Teatro ABC
(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)
Inaugurado em Janeiro de 1956, com o espetáculo Haja saúde de Carlos Lopes, Frederico Brito, João de Vasconcelos e Ferrer Trindade, o Teatro ABC foi o quarto e último teatro a ser edificado no Parque Mayer, em Lisboa.
Teatro ABC (entrada), s.d. [TRIGO / LUCIANO Parque Mayer, vol. II. Lisboa: Sete Caminhos, 2005, p.125]. |
Situado no terreno adjacente ao Teatro Maria Vitoria, foi construído por iniciativa do empresário José Miguel, que o dirigiu até 1971, ano da sua morte. Este espaço acolheu espetáculos infantis, teatro declamado, teatro de revista e foi a partir deste palco que se operaram mudanças estruturais na revista, nos tempos que antecederam o 25 de abril. Com a particularidade de ter sido a única sala aquecida do Parque Mayer, este recinto foi seriamente danificado por um incêndio em 1990 e reconstruído em 1993. Não obstante os esforços levados a cabo pelos seus empresários, este espaço encerrou definitivamente em 1997.
Já o Parque Mayer se tinha afirmado como espaço de lazer e recreio de grande popularidade na sociedade lisboeta quando o Teatro ABC foi edificado em 1956. Este recinto começou por funcionar como ringue de patinagem que, por sua vez, deu lugar ao cabaret Alhambra, seguindo-se o restaurante Galo de Ouro e o Pavilhão Português que tinha a particularidade de oferecer cinema ao ar livre a preços populares. À noite, este recinto transformava-se no cabaret Sevilha para deleite dos notívagos boémios. Foi com o espetáculo Haja saúde! de José Galhardo, Carlos Lopes e Frederico de Brito, e com Curado Ribeiro no papel de compère, que se inaugurou o Teatro ABC. Neste espaço fizeram a sua estreia, no teatro de revista, artistas como Vítor Mendes no espetáculo O gesto é tudo, de 1962, Mariema na revista É regar e pôr ao luar (1964) – da parceria Paulo da Fonseca, César de Oliveira e Rogério Bracinha – e Henriqueta Maia em Gente nova em bikini (1963), de César de Oliveira, Francisco Nicholson e Rogério Bracinha. Estes autores, entre outros, e as suas parcerias asseguraram o sucesso de muitas das revistas no Teatro ABC. Este recinto começou por ser explorado por José Miguel tendo passado para a gerência de Sérgio de Azevedo na década de 70 do século XX.
Foi a partir desta casa e com o empresário Sérgio de Azevedo que se empreenderam mudanças radicais na estrutura tradicional da revista à portuguesa, no início dos anos 70. O espetáculo É o fim da macacada (1972) – dos autores Francisco Nicholson, Nicolau Breyner, Gonçalves Preto, Rolo Duarte e Mário Alberto – marcou o início desta tentativa de restituição crítica à revista, tendo sido distinguido com o Prémio de Imprensa. Inovando nos textos, cenografia e música, o teatro de revista surgia com outra força, como sublinhava Luiz Francisco Rebello: “[…] bastou que a censura se tornasse menos rigorosa [com a subida de Marcelo Caetano ao poder] para que a imaginação dos autores se desprendesse e a revista voltasse a encontrar a sua veia natural” (REBELLO 1985: 144-145). Em 1974 estava em cena no ABC a revista Tudo a nu que, após o 25 de Abril, passou a denominar-se Tudo a nu com parra nova. Neste espetáculo os autores criticavam também o projeto de urbanização elaborado nesta década e que visava a demolição do Parque Mayer. Este espetáculo contou também com a particularidade de ter alguns dos seus excertos transmitidos pelo Rádio Clube Português.
Naturalmente, os autores apressaram-se a pôr em cena os quadros antes proibidos pela censura. No entanto, a liberdade conquistada não trouxe resultados e ideias consensuais entre os atores e o empresário. Parte da companhia do ABC abandonou o teatro do Parque e fundou, em 1974, o Teatro Adoque para o qual se transferiram alguns dos artistas com ideias mais progressistas. No Parque Mayer permaneceram Sérgio de Azevedo e Nicolau Breyner, mas outros artistas importantes vieram reforçar a equipa como Ary dos Santos, Aida Baptista, Ivone Silva, Octávio Matos e Herman José, o que permitiu ao ABC manter o nível de qualidade a que o público já se havia habituado. Azevedo manteve-se como responsável das produções desta casa até 1978, sucedendo-lhe Carlos Santos com quem Marina Mota, como fadista, e Carlos Paião, como compositor, se estrearam no teatro. Neste mesmo ano, na revista Põe-te na bicha, António Calvário interpretou a canção “Mocidade, mocidade”, tema que perdura ainda na memória do grande público.
Em 1990 o ABC foi destruído por um incêndio quando estava em cena a revista Ai Cavaquinho, de Eduardo Damas, Camilo de Oliveira, Miguel Simões e Paulo César, pelo que teve de ser transferida para o Teatro Capitólio. Carlos Santos foi o empresário que recuperou este recinto com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura. Três anos depois voltaria a abrir com o espetáculo Lisboa meu amor. O ano de 1997 ditou o seu encerramento definitivo.
Bibliografia
FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277-288.
AZEVEDO, Sérgio (2003). Histórias de teatro e outras paralelas. Porto: Multisaber.
NEGRÃO, Albano Zink (1965). O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. Lisboa: Editorial Notícias.
REBELLO, Luiz Francisco (1984). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
___ (1985). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
SANTOS, Vítor Pavão (1978). A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista. Lisboa: O Jornal.
TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). Parque Mayer, (1922/1952) vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.
___ (2005). Parque Mayer, (1953/1973), vol II. Lisboa: Sete Caminhos.
___ (2006). Parque Mayer, (1974/1994), vol III. Lisboa: Sete Caminhos.
Consultar a ficha de espaço na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&ObjId=128
Consultar imagens no OPSIS:
Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro