Prosa Doutrinal
Prosa Doutrinal
"Adoração dos Reis Magos" (1501-1506), retábulo da Sé de Viseu. Oficina de Vasco Fernandes/Grão Vasco
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"Mãe e Filha" (1947) de Vespeira [n. 1925]
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A literatura incorpora habitualmente muitos escritos de ideias cuja finalidade primeira não é exatamente literária, mas que, pelo teor linguístico ou textual da sua composição, ou segundo os cânones de apreciação estética de cada época, são considerados mais ou menos próximos da elaboração especificamente literária.
Esta condição é inerente aos textos de caráter documental (entre os quais se incluem, por exemplo, os que constituem o acervo da Literatura de Viagens), mas verifica-se com agudeza nos escritos de doutrinação vária que se manifestam de maneira adventícia ao texto literário. Mesmo o ensaio e a crítica tendem a confundir-se muitas vezes com ele, e preenchem certas casas, por vezes importantes, da organização sistemática da literatura.
O conjunto de escritos legados pelos prosadores da Casa de Avis, no séc. XIV, que integramos nas Origens da Literatura Portuguesa, só encontra, neste capítulo, manifestações similares a partir da época barroca (embora os clássicos renascentistas tenham uma produção interessante nesta vertente, ex. Ropica Pnefma, 1532, de João de Barros), muito interessada em articular as cláusulas religiosas com os seus efeitos na vida profana, e no quotidiano de uma maneira geral (Frei Heitor Pinto e Frei Amador Arrais); também durante o Iluminismo, as ideias de filosofia política e moral inspiram D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Cavaleiro de Oliveira e Matias Aires, mas é no Verdadeiro Método de Estudar (1746), de Luís António Verney, que encontramos a obra mais importante de reflexão cultural conjunta do século XVIII.
Este tipo de escritos vai proliferar durante o Romantismo, e não só com Garrett e Herculano, e muito em especial na chamada «Geração de 70», que é justamente constituída por um grupo de escritores que na sua maioria aliam a produção literária estrita com os escritos de índole doutrinária (Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins), e aliás se caracterizam pela sua imbricação, desenvolvendo a poesia de ideias e o romance de tese, quando não se notabilizam justamente neste género de reflexão, que hoje se tende a considerar marginal em relação à centralidade da estesia literária.
Posteriormente, o grupo do «Integralismo Lusitano» (com António Sardinha, com as revistas Alma Portuguesa e Nação Portuguesa, 1913-1938) e o da Seara Nova (com António Sérgio e Raul Proença) produziu, com menor vigor e regular qualidade, este tipo de escritos, e, mais perto de nós, Manuel Antunes, Agostinho da Silva e Eduardo Lourenço são personalidades de influência determinante nas correntes de pensamento da cultura portuguesa.
Esta condição é inerente aos textos de caráter documental (entre os quais se incluem, por exemplo, os que constituem o acervo da Literatura de Viagens), mas verifica-se com agudeza nos escritos de doutrinação vária que se manifestam de maneira adventícia ao texto literário. Mesmo o ensaio e a crítica tendem a confundir-se muitas vezes com ele, e preenchem certas casas, por vezes importantes, da organização sistemática da literatura.
O conjunto de escritos legados pelos prosadores da Casa de Avis, no séc. XIV, que integramos nas Origens da Literatura Portuguesa, só encontra, neste capítulo, manifestações similares a partir da época barroca (embora os clássicos renascentistas tenham uma produção interessante nesta vertente, ex. Ropica Pnefma, 1532, de João de Barros), muito interessada em articular as cláusulas religiosas com os seus efeitos na vida profana, e no quotidiano de uma maneira geral (Frei Heitor Pinto e Frei Amador Arrais); também durante o Iluminismo, as ideias de filosofia política e moral inspiram D. Luís da Cunha, Alexandre de Gusmão, Cavaleiro de Oliveira e Matias Aires, mas é no Verdadeiro Método de Estudar (1746), de Luís António Verney, que encontramos a obra mais importante de reflexão cultural conjunta do século XVIII.
Este tipo de escritos vai proliferar durante o Romantismo, e não só com Garrett e Herculano, e muito em especial na chamada «Geração de 70», que é justamente constituída por um grupo de escritores que na sua maioria aliam a produção literária estrita com os escritos de índole doutrinária (Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão e Oliveira Martins), e aliás se caracterizam pela sua imbricação, desenvolvendo a poesia de ideias e o romance de tese, quando não se notabilizam justamente neste género de reflexão, que hoje se tende a considerar marginal em relação à centralidade da estesia literária.
Posteriormente, o grupo do «Integralismo Lusitano» (com António Sardinha, com as revistas Alma Portuguesa e Nação Portuguesa, 1913-1938) e o da Seara Nova (com António Sérgio e Raul Proença) produziu, com menor vigor e regular qualidade, este tipo de escritos, e, mais perto de nós, Manuel Antunes, Agostinho da Silva e Eduardo Lourenço são personalidades de influência determinante nas correntes de pensamento da cultura portuguesa.
© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011