Teatro Capitólio

(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)

Inaugurado a 31 de julho de 1931, o cine-teatro Capitólio foi projetado pelo arquiteto Luís Cristino da Silva e contou com José Belard da Fonseca para a edificação da estrutura de betão armado.

  Teatro Capitólio
  Teatro Capitólio (fachada), 1961, fot. C. Madeira [cortesia do Museu Nacional do Teatro, cota: 57624].

Situado no Parque Mayer, em Lisboa, este edifício é um marco histórico do modernismo nacional, tendo sido considerado Imóvel de Interesse Público em 1983 pelas suas características inovadoras. Ocupou o lugar onde antes se encontrava a “Esplanada Egípcia“ e foi o recinto do Parque que ofereceu uma maior variedade de espetáculos ao público: desde filmes portugueses, filmes pornográficos, teatro de revista, circo e operetas. Pioneiro em muitas das inovações do país (como uma pista de patinagem no gelo e cinema ao ar livre), tem também a particularidade de ser apontado como o edifício que abrigou as primeiras escadas rolantes do país para acesso ao seu terraço. Assim como o Teatro Variedades e o Teatro ABC, igualmente situados no Parque Mayer, também o Capitólio não escapou à usura do tempo.

Com a edificação do cine-teatro Capitólio, em julho de 1931, pelo traço de Luís Cristino Silva – o mesmo que projetou o pórtico da entrada do Parque Mayer – inaugurou-se a terceira sala de espetáculos deste recinto. Construído pela Sociedade Avenida Parque, Lda., detentora do espaço do Parque Mayer, o Capitólio foi inaugurado já por Campos Figueira uma vez que Luís Galhardo, a figura de maior destaque da Sociedade, havia falecido. Para a sua construção perdeu-se a “Esplanada Egípcia”, um dos recintos de convívio do Parque, onde se estreara Hermínia Silva. No terraço eram apresentadas projeções ao ar livre que se revelaram bastante populares no verão.

Os filmes portugueses A Severa (1931), de Leitão de Barros, e A canção de Lisboa (1933), de José Cottinelli Telmo, foram aqui apresentados ao público em 1934, assim como muitos outros clássicos do cinema que juntavam multidões no Parque Mayer. Também os bailes de Carnaval eram uma das atrações do Teatro Capitólio, “considerado o melhor, mais categorizado e acessível Carnaval de Lisboa!” (TRIGO/REIS 2005: 103) Emissões radiofónicas, do programa O comboio das seis e meia, fizeram igualmente parte da atividade deste espaço. Do mesmo modo, e com as produções da companhia brasileira Teatro Popular de Arte, de Maria Della Costa, este teatro apresentou ao público português espetáculos teatrais como A alma boa de Setsuan, de Bertolt Brecht, em 1960. Sendo a única peça de Brecht que pôde ser representada em Portugal na época do fascismo (por questões diplomáticas – de uma desejada boa relação política - entre Portugal e Brasil), este espetáculo marcou a história do Capitólio pelo tumulto que gerou entre a plateia logo no dia de estreia. Alguns elementos do público – de simpatia pelo regime de Salazar – contestaram, manifestando-se contra a peça do autor alemão arremessando objetos para o palco. Valeu à companhia a intervenção policial e a expulsão dos desordeiros. As representações foram, no entanto, canceladas poucos dias depois.

Após as apresentações da companhia brasileira, Raul Solnado, Carlos Coelho, Humberto Madeira e Vasco Morgado exploraram a sala do Capitólio na temporada de 1960/1961. A composição musical de todos os seus espetáculos (não só revistas) estava assegurada pelo maestro Frederico Valério. O primeiro espetáculo de revista apresentado por esta nova “sociedade” foi A vida é bela (1960), de Fernando Santos e Nelson de Barros.

Depois do incêndio que deflagrou no Teatro Nacional em 1964, a companhia de Amélia Rey Colaço deslocou-se para o Teatro Avenida. No entanto, também esse espaço foi consumido por um fogo em 1967, interrompendo a representação do espetáculo Equilíbrio instável, de Edward Albee. Amélia Rey Colaço mudou-se, assim, com a sua companhia no ano seguinte para o palco do Teatro Capitólio para continuar com a apresentação do espetáculo. Aqui permaneceram até 1970.

Foi também neste espaço que aconteceu o primeiro Festival Internacional de Magia, em novembro de 1972, um ano antes de Laura Alves assumir a direção da companhia teatral do Capitólio. Com a abolição da censura, em 1974, este foi o cinema que apresentou, pela primeira vez em Portugal, o filme pornográfico Garganta funda, acabando por se especializar neste tipo de reportório cinematográfico. Em 1990, o teatro acolheu Camilo de Oliveira e o seu espetáculo Ai, cavaquinho, devido a um incêndio que consumiu o ABC, onde se representava a revista.

Sendo o único edifício com valor arquitetónico do Parque, o Capitólio não escapou, contudo, à passagem dos anos, à falta de manutenção e ao afastamento do público, pelo que entrou num visível estado de degradação. Foi considerado Imóvel de Interesse Público, a 24 de janeiro de 1983, pelos seus traços modernistas, sucedendo-se, desde então, várias tentativas para o resgatarem ao abandono. Em agosto de 2009, a Sociedade Portuguesa de Autores propôs a atribuição do nome do ator Raul Solnado ao Teatro, mas para que isso se efetivasse “o Capitólio dever[ia] ser remodelado de forma a acolher com a dignidade devida esse novo nome". No primeiro trimestre de 2010 deu-se início ao processo de reabilitação deste espaço.

 

Bibliografia

FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.

NEGRÃO, Albano Zink (1965). O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. Lisboa: Editorial Notícias.

REBELLO, Luiz Francisco (1984). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

___ (1985). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

SANTOS, Vítor Pavão (1978). A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista. Lisboa: O jornal.

TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). Parque Mayer, (1922/1952) vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.

___ (2005). Parque Mayer, (1953/1973), vol II. Lisboa: Sete Caminhos.

___ (2006). Parque Mayer, (1974/1994), vol III. Lisboa: Sete Caminhos.

 

Consultar a ficha de espaço na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&ObjId=339 

Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro