Garrett que importa salientar, até para melhor se perceber o que foi este nacionalismo literário: «D. Branca fez uma revolução, porque provou, com argumentos de arte, que só da nacionalidade pode viver a verdadeira poesia.» (p. 40). Como escrevera páginas antes: «D. Branca descende desta linguagem pura castelhana. O seu autor admirava, sem as copiar, as nevoentas idealidades do Norte.» (p. 15). Tal como se pode ler também em Lopes de Mendonça, o sentimento de nacionalidade faz-se a partir de uma pertença ao movimento cultural europeu, não da sua exclusão; a cultura dinâmica da Europa do Norte, protestante e capitalista, não se impõe à comunidade ibérica que a «linguagem pura castelhana» exprime, mas nem por isso é ignorada ou menosprezada.

Como era já igualmente nítido, a dificuldade nesta argumentação não se encontra no recurso aos conceitos correntes no pensamento da época mas na sua aplicabilidade ao caso português: disso mesmo dá conta o ensaio, a propósito da escassez de um público, mesmo se (ou além de) o que existe não se distinguir dos gostos vulgares de todos os públicos. Romântico numa sociedade pré-moderna, a Rebello da Silva resta usar o romantismo de Garrett, e acessoriamente o de Castilho e Herculano, contra os «abortos morais» da cena cultural romântica vigente e pródiga em sucessos junto das massas do século alumiado com os touros…

Os textos que compõem o segundo volume de Apreciações são bem mais diversos. Nele destacam-se os dois textos dedicados a Alexandre Herculano, «O monge de Cister» e «Escritores contemporâneos», não tanto pela sua dimensão no conjunto deste segundo volume mas pela equiparação do papel de Herculano na Prosa e na Ciência românticas ao de Garrett na Poesia e Dramaturgia. Outros autores são Mendes Leal, destacado da geração nova posterior a Garrett e objeto de cinco textos; Ernesto Biester; D. Maria Cândida de Carvalho; Matheus de Magalhães; Lopes de Mendonça. De importância claramente diversa, nestes textos merecem destaque os dedicados a Herculano e a Lopes de Mendonça.

Também o terceiro volume das Apreciações Literárias sofrerá os excessos de forma, mas serão os dos afetos excessivos. Ainda assim, de Lopes de Mendonça a Rebello da Silva e deste a Pinheiro Chagas encontramos em curso de (não) resolução as influências europeias na cultura portuguesa de oitocentos. De um iluminismo tardio a um romantismo limitado no reabilitar da pré-modernidade por um país em que esta nunca fora realmente abolida, até aos dias em que Chagas critica o realismo pela sua ambição falhada (e quantos no século XX não censuram justamente isso à geração de 70?), são os impasses de Portugal enquanto sociedade moderna que aqui surgem em clave literária.

Sociedade pré-moderna, com um «Império» fora do tempo da Europa imperialista em sentido próprio, a Portugal já começava claramente a sobrar a História, aquela que levará no século XX António Sérgio escrever a Jaime Cortesão sobre a necessidade de matar o morto que dá pelo nome de «Portugal histórico» e, mais perto de nós, Eduardo Lourenço a insistir na nossa «hiperidentidade». Nas Apreciações Literárias, Rebello da Silva dá conta desses impasses pela dificuldade, impossibilidade, em aplicar as categorias culturais da Europa do seu tempo, Romântica, ao seu objeto de apreciação, não tanto a Literatura como a Arte em Portugal.

A quantidade de História que sobrecarrega quase toda a crítica das Apreciações não é defeito do autor (ou, a sê-lo, é vício comum à época), embora se torne mais notória pela dificuldade em ater-se à crítica que pretende empreender, passe o ocasional apelo à benevolência do leitor. Mas nem por isso deixa de ter um fito: serve um programa estético que privilegia a Poesia sobre a Prosa, e cumpre uma função social, política, a exaltação nacionalista pela via linguística. Nesse fito enquadram-se igualmente a sua obra de ficção (Contos e Lendas) e de história (História de Portugal nos Séculos XVII e XVIII), bem como toda a enorme atividade pública que desenvolveu e que lhe valeu, nas Farpas de Eça e Ramalho, uma invulgar elegia. Sobre Rebello da Silva, consultar «Silva, Luís Augusto Rebelo da», por Hernâni Cidade, em Prado Coelho, J., dir., Dicionário de Literatura, vol. 4, pp.1024/5, Mário Figueirinhas Editor, Porto, 1997 (4ª ed.).


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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
Teófilo Braga http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/teofilo-braga-dp8.html http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xix/teofilo-braga-dp8.html Normal 0 21 false false false

Teófilo Braga, por Amadeu Carvalho Homem *

Teófilo Braga
Teófilo Braga

Natural dos Açores, porque nascido na cidade de Ponta Delgada em 24 de fevereiro de 1843, Joaquim Teófilo Braga foi o sétimo filho de um casamento celebrado entre Joaquim Manuel Fernandes Braga, um antigo oficial miguelista, e Maria José da Câmara Albuquerque, filha de um descendente dos donatários da ilha de Santa Maria.

A infância do pequeno Joaquim ressentiu-se da irreparável perda da sua mãe, falecida prematuramente, e do jugo que sobre ele exerceu, com rudeza e severidade, uma inclemente madrasta, Ricarda Marfim Pereira de seu nome. Os estudos primários e secundários foram realizados na capital da ilha micaelense e revelaram desde cedo a tenacidade de um jovem ambicioso e lutador. Teófilo Braga foi disciplinarmente punido no Liceu de Ponta Delgada, onde seu pai exercia atividades letivas, por ter ridicularizado um professor que lhe contestava a pretensão de um dia ser doutor, arguindo que não via moita da qual pudesse sair tal coelho; respondeu o discípulo, em jeito escarninho, declarando que o dito professor não tinha faro...

Este jovem aspirante a doutor iniciou-se nas lides intelectuais e literárias desde cedo, sob o patrocínio de um farmacêutico natural da Lousã, Francisco Maria Supico, que se trasferira para Ponta Delgada por imperativos profissionais, aí desempenhando um papel muito ativo no jornalismo coevo. Com efeito, foi no jornal da Ribeira Grande A Estrela Oriental, dirigido por Supico, que Joaquim Teófilo Braga fez imprimir a sua primeira e ingénua poesia: tratou-se d’ “A Canção do Guerreiro”, composição de entono patriótico dedicada ao seu irmão João Fernandes Braga. Dando mostras de notório desembaraço, o jovem poeta viria a criar órgãos de imprensa quase inteiramente compostos e administrados por sua mão, para neles exarar as primícias do seu talento. Foi o que aconteceu com o semanário O Meteoro e com o quinzenário O Santelmo. Em 1859, com edição custeada pelo Visconde da Praia, potentado local, publicou o livro de versos Folhas Verdes. Tratou-se de uma tímida imitação das Folhas Caídas, de Almeida Garrett, sem que desta tentativa literária tenha resultado grande glória para o autor.

Acabados os estudos liceais, passou a impor-se o problema de dar rumo à vida. Os meios económicos familiares eram escassos e a tradição dos ilhéus desamparados era a de procurarem melhores condições de sobrevivência através da emigração, sobretudo dirigida para as Américas. Por isso, Teófilo Braga começou por informar o pai do seu desejo de abandonar S. Miguel e de ir exercer em solo americano uma atividade profissional, talvez de tipógrafo, talvez de comerciante, talvez de assalariado numa qualquer atividade remunerada. O pai colocou-lhe a hipótese, mais aliciante, de ir estudar para Coimbra, embora o tivesse então advertido da fraca mesada que lhe poderia dispensar. A estima de Supico corroborou as intenções paternas, estimulando com entusiasmo o projeto esboçado. Assim, eis Teófilo Braga, aspirante a doutor, a arribar a Coimbra em abril de 1861, com o propósito de se matricular em Teologia ou Direito. Vingaria a opção pelos estudos jurídicos, após a dilação de um ano letivo, no qual repetiu as matérias preparatórias ao ingresso na Faculdade escolhida.


A vida estudantil deste jovem açoriano foi pautada por uma férrea disciplina de vontade e por um estilo quase espartano de existência. Distanciou-se, portanto, da boémia académica e preferiu dar continuidade às diversas expressões da sua valia mental. Em Coimbra veio encontrar o seu conterrâneo Antero de Quental, chefe de fila de uma tertúlia intelectual alargada, à qual passou a pertencer, mantendo sempre, contudo, uma postura distanciada e egolátrica. Eram numerosas, por esse tempo, as folhas académicas - como O Pirilampo, O Fósforo e o Tira-Teimas - que recolhiam os tentames em prosa e verso de candidatos à notoriedade e à glória. Por algumas destas espalhou os seus poemas e as suas reflexões. O seu nome começou a ser conhecido, tanto dentro como fora dos círculos estritamente universitários. Alguns lentes da Faculdade de Direito reconheciam-lhe a aplicação, procurando arranjar-lhe tarefas retribuídas que lhe mitigassem a exiguidade da bolsa. Um desses trabalhos consistiu na organização e classificação dos velhos alfarrábios pertencentes a algumas livrarias monásticas. É certo que Teófilo não deixou de secundar a luta estudantil contra o implacável rigor disciplinar do Reitor Basílio Alberto de Sousa Pinto, luta na qual se viria a distinguir Antero de Quental, um dos principais mentores do movimento de protesto. Contudo, reservando o melhor do seu esforço para objetivos pessoais, a sua principal aposta consistiu em convencer um editor a publicar-lhe uma obra poética de maior fôlego, intitulada Visão dos Tempos. O livro surgirá em 1864, publicado pela Casa Moré, editora do Porto. O gerente da Moré, Gomes Monteiro, ficara rendido aos méritos desta obra. E se ela não se elevava ao cume da perfeição estética, era inegável que comportava o arejo da novidade temática e metodológica. Novidade, em Portugal, entenda-se... A sugestão de base era importada diretamente da Légende des Siècles, de Victor Hugo, que dera à diacronia histórica a peculiaridade de exaltantes abordagens poéticas. Algo de similar procurava Teófilo Braga incutir na sua Visão dos Tempos, que forcejava por captar em versos a essencialidade do classicismo, do judaísmo ou do cristianismo.

A obra mereceu da crítica os maiores elogios. Ao tempo, era indisputável a autoridade da avaliação de António Feliciano de Castilho e do seu séquito de admiradores lisbonenses. A verdade é que tanto Castilho como o seu dileto amigo Manuel Pinheiro Chagas se renderam aos encantos da Visão, saudando-a com públicos louvores. Não aconteceu o mesmo quando Teófilo publicou um outro livro de poesia, as Tempestades Sonoras, que eram precedidas por um prólogo filosófico deveras obscuro e quase indecifrável. Aproveitaram os literatos de Lisboa a oportunidade para zurzirem certas personalidades que revelavam tendências dissidentes, tanto no plano de pura conceção artística, como no plano das reivindicações políticas. E como Antero de Quental tivesse feito imprimir recentemente as suas Odes Modernas, militantemente adversas à política conservadora da monarquia constitucional e à atuação da Igreja ultramontana, Castilho e os seus homens decidiram mover guerra sem quartel aos dois iconoclastas, que consideraram expoentes de uma escola coimbrã de gosto depravado e altamente nocivo. A guerra estalou quando Manuel Pinheiro Chagas deu ao prelo o seu Poema da Mocidade. António Feliciano de Castilho entendeu saudar o livro como se fosse uma insuperável obra-prima, através de uma carta-posfácio exarada no fim do volume; o elogio fazia contraponto com alfinetadas com que também aí eram visados os trabalhos de Antero e Teófilo. Assim se iniciou a chamada “Questão Coimbrã”, uma das mais apaixonadas refregas em que se envolveram literatos lusos, através da difusão de numerosos textos críticos e folhetos apologéticos. Antero de Quental replicou com o seu Bom Senso e Bom Gosto, seguindo-se-lhe A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais, e Teófilo veio à liça com o verrinoso ataque contido n’As Teocracias Literárias.

Não eram apenas diferenças de conceção estética e preferências de ideologia política o que determinava os ataques das hostes de Castilho contra os “dois bácoros” (Castilho dixit) de Coimbra. Vagara a cadeira de Literaturas Modernas do Curso Superior de Letras e António Feliciano de Castilho arvorara-se em ativo apoiante da ambição de Manuel Pinheiro Chagas em a lecionar, chegando ao ponto de sugerir, no já referido posfácio, que o seu protegido deveria ser provido interinamente em tal lugar, com dispensa do concurso público previsto na lei. Ora, o círculo de Castilho suspeitava, aliás com fundamento, que os execrandos conimbricenses também cobiçavam a vaga.

Para Teófilo, a oportunidade era de ouro. Doutorara-se em 1868 e não obstante o seu apego ao trabalho e os dotes da sua inteligência vira gorar várias hipóteses de emprego estável, facto tanto mais preocupante quanto eram certos os acréscimos de responsabilidade, uma vez que contraíra matrimónio, no ano do seu doutoramento, com Dª Maria do Carmo Barros Leite. Não conseguira ingressar como professor na Academia Politécnica do Porto e também falhara a entrada no corpo docente da Faculdade de Direito de Coimbra, uma vez que o júri adotara, no concurso a que se submeteu, o adverso – e, para ele, incompreensível, – princípio da antiguidade na obtenção do grau académico. Teófilo Braga teve de esperar pelo ano de 1872 para poder reivindicar, num memorável concurso público, o ambicionado lugar de professor do Curso Superior de Letras. Superiorizou-se, no juízo do júri, a Manuel Pinheiro Chagas e a Luciano Cordeiro. E este triunfo, alcançado sobre pretendentes que gozavam de patrocínios quase oficiais, foi-lhe especialmente grato.

Teófilo quis ser um pensador sistemático, ou seja, um teórico baseado num conjunto de evidências que lhe permitissem uma intrépida e dogmática interpretação do Homem, do Mundo e da Vida. Por isso, não nos deve espantar o alvoroço com que abraçou o positivismo e o labor sincrético com que o afeiçoou ao seu específico perfil mental. Esta conversão ao espírito de positividade irá operar-se entre 1872 e 1877. Para ela concorreu grandemente a influência de Joaquim Duarte Moreira de Sousa, professor de Matemática do Liceu de Castelo Branco, com quem largamente conferenciou. Era Moreira de Sousa espírito curioso e culto, além de ser um atento leitor das obras de Augusto Comte. Não esperemos, porém, que o positivismo teofiliano fique subordinado a uma servil glosa do pensamento de Augusto Comte ou de Emílio Littré. Como já se declarou, o que impera é um espírito de positividade que resultará da correlação sincrética entre a universalidade das relações teóricas mutuamente mantidas pelas disciplinas da enciclopédia científica. Esta atitude, que poderia ser o mais poderoso fator de novidade no contexto do pensamento de Teófilo, acaba por traduzir-se num exercício fatigante de descodificação. Para tal contribui a aproximação, puramente subjetiva e por vezes aleatória, de filosofemas pseudo-científicos e de generalizações abusivas. É isto que se colhe dos artigos exarados na revista O Positivismo, fundada por Teófilo Braga e por Júlio de Matos, a qual se divulgou a partir do Porto, entre 1878 e 1882; com mais flagrante nitidez, é ainda isto que se colhe da leitura do livro Traços Gerais de Filosofia Positiva comprovados pelas descobertas científicas modernas (1877), bem como da complexa arquitetura do Sistema de Sociologia (1884).

Como é sabido, o projeto político do positivismo apontará, em último termo, para a versão de um republicanismo laico e compatível com as estratificações de classe do capitalismo desenvolvido. Teófilo, enquanto leitor das páginas de Comte, fixou-se francamente mais na radicalidade racionalista do Curso de Filosofia Positiva do que no imanentismo religioso do Sistema de Política Positiva. O seu visceral jacobinismo conduziu-o às teses do republicanismo federalista, de que se fez arauto e chefe de fila. Os temas da descentralização administrativa e do mandato imperativo, da viabilização e dos limites do princípio associativo, da gestão republicana do ensino público, do combate ao clericalismo ultramontano, do alcance e significado da soberania nacional e da génese e desenvolvimento das esperanças democráticas, a caminho do sufrágio universal, enchem os numerosos artigos que publicou, nomeadamente nos jornais A Vanguarda, O Século e O Rebate. A militância desta produção irá reservar-lhe um lugar de grande destaque na galeria dos republicanos do seu tempo, guindando-o a posições de representação e de comando. Entre 1879 e 1881 irão aparecer algumas das mais marcantes obras do seu ideário político. Estão neste caso as Soluções Positivas da Política Portuguesa (1879), a História das Ideias Republicanas em Portugal (1880) e a Dissolução do Sistema Monárquico-Representativo (1881). A propaganda por ele desenvolvida não se confinou à expressão livresca. Além de ter participado em inúmeros comícios e festividades promovidas por centros, clubes e associações republicanas, foi uma das mais obstinadas personalidades, de parceria com Ramalho Ortigão, a coordenar as vontades com base nas quais se organizaram, em 10 de Junho de 1880, as festividades do Tricentenário de Camões.

Enquanto professor do Curso Superior de Letras e enquanto investigador, Teófilo Braga deu-nos o exemplo de um incansável estudioso. Embora dispensando à família a atenção que esta lhe exigia, na sua casa da Travessa de Santa Gertrudes, embora atento à evolução do crescimento dos seus dois filhos, que brindava com brinquedos saídos da sua habilidade manual, Teófilo vivia num quase recolhimento monástico, que ia quebrando para corresponder aos convites dos seus admiradores e às lutas impostas pelas campanhas cívicas. Foi através desta concentração cogitativa que se abalançou a escrever, quase desde os alicerces, a sua monumental História da Literatura Portuguesa. Compulsando vastos repositórios documentais, embora nem sempre cultivando a prudência interpretativa, Teófilo Braga teve, apesar dos deslizes, o mérito de esboçar a evolução da nossa literatura desde os alvores dos romances medievais e da produção dos trovadores galaico-portugueses ao ultrarromantismo e ao realismo da sua época. De bem cedo datam igualmente os seus interesses pela etnologia, pelo folclore e pela criatividade popular espontânea. Datam de 1867 os trabalhos História da Poesia Popular Portuguesa, o Cancioneiro Popular coligido da tradição e o Romanceiro Geral coligido da tradição. Um pouco mais tardio, de 1869, é o livro Cantos Populares do Arquipélago Açoreano; os Contos Tradicionais do Povo Português são de 1883 e os dois tomos da obra O Povo Português nos seus costumes, crenças e tradições remontam a 1885.

Entre os finais de 1886 e os inícios de 1887 irá abater-se sobre a família de Teófilo o drama mais dilacerante: morrem-lhe inesperadamente os dois filhos. O respeitado professor do Curso Superior de Letras vê-se a braços com “a maior dor humana”, título do belo poema com que Camilo Castelo Branco desejou manifestar-lhe inteira solidariedade, nesse momento funéreo e tremendo. Apesar disso, permanecerá na barricada política, só atenuando o seu envolvimento na sequência da revolta portuense de 31 de janeiro de 1891. Esta veio encontrá-lo no Diretório do Partido Republicano, onde partilhava responsabilidades com Francisco Homem Cristo.

O Diretório lisbonense nunca acreditou nas probabilidades de sucesso do golpe republicano da capital nortenha. Enquanto oficial do exército, Homem Cristo prezava demasiadamente as hierarquias castrenses para conferir credibilidade a uma sedição que não conseguira mobilizar as patentes mais elevadas e que parecia viver apenas dos brios românticos de soldados, cabos e sargentos e dos artigos inflamados do jornalista João Chagas. Teófilo corroborava esta leitura. Um e outro tudo fizeram para suster a eclosão do movimento militar. Após o naufrágio total da conspiração, com alguns dos implicados em fuga e muitos outros submetidos ao veredicto do tribunal militar de Leixões, ergueram-se vozes críticas nas hostes do republicanismo, lastimando que o Diretório de Lisboa não tivesse assumido uma posição mais compreensiva e solidária para com os implicados. Teófilo Braga melindrou-se com os argumentos dos objetores e decidiu passar a desempenhar nos trabalhos de propaganda republicana um papel mais discreto. Mas continuou atento às vicissitudes do “partido do povo”. Não é, por isso, de estranhar que o encontremos, em 1896, a secundar o programa do Grupo Republicano de Estudos Sociais, contribuindo para a quebra da passividade em que estavam a incorrer os responsáveis cimeiros do Partido Republicano e revendo, num sentido mais interventivo, as linhas programáticas desta formação partidária.

A situação interna de Portugal degradou-se notoriamente após a crise do Ultimato inglês. Desfiguraram-se as garantias cívicas que até então singularizavam o regime e lhe conferiam a nota da equanimidade e da tolerância. De um constitucionalismo conservador transitou-se frequentemente para formas de despotismo anticonstitucional. Após o primeiro lustro do decénio de 90, passaram a ser frequentes os recursos a ditaduras administrativas e credíveis os protestos da opinião pública contra a rapacidade dos políticos. Na transição do século XIX para o século XX, irá assistir-se ao desmantelamento do sistema rotativo, que garantira até então a previsibilidade e a estabilidade do sistema de Poder. As cisões introduzidas por João Franco e por José de Alpoim nos dois grandes partidos históricos da monarquia constitucional, criando, respetivamente, ao lado do Partido Regenerador um minúsculo Partido Regenerador Liberal e ao lado do Partido Progressista a patrulha da Dissidência Progressista, vieram alterar profundamente as regras da coexistência política. A ditadura ensaiada por João Franco a partir de maio de 1907, que contou com a solidariedade efetiva do rei D. Carlos, não é mais do que um episódio desta magna crise e a culminação das pequenas e grandes provocações mútuas com que se passaram a guerrear Hintze Ribeiro, chefe do Partido Regenerador, e José Luciano de Castro, responsável máximo do Partido Progressista.

Dividido entre as suas obrigações letivas e as sua indagações intelectuais, cumpridas no casulo doméstico de Santa Gertrudes, Teófilo Braga acompanharia os desvarios da ditadura franquista, o regicídio e a entronização de D. Manuel II, o qual, segundo João Chagas, assumiu os arminhos régios “quando já não era preciso”. Entrementes, a conspiração republicana alcançou vigor e amplitude, impulsionada pelo Partido Republicano, pela Maçonaria, pela Carbonária Portuguesa e por numerosos grupos de intervenção doutrinária, afetos ao campo republicano. A mudança do regime, pela via revolucionária, aconteceu na madrugada de 4 para 5 de Outubro de 1910. Teófilo Braga recebeu a confiança dos correligionários para ocupar o cargo de Presidente do Governo Provisório da República Portuguesa.

Estava em marcha o fracionamento do campo republicano. O velho Partido Republicano unitário sofreu o efeito dos dissídios suscitados entre algumas das suas figuras de proa, sendo flagrante que o maior radicalismo de Afonso Costa dificilmente se poderia harmonizar com a maior moderação de António José de Almeida ou com o abstracionismo intelectual de Brito Camacho. Foi em torno destas figuras que se organizaram as novas formações partidárias. Afonso Costa recebeu a herança do antigo Partido Republicano, agora designado de Partido Democrático, dando origem à formação mais numerosa, mais jacobina e de indelével expressão urbana. António José de Almeida fundou o Partido Evolucionista, mais contemporizador, com menor número de militantes e implantado sobretudo em certas franjas da burguesia rural. Brito Camacho criou uma União Republicana que não representava muito mais do que os corrilhos de certa intelectualidade lisbonense. Uma das primeiras lutas entre estes novos partidos foi suscitada pelo ato eleitoral para a presidência da República. Os “democráticos” de Afonso Costa pretenderam guindar Bernardino Machado à suprema magistratura, ao passo que os “evolucionistas” de António José de Almeida e os “unionistas” de Brito Camacho, unidos num bloco de ocasião e de pura intenção eleitoral, conseguiram impor a candidatura de Manuel de Arriaga. Teófilo Braga esteve sempre muito mais próximo das teses políticas dos “democráticos” do que de quaisquer outras. Além do mais, sobravam, desde os tempos da propaganda realizada sob o regime anterior, questiúnculas insanáveis entre ele e Arriaga. Daí que tenha alinhado, nesta pugna, ao lado de Bernardino Machado e daí que a derrota deste tenha sido sentida, em boa medida, como a sua própria derrota.

A partir de setembro de 1911, Teófilo Braga viu-se completamente desacompanhado, em consequência do falecimento da sua mulher. Caracterizará estas novas circunstâncias de vida, numa carta dirigida a Joaquim de Araújo, com palavras que lhe definem lapidarmente a vocação e a têmpera: “Volto a ser o antigo estudante solitário”.

Voltará a desempenhar as mais altas funções oficiais, numa presidência republicana interina que se alargou entre maio e outubro de 1915, substituindo Manuel de Arriaga, decerto com maliciosa satisfação íntima. Arriaga oferecera anteriormente as rédeas da governação ao General Pimenta de Castro, que não encontrara melhor processo para aplacar as intransigências políticas das fações do que a implantação de uma ditadura. Quando esta foi varrida pela revolução “democrática” de 14 de maio de 1915, a posição de Manuel de Arriaga tornou-se de tal modo inviável que a demissão se apresentou como a única das possíveis saídas. Cumprida a missão presidencial, Teófilo regressou aos seus livros.

A ânsia de somar títulos e de engrossar a sua bibliografia não lhe prejudicou a humildade. Assim se compreende que desde 1909 tenha querido realizar uma “recapitulação” da História da Literatura Portuguesa, revendo em profundidade e refundindo muito do que escrevera, por forma a suprimir erros e a corrigir imprecisões. Por outro lado as questões da identidade nacional tinham-no fascinado desde cedo. Assim, teimou em encontrar um substracto étnico em que pudesse sustentar a “essência da nação portuguesa”. Julgou tê-lo identificado na raça mosárabe ou moçárabe, que se teria originado, em seu entender, através da fusão entre a população goda mais humilde, que não acompanhara a retirada dos aristocratas para as Astúrias, e a população árabe. Esta muito questionável teoria encontra-se sustentada em títulos como as Epopeias da Raça Mosárabe, de 1871, e A Pátria Portuguesa. O Território e a Raça, de 1894. Tal patriotismo não foi uma singularidade ou uma bizantina expressão de subjetividade. Foi, outrossim, uma explícita e elevada reivindicação republicana, impregnando o ideário das diversas gerações militantes. No caso de Teófilo Braga, este pendor também se concretizou nos temas de toda uma literatura de imaginação ou de refiguração, cuja matéria-prima lhe foi fornecida por episódios ou figuras do nosso passado histórico. Isto explica a publicação, em 1902, do poema Os Doze de Inglaterra, da “narrativa epo-histórica” Viriato, de 1904, e do drama Gomes Freire, de 1907. A publicação, entre 1892 e 1902, dos quatro grossos volumes onde traçou a História da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrução pública portuguesa não correspondeu apenas à vontade de fixar os grandes momentos do desenvolvimento do ensino superior em Portugal; significou também um desforço, um ajuste de contas com a instituição que o preteriu num concurso público de candidatura à docência, baseando-se em critérios de antiguidade nos termos dos quais, segundo a sua ironia, “um velho banco da Universidade ” poderia “valer mais do que o Herculano”.

O sistema filosófico perfilhado por Teófilo, firmado numa depurada racionalidade positivista e no culto do cientismo, conduziu-o à defesa do materialismo e à adoção do ateísmo. Mas isto não equivaleu à impossibilidade de se aperceber da carga poética inerente ao catolicismo. Não espanta, portanto, que tenham jorrado da sua pena de pensador ateu algumas interessantes páginas consagradas às Origens poéticas do Cristianismo (1880), que mais tarde se completaram com um outro volume, intitulado As Lendas Cristãs (1892).

Realizar na idade madura o projeto de vida que se formulou na juventude, não é ventura que todos os seres humanos possam ter. Se a resposta dada por Joaquim Teófilo Braga a um dos seus professores do Liceu de Ponta Delgada, de querer, no futuro, ser doutor, primou pela sinceridade, então encontramo-nos perante uma venturosa criatura. Trabalhador incansável, titã da escrita, ainda que revelando os pés de barro da sua precipitação impetuosa, Teófilo teve um perecimento digno de si, uma vez que podemos afirmar, com propriedade, que morreu a trabalhar. Nos seus últimos tempos de vida queixava-se amargamente das suas enormes dificuldades de visão. Recorria aos préstimos dos seus amigos ou antigos discípulos mais fiéis para lhes ditar os textos que ia mentalmente arquitetando. O seu último projeto de investigação consistiu em tentar reconstruir a vida e a obra do livre-pensador Uriel da Costa. Logrado intento, visto que faleceu, rodeado dos seus papéis, no refúgio da Travessa de Santa Gertrudes, em 28 de janeiro de 1924.

Cuidem-se os que se comprazem em denegrir e ridicularizar Teófilo. Ele poderia esmagá-los com o simples peso dos seus incontáveis livros e artigos. Seria triste que pigmeus morressem desta forma. E, sobretudo, seria muito injusto, atendendo à desproporção...

Bibliografia Básica

BRAGA, Teófilo, Visão dos Tempos, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.

BRAGA, Teófilo, Tempestades Sonoras, Porto, Em Casa da Viúva Moré-Editora, 1864.

BRAGA, Teófilo, As Theocracias Litterarias, Lisboa, Typographia Universal, 1865.

BRAGA, Teófilo, Theoria da Historia da Litteratura Portugueza, Porto, Imprensa Portugueza-Editora, 1872.

BRAGA,Teófilo, Traços Geraes de Philosophia Positiva comprovados pelas descobertas scientificas modernas, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1877.

BRAGA, Teófilo, Soluções Positivas da Política Portugueza. Da aspiração revolucionaria e sua disciplina em opinião democrática, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.

BRAGA, Teófilo, Historia das Ideas Republicanas em Portugal, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1880.

BRAGA, Teófilo, Dissolução do Systema Monarchico-Representativo, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1881.

BRAGA, Teófilo, Systema de Sociologia, Lisboa, Typographia Castro Irmão, 1884.

BRAGA, Teófilo, Historia da Universidade de Coimbra nas suas relações com a instrucção publica portugueza, Lisboa, Por ordem e na Typographia da Academia Real das Sciencias, 1892-1902 (4 vols).

BRAGA, Teófilo, As Modernas Ideias na Litteratura Portugueza,Porto, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, 1892 (2 vols).

BRAGA, Teófilo, Discursos sobre a Constituição Politica da Republica Portugueza, Lisboa, Livraria Ferreira, 1911.

BASTOS, Teixeira, Theophilo Braga e a sua Obra, Porto, Casa Editora Lugan & Genelioux, Successores, 1892.

CARREIRO, José Bruno, Vida de Teófilo Braga. Resumo Cronológico, Coimbra, Coimbra Editora, 1955.

CIDADE, Hernâni, Doutor Teófilo Braga. As directrizes da sua obra de história literária, Lisboa, Faculdade de Letras, 1935.

COELHO, A. do Prado, Teófilo Braga. Notas de estudo, Lisboa, Faculdade de Letras, 1936.

FERRÃO, António, Teófilo Braga e o positivismo em Portugal (com um núcleo de correspondência de Júlio de Matos para Teófilo Braga), Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1935.

HOMEM, Amadeu Carvalho, A ideia republicana em Portugal. O contributo de Teófilo Braga, Coimbra, Livraria Minerva, 1989.

In Memoriam do Doutor Teófilo Braga. 1843-1924, Lisboa, Imprensa Nacional, 1934.

ORTIGÃO, J. D. Ramalho, Theophilo Braga. Esboço biographico, Lisboa, Nova Livraria Internacional, 1879.

Quarenta annos de vida litteraria (1860-1900). Com um prologo Autobiographia Mental de um Pensador Isolado por Theophilo Braga, Lisboa, Typographia Lusitana-Editora Arthur Brandão, MCMII.

Quinquagenario.1858 a 1908. Cincoenta annos de actividade mental de Theophilo Braga julgados pela critica contemporanea de tres gerações litterarias, Lisboa, Antiga Casa Bertrand, José Bastos & C.ª, 1908.

SOARES, Mário, As ideias políticas e sociais de Teófilo Braga, Lisboa, 1950.


* Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra

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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:48:41 +0000
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Almeida Garrett, por Maria Helena Santana

Almeida Garrett
Almeida Garrett

João Batista da Silva Leitão [mais tarde de Almeida Garrett], nasceu no Porto, em 1799. Aí passou a primeira infância, num caloroso ambiente burguês que lhe deixaria gratas recordações. Aos 10 anos parte com a família para os Açores, onde inicia a sua formação literária, sob a tutela do tio Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Angra.

Em 1816 ingressa na Universidade de Coimbra, para seguir estudos de Leis. A vivência académica seria determinante na sua iniciação política e filosófica. Ainda estudante, participa no movimento conspirativo que conduziria à revolução de 1820. Paralelamente despontava, irreverente, a vocação literária: no ano seguinte surgia o seu primeiro livro, O Retrato de Vénus, um ousado poema que lhe mereceu um processo em tribunal.

No período conturbado que se seguiu, o trajeto pessoal do escritor (já casado com uma menina elegante, Luísa Midosi) entrelaça-se com a história política do Liberalismo. A revolução foi um breve momento de entusiasmo liberal, logo desfeito pela chegada ao poder da fação conservadora, que apoiava o Infante D. Miguel. Garrett foi obrigado a deixar o País (entre 1823-26), situação que se repetiria pouco tempo depois (1828-31), na sequência da abdicação de D. Pedro. No entanto, o escritor encontra na circunstância penosa do exílio uma oportunidade intelectualmente vantajosa. A permanência em França e Inglaterra permitiu-lhe conhecer o movimento cultural europeu, na sua dimensão artística e ideológica. A publicação (ainda em Paris) dos poemas Camões e Dona Branca – os primeiros textos românticos portugueses – constitui o resultado mais simbólico e expressivo dessa experiência.

O regresso a Portugal, em 1832, integrando a expedição liberal comandada por D. Pedro, constituiu um momento heroico para o «poeta-soldado», que se incorpora no Batalhão Académico; Garrett foi chamado a participar nas reformas legislativas do novo regime, mas pouco depois afastado do poder, sob pretexto de missões diplomáticas no estrangeiro. Voltará à cena política em 1836, no contexto da «revolução de setembro», pela mão de Passos Manuel: faz parte das Cortes Constituintes e ajuda a redigir a Constituição de 1838. Além de deputado, desempenha também um papel relevante no programa de educação cultural setembrista, designadamente na renovação da dramaturgia nacional: empenha-se na criação da Inspeção Geral dos Teatros, do Conservatório de Arte Dramática e do futuro Teatro Nacional; no mesmo espírito funda O Entreato – Jornal de Teatros e leva à cena, com grande êxito, a peça Um Auto de Gil Vicente.

Durante os anos 40, sob o regime autoritário de Costa Cabral, Garrett destaca-se na oposição; no entanto, o entusiasmo e o fervor militante vão-se exaurindo, perante a instabilidade política, o materialismo triunfante e o próprio desvirtuamento do ideal liberal. Descontente com o devir da revolução, afasta-se da vida pública em 1847. Desse desencanto patriótico dão significativo testemunho algumas obras publicadas neste período, o mais fecundo da criação literária garrettiana (O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, Viagens na Minha Terra e O Arco de Sant’Ana, por exemplo).

Em 1851 regressa ao Parlamento, já sob a acalmia política da Regeneração. Recebe nesta derradeira fase da vida alguns gestos oficiais de consagração: é feito visconde, em 1851 e nomeado Par do Reino, no ano seguinte; chega ainda a ocupar um cargo ministerial (Negócios Estrangeiros), de que seria demitido pouco tempo depois.

Morreu em 9 de dezembro de 1854, depois de uma vida sentimental romanticamente atribulada: um casamento juvenil mal sucedido, com Luísa Midosi; a morte precoce da segunda companheira, Adelaide Pastor, que lhe deixa uma filha ilegítima; e por fim uma paixão adúltera, com a Viscondessa da Luz, celebrada em versos escandalosos.

Amante de prazeres mundanos, galante e apaixonado, foi sempre um conspícuo ator do palco social romântico, sabendo reverter em seu favor a imagem de dandy cosmopolita que sempre cultivou. No auge de uma carreira brilhante e de uma vida intensamente fruída, Almeida Garrett podia justamente orgulhar-se da sua eclética presença na cultura portuguesa de Oitocentos; de ser (palavras suas) «… um verdadeiro homem do mundo, que tem vivido nas cortes com os príncipes, no campo com os homens de guerra, no gabinete com os diplomáticos e homens de Estado, no parlamento, nos tribunais, nas academias, com todas as notabilidades de muitos países – e nos salões enfim com as mulheres e com os frívolos do mundo, com as elegâncias e com as fatuidades do século.»

A Obra (sinopse)

Ancorada no tempo histórico do Liberalismo, a obra literária garrettiana não pode conceber-se alheada do contexto político e cultural que a motivou. Da mesma circunstância decorre a orientação ‘iluminista’ e eticamente empenhada que desde início o seu trajeto literário revestiu, por entender que «o poeta é também cidadão».

- A poesia lírica e narrativa dominaria a primeira fase da sua carreira, ainda oscilante entre a lição do neoclassicismo convencional e a nova corrente romântica, de inspiração nacionalista. Depois do controverso Retrato de Vénus (1821) publica, no exílio, os poemas Camões (1825) e Dona Branca (1826) - textos fundadores do Romantismo português – a que seguiria a coletânea Lírica de João Mínimo (1829). Começou também nesta fase o trabalho de recolha e preparação dos textos do cancioneiro tradicional português, fonte inspiradora dos poemas narrativos Bernal Francês e Adozinda (1828). Só posteriormente viriam a lume os três primeiros volumes do Romanceiro (1843; 1851), ainda hoje em parte inédito.

- A par da produção literária, o jornalismo ocupa neste período um lugar importante na sua escrita. Garrett cedo se apercebeu do imenso poder democratizador da Imprensa nas sociedades modernas (enquanto formadora da opinião) e saberia tirar excelente partido desse veículo privilegiado de socialização do público burguês. Já em 1822 lançara um pequeno jornal mundano – O Toucador (destinado às senhoras). No final dos anos 20 dirigiu dois periódicos de referência, O Português e O Cronista. Mais tarde fundaria O Português Constitucional (1836) e o jornal teatral O Entreato (1837). Datam também dos tempos do exílio dois importantes ensaios: Da Educação (1829), um tratado de filosofia pedagógica dedicado à futura rainha D. Maria II; e Portugal na Balança da Europa (1830), uma notável reflexão de índole histórico-política.

A fase da maturidade (década de 40, sobretudo) seria particularmete fecunda, do ponto de vista literário. Surgem nesta altura as obras maiores do Autor, abrangendo, com notável versatilidade, a lírica, a narrativa e o drama.

- Garrett atribuía ao Teatro uma alta função civilizadora, e empenhou-se intensamente na sua renovação. Queria uma produção nacional de qualidade, suscetível de elevar o gosto e a cultura do público. A vocação dramatúrgica, revelada na juventude (as tragédias Catão, Lucrécia e Mérope), conhece a partir de 1838 um novo élan, com o êxito de Um Auto de Gil Vicente. Seguir-se-ia um conjunto de peças que modelizam, em diferentes géneros, a sua eclética veia teatral: o drama histórico – O Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa, D. Filipa de Vilhena – e a comédia – Falar verdade a mentir, Profecias do Bandarra, Um Noivado no Dafundo, entre outras. Frei Luís de Sousa (1844) é reconhecidamente a que melhor realiza o seu ideal de sobriedade artística: combinando o pathos da tragédia clássica e a atualidade vivencial do drama familiar, permanece ainda hoje um texto modelar da literatura dramática nacional.

- A poesia lírica, embora continue em certos aspetos datada, conhece também uma renovada inspiração. Das duas coletâneas poéticas desta fase – Flores sem Fruto (1845) e Folhas Caídas (1853), a última é sem dúvida a mais interessante, e onde mais livremente se expande o individualismo romântico. Aos temas mais convencionais – a divisão interior, a dialética mundo/espírito, o apelo de um idealismo transcendente (O Amor, A Perfeição, Deus, como absolutos da inquieta alma poética) –, acrescenta-se uma nova e ousada expressão do amor, epitomizada no famoso verso «Não te amo, quero-te!».

- Apesar de escassa, a obra romanesca de Garrett tem um rasgo inconfundível de originalidade. Viagens na Minha Terra (1843/1846) pode considerar-se a primeira narrativa moderna portuguesa: utilizando um estilo desenvolto e informal, em diálogo permanente com o leitor, o autor realiza, à maneira de Stern, uma obra-prima de ironia intelectual; sob o pretexto de uma crónica de viagem (que também é), oferece-nos uma ampla e lúcida representação do tempo histórico e social do Liberalismo. Idêntica estrutura digressiva e aparentemente desconexa caracteriza o romance histórico O Arco de Sant’Ana (1845/ 1851), um texto polémico e repassado de humor, cuja ação se reporta a uma revolta popular contra o bispo do Porto, no século XIV. Ficaria inacabado um terceiro romance, Helena, bem como diversos esboços narrativos deixados inéditos.

Encontra-se ainda dispersa e carecendo de estudos temáticos uma vasta produção fragmentária, de natureza literária, ensaística e jornalística (em particular no domínio da crónica política, cultural e mundana), bem como diversos discursos e textos de circunstância.

Bibliografia ativa

As Obras de Almeida Garrett encontram-se atualmente disponíveis em várias edições, designadamente as da Editorial Estampa e do Círculo de Leitores. Está também em curso, na Imprensa Nacional, a edição crítica das Obras Completas, dirigida por Ofélia Paiva Monteiro.


Edições on-line:

- Projeto Vercial (formato pdf): http://web.ipn.pt/literatura//garrettt.htm

- Página web da Biblioteca Nacional (Biblioteca virtual de autores portugueses):
http://purl.pt/index/Geral/aut/PT/21170.html

- Página web da Assembleia da República (discursos parlamentares):
http://debates.parlamento.pt/monarquia.asp

Bibliografia passiva (seletiva)

Almeida Garrett: um romântico, um moderno (Monteiro, Ofélia; Santana, M. Helena, org.), 2 vols. Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003.

AMORIM, Gomes de, Garrett. Memórias Biográficas. 3 vols., Lisboa, Imprensa Nacional, 1881-1883.

BRAGA, Teófilo, Pref. a, Obras Completas de Almeida Garrett. 2 vols, Porto, Lello & Irmão, 1963.

Camões. Revista de Letras e Culturas Lusófonas, nº 4 (dedicado a Garrett), Jan.-Março 1999.

Colóquio/Letras, nº 153-154 (dedicado a Garrett), Julho-Dez. 1999.

DIAS, Augusto da Costa, «Estilística e Dialéctica», pref. a Viagens na Minha Terra, 2ª ed., Lisboa, Estampa, 1983.

Id., Fontes Inéditas do Romanceiro Português. Os Papelinhos de Garrett. Sintra, Câmara Municipal de Sintra, 1988.

FRANÇA, José-Augusto, «Garrett ou a ilusão desejada», in O Romantismo em Portugal. Estudo de Factos Socioculturais. 2ª ed., Lisboa, Livros Horizonte, 1993.

LAWTON, R.A., Almeida Garrett. L’Intime Contrainte. Paris, Didier, 1966.

Leituras. Revista da Biblioteca Nacional, nº 4 (dedicado a Garrett), 1999.

LIMA, Henrique Ferreira, Inventário do Espólio Literário de A. Garrett, Coimbra, 1948.

MACHADO, Fernando, Almeida Garrett e a Introdução do Pensamento Educacional de Rousseau em Portugal, Porto, ASA, 1993.

MONTEIRO, Ofélia Paiva, A Formação de Almeida Garrett. Experiência e Criação. 2 vols., Coimbra, Centro de Estudos Românicos, 1971.

Id., «Algumas reflexões sobre a novelística de Garrett», in Colóquio/Letras, nº 30, Março 1976, pp. 13-29.

Id., «’Ostinato rigore’: a Edição Crítica das Obras de Almeida Garrett (Propósitos e Questões)», in Crítica Textual e Edições Críticas. Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa, 2005.

Id., O Essencial sobre Almeida Garrett, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001.

RAITT, Lia Noémia Correia, Garrett and the English Muse. London, Tamesis Books, 1983.

REIS, Carlos; PIRES, M. Natividade, «A. Garrett e a fundação do Romantismo Português», in História Crítica da Literatura Portuguesa, Vol. V, Lisboa, Editorial Verbo, 1993.

ROCHA, Andrée Crabbé, O Teatro de Garrett. Coimbra, Coimbra Editora, 1954.

SARAIVA, António José, «A evolução do teatro de Garrett», «A expressão lírica do amor nas Folhas Caídas»,«Garrett e o Romantismo», in Para a História da Cultura em Portugal, vol. II, Lisboa, Publ. Europa-América, 3ª ed, 1972.

SANTOS, Maria de Lurdes Lima dos, Intelectuais Portugueses na 1ª metade de Oitocentos. Lisboa, Presença, 1988.


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cvinagre@instituto-camoes.pt (Cláudio Vinagre) Século XIX Fri, 26 Nov 2010 12:44:44 +0000