Sociedade Portuguesa de Matemática

 

A SPM é uma associação científica que tem por objectivo promover o estudo e desenvolvimento das Ciências Matemáticas e das suas aplicações. Fundada em 12 de Dezembro de 1940, nunca foi reconhecida pelo regime político de Salazar e Caetano, só tendo sido legalmente constituída em 10 de Outubro de 1977.

 

Reprodução do primeiro exemplar da "Gazeta de Matemática", de 1940

Nos anos 40 existiu em Portugal um grupo de matemáticos portugueses com uma actividade científica e pedagógica assinalável. A actividade deste núcleo traduziu-se no aparecimento sucessivo da Portugaliæ Mathematica (1937), do Seminário Matemático de Lisboa (1938), do Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia (1938), da Gazeta de Matemática (1939), do Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa e do Porto (1940 e 1942, respectivamente) e da SPM, em 1942.

 

Quando se realizou a primeira Assembleia Geral da SPM existiam já mais de 100 associados da SPM , o que revela bem a significativa implantação da Sociedade na comunidade. Na direcção ficaram, entre outros, Pedro José da Cunha como Presidente da Direcção, Aureliano de Mira Fernandes (1884-1958) como Presidente da Assembleia Geral e António Aniceto Monteiro (1907-1980) como Secretário-Geral. Foram formadas diversas comissões, temporárias e permanentes, que pretendiam concretizar os objectivos da SPM, de cultivar e promover o estudo das Ciências Matemáticas, Puras e Aplicadas, realizando, para isso, reuniões de estudo, conferências, cursos livres, publicando um Boletim e outros estudos matemáticos, promovendo a participação em colóquios e congressos, colaborando em publicações, quer nacionais, quer estrangeiras.

 

Grande parte das iniciativas acima referidas foram dinamizadas por António Aniceto Monteiro que, juntamente com matemáticos como Hugo Ribeiro (1910-1988), Zaluar Nunes, Ruy Luís Gomes (1905-1984), Mira Fernandes, José da Silva Paulo, Bento Caraça (1901-1948) e José Sebastião e Silva (1914-1972), entre outros, contribuiu para a criação de um ambiente científico propício para acabar com o isolamento dos cientistas portugueses. Monteiro afirmava então: “É indiscutível que assistimos hoje a uma verdadeira efervescência de actividades no campo das ciências matemáticas”.

 

A realização de conferências e de seminários, o aparecimento dos Centros de Estudos Matemáticos e a criação de publicações, como o Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática, a Portugaliae Mathematica e a Gazeta de Matemática, vieram possibilitar o contacto regular entre os matemáticos portugueses de várias universidades, bem como criar mecanismos mais acessíveis de divulgação dos seus trabalhos de investigação. Relativamente à investigação deve salientar-se o papel da Portugaliae Mathematica, que constituiu um meio importante de publicação de trabalhos originais e de divulgação da investigação portuguesa entre a comunidade científica internacional. A Gazeta de Matemática, orientada para professores e estudantes, permitia um melhor acompanhamento do movimento matemático de outros países.

 

Nos anos de 1946 - 1947 o regime vigente desencadeou uma ofensiva contra a Universidade, tendo sido afastados do ensino, entre outros, Bento Caraça, Ruy Luís Gomes, Zaluar Nunes, José Morgado, António Monteiro, Hugo Ribeiro e Pereira Gomes. Os Centros de Matemática foram praticamente extintos e proibidas as actividades da SPM em qualquer dependência do Ministério da Educação Nacional. Perseguidos pela PIDE, viram-se alguns dos sócios fundadores e dinamizadores da Sociedade, obrigados a prosseguir no exílio as suas carreiras, e a actividade da SPM atravessou um período de declínio. As revistas mantiveram-se; a Portugaliæ Mathematica graças aos esforços de Zaluar Nunes e a Gazeta de Matemática, aos de Gaspar Teixeira. Mas a criação de um forte movimento matemático, como o prenunciado nos anos 40, foi assim postergada.

 

Após o 25 de Abril de 1974, a Direcção presidida por Santos Guerreiro levou finalmente a cabo a tarefa de legalização da Sociedade, tendo sido registados em 1977 no Diário da República os seus primeiros Estatutos. Após um longo período de enormes dificuldades, suportado pela persistência de alguns dos seus membros, a SPM pode finalmente concretizar livremente os objectivos definidos pelos seus fundadores, e contribuir para a divulgação do conhecimento matemático, para a promoção da qualidade do ensino da Matemática e para a divulgação da investigação portuguesa.

 

Frontispício de um número de "Gazeta de Matemática"

Entre as principais actividades actuais da SPM salientam-se a publicação da revista científica Portugaliæ Mathematica (artigos de investigação), do Boletim da SPM (artigos de divulgação), da Gazeta de Matemática (orientada para professores e estudantes) e a organização de conferências, congressos, seminários e actividades afins e similares. A Sociedade organiza as "Olimpíadas Nacionais de Matemática" e promove a participação de equipas portuguesas na "International Mathematical Olimpics" e nas "Olimpíadas Ibero-Americanas de Matemática".

 

A SPM institui ainda diversos prémios: o Prémio José Sebastião e Silva, para galardoar manuais destinados ao Ensino Básico e Secundário; o Prémio José Anastácio da Cunha, que se destina a galardoar dissertações de doutoramento em Matemática; o Prémio Bento de Jesus Caraça, destinado a distinguir o melhor aluno de Matemática no final do Ensino Secundário.

 

Os interessados em conhecer mais pormenores sobre a SPM podem consultar as páginas da própria SPM, e as páginas das publicações editadas pela Sociedade: Portugaliae Mathematica; Boletim da Sociedade Portuguesa de Matemática; Gazeta de MatemáticaSobre o aparecimento e actividade da SPM nos seus primeiros anos de vida, pode-se consultar o excelente texto de José Morgado, "Para a História da Sociedade Portuguesa de Matemática".

Fernando Reis


© Instituto Camões 2003