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A lenda «A Moura
Cassima» é o exemplo de uma das histórias recolhidas da
tradição oral por dois escritores da literatura portuguesa contemporânea:
José Gomes Ferreira e Carlos de Oliveira.
Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira publicaram, em 1977,
uma
antologia de quatro volumes dos «Contos Tradicionais Portugueses». Tal como
afirmam nas páginas iniciais, os contos foram escolhidos de obras de Teófilo
Braga, Adolfo Coelho, José Leite de Vasconcelos, A. Tomás Pires, Consiglieri
Pedroso, Ataíde Oliveira e outras colectâneas e revistas. O volume II está
dedicado às Lendas e Crendices, Mistérios
e Prodígios (que foram subdivididos em
onze categorias). A maior parte destas histórias estão relacionadas, de uma
forma ou outra, com o espírito cristão influenciado pelo Velho e Novo
Testamento. Contudo, as lendas mouriscas são uma excepção: constituem-se como
um «mundo interdito». José Gomes Ferreira comentou o seguinte:
«E assim chegamos à zona indecisa em que a chamazinha
cristã, ou cristanizada, começa a amortecer devagar. Assim entramos no mundo
interdito das Mouras Encantadas, escondidas nas fontes, nas furnas e nas
cisternas, donde se evolam sons sumidos de teares de ouro
De vez em quando,
nesses contos, alguns de ascendência possivelmente anterior à invasão da Península
pelos sequazes de Maomé (posto que para o povo todos sejam mouros), adivinha-se
um jeito de remorso cristão. Mas pouco a pouco, tudo se apaga até à última
fagulha. E fica apenas, em plena beleza de eco das Mil e uma Noites, A Moura
Cassima, a triste filha do Governador infiel, vencido por D. Paio, que ainda hoje
sangra e sofre na fonte de Loulé
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«Comentários» in Contos
Tradicionais Tradicionais Portugueses, Vol IV, (s/d), escolhidos e comentados por Carlos
de Oliveira e José Gomes Ferreira.
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