Espaços

Teatro D. Fernando

(Rua dos Fanqueiros, Lisboa 1849-1859)

Localizado em plena Baixa Lisboeta, o Teatro D. Fernando foi implantado no lugar anteriormente ocupado pela Igreja de Santa Justa, um dos lugares de culto mais frequentados da cidade.

  Teatro D. Fernando
  Ilustração do Teatro D. Fernando [Revista popular, nº 37, 1849, p. 721].

Com a frente orientada para o atual Largo de Santa Justa, na continuidade da Rua dos Fanqueiros, e a fachada posterior voltada para a Rua da Madalena, o prédio de gaveto tinha ainda uma terceira fachada voltada para as escadas, que ligam as ruas supracitadas, vencendo o desnível entre elas. Projetado pelo arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, o teatro – resultando da iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha – foi inaugurado no dia do aniversário do rei, que lhe dá o nome, tendo-se mantido em atividade até 1859.

O projeto do Teatro D. Fernando inseria-se no plano urbanístico da Baixa Pombalina, da autoria de Eugénio dos Santos e ajustado por Carlos Mardel, à época ainda em execução. Dadas as dimensões do espaço onde foi implantado o edifício, ainda hoje observável, é possível adivinhar algumas dificuldades no seu programa de execução, assim como alguns inconvenientes para o adequar a uma sala de espetáculos. Todavia, acabou por se revelar suficientemente grande para acomodar com algum conforto os 636 espectadores que preenchiam a sala, e não faltavam sequer camarotes forrados de materiais nobres. Atendendo à estreiteza do terreno, o resultado não deixou de ser um interessante exercício de arquitetura.

O projeto foi do arquiteto/engenheiro francês Arnould Bertin, e as pinturas, que o decoravam no interior, eram de vários artistas da época, como Achille Rambois, Giuseppe Cinati, Rusconi e Inácio Caetano.

A construção do Teatro D. Fernando deveu-se à iniciativa privada do empresário Francisco Rodrigues Batalha, antigo negociante comercial, mantendo uma actividade regular durante um período aproximado de 10 anos, que podemos situar entre 29 de outubro de 1849 – coincidindo a inauguração com o aniversário do rei que lhe dá o nome – e 1859, muito embora existam registos de espetáculos esporádicos no teatro até fevereiro de 1860.

O teatro foi inaugurado a 29 de outubro com o drama Adriana Lecouvreur, de Eugène Scribe e Ernest Legouvé, estreado em Paris seis meses antes, a 14 de abril de 1849, e a comédia A mulher da perna de pau. A encenação foi de Emíle Doux, e o elenco contou com Emília das Neves no papel de Adriana. Os artistas contratados eram os mais consagrados da sua época, atestando a excelência que procurava seguir.

As leituras possíveis deste programa revelam que a fundação do teatro obedeceu a uma lógica que sobrepõe luxo e fama à conveniência comercial, não descurando a qualidade artística das representações.

No entanto, algumas descrições, que se podem encontrar em periódicos da época, parecem ser consonantes com algumas críticas à tendência que orientava este teatro, com uma maior atenção dada aos requintes burgueses, com que procurava conquistar o seu público, menosprezando a natureza e o valor artístico dos seus espetáculos.

Bibliografia
CASTILHO, Júlio de (1967). Lisboa Antiga – Bairros Orientais, 3ª ed., vol. IV. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.

FRANÇA, José Augusto (1993). O Romantismo em Portugal, 2ª ed. Lisboa: Livros Horizonte.

SOUSA BASTOS, António (1908). Diccionário de Theatro Portuguez. Lisboa: Imp. Libanio da Silva (há uma edição fac-similada de 1994. Coimbra: Minerva).



Consultar a ficha de espaço na CETbase:
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&ObjId=2753

Consultar imagens no OPSIS:
http://opsis.fl.ul.pt/


Bruno Miguel Henriques/Centro de Estudos de Teatro