Cláudio Filipe de Oliveira Basto
(Viana do Castelo, 23-08-1886 - Carcavelos, 02-05-1945)

Retrato de Cláudio Basto [Miscelânea de Estudos à Memória de Cláudio Basto, entre pp. 6-7]
Fez o liceu em Viana do Castelo, o curso geral, e em Braga, o complementar. Fez o curso médico-cirúrgico no Porto, defendendo a tese Alma doente. A génese da psicastenia (impressa em 1912). Antes, participara na greve académica de 1907, de que terá sido um dos mentores no Porto, e está até entre os alunos que rejeitaram ser perdoados, não se apresentando a exames (Miscelânea, p. 9). Nessa época fundou com Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão e Álvaro Pinto a revista Nova Silva, de que se desligou quando no segundo número se fez crítica pessoal a Afonso Costa (10). Concluído o curso em 1911, não se dedicou porém à medicina - repetindo o que acontecera com José Leite de Vasconcelos -, ainda que, paralelamente ao professorado, tenha exercido durante anos funções de médico-escolar e em não poucos escritos se debruçasse sobre linguagem e costumes da medicina. Mas a actividade principal foi a docente, no liceu da sua Viana, fosse em disciplinas de ciências fosse nas de letras. Também leccionou na Escola de Ensino Normal, na Escola Primária Superior João da Rocha e em escolas industriais. Quando em 1944 ficou doente, era professor efectivo da Escola Industrial de Faria Guimarães, no Porto. Diga-se aliás que mesmo a profissão de professor a exerceu com desprendimento pela carreira, privilegiando a disponibilidade para a investigação e a presença por Viana.

Capilha do primeiro número da Portucale

Foi etnógrafo e filólogo, para estilizarmos em dois polos os seus interesses investigativos. Como se fez com Adolfo Coelho e com Leite de Vasconcelos, centrar-nos-emos na bibliografia linguística ou literária, onde ainda assim ficam evidentes as inclinações etnológicas de Cláudio Basto. Veja-se o título do seu primeiro trabalho filológico de certa extensão, saído na Revista Lusitana, «Falas e tradições do distrito de Viana-do-Castelo» (13, 1910, pp. 72-94; 15, 1912, 71-102; 17, 1914, 55-85; ). Quanto a «Nomes das "agulhas" sêcas» (Revista Lusitana, 19, 1916, pp. 258-269) - já houve quem o considerasse o primeiro trabalho de geografia linguística publicado em Portugal (p. 11) -, mapeia, sem cartas porém, os termos para a caruma. Tendo feito artigos para a Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, merece destaque o verbete para «Dialectos portugueses» (9, 1943, pp. 901-903), que julgo injustamente esquecido, onde o filólogo vianês faz revisão bastante completa da dialectografia portuguesa. Curioso, frequentemente Basto se ocupou de assuntos que até aí tinham escapado aos interesses dos filólogos: «A linguagem dos gestos em Portugal (esbôço etnográfico)» (Revista Lusitana, 36, 1938, pp. 5-72 [com a indicação de que continuaria, o que não aconteceu]); «Formação popular de "nomes-de-unidade"» (Miscelânea de estudos em honra de D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos, 1933, pp. 374-384), onde arquiva palavras com -eiro que em vez da acepção de colectivo são usadas, pelo menos entre o povo nortenho, para objectos individualizados; «Formas de tratamento, em português», Revista Lusitana, 29, 1931, pp. 183-202. É também fiável enquanto recensor; refiram-se as séries de Nótulas ao «Novo dicionário», 1913-1916, publicadas na Fôlha de Viana, sobre a obra de Cândido de Figueiredo. Escreveu algumas notícias biográficas de filólogos - sobre Gonçalves Viana (Revista Lusitana, 17, 1914, pp. 209-221), de Teófilo Braga enquanto etnógrafo (Revista Lusitana, 28, 1930, 307-314), de Mário Barreto (Portucale, 4, 1931, pp. 276-277). Em revistas que dirigia ou em que colaborou - lembre-se que foi fundador ou co-fundador entre outras das revistas Límia, Lusa, Portucale - deixou inúmeros curtos artigos sobre a língua portuguesa, notando um uso popular engraçado, uma etimologia inesperada, alguma explicação de ortografia. Por fim, citaremos os trabalhos que interessam igualmente aos estudos literários: A linguagem de Camilo, 1927; «A linguagem de Fialho» (António Barradas & Alberto Saavedra (orgs.), Fialho de Almeida. In Memoriam, 1917, pp. 71-98); 2.ª ed. (A linguagem de Fialho), 1940; Foi Eça de Queirós um plagiador?, 1924 - onde, reconheça-se, o zelo investigativo que visa comprovar a honestidade do escritor acaba por aqui e ali quase o incriminar. Preparou edição anotada de Os Lusíadas (1930; 2.ª ed., 1935; 3.ª ed., 1945), prefaciou uma reprodução facsimilada de uma das edições de 1572 (1943) e escreveu artigos de camonologia. Tem ainda obra de cronista, ficcionista, poeta: Ironia Galante, 1912; Flores do frio, 1922; O Doutor Diabo, 1928. (Para informação biográfica e bibliográfica mais completa, veja-se a Miscelânea de Estudos à Memória de Cláudio Basto, organizada por Hermínia Basto, Porto, 1948. Seguimos também o verbete sobre Cláudio Basto na Biblos. Enciclopédia VERBO das Literaturas de Língua Portuguesa, 1, 1995, cc. 606-607, da autoria de Telmo Verdelho; o artigo de Manuel de Paiva Boléo, «J. da Silva Correia, J. Leite de Vasconcelos, David Lopes e Cláudio Basto», publicado na Revista Portuguesa de Filologia, 1, 1947, pp. 613-624; 622-624; e, de Justino Mendes de Almeida, «Cláudio Basto, notável investigador vianês», Estudos Regionais. Revista de cultura do Alto Minho, 5, Junho 1989, pp. 39-51.)