A contribuição do Padre Antônio Vieira à história da astronomia

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Separata da Revista do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, a. 160, n. 403
1999


“Levantem pois os reis e os reinos os olhos,
olhem para estes sinais do céu,
e se os virem, esperem;
se os virem cometas, temam”

Padre Antônio Vieira, História do Futuro

 Ronaldo Mourão












1543, Frontespício da obra Cometographia, de Johannes Hevelius(1611-87), onde três figuras alegóricas discutem diferentes teorias sobre a origem dos cometas: a ideia aristotélica que defendia que estes eram sublunares (esquerda), a teoria de que se moviam em linha recta (direita) e a ideia de Hevelius (centro) de que eles se originam nas atmosferas de Júpiter e Saturno e orbitam o Sol numa trajectória curva.

Desenho do núcleo, cabeleira e cauda do grande cometa de 1680 e dos núcleos de cinco outros cometas. Ilustração publicada por Thomas Wright em 1750 em Londres.

O cometa Halley fotografado de perto pela sonda Giotto, mostra um pequeno núcleo em desagregação lenta, libertando poeiras e gases.

O escritor e missionário jesuíta Padre Antônio Vieira, conhecido pelos seus famosos sermões, que nasceu em Lisboa no dia 6 de fevereiro de 1608 e faleceu em 18 de julho de 1697, no Colégio da Bahia, foi um profundo conhecedor das teorias astronômicas de sua época. Veio menino para o Brasil e quando estudava no Colégio da Bahia resolveu entrar para a Companhia de Jesus, na Cidade de Salvador, em 5 de maio de 1623. Ordenou-se sacerdote em 10 de dezembro de 1634, após obter o grau de Mestre em Artes. Os seus dotes históricos lhe asseguraram a imortalidade tanto como um grande orador como escritor.

Em seus Sermões, Obras, Várias e Cartas, encontram-se inúmeras citações a cometas observados no Brasil. Pela análise de suas Cartas e Sermões é possível verificar que as suas indicações constituem, às vezes, a primeira observação efetuada que se conhece. Um desses exemplos é o caso do cometa Jacob (1695), que segundo o seu sermão intitulado: “Voz de Deos ao mundo, a Portugal e à Bahia: Juízo do cometa que nela foi visto em 27 de outubro de 1695 e continua até hoje, 9 de novembro do mesmo ano”. Tendo em vista a data indicada, a primeira observação deste cometa foi efetuada sem dúvida na Bahia tendo sido o Padre Antônio Vieira quem com prioridade registrou esse cometa em todo o mundo.

Seria conveniente lembrar que o interesse de Vieira pelos cometas estava associado à crença de que os cometas eram avisos de Deus. O caráter místico desses registros não invalida, como poderia parecer a um leigo, a sua importância histórica. Atualmente, os astrônomos têm procurado analisar os velhos manuscritos na procura de relatos que elucidem determinadas ocorrências celestes. Uma das maiores fontes de informação histórica sobre os eventos do início da civilização é a dos arquivos dos astrólogos-astrônomos chineses, pagos pelo governo para estudar os acontecimentos celestes que se acreditava possuírem enorme influência sobre os homens e os regimes políticos. Em Vieira iremos encontrar existência de alguns importantes relatos. Antes, no entretanto, seria conveniente lembrar que Vieira, apesar de sua interpretação teológica dos cometas e outros eventos celestes, sempre condenou a astrologia, separando-a da observação científica, como se poderia verificar pelo texto abaixo:

“Não se chama de juizo astronômico, porque não é nosso intento examinar ou definir a natureza, a matéria, o nascimento, o lugar, as instâncias, os aspectos, os movimentos, nem algumas das outras circunstâncias em que curiosamente se empregam as observações da astronomia, e muito menos a duração e o caso deste predigioso meteoro, pois ainda estão pendentes. Também se não chama astrológico este juízo, porque, reputando nós, com os mais sábios e prudentes professores da mesma arte quão inútil, infrutuosa e vã seja aquela parte da astrologia, que com o nome de judiciária costuma entreter os discursos e enganar as esperanças ou fantasias dos homens, não só seria crime contra a Providência do Altíssimo, mas desprezo de seus avisos tão manifestos, divertilos a considerações ociosas, em que se confundam e percam os efeitos próprios e saudáveis que deve e pode produzir em nós uma causa tão notável.”

Aliás, a posição adotada por Vieira era a mesma do astrônomo alemão Johann Kepler (1571-1630), de cujos livros deve ter tido conhecimento, pois em diversos escritos cita o grande astrônomo, em especial em um dos seus Sermão, no qual fala da estrela Nova de 1608 que apareceu em 30 de setembro desse ano na constelação de Ofiúco:

“Assim o diz expressamente e já alegado Képlero, matemático famoso deste século, que, com a mesma estrela diante dos olhos, observando todos os movimentos seus, e dos outros astros, compôs dela um eruditíssimo livro, no qual, descendo a declaração e juízo de seus efeitos, ou influídos, o primeiro é este: Novam ex hoc tempora rempublicam adolescere, cujus imperio generali regma hodie valde tumultuantia subigantur olim: ut ita mundus nimium inquietus, et ferox aliquandiu sub hujus monarchae tutela conquiescat-Quer dizer: que desde o arco de 1604, em que aquela estrela apareceu no céu, começava a nascer e se levantar na terra uma nova república, a qual crescendo com a idade, viria a dirmar a seu tempo um império universal, debaixo de cuja obediência todos os reinos do mundo, que ao presente tumultuavam ferozmente em guerras, deporiam as armas, e ele seria o julgo que os amansasse, e o freio que os contivesse em paz”:

O “eruditíssimo livro” acima citado é De stella nova de Kepler, publicado em 1606, que Vieira deve ter lido.

Como muito bem afirmou o escritor positivista Ivan Lins, em sua notável biografia sobre Vieira, a concepção sobre os cometas em Vieira, assim como no astrônomo alemão Johannes Kepler, no matemático suíço Jacques Bernouilli (1654-1705), no filósofo italiano Tommaso Campanella (1568-1639) era a idéia aceita pelos grandes homens de seu tempo que possuíam o modo de pensar de sua época.

Seu conhecimento astronômico não se limitou aos registros de eventos celestes. Vieira em diversas ocasiões se pronunciou sobre as novas teorias cosmológicas da época, tais como as defendidas pelo astrônomo e físico italiano Galileu Galilei (1564-1642) e pelo astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543). Aliás, sobre o sistema copernicano, Vieira fez esta interessante observação, no Sermão do Primeira Dominga do Advento:

“Copérnico, insigne matemático do próximo século, inventou um sistema do mundo, em que demonstrou, ou quis demonstrar (posto que erradamente), que não era o sol o que se via e rodeava o mundo, senão que esta mesma terra em que vivemos, sem nós o sentirmos, é a que se move, e anda sempre à roda. De sorte que, quando a terra dá meia volta, então descobre o Sol, e dizemos que nasce, e quando acaba de dar a outra meia volta então lhe desaparece o Sol, e dizemos que se põe. E a maravilha novo invento é a suposição dele corre todo o governo do universo, e as proporções dos astros e medidas dos tempos, com a mesma pontualidade e certeza com que até agora se tinham observado e estabelecido na suposição contrária”.

Se bem que não sustentasse o princípio do movimento de terra e do heliocentrismo, externava “a maravilha deste novo inverno”.

Para aqueles que pouco conhecem a vida desse notável humanista, afastando-nos da astronomia, lembramos que apesar de jesuítas, Vieira condenou a Inquisição quando esta agia ainda com toda a sua força. Hoje, como dizia o escritor e filósofo brasileiro Ivan Lins (1904-1975), é fácil condenar os processos da Santa Inquisição quando ela já não aterroriza, mas naquela época seria necessária uma coragem pouco comum.

Para compreender o comportamento científico do Padre Antônio Vieira, que tanto se preocupou com os cometas e outros fenômenos astronômicos em geral vistos como sinais celestes de um poder divino, devemos recuar no tempo, procurando analisá-lo do ponto de vista do espírito da época em que viveu.

Quem melhor estudou o modo de ver dos homens do século XVII com relação aos cometas foi o cônego e astrônomo francês Alexandre Guy Pingré (1711-1796), em sua obra Cometographie ou Traité Historique et Theorique des Comètes (1784). Nessa época existiu o que se chamava de cometomancia, ou seja, a capacidade de adivinhar o destino por intermédio dos cometas. Para Pingré, os cometomantes se dividiam, no século XVII, em três principais grupos de tendências diferentes, ou melhor, de crenças religiosas ou mesmo filosóficas, às vezes opostas. Para os teologistas, os cometas constituíam sinais de origem divina, advertências de Deus à humanidade pecadora. Já os astrólogos procuravam utilizar as aparições cometárias para as suas previsões, baseando-se sempre numa série de experiências históricas com as quais procuravam valorizar suas adivinhações. Para os físicos da época, os cometas constituíam fenômenos naturais, talvez de natureza atmosférica, procurando explicações lógicas para os efeitos maléficos que lhes atribuíam. Tal comportamento se prendia ao fato de ainda permaneceram submissos aos pensamentos filosóficos de Aristóteles (384-322 a.C.), que, além de considerar os cometas como de natureza meteorológica, os associavam às secas, inundações, terremotos e até mesmo às fomes e guerras.

Diante desse contexto, o Padre Antônio Vieira se classificaria entre os teologistas e os físicos, pois, realmente, se bem que aceitasse a idéia de um sinal divino, procurava uma explicação de natureza física, em virtude, sem dúvida, das suas leituras e dos contatos com os astrônomos jesuítas de origem alemã com os quais conviveu. Aliás convém lembrar que Vieira em todas as suas obras sempre condenou severamente os astrólogos.

A importância das citações de Vieira sobre os cometas não está relacionada à conceituação teológica dos fenômenos celestes, mas na informação de natureza astronômica, tais como, na época, instante e local da observação e, às vezes, fornecendo com razoável precisão e região do céu em que foi visível. De fato, como são muito poucos os registros existentes nesse período do Hemisfério Sul, em especial no Brasil, qualquer informação séria, mesmo dentro de uma embalagem mística, serve como um dado informativo. Às vezes de grande valor histórico-astronômico. Assim se tem precedido com os manuscritos dos astrólogos chineses e japoneses que eram pagos para observar o céu com o objetivo de detectar os sinais celestes que viessem a perturbar a harmonia da dinastia dominante. Sua função era registrar os fenômenos celestes que poderiam vir a ser responsáveis pelas crises governamentais, as inundações e até mesmo pelas guerras que viessem a ocorrer.

Em seu sermão “Voz de Deus a Bahia”, Vieira faz referência ao Brilhante Cometa de 1618 que teria observado em sua meninice, na Bahia, para onde seus pais se transferiram em 1614. Tal observação é muito importante, pois parece ter sido desconhecido dos cometógrafos europeus. O astrônomo russo Sergej Konstantinovich Vsekhsvyatskij (1905-1984), autor de um dos mais moderno repertório sobre cometas, além de não citar essa observação parece desconhecer quase todas as referências de cometas visíveis no Brasil, talvez por uma falha dos astrônomos portugueses e brasileiros que jamais se dedicaram às pesquisas históricas e à difusão de seus compatriotas. Esse cometa, 1618 II, descoberto em 16 de novembro de 1618, na constelação de Libra, por Kepler, pelo jesuita suiço Jean Baptiste Cysat (1580-1657), pelo inglês Thomas Harriot (1560-1621), o dinamarquês Christian Sorensen Longomontanus (1562-1647) e o holandês Willebrordus Snelius (1591-1626), parece ter atingido uma magnitude de 1 a 3 com uma cauda de cerca de 70 graus de comprimento. Tal referência de Vieira ao cometa de sua juventude surgiu em conseqüência do aparecimento do cometa Jacob, em 1695, motivo do mais curioso opúsculo sobre as influências cometárias, publicado no Brasil no século XVI.

As referências de Vieira aos cometas encontram-se, em geral, em suas cartas, nas quais encontramos também inúmeras referências a eclipses e até mesmo a uma provável estrela nova em 1665.

Encontramos uma série de referências epistolares sobre o cometa Hevelius de 1664, que Vieira observou em Coimbra em dezembro desse ano, procurando compará-lo ao cometa de 1616 que tanto o impressionou na juventude. A mais valiosa informação sobre a aparição desse cometa encontra-se em carta de 23 de fevereiro de 1665 na qual relata que o astro teria sido observado, pela primeira vez, em 12 de novembro no Maranhão. Tal afirmativa altera completamente a história até hoje conhecida, que dá sua descoberta como tendo ocorrido na Espanha em 17 de novembro. Em outra carta Vieira escreveu sobre “um religioso nosso, alemão, bom matemático”, que vivia no Brasil. Trata-se, sem dúvida, do padre jesuíta Valentin Estancel (1621-1705) que, de fato, descreveu esse cometa em sua obra Legatus Uranícus, publicada em Praga, em 1683.

Outro cometa que Vieira afirmou ter observado durante a sua permanência em Coimbra é um outro cometa Hevelius, de 1665, que foi visível em março e abril desse ano. Esse cometa foi observado também no Brasil por Estancel, no Colégio da Bahia, e sua descrição pode ser lida em sua obra Uranophilus, publicada em Antuérpia, em 1685.

A confirmação da crença de Vieira nas influências cometárias é muito nítida no trecho seguinte:

“O cometa parece que se tem despedido, os efeitos naturais vão continuando com tempestades e inundações, de que se temem duas piores consequências, que são: fome e contágio.”

Tais idéias eram tão populares que se acreditava que as epidemias não vinham sem o aviso prévio da cauda luminosa de um cometa:

Céu de pedra
é ventania;
Cometa de rabo,
Epidemia.

Apesar da crença de que os cometas fossem vozes de Deus, seria conveniente, antes de continuarmos a nossa pesquisa sobre os diversos cometas registrados, lembrar que Vieira foi um profundo estudioso dos fenômenos celestes. Estudou sempre os melhores e mais atualizados autores: em Kepler, analisou a estrela nova de 1604; em Copérnico, ficou conhecendo o sistema heliocêntrico e o movimento de rotação da Terra; e em o físico e filósofo francês Renê Descartes (1596-1650), as suas análises sobre a cauda do arco-íris.

No século XVII, o arco-íris era considerado, como se pode ler nos mais autorizados livros da época, por exemplo, em Discours sur l'histoire universelle (1681) do teólogo e escritor francês Jacques de Bossuet (1627-1704), “um dos principais ornamentos do trono de Deus”. Ora, no Sermão do Santíssimo Sacramento lido em Lisboa, em 1645, oito anos depois da publicação de Meteoros (1637), de René Descartes, o Padre Antônio Vieira diz:

“Na íris ou arco celeste, todos os nossos olhos jurarão que estão vendo variedades de cores: e contudo ensina a verdadeira Filosofia que naquele arco não há cores, senão luz e água”.

Mais tarde, no Sermão da Segunda Dominga da Quaresma, pregado na Capela Real de Lisboa, em 1651, Vieira é mais objetivo, afirmando:

 “Isto que chamamos céu é uma mentira azul e o que chamamos arco-íris ou arco-celeste, é outra mentira de três cores”.

Já no Sermão da Quinta Quarta-feira da Quaresma de 1669, considera o arco-íris como fenômeno produzido pela refração da luz, como explicava Descartes em 1637:

“O rústico, porque é ignorante, vê muita variedade de cores no que ele chama Arco da Velha; mas o filósofo, porque é sábio e conhece que até a luz engana (quando se dobra) vê que ali não há cores, senão enganos corados e ilusões da vista”.

Parece que durante suas viagens Vieira dedicava-se mais às leituras como o provam as citações anteriores, pois verificamos que alguns cometas brilhantes, aparecidos por essa época, não constam nem de suas Cartas e Sermões.

Sobre o cometa Gottiguies, descoberto em 5 de março de 1668 em Lisboa e observado por Estancel na Bahia, que o descreveu como um objeto de primeira e segunda magnitudes, não encontramos nenhuma referência em Vieira, que nessa época se encontrava em Roma.

Depois de um longo período ausente do Brasil, de 1641 a 1681, Vieira retornou à Bahia, quando então vamos encontrá-lo narrando sobre o cometa Kirch, descoberto em 14 de novembro de 1680 e visível no céu austral durante a sua viagem de volta ao Brasil, que segundo Vieira apareceu como “em figura de palma, que se estendia desde o horizonte até o zênite, e levava o curso para a parte austral tão arrebatado, qual nunca se viu em outro”.

Vieira observou também o cometa Bianchini, descoberto em Roma em 30 de junho de 1684. De fato, pela leitura das epístolas de Vieira podemos concluir que a descoberta desse cometa ocorreu no Brasil em 6 de maio desse mesmo ano, em Pernambuco, onde o observava o matemático jesuíta Estancel, até o dia 16 de maio. Nesse mesmo ano Vieira relata que os índios no Rio de Janeiro teriam registrado o aparecimento de um outro cometa. O primeiro teria sido visível de madrugada, e o segundo, após o pôr-do-Sol.

Curiosamente não encontramos referência à aparição do cometa Halley em 1682 e do Brilhante Cometa de 1686. Esse último, seguramente, foi observado por Vieira, pois em 15 de agosto já era visível no Pará pelos padres jesuítas. Em sua poesia satírica Gregório de Matos (1623-1696) diz tê-lo observado na Bahia.

O cometa Richaud, observado pela primeira vez a bordo de um navio em 1 de dezembro de 1689, foi também visto por Vieira em 6 de dezembro. Tal aparição foi descrita, com muitos detalhes, no Discurso Astronômico, existente na Biblioteca Nacional de Lisboa, Coleção Pombalina (códice n.484, folhas 170 a 177). Esse relato foi reproduzido em 1911 na Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. Admite o historiador português Serafim Leite (1890-1969) que o autor desse discurso deve ser o jesuíta Valentim Estancel.

O último cometa observado por Vieira foi o descoberto uma hora antes do nascer-do-Sol em 27 de outubro de 1695, na Baía de Todos os Santos, pelo padre jesuíta francês Jacob Cocleo (1628-1710). Segundo o Padre Vieira, em 30 de outubro, o cometa se encontrava entre Spica (Alpha Virginis) e a cauda do Corvo a 16 graus da Lira. Esse cometa foi visível a vista desarmada desde o dia de sua descoberta até 1 de novembro, como está escrito no opúsculo que Vieira, com a idade de 87 anos, escreveu sob o título: “Voz de Deus ao mundo, a Portugal e à Bahia”. Nesse estudo, Vieira faz um longo e completo estudo teológico sobre o cometa ao longo da história, quando, então, relaciona algumas de suas influências. Para Vieira os cometas eram a Voz de Deus:

“Depois que os profetas cessaram, começou Deus a falar pelos cometas, que a língua universal de maior majestade e horror de que usa extraordinariamente em seus tempos, e em casos graves como se não pode duvidar seja o presente”.

Nessa monografia, cita Vieira os conhecimentos do astrônomo grego Cláudio Ptolomeu (90-170), de Aristóteles e de Kepler, transcrevendo desse último este curioso texto:

“As exalações sublunares, viscosas, secas, crassas e pingues se ajuntam na parte onde se acende o cometa, e daquele grande apostema saem os influxos de que se causam esses perniciosos efeitos”.

Tais idéias não irão jamais destruir a imagem genial que criamos de Kepler, descobridor das leis do movimento planetário, que exerceu a atividade de astrólogo; do matemático e físico inglês Isaac Newton (1642-1727), um dos fundadores da física, que acreditava na alquimia; nem de Vieira, que graças às suas crenças de que os cometas eram as “Vozes de Deus” nos deixou valiosas informações sobre o aparecimento desses astros no Brasil, no século XVII.


Referências


LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil, Vol I-X, Livraria Portugália, Lisboa, 1938-1950.

–. Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil (1549-1760), Edições Brotéria, Lisboa, 1953.

LINS, Ivan. Aspectos do Padre Antônio Vieira, 2ª edição revista e aumentada, Livraria São José, Rio de Janeiro, 1962.

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. Introdução aos cometas, Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1985.

–. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, 2ª edição revista e ampliada, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1996.

VIEIRA, Padre Antônio. Sermões, Vols. I, II e III, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1854.

–. Sermões, Vols. IV, V, VI e VII, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1855.

–. Sermões, Vols. VIII, IX, X, XI, XII, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1856.

–. Sermões, Vols. XIII, XIV, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1857.

–. Sermões, Vol. XV, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1858.

–. Cartas, Vols. I, II e III, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1854.

–. Cartas, Vols. IV, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1855.

–. Arte de furtar - História do futuro, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1855.

–. Varias obras, Editores J.M.C. Seabra & T.Q. Antunes, Lisboa, 1856.

VSEKHSVYATSKIJ, S.R. Physical, Characteristics of Comets, Israel Program for Scientific Translations, Jerusalem, 1964.


 


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