José Monteiro da Rocha (1734-1819)

Matemático e astrónomo, nasceu em Canavezes. Foi para o Brasil muito novo, e foi educado presumivelmente por jesuítas numa instituição da Baía. Tornou-se jesuíta em 1752, mas com a expulsão dos jesuítas de Portugal em 1759 abandonou a ordem religiosa e foi ordenado padre secular na Baía, em 1760. Regressou a Portugal para frequentar a Universidade de Coimbra entre 1766 e 1770, onde se formou em Cânones. E virtude do seu interesse pelas ciências, foi recomendado pelo reitor D. Francisco de Lemos (1735-1822) ao Marquês de Pombal como pessoa competente para organizar a nova Faculdade de Matemática criada com a Reforma de 1772. Colaborou na redacção dos estatutos da Universidade reformada, na parte respeitante às Ciências Naturais e à Matemática. A 10 de Outubro de 1772 fez a lição de abertura da Faculdade de Matemática. Na véspera, Miguel Franzini (?-1810), Miguel Ciera (?-?) e Monteiro da Rocha haviam recebido o grau de Doutor e sido incorporados na Faculdade de Matemática.

Monteiro da Rocha ficou encarregado das cadeiras de Ciências Físico-Matemáticas, nomeadamente de Mecânica e Hidrodinâmica. Em 1783 passou a reger a cadeira de Astronomia e em 1795 foi nomeado director do Observatório Astronómico. A construção do edifício do Observatório previsto nos estatutos passou por algumas vicissitudes, tendo ficado pronto em 1799. A partir desta data, Monteiro da Rocha encarregou-se de o equipar com instrumentos vindos do Colégio dos Nobres de Lisboa e com alguns encomendados a João Jacinto de Magalhães em Londres.

Por volta de 1804 Monteiro da Rocha tornou-se membro da Sociedade Real da Marinha e vice-presidente da Junta da Direcção Geral de Estudos. Foi agraciado como membro da Ordem de Cristo e tornou-se Conselheiro do Príncipe Regente D. João (1767-1826), futuro D. João VI. Em 1804 deixou Coimbra e fixou-se em Lisboa, onde passou a frequentar a corte, como tutor do filho de D. João até à saída da corte para o Brasil em virtude das invasões francesas. Veio da falecer em S. José de Ribamar, Carnaxide, Lisboa, em 1819.

Obras

Publicou alguns textos sobre Matemática e Astronomia: "Solução geral do Problema de Kepler sobre a medição das Pipas e Toneis", Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1780-1788, 1-36; "Aditamento à regra de M. Fontaine para resolver por aproximação os problemas que se resolvem por quadraturas", Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1780-1788, 218-243; "Determinação das Órbitas dos Cometas", Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1799, 402-479; Explicação da Taboada Náutica para o Cálculo das Longitudes, Lisboa, 1801. Mémoires sur l'Astronomie Pratique, Paris, 1808. Publicou ainda alguns artigos no periódico Ephemerides Astronómicas, 1803-1807.


Principais contributos científicos

Monteiro ganhou alguma notoriedade como astrónomo com a sua "Memória sobre a determinação das órbitas dos cometas", apresentada à Academia Real das Ciências de Lisboa em 27 de Janeiro de 1782. Uma vez que a publicação desta memória só foi feita em 1799, a sua importância foi prejudicada pelo facto de em 1787 o astrónomo alemão H. Olbers (1758-1840) ter proposto a resolução do mesmo problema com um método semelhante ao de Monteiro. Newton já tinha resolvido este problema através de um método gráfico considerado pouco prático.

Em 1782 Monteiro da Rocha concorreu a um prémio proposto pela Academia de Lisboa, competindo com Anastácio da Cunha e ganhando o prémio. Em 1785 concorreu de novo e ganhou um prémio com um trabalho que, segundo Anastácio da Cunha, era a cópia de um outro trabalho que Cunha tinha entregue à Academia em 1780. Esta situação veio a provocar atritos entre estes dois matemáticos, tendo Cunha acusado Monteiro de plágio. A questão da existência de um conflito aberto entre os dois matemáticos, que viria já de tempos anteriores, quando Cunha ainda era lente da Universidade de Coimbra, não está ainda hoje totalmente esclarecida.

Embora por força dos estatutos da Universidade devesse escrever manuais em língua portuguesa, nunca chegou a fazer nenhum, tendo traduzido manuais estrangeiros de autores franceses como Bezout Cours de Mathématiques,Traité d'Hydrodinamique e Marie's Traité de Mécanique, cujas obras serviam como manuais para o curso de Matemática.

Fernando Reis


Bibliografia

ALBUQUERQUE, Luis de, "Rocha, José Monteiro da", in SERRÃO, Joel, Dicionário de História de Portugal, Porto, Liv. Figueirinhas, 1981, Vol. V, 352-353.
CARVALHO, Rómulo de, A Física Experimental em Portugal, Lisboa, ICLP, 1982.
FREIRE, Castro, Memória Histórica da Faculdade de Matemática, Coimbra, 1872.
LOBO, F. M. C., "Doutor Monteiro da Rocha", Revista da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, 4 ,1934, 192-202.
ROCHA, José Monteiro da, Sistema.Físico Matemático dos Cometas, Rio de Janeiro, Museu de Astronomia e Ciências Afins, 2000.
SILVA, Inocencio da, ARANHA, Brito, Diccionario Bibliographico Portuguez, Lisboa, Imprensa Nacional, T. V, pp. 75-77.
TEIXEIRA, A. J., "Questão entre J. Anastácio da Cunha e J. M. R. ", O Instituto, 38-39, 1890-1892.


© Instituto Camões 2003