Época Medieval

Renascimento em Portugal

Sob o Signo das Luzes

A Filosofia Portuguesa do Séc. XIX
até à Proclamação da República
A Filosofia Portuguesa depois de 1910

Francisco José de Freire

Oratoriano (n. Lisboa 1719-m. Mafra, 1773), foi um dos principais animadores do movimento estético-literário da Arcádia (onde adoptou o nome de Cândido Lusitano) e, como tal, figura proeminente no âmbito das ideias estéticas em Portugal, na sua vertente literária, ligada à poética e à retórica. Com efeito, pode justamente considerar-se a sua Arte Poética como o código estético dos «árcades». Defensor acérrimo da Antiguidade (Aristóteles, Cícero, Horácio e Quintiliano), elaborou uma vasta obra de divulgação do pensamento estético-literário dos clássicos. Aí poderemos encontrar a defesa de uma concepção da poesia como imitação da natureza, na esteira da Poética de Aristóteles, a teorização também aristotélica do verosímil, o problema das relações entre o útil e o deleitável, a arte, a natureza e o exercício e, ainda, sob marcante influência de Muratori e Luzán, a reflexão em torno das relações entre a fantasia e o entendimento, na elaboração da obra poética.

Contra Verney, defendeu que a fantasia e a imaginação eram a alma da poesia, embora num contexto de «regulamentação», através dos preceitos de «arte» e do «juízo». Num texto da polémica verneyana, defenderá que «na proporção, na ordem e na unidade é que consiste a beleza poética», remontando a princípios de feição platónica e augustiniana.

Revelando directa dependência do pensamento de L. Muratori, a Francisco José de Freire se ficou a dever, entre nós, a primeira e canónica definição de «bom gosto», no contexto da polémica em torno do Verdadeiro Método de Estudar, de acordo com os preceitos do neoclassicismo. Assim, depois de negar a legitimidade da noção de «não-sei-quê», eco da liberdade criativa do barroco, defendido pelo P. B. Feijóo, diz, acentuando o predomínio da lógica sobre a estética: «os antigos chamavam-lhe Juízo e isto é que é propriamente o bom gosto. É proceder com juízo e discernimento nas obras que compomos e não menos nas que lemos». Nesse sentido, alinhou com os cânones do neoclassicismo defendidos com maior intensidade desde Boileau.

Obras
Vieira defendido, Lisboa, 1746; Arte Poética ou Regras da Verdadeira Poesia, Lisboa, 1748; Ilustração Crítica..., Lisboa, 1751 (texto da polémica verneyana); Arte Poética de Quinto Horácio Flacco, Lisboa, 1758; Dicionário Poético para uso dos que principiam..., Lisboa, 1765; Reflexões sobre a Língua Portuguesa (ed. de Cunha Rivara), Lisboa, 1842. [Na Biblioteca Pública de Évora conservam-se dois manuscritos de F.J.F., A Eloquência Christã e Cartas Poeticas e Criticas (...) de Poesia (...) e Poetas (cod. XIII).]

Bibliografia
A. Banha de Andrade, Vernei e a Cultura do seu Tempo, Coimbra, 1966; A. José Saraiva e Óscar Lopes, História da Literatura Portuguesa, Porto (várias ed.); Teófilo Braga, História da Literatura Portuguesa, vol. IV, Os Árcades, Porto; Aníbal Pinto de Castro, Retórica e teorização Literária en Portugal, do Humanismo ao Neoclassicismo, Coimbra, 1973.

Pedro Calafate


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