Origens da Literatura Portuguesa

Origens da Literatura Portuguesa

 
 
Cancioneiro da Ajuda: Jogral com viola de arco, rapariga com pandeiro
 
Cancioneiro da Ajuda: Jogral com viola de arco, rapariga com pandeiro
 
 
 
Cantiga da Garvaia
 
"Cantiga da Garvaia", Cancioneiro da Ajuda
   
 

As primeiras manifestações da literatura portuguesa são em verso, datam do séc. XII e estão reunidas em três coletâneas: o Cancioneiro da Ajuda (séc. XIII), o Cancioneiro da Vaticana e o Cancioneiro da Biblioteca Nacional (sendo estes cópias de textos mais tardios).

Os primeiros poetas são João Soares de Paiva e Paio Soares de Taveirós, sendo da autoria deste último a célebre «Cantiga da Garvaia».
Remetendo, nas suas origens, para a tradição oral, esta produção lírica é difundida por trovadores (poetas) e segréis (instrumentistas) e jograis.
Pensa-se que o lirismo medieval sofre a inspiração latina mas se fortalece em poesia popular, estabelecendo as «harjas» moçárabes uma ligação à poesia românica, muito especialmente às cantigas de amigo.

 

No mundo nom me sei parelha
mentre me for como me vai,
ca ja moiro por vós e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia.
Mao dia me levantei
que vos entom non vi fea!

               Paio Soares de Taveirós, «Cantiga da Garvaia» - (1.ª estrofe)




 
Fólio de Amadis de Gaula  
Fólio de Amadis de Gaula, edição de 1526, impressa em Sevilha por Jacobo Cromberger, alemão e João Cromberger
 
   
 
Quanto à ficção, se pusermos de lado os textos em prosa de feição historiográfica, nomeadamente os que se constroem em torno da figura de D. Afonso Henriques (Crónica Geral de Espanha de 1344 e Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra, IV), há traduções de obras de matéria da Bretanha (um ciclo da Demanda do Santo Graal, e outro de José de Arimateia) e textos de cariz religioso e edificante (Boosco Deleytoso e Horto do Esposo, sécs. XIV e XV), além de prosa doutrinal, que encontra na família de Avis, no séc. XV, expoentes notáveis: O Livro da Montaria de D. João I, sobre a arte e os prazeres da caça; A Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela e Leal Conselheiro, sobre a arte de montar e sobre a ética e a prática da vida quotidiana, respetivamente, de D. Duarte; e Virtuosa Benfeitoria, adaptação de Séneca sobre os benefícios dos nobres, do Infante D. Pedro).

Mas é o Amadis de Gaula que marca com relevância a ficção da época. Editado em Saragoça em 1508, o texto é, ao que parece, subsidiário de um texto português do séc. XV. Novela de cavalaria, com entrecho amoroso e guerreiro que obedece ao melhor das convenções do género, salienta-se por um esboçar de realismo em pormenores da ação e da incipiente psicologia e, sobretudo, pela atmosfera de sensualidade que une o par amoroso.

Ainda hoje se mantém hesitante a atribuição da sua autoria, quer para o lado português, quer para o lado espanhol, sendo certo que se trata de uma obra-prima da ficção peninsular.

 



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