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Eduardo Brazão

TPL_WARP_POSTED_IN Teatro em Portugal - Pessoas

(Lisboa, 06-02-1851 – Lisboa, 29-05-1925)

Eduardo Joaquim Brazão foi um célebre ator português da escola romântica e um dos fundadores de uma das mais importantes companhias do teatro português, a Rosas & Brazão.

  Eduardo Brazão
  Eduardo Brazão, ant. 1918, [Arquivo Municipal de Lisboa - Arquivo Fotográfico]

Durante os cerca de cinquenta anos em que esteve no ativo, Brazão passou pelos mais importantes teatros portugueses – Teatro Nacional D. Maria II, D. Amélia, Trindade, Ginásio, S. Carlos, etc. – bem como por vários teatros no Brasil, país que várias vezes visitou em digressão. Esteve também envolvido no Teatro da Natureza (1911), projeto no qual assumiu funções de direção artística. Foi casado com a atriz Rosa Damasceno. Estreou-se no Teatro Baquet do Porto, em 1867, com Trapeiros de Lisboa de Leite Bastos e Precisa-se dum preceptor, comédia traduzida do francês. Pisou pela última vez um palco em 1924, com Manhã de sol, dos Irmãos Quintero, no Teatro S. Carlos. Entre as suas inúmeras prestações memoráveis salienta-se o seu trabalho em Kean (1877), Otelo (1882), Hamlet (1887), Bibliotecário (1890) e Alcácer-Quibir (1891). Fez traduções de peças e trabalhou, também, no cinema. 

Eduardo Brazão nasceu na Costa do Castelo, a 6 de fevereiro de 1851, tendo sido o primogénito de um alfaiate de renome da cidade de Lisboa, que desde cedo o levou a frequentar os teatros. Na escola, foi colega do ator Augusto Rosa com quem brincava aos teatros. Enveredou, primeiro, por uma carreira na Marinha, mas rapidamente compreendeu que a sua verdadeira vocação era representar. Estreou-se, em 1867, numa companhia gerida por César de Lima, no Teatro Baquet do Porto, “fazendo um galã nos Trapeiros de Lisboa de Leite Bastos, e um criado numa comédia em um acto traduzida do francês: Precisa-se dum preceptor” (BRAZÃO 1925: 35). Do Porto veio para Lisboa, ainda em 1867, participou do elenco de Dois anjos de Dumas, no Teatro do Príncipe Real, e, a convite de Francisco Palha, integrou a companhia que inaugurou o Teatro da Trindade, a 30 de novembro de 1867, com os espetáculos A mãe dos pobres, de Ernesto Biester, e O xerez da Viscondessa. Neste palco, onde as primeiras palavras que se ouviram foram as suas (ibidem: 37), Brazão evidenciou-se como “Daniel”, numa adaptação de Ernesto Biester d’As pupilas do Senhor Reitor, e como Príncipe Saphir, na ópera cómica O Barba-Azul, de Offenbach, em 1868. Esta companhia passou depois para o D. Maria II e em 1870 Brazão foi contratado por Furtado Coelho para realizar aquela que foi a sua primeira digressão ao Brasil. No seu regresso a Portugal, em 1871, assinou contrato com a Empresa Santos & Cª por dois anos, desempenhando galãs em Bastardo e em Pedro, o Ruivo, bem como papéis de comédia em vários espetáculos, entre os quais se destaca a sua prestação em Fura-Vidas (ibidem: 39-44). Aquando da morte da sua mãe, Eduardo Brazão ficou responsável pelos seus sete irmãos, todos mais novos, visto que o seu pai havia falecido anos antes. Esta enorme responsabilidade – com implicações financeiras também – levou-o a fazer uma nova digressão pelo Brasil, em setembro de 1876, com Joaquim de Almeida, integrando a companhia de Isménia dos Santos. Estas digressões internacionais, bem como digressões pela província, repetiram-se várias vezes até 1921, ano da sua última visita ao Brasil.

Após abandonar o Nacional, Brazão foi para o Teatro do Ginásio, onde teve o seu primeiro grande êxito desempenhando, em 1876, um papel em Enjeitados de António Enes. Esta época no Ginásio é referida pelo próprio Brazão, nas suas memórias, como um importante período na sua carreira, uma vez que coincidiu com o seu crescimento enquanto ator aprendendo a construir papéis mais complexos e exigentes e desenvolvendo um método de trabalho assente no estudo, como ele próprio revelou: “[…] passei noites em claro, a estudar, a internar-me bem na psicologia do personagem; e com o meu estudo e a minha enorme vontade, consegui dar um passo mais largo e descobrir novos horizontes na vida que abraçara” (BRAZÃO 1925: 69). Este método de trabalho contribuía, em muito, para o tempo de preparação de que Brazão necessitava para desempenhar os seus papéis mais complexos, tendo demorado dois anos a preparar-se para a representação de Hamlet e Otelo, o que levou a crítica o considerá-lo como um artista que aliava o estudo ao talento.

Quando findou o seu contrato com a Empresa Santos & Cª, Brazão juntou-se ao dramaturgo Ernesto Biester e a D. João de Menezes para formarem a empresa Biester, Brazão & Cª, de forma a concorrerem à exploração do Teatro Nacional D. Maria II, onde se instalaram de 1877 a 1880. Em junho de 1879 Brazão realizou a sua terceira digressão pelo Brasil, onde representou KeanOs fidalgos da Casa Mourisca e A Morgadinha de Val-flor. Quando regressou a Lisboa, integrou a nova gerência do Teatro Nacional D. Maria II, sob a designação Brazão, Rosas & Cª. Quando terminou o contrato com esta empresa foi realizado um novo, desta vez apenas com Eduardo Brazão e João e Augusto Rosa à cabeça, formando, assim, a Rosas & Brazão, companhia que explorou o Teatro Nacional de 1893 a 1898, ano em que abandonaram o Teatro Nacional e se instalaram no Teatro D. Amélia. Desavenças internas na companhia levaram à saída de Brazão do D. Amélia e, em 1905, apresentou-se de novo no Teatro Nacional, onde se manteve até 1910 e se destacou como protagonista do drama de Lopes de Mendonça, Afonso de Albuquerque, em 1906. Representou, depois, no Teatro do Príncipe Real, durante um curto período, voltando, de seguida, a integrar o elenco do Teatro D. Amélia – então República – em espetáculos como Aljubarrota (1912), de Rui Chianca e A maluquinha de Arroios (1916), de André Brun. Foi-lhe diagnosticado, em 1917, um cancro na laringe, do qual recuperou, embora a doença ameaçasse um afastamento definitivo dos palcos, visto que a operação necessária à sua recuperação poderia danificar-lhe severamente as cordas vocais. Contudo, entre 1917 e 1923, Brazão fez várias aparições em palcos como o do Ginásio (1918-19), do Avenida (1919), do Teatro Nacional D. Maria II (1922) e do Teatro Apolo (1923). O inevitável afastamento dos palcos, por motivos de doença, chegou a 20 de novembro de 1924, no Teatro S. Carlos, onde contracenou, em Manhã de sol, dos Irmãos Quintero, com Lucinda Simões.

Eduardo Brazão assinou algumas traduções para teatro e foi ator em filmes como Rainha depois de morta (1911), realizado por Júlio Costa, a versão muda de As pupilas do Senhor Reitor e O fado (1922), ambos de M. Mariaud, e Os olhos da alma (1923), realizado por R. Lion. Como ator de teatro foi um dos “mais prestigiados, versáteis e populares do seu tempo” (SANTOS 1979: 29). No entanto, Joaquim Madureira, numa crítica a Ressurreição, posto em cena no Teatro D. Amélia em dezembro de 1903, revela-nos um Brazão pouco versátil – à vontade na farsa e na comédia, mas não tão sensacional no drama. Madureira chega a apelidá-lo de “insuportável uivador dramático” e a caracterizá-lo como um artista limitado a alguns papéis bem estudados, nos quais ninguém o superava (MADUREIRA 1905: 238). Profissional competente e ambicioso, apresentou ao público português “as mais difíceis e célebres personagens do grande teatro europeu” (SANTOS 1979: 29) – como Hamlet, Otelo, e Kean, entre outras – que de outra forma dificilmente teriam sido vistas nos nossos palcos. Fialho de Almeida recorda-o como um ator de “índole ardente, braços descomunais, e uma voz sem flexibilidade, com tendência a enriquecer o som pelos rugidos” (BRAZÃO 1925: 182) e Eduardo de Noronha relembra a sua “figura esbelta, flexível nos movimentos; de fisionomia expressiva e maleável; de olhos grandes, rasgados, de intenção bem definida; de lábios talhados para, por entre eles, sair a sua voz quente, cariciosa umas vezes, tonitruante outras” (NORONHA 1927: 24).

 

Bibliografia

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SCHWALBACH, Eduardo (1944). À lareira do passado. Lisboa: Edição de autor.

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SERÔDIO, Maria Helena (2003). “Othello em Portugal: De Rossi a Nekrosius, passando por Brazão, Rey Colaço-Robles Monteiro e Joaquim Benite”, in Cadernos, Revista de Teatro da Companhia de Teatro de Almada, n.º 18, Julho, pp. 42-59.

 

Consultar a ficha de pessoa na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=18285


Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Eunice Azevedo/Centro de Estudos de Teatro