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Rafael de Oliveira

TPL_WARP_POSTED_IN Teatro em Portugal - Pessoas

(Lisboa, 08-05-1890 – Lisboa, 09-01-1965)

Filho de Joaquim de Oliveira e de Maria da Conceição Oliveira, casal de beirões imigrados em Lisboa, em busca de melhores condições de trabalho, Rafael de Oliveira sentiu desde cedo o apelo pelo teatro.

  Rafael de Oliveira
  Rafael de Oliveira, década de 1940 [Arquivo pessoal de Álvaro de Oliveira]

Em 1902, aos doze anos, fez o seu debute amador, no Grémio Estrela, a Santa Isabel, em desastroso espetáculo, conforme confessou em 1926 ao Jornal dos Teatros: «como o rubor não lhe subia à face, continuou, de retrocesso em retrocesso, exibindo-se na maior parte dos palcos das sociedades recreativas, até que o género cómico, a que se dedicou, se adaptou mais ao seu temperamento, de forma que mais tarde os mesmos palcos o recebiam com geral agrado».

Iniciou a sua atividade artística profissional, em 1910, numa companhia que o autor-empresário Baptista Diniz organizou no teatro Casino Étoile, na calçada da Estrela, em Lisboa, para representar o seu original Santa Inquisição, em que Rafael de Oliveira desempenhou o papel de Bernardo. Integrou posteriormente os elencos do Teatro Avenida (empresa de José Ricardo), do Teatro da Rua dos Condes (empresa de Ernesto de Freitas), e do Teatro Apolo. Em 1917, partiu na companhia do ator António Paredes, pai da atriz Júlia Paredes, para uma digressão pelas províncias. Três meses depois, no regresso a Lisboa, a companhia cruzou-se, em Benavente, com a Companhia Dramática Societária, dirigida pelo ator Silva Vale (José Marques da Silva), de cujo elenco fazia parte Ema Vale, filha mais velha do diretor, por quem o jovem Rafael de Oliveira se apaixonou e por quem trocou Paredes e Lisboa. Em 1918, Silva Vale transferiu a liderança da sua modesta companhia de província, a cuja restruturação Rafael de Oliveira se dedicou, acabando por dar origem, em 1933, à Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados, e, posteriormente, quando da construção do seu próprio teatro ambulante, também conhecida por Companhia do Desmontável. Foi ator-empresário, diretor, cenógrafo, autor e dirigente associativo, sócio nº 502, de 17.09.1943, do Sindicato Nacional Artistas Teatrais, com carteira profissional nº 42, de 11.08.1947.

O perfil artístico de Rafael de Oliveira corresponde ao modelo tradicional dos artistas itinerantes; não só empresários, mas também atores, dramaturgos, adaptadores, cenógrafos, eram verdadeiros factotum teatrais. Todavia, o grande segredo da gestão de Rafael de Oliveira resumiu-se ao facto de ter sabido rodear-se de diretores artísticos que lhe complementassem um trabalho artístico, que permitisse a evolução qualitativa da companhia como um todo, e do repertório, sujeito à evolução do gosto popular. Foram diretores artísticos Ernesto de Freitas, Afonso de Matos, Eduardo de Matos, Francisco Ribeiro (Ribeirinho) e seu filho Fernando de Oliveira. Se os quatro primeiros possuíam em comum o facto de conhecerem como ninguém a tradição itinerante, o último, que neles nascera, e fora formado, seguia o moto dos itinerantes: «Filho és, actor serás».

Doente e cansado, após 53 anos de uma carreira deambulatória por todo o país, Rafael de Oliveira retirou-se de cena, em 1963, ainda que continuasse a dirigir a empresa até à data da sua morte, na Damaia, no seu Teatro Desmontável, quando o pano acabara de cair no último ato da comédia Moços e Velhos. Este epílogo dramático, conforme foi sublinhado pela imprensa portuguesa da altura, marcava o fim «da última abencerragem» das companhias de província itinerantes portuguesas.

Como dramaturgo, estreou-se, em 1924, com a revista Aplica-lhe o selo, musicada por Fernando Izidro. Para a companhia, escreveu ainda a revista Coisas que passam, as operetas A Filha do Leão (imitação de uma peça espanhola) e Belezas Minhotas (com música de Fernando Izidro), adaptou Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, José do Telhado, e Jesus Nazareno, em parceria com Júlio Pontes, e arreglou o drama D. Inês de Castro e D. Pedro, o Cruel (a partir da Castro, de António Ferreira, em adaptação de Júlio Dantas, e de Pedro, o Cruel, de Marcelino Mesquita).

 

Bibliografia

FILIPE, José Guilherme Mora (2007). Percursos itinerantes – A companhia de Rafael de Oliveira, Artistas Associados. Dissertação de Mestrado em Estudos de Teatro, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (texto policopiado).

 

Consultar a ficha de pessoa na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=28911

Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Guilherme Filipe/Centro de Estudos de Teatro