Augusto Epifânio da Silva Dias
(Lisboa, 07-04-1841 - Lisboa, 30-11-1916) |
|
O último retrato de Epifânio, e assinatura sotoposta [José Leite de Vasconcelos, Epiphanio Dias - sua vida e labor scientifico (oratio de sapientia pronunciada na sessão da abertura solene da Universidade de Lisboa em 10 de Dezembro de 1921), Lisboa, Imprensa Nacional, 1922, folha colocada antes do rosto]
|
Aos sete anos frequentava a Biblioteca Nacional; aos treze, a aula de latinidade de José Maria da Silveira Almendro. Foi dos alunos que estrearam o Curso Superior de Letras, inaugurado no ano lectivo de 60/61: frequentou-o nos anos de 1861 e 1862, pelo que terá seguido as aulas de Literatura Antiga, por António José Viale, História, com Rebelo da Silva, Literatura Moderna (dada interinamente por Rebelo da Silva e por Mendes Leal); com Viale, mas no curso que este dava na Biblioteca Nacional, Epifânio se iniciaria em grego. Foi professor de liceus, em Santarém (1864-1867), Porto (1867-1881) e Lisboa (a partir de 1881). Ao mesmo tempo, publicava obra pensada para o ensino - edições de textos e gramáticas -, renovando a didáctica das línguas clássicas e do português. Essa produção implicou que se envolvesse em polémicas (grosso modo desenhavam-se assim dois campos, quando a metodologia do ensino linguístico: Joaquim Alves de Sousa, Martins Contreiras, ..., defendiam manuais correntes até então; do lado de Epifânio, vemos autores como Carlos Claudino Dias, Luís Filipe Leite, José Portugal, A. B. Santos Martins). Ao debate público (entre outros, contra Adolfo Coelho) o levou também a reforma do ensino secundário de 1894/95, dita de Jaime Moniz, a qual, eliminando o Grego do currículo dos liceus, o faria regressar ao Curso Superior de Letras (depois, Faculdade de Letras), agora como professor anexo de Grego, situação em que esteve até à jubillação em 1913. Segundo Leite de Vasconcelos, o apego que tinha Epifânio à instrucção pública e o seu feitio altruísta é que fizeram que nos não tivesse deixado mais bibliografia de outra índole: «O que ele queria era estar sempre a par com os progressos da sciencia, para a todo o instante em que precisasse de falar, ou de responder a perguntas, se julgar habilitado. Ainda que o seu ensino, pela fôrça triste das coisas, tinha de ser elementar, ele armazenava constantemente conhecimentos, e estava equipado, como se houvesse de preleccionar de alta cátedra a alunos exigentes. Isto revela a probidade, o caracter do professor» (Epiphanio Dias, p. 27). Muito amigo de Epifânio, José Leite conta-nos também do gosto pelas viagens ao estrangeiro, que fazia nos dois meses de férias; da facilidade com que traduzia o grego («todos os dias, logo de manhã, e na cama, lia algumas paginas de grego»); de «certa misantropia e irritabilidade de ânimo»; da teimosia («muito aferrado á sua opinião, da qual só abdicava em circunstancias especiais»); e de como morreu só, apenas com uma velha criada.
|
Epifânio em 1862, época em que ainda seria aluno do Curso Superior de Letras [Epiphanio Dias - sua vida e labor scientifico, folha no início do apêndice]
|
Não referenciando aqui a bibliografia relativa às línguas clássicas (e ao francês), mencionamos (1) as obras didácticas no âmbito do português, (2) os opúsculos de polémica, (3) as edições de textos portugueses: (1) Grammatica practica da lingua portugueza para uso dos alumnos do primeiro anno do curso dos lyceus, Porto, 1870; Grammatica portugueza para uso das aulas de instrucção primaria, Porto, 1876; Sintaxe historica portuguesa, Lisboa, 1918, que ainda hoje é citada em trabalhos académicos, e que até terá sido, graças à utilidade para trabalhos de sintaxe comparada, sensivelmente revalorizada ao longo da última década; (2) prefácio de Grammatica latina para uso das escholas, por J. N. Madvig, Professor da Universidade de Copenhague, trasladada do allemão para portuguez por ..., Porto, 1872; O Latim do Snr. Joaquim Alves de Sousa examinado nas suas tres obras ..., Porto, 1873; Considerações sobre a ultima proposta de lei de instrucção secundaria, Lisboa, 1894; Considerações sobre o regulamento e os programmas do ensino secundario e o modo como os tem executado, Lisboa, 1897; (3) Obras de Christóvão Falcão. Edição crítica annotada por..., Porto, 1893; Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira. Edição critica annotada por..., Lisboa, 1905; Os Lusiadas de Luis de Camões, commentados por..., Porto, 1910 (2.ª ed. 1916; 3ª ed., facsimilada da segunda, 1972) - esta edição de Epifânio sugeriu reparos de José Maria Rodrigues (reunidos em Algumas observações a uma edição comentada dos Lusiadas, Coimbra, 1915). Sobre Epifânio, veja-se sobretudo a biografia por José Leite de Vasconcelos, Epiphanio Dias - sua vida e labor scientifico (oratio de sapientia pronunciada na sessão da abertura solene da Universidade de Lisboa em 10 de Dezembro de 1921), Lisboa, Imprensa Nacional, 1922; para visão mais sintética, o verbete consagrado ao filólogo sintaticista na Biblos. Enciclopédia VERBO das Literaturas de Língua Portuguesa, 2, 1997, da autoria de Telmo Verdelho.
|
|
|