Espaços

Teatro Maria Vitória

(Parque Mayer – 1250 Lisboa, Portugal)

Edificado em 1922, o Teatro Maria Vitória foi o primeiro espaço teatral a ser erigido no Parque Mayer.

  Teatro Maria Vitória
  Teatro Maria Vitória (fachada e lateral), 1943, fot. Eduardo Portugal [Arquivo Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico].

O recinto, idealizado por Luís Galhardo, começou por ser um espaço com instalações precárias em madeira. Esta casa foi inaugurada no verão desse ano com a apresentação do espetáculo Lua nova, de autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, a parceria que iria ser bastante profícua, também conhecida sob o pseudónimo de “Troianos”. Foi o espaço que apresentou um maior número de espetáculos de teatro de revista – embora também incluísse operetas e teatro declamado – e que se tornou o mais popular do Parque. É o único teatro que, passado quase um século da sua inauguração, ainda continua, na segunda década do séc. XXI, a abrir as portas ao público fiel a este tipo de espetáculos devido à contínua intervenção do empresário Hélder Freire Costa.

A par das diversões de feira, como os “carrinhos de choque” e os carrosséis, inaugurou-se no Parque Mayer, a 1 de julho de 1922, a primeira sala de espetáculos cujo nome homenageia a fadista Maria Vitória. Foi com o espetáculo Lua nova que se estreou a revista nesta casa. Contava com temas musicais de gosto popular, reagindo, assim, contra a importação de danças e ritmos estrangeiros (REBELLO 1985: 38) numa década em que o charleston, o fox-trot e o jazz-band invadiam os clubes noturnos da vida lisboeta. Foi neste recinto que, em 1940, se estreou como atriz a fadista Amália Rodrigues, na revista Ora vai tu!, de Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, tendo aqui conhecido o maestro Frederico Valério, em 1942, no espetáculo Essa é que é essa!.

Em 1945 iniciou a exploração desta casa o empresário Rosa Mateus, passando depois para outras gerências como a Empresa Portuguesa de Espetáculos, António Macedo e Piero Borbon. Entre 1953 e 1961 esteve aqui sediada a companhia de Eugénio Salvador que apresentou a sua primeira revista no Parque a 1 de março de 1953 – Cantigas ó Rosa – da autoria de Aníbal Nazaré e com a atriz de cinema Helga Liné como vedeta. À frente de uma grande equipa de cenógrafos, compositores (como Aníbal Nazaré), músicos e figurinistas, e com cabeças de cartaz tão célebres como António Silva, Humberto Madeira, Teresa Gomes, Costinha e Max, Eugénio Salvador teve um acolhimento muito favorável por parte do público. Os espetáculos de Salvador contavam também com atrações internacionais como a brasileira Bibi Ferreira, que atraiu multidões ao Parque Mayer. Salvador foi um dos precursores do humor non-sense em palco.

A década de sessenta foi particularmente profícua para este teatro com quadros e canções que ainda perduram no imaginário do público: em 1961, na revista Bate o pé, Raul Solnado protagonizou dois dos quadros que marcariam para sempre a sua carreira: “A guerra de 1908” e a “História da minha vida”; Artur Mourão iniciou-se no teatro de revista, no ano seguinte, no espetáculo Todos ao mesmo, onde cantou o popular tema “Ó tempo volta p´ra trás”. Os empresários Vasco Morgado e Giuseppe Bastos assumiram a exploração do teatro no fim da década de sessenta e foram dois dos maiores responsáveis pelo sucesso alcançado nos espetáculos do Maria Vitória. Tome-se como exemplo o espetáculo Grande poeta é o Zé (1968), de Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana, que conquistou o Prémio de Imprensa, nesse ano, e garantiu a José Viana o prémio de melhor ator de teatro ligeiro.

Com a liberdade conquistada a 25 de abril de 1974, Aníbal Nazaré, Henrique Santana e Henrique Parreirão – os autores da revista que estava em cena nesta casa com o título Ver, ouvir… e calar – mudaram rapidamente o seu nome para Ver, ouvir…e falar, assumindo um ponto de viragem na liberdade criativa e de expressão dos autores de revista. Até parece mentira foi a primeira revista a estrear no Maria Vitória depois de Abril de 1974, sendo o seu título uma marca evidente da mudança política vivida no país. Com a morte do empresário Giuseppe Bastos, Hélder Freire Costa assumiu a gerência do Teatro Maria Vitória em meados da década de setenta.

Consumido por um aparatoso incêndio a 10 de maio de 1986, a mais antiga sala de espetáculos do Parque foi reconstruída por Hélder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior, com projeto do arquiteto Barros Gomes. Conforme se pode ler na placa comemorativa afixada no teatro, reabriu em 1990 com uma nova revista Vitória, Vitória, de Henrique Santana e Francisco Nicholson. Mantém-se, na primeira década do século XXI, como a única sala que apresenta espetáculos com alguma regularidade por iniciativa do empresário Hélder Freire Costa.

 

Bibliografia

FRANCISCO, Rui / RAMOS, José (1992). “Mayer, o Parque Triste”, in AA.VV, Arqueologia e recuperação dos espaços teatrais: compilação das comunicações apresentadas no colóquio. Lisboa: ACARTE/ Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 277- 288.

NEGRÃO, Albano Zink (1965). O Parque Mayer: cinquenta anos de vida. Lisboa: Editorial Notícias.

REBELLO, Luiz Francisco (1984). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.I. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

___ (1985). História do Teatro de Revista em Portugal. Vol.II. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

SANTOS, Vítor Pavão (1978). A revista à portuguesa: uma história breve do teatro de revista. Lisboa: O jornal.

TRIGO, Jorge / REIS, Luciano (2004). Parque Mayer, (1922/1952) vol.I. Lisboa: Sete Caminhos.

___ (2005). Parque Mayer, (1953/1973), vol II. Lisboa: Sete Caminhos.

___ (2006). Parque Mayer, (1974/1994), vol III. Lisboa: Sete Caminhos.

 

Consultar a ficha de espaço na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Espaco&ObjId=93

Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Andreia Brito Silva/Centro de Estudos de Teatro