Era
o governador do castelo de Loulé um homem
dotado do dom da magia. Depois dos duros combates
feridos em frente do castelo, reconheceu que a vila
seria brevemente invadida pelos soldados de D. Paio. Na
penúltima noite, quando todos descansavam, abriu uma
das portas do castelo, e sem que o pressentissem, saiu
acompanhado de suas filhas e encaminhou-se em direcção
de uma fonte, a nascente da vila, aberta junto de um
viçoso canavial.
Alguns cristãos, moradores em um aduar próximo,
conheceram o governador e suas filhas; presenciaram
então o governador aproximar-se da fonte e entoar umas
preces tristes e monótonas, um pouco abafadas pelos
soluços das três filhas. A música do canto era
pausada, piedosa e de uma doçura angelical. Em seguida
afastou-se ele da fonte, sozinho, com a cabeça
inclinada sobre o peito, extremamente comovido. Na noite
seguinte desamparou o castelo, acompanhado de toda a sua
gente, e foram todos embarcar em Quarteira para Tânger,
na doce esperança de que voltariam brevemente,
acompanhados de grandes forças armadas, a retomar o
castelo e a vila.