Lirismo
"O Castelo" ou "Auto-Retrato Profético" (1952) de Eurico Gonçalves [n. 1932]
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O lirismo tem a sua primeira afirmação nacional na poesia trovadoresca, cujos géneros principais são: as cantigas de amor (assimiláveis à poética provençal, na qual o poeta exprime uma forte admiração e submissão em relação à mulher amada), as cantigas de amigo (caracterizadas por veicularem a expressão feminina), as cantigas de escárnio e maldizer (sátiras e motejos), as albas (que remetem para situações de alvorada), as bailias (que remetem para as danças) e as barcarolas (que versam temas marinhos ou relativos às águas dos rios).
O lirismo medieval tem uma poética muito própria, fortemente codificada na metrificação e nos agrupamentos estróficos, e muito distinta da evolução que a poesia vai seguir, sobretudo devido ao renascimento e à imitação dos antigos, que mantém os rigores da modificação poética mas a altera substancialmente.
Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
João Roiz de Castelo-Branco, Cancioneiro Geral
"Erotismo e Morte" (1985) de Graça Morais [n. 1948]
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Por isso é comum apontar o Cancioneiro Geral (1516), de Garcia de Resende, como uma coletânea de transição, onde autores renascentistas como Bernardim Ribeiro (cultor de metros tradicionais, exprimindo uma visão moderna da experiência amorosa e do desengano) e Sá de Miranda (ligado a uma visão do mundo mais convencional, mas programaticamente, e formalmente, adepto da escola classicista) aparecem a par. Mas o sistema dos géneros modifica-se: cultivam-se as elegias, as odes, as sátiras, as epístolas, os epigramas, assim como as canções (que em muito se aparentam às elegias) e os sonetos, forma recente mas comummente adotada na literatura europeia ocidental. A obra de Camões constituirá a prova da fecundidade deste sistema.
Mas o Romantismo irá desprender a expressividade poética da contenção formal até então em uso, especialmente com José Anastácio da Cunha e com Garrett, e o Simbolismo, juntamente com o Modernismo, abrirão as portas a uma libertação da linguagem da poesia, apta, a partir daí, a variáveis discursivas que, de Cesário Verde a Camilo Pessanha, Fernando Pessoa e, mais recentemente, Herberto Helder, a habilitam a um diálogo com o mundo em termos de criação simultaneamente implicada e autónoma.
© Instituto Camões, 2001 | Última atualização: Maio 2011