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Visconde de S. Luiz Braga

TPL_WARP_POSTED_IN Teatro em Portugal - Pessoas

(Rio Grande do Sul, 26-03-1850 – Porto, 14-03-1918)

O Visconde de S. Luiz Braga, também conhecido como Luís Braga Júnior, foi um influente empresário teatral no meio lisboeta. Iniciou a sua carreira no teatro como ponto, ainda no Brasil, tornando-se depois empresário.

  Visconde São Luiz Braga
  Visconde São Luiz Braga, s.d. [O Occidente, 10-01-1906, p.4]

De ascendência portuguesa, Braga fez fortuna no Brasil, após a implantação da República, vindo depois para Lisboa, onde se estabeleceu definitivamente como coproprietário do Teatro D. Amélia, aquando da sua fundação, em 1892.

Filho de pais portugueses, Luís Braga Júnior nasceu no Brasil, no Rio Grande do Sul, a 26 de março de 1850, no seio de uma família abastada. Viveu, depois, uma temporada em Lisboa, ainda jovem, onde fez parte da sua escolaridade num colégio da cidade, regressando posteriormente ao Brasil. Em 1874, Lucinda Simões conheceu-o já como jornalista com um entusiasmo especial pela política (1922: 101). No mundo do teatro iniciou-se como ponto no Teatro Lucinda (no Rio de Janeiro), em 1880, foi depois secretário do empresário Celestino da Silva, em 1888, ano em que António Pinheiro o conheceu, tendo conseguido poucos anos depois – em 1891 – tornar-se sócio de Celestino. Nesse mesmo ano no Rio de Janeiro, Pinheiro foi contratado para integrar a Empresa Braga Júnior & Cª. – gerida em sociedade com Celestino da Silva –, da qual faziam parte também Lucinda Simões e Furtado Coelho. Sousa Bastos corrobora a ideia de que Braga Júnior terá sido ponto no teatro, sendo depois sócio de uma empresa artística que explorava o Teatro Recreio Dramático, no Rio de Janeiro. Em seguida, Braga Júnior adquiriu o espólio da Empresa Ester de Carvalho e organizou uma companhia que percorreu todo o Brasil representando, principalmente, operetas e teatro de revista. Segundo Lucinda Simões, Braga foi o responsável pela decadência do teatro brasileiro “substituindo o valor pelo escândalo… e a graça pela pornografia. – E lá desorganizou o teatro como desorganizado o deixou por cá” (SIMÕES 1922: 211).

O Visconde terá levado uma vida de luxo, segundo alguns testemunhos de profissionais de teatro que com ele trabalharam, chegando a dissipar três fortunas (que herdara do seu pai, da sua mãe e da sua avó). Contudo, quando foi implantada a República no Brasil, popularizou-se a especulação bolsista, e foi por aí, de acordo com António Pinheiro, que Luís de Braga adquiriu a sua própria fortuna – avultada – em pouco tempo (PINHEIRO 1929: 19). As palavras de Pinheiro, bem como as de Sousa Bastos (SOUSA BASTOS 1898: 798), sugerem que Braga tenha enriquecido de forma um pouco duvidosa, tendo posteriormente viajado para Lisboa, onde prolongou a sua carreira de empresário teatral. Já em Portugal, Braga Júnior recebeu o título de Visconde de S. Luiz Braga, criado especialmente para si, e que lhe foi outorgado, em 1891, por D. Carlos I, rei com quem mantinha ótimas relações, e que lhe cedeu, para a construção do Teatro D. Amélia – do qual o Visconde foi um dos proprietários – terrenos da Casa de Bragança em Lisboa.

O Visconde interessava-se muito pelo meio teatral parisiense, onde era bastante conhecido, preferindo, assim, “o reportório francês, não só mais assimilável ao snobismo dos portugueses, mas ainda para tornar agradecidos esses negociantes especiais da literatura de França, às avultadas somas que lhes pagava pelas tournées das companhias, compra de peças e direitos de autor” (NORONHA 1927: 95). Pelo vasto leque de artistas estrangeiros que trouxe à capital portuguesa e pelo apoio concedido à produção nacional, a sua gerência do Teatro D. Amélia foi muito aclamada pela maioria dos críticos e jornalistas, bem como pelo público em geral. Contudo, Joaquim Madureira criticou-o, evidenciando o lado mercantil do empresário como um atributo que se revelava frequentemente negativo, dando apenas frutos ocasionais, como a passagem de Antoine pelo D. Amélia. Madureira reconhece, no entanto, que “cada um [se] governa neste mundo de mercantilismo e ganância, e S. Luiz Braga tolo seria se, no palco da sua quitanda de seccos e molhados, não tratasse de se governar” (MADUREIRA 1905: 181).

Vários artistas e dramaturgos, que com ele se relacionaram, recordam-no de maneira mais gentil do que António Pinheiro ou Sousa Bastos, como Adelina Abranches, que, apesar de admitir que o Visconde “não tinha grande amor aos seus escriturados… explorava-os o melhor que podia e sabia…”, considera-o um dos maiores animadores do teatro português, com um apurado gosto, competência profissional e valiosos contactos (ABRANCHES 1947: 194). Consta, também, que o próprio Visconde admitia tratar os seus artistas “como os limões, espremiam-se até deitar suco. E que depois de bem espremidos, deitavam-se para o lado, por inúteis” (SIMÕES 1922: 209).

O Visconde foi, principalmente, um hábil empresário preocupando-se mais com as questões financeiras do que com as artísticas, uma vez que escolhia o reportório e geria as despesas de montagem dos espetáculos da forma mais lucrativa possível (SIMÕES 1922: 210). Contudo, é inegável o seu conhecimento do mundo do espetáculo, bem como os seus valiosos contactos no meio literário e jornalístico. O Visconde exercia a sua influência sobre os críticos e redações de jornais – como recorda Joaquim Madureira (1905: 60) e mais explicitamente António Pinheiro (1929: 28) – esforçando-se por agradar a toda a gente como um bom homem de negócios. Como individuo, foi muitas vezes recordado como extremamente supersticioso, gentil e bem disposto, dotado de “uma forte inteligência, uma actividade cerebral estupenda, um tacto comercial de primeira ordem, uma afectuosidade terníssima” (ROSA 1915: 291). Como empresário gozava de uma reputação excelente, tanto em território nacional como lá fora, e seu nome bastava para firmar contratos, como nos revelou Augusto Rosa (1915: 291-292).

O incêndio da madrugada de 13 de setembro de 1914, que reduziu a cinzas o Teatro D. Amélia – recordado por muitos como o centro da vida do Visconde e o seu maior orgulho – constituiu um rude golpe na sanidade mental de S. Luiz Braga que foi, posteriormente, internado numa casa de saúde na cidade do Porto, onde veio a falecer, em 1918.

 

Bibliografia

AA.VV. (1945). As bodas de ouro do São Luiz. Lisboa: Editorial Ática.

ABRANCHES, Aura (1947). Memórias de Adelina Abranches apresentadas por Aura Abranches. Lisboa: Empresa Nacional de Publicidade.

BRAZÃO, Eduardo (1925). Memórias de Eduardo Brazão que seu filho compilou. Lisboa: Empresa da Revista de Teatro.

MADUREIRA, Joaquim (1905). Impressões de theatro: Cartas a um Provinciano e Notas Sobre o Joelho. Lisboa: Ferreira & Oliveira.

NORONHA, Eduardo de (1927). Reminiscências do tablado. Lisboa: Livraria Editora Guimarães.

PINHEIRO, António (1912). Ossos do ofício. Lisboa: Livraria Bordalo.

___ (1929). Contos largos … Lisboa: Tipografia Costa Sanches.

REBELLO, Luiz Francisco (1970). Dicionário do teatro português, vol. I. Lisboa: Prelo Editora.

ROSA, Augusto (1915). Recordações da scena e de fora da scena. Lisboa: Livraria Ferreira.

SIMÕES, Lucinda (1922). Memórias: Factos e impressões. Rio de Janeiro: Fluminense.

SOUSA BASTOS, António (1898). Carteira do artista. Lisboa: Antiga Casa Bertrand.

___ (1908). Dicionário de teatro português. Lisboa: Imprensa Libânio da Silva (há uma edição fac-similada do original que saiu em 1994, Coimbra: Minerva).

 

Consultar a ficha de pessoa na CETbase:

http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/reports/client/Report.htm?ObjType=Pessoa&ObjId=46235

Consultar imagens no OPSIS:

http://opsis.fl.ul.pt/

 

Eunice Azevedo/Centro de Estudos de Teatro