Anos 60

Os Anos 60

 

 Sombras projectadas (de Lourdes Castro e René Bertholo)  
Lourdes Castro, Sombras projectadas (de Lourdes Castro e René Bertholo), Rue de Saints Pères, Paris, 1964.
DR/ Cortesia Assírio & Alvim.
 

A ditadura protagonizada por Salazar, quer se considere ou não que foi uma ditadura fascista, foi talvez menos feroz e menos espectacular que as suas congéneres europeias, mas foi também muito mais longa (1926-1974) e não menos castradora em relação a todos os aspectos do desenvolvimento económico, social e cultural de Portugal. Salvo momentos de excepção limitados no tempo, foi um período em que predominou uma atitude oficial de isolamento em relação às correntes que, a nível internacional, iam fazendo a história da modernidade.

Os casos excepcionais dos artistas emigrados ou alguns momentos de ligeira abertura, se pontualmente permitiram uma efectiva actualização e revitalização do meio artístico em sentido estrito, não alteravam um contexto geral caracterizado pelo muito baixo nível de formação escolar da população, a desinformação massiva da opinião pública, o conservadorismo da cultura oficial e o crescente anacronismo cultural da oposição.

 

No campo das artes plásticas durante toda a primeira metade do século assistimos ao arrastar de um modernismo incipiente em luta constante contra a permanência do naturalismo e do romantismo lírico. O único momento de fulgor deste trajecto ocorre na 2ª década do século, graças à obra de Amadeo de Souza-Cardoso, acompanhado por Almada Negreiros, no quadro das actividades da "geração do Orpheu" e com o impulso proporcionado pela vinda do casal Delaunay para Portugal durante a I Guerra Mundial.

  Noronha da Costa, S/ título, 1968.
 
Noronha da Costa, S/ título, 1968. Madeira, óleo espalhado e acrílico, 30,2 x 35,4 x 18 cm. Col. Fundação de Serralves, Porto.
José Manuel Costa Alves.
   
  Fernando Lanhas, 042-69, 1969
 
Fernando Lanhas, 042-69, 1969. Óleo sobre madeira, 98 x 148 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.
 
 
 
Menez, Henrique VIII, 1966
 
Menez, Henrique VIII, 1966. Óleo sobre tela, 180 x 210 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.
 
 
 
Paula Rego, Salazar a Vomitar a Pátria, 1960
 
Paula Rego, Salazar a Vomitar a Pátria, 1960. Óleo sobre tela, 94 x 120 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.

Chegada a década de 60, a sociedade portuguesa, considerada no seu conjunto, mantinha-se afastada dos circuitos internacionais de produção e circulação artística, privada do acesso a exposições e iniciativas susceptíveis de dar à opinião pública uma formação artística básica e de fornecer ao público especializado uma informação actualizada e uma experiência directa da contemporaneidade.

 

Em termos políticos crescia a desilusão face à continuidade do regime ditatorial, afinal prolongado pelo governo de Marcelo Caetano (1968-1974), e crescia também a revolta perante uma guerra colonial absurda e sem solução que se arrastava desde 1961. Nos sectores culturais, nos meios estudantis e entre a juventude aumentava a frustração e alastrava a contestação face à situação de alheamento que o Estado mantinha em relação às grandes viragens sociais e culturais que internacionalmente marcaram a década.

 

A ascensão e morte de Kennedy, as batalhas políticas e ideológicas do Vietname, a invasão da Checoslováquia pelas tropas soviéticas, os hippies, a revolução pop ou o Maio de 68 chegam a Portugal através de ecos censurados e distorcidos só entendidos por minúsculas elites culturais urbanas.

 

Nas artes plásticas os anos 60 são um período de experimentação e de confluência de vários movimentos e correntes estéticas, nomeadamente a pop art e o "nouveau réalisme", a op art, o minimalismo, a arte conceptual, a arte povera, a arte vídeo, a performance, a body art ou a land art. É também a década em que morre Marcel Duchamp (1968).

 

No contexto artístico português a década de 50 tinha sido um período de continuidade das soluções estéticas anteriores, centradas na persistente dialéctica figuração/abstracção, cujos protagonistas se dividiam, grosso modo, entre neo-realistas, surrealistas e defensores do abstraccionismo.

 

Neste contexto a obra de Maria Helena Vieira da Silva, combinação original de figuração e abstracção, com um forte cunho pessoal, emerge como a expressão maior deste período com significativos prolongamentos nas décadas seguintes.

 

Nos anos 60 vamos assistir à formação de uma nova conjuntura artística, marcada pela emergência de uma nova geração de artistas e agentes culturais e à afirmação de novas tendências na produção artística nacional que reflectem a necessidade de sintonização com as linguagens internacionais, em grande parte devido à emigração de um vasto número de artistas num movimento que se prolonga até meados dos anos 70.

 

Abandonar o país, de forma temporária ou permanente, em consonância com o massivo fluxo de emigração registado durante este período, foi a opção tomada por diversos artistas, quer por razões políticas quer motivados pela busca de uma carreira ou de contacto com novas tendências inacessíveis dentro das fronteiras nacionais. A título de exemplo, refira-se que por Inglaterra passaram António Areal, Rolando Sá Nogueira, Mário Cesariny, Menez, Paula Rego, João Cutileiro, Bartolomeu Cid dos Santos, Ângelo de Sousa, Alberto Carneiro, Eduardo Batarda, António Sena, João Vieira, Ruy Leitão, João Penalva e Graça Pereira Coutinho. Já em Paris encontravam-se Lourdes Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, Escada e João Vieira, que compunham o grupo KWY, assim como António Dacosta, Júlio Pomar, Jorge Martins e Manuel Baptista.

 
O esforço de renovação abriu caminho a uma aproximação à arte internacional, em grande parte devido aos artistas que emigravam e ao programa de bolsas da recém-criada Fundação Calouste Gulbenkian, mas também devido ao novo modo de encarar o fenómeno artístico, às grandes exposições colectivas (a inaugurar a década, em 1961, a II Exposição de Artes Plásticas na Fundação Gulbenkian) e à abertura de novas galerias que vieram dinamizar o mercado nacional.





Maria Helena Vieira da Silva, Les Degrés, 1964   Lourdes Castro, Caixa de alumínio em caixa de aguarela, 1963   Armando Alves, Objecto, 1969
Maria Helena Vieira da Silva, Les Degrés, 1964. Têmpera sobre tela, 194,5 x 130 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.
 
Lourdes Castro, Caixa de alumínio em caixa de aguarela, 1963. Assemblage, 52 x 52 cm. Col. Mr. e Mrs. Jan Voss.
DR/ Cortesia Assírio & Alvim.
 
Armando Alves, Objecto, 1969. Madeira pintada, 100 x 63 x 34 cm. Col. Fundação de Serralves.
DR/ Cortesia Fundação de Serralves.

Durante a primeira metade da década apenas a Galeria do Diário de Notícias (Lisboa), a Divulgação (Lisboa e Porto, dirigida por Fernando Pernes), ou ainda na cidade do Porto a Alvarez e a associação de artistas Árvore tinham, timidamente, dado os primeiros passos no comércio de artes plásticas. Só em 1964, com a experiência das galerias-livraria, como a Buchholz e a Galeria III, e depois com o aparecimento de novas galerias já na viragem da década, o novo mercado de arte viria dar um incentivo à prática artística.

 

Seria, no entanto, necessário esperar pelo regime democrático para romper com uma situação que há muito se mostrava insustentável, mas cuja transformação mais profunda, anunciada pelas rupturas estéticas de muitos artistas da década de 60, só teria as suas consequências culturais mais efectivas, ultrapassadas as agitações pós-revolucionárias, no início dos anos 80.

José Escada, S/ título, recorte azul, 1968   José Escada, S/ título, recorte rosa, 1968   José Escada, S/ título, recorte branco, 1968
José Escada, S/ título, recorte azul, 1968. Papel recortado sobre papel, 31,5 x 48 cm. Col. Caixa Geral de Depósitos.
Laura Castro e Caldas e Paulo Cintra.
 
José Escada, S/ título, recorte rosa, 1968. Papel recortado sobre papel, 31,5 x 48 cm. Col. Caixa Geral de Depósitos.
Laura Castro e Caldas e Paulo Cintra.
 
José Escada, S/ título, recorte branco, 1968. Papel recortado sobre papel, 31,5 x 48 cm. Col. Caixa Geral de Depósitos.
Laura Castro e Caldas e Paulo Cintra.

Apresentando agora um panorama descritivo da produção artística mais assinalável neste período, comecemos por referir, seguindo uma simples ordem cronológica, um conjunto de artistas situáveis no âmbito da pintura e da figuração, embora com trajectórias e opções bem diferenciadas. Joaquim Rodrigo, tendo iniciado a sua carreira no pós-guerra no âmbito do abstraccionismo, elaborou na década de 60 um código sistemático de signos e regras de representação pictórica que não mais abandonou. António Dacosta, surrealista histórico, tendo deixado de pintar nos anos 40, voltaria à actividade na década de 80, com um assinalável cunho de originalidade. Júlio Pomar iniciando a sua carreira nos anos 50, no âmbito do neo-realismo, foi desenvolvendo diferentes modos de trabalhar a figura, o corpo e o movimento no âmbito da pintura. Menez, a partir de paisagens abstractas dos anos 60 aproximou-se depois de uma figuração mítica e narrativa. Paula Rego, partindo das figurações brutalistas da década de 50, foi revolucionando métodos e processos até chegar a uma pintura de ressonância mais clássica em que afirma e reforça um grande poder autoral que lhe trouxe uma plena consagração.

João Vieira, Uma Rosa É, 1968  
João Vieira, Uma Rosa É, 1968. Óleo sobre tela, 200 x 161 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.
 
   
Álvaro Lapa, Página, 1965  
Álvaro Lapa, Página, 1965. Flow-master, tinta de água e acrílico sobe papel, 61 x 43 cm. Col. particular.
Mário de Oliveira.
 

Um outro conjunto de artistas, cuja afirmação pública data do final dos anos 60, caminhou para uma abordagem da pintura a partir de uma análise dos seus elementos formais e estruturais constitutivos. É o caso de Ângelo de Sousa, António Sena, Jorge Martins, João Vieira ou Manuel Baptista. Em causa estão questões como o plano, a luz, a cor, o signo, o risco. Jorge Martins inicia uma investigação sobre a luz e sobre a própria pintura, criando grelhas e pequenos compartimentos onde insere histórias, personagens e objectos, que alterna com a representação de volumes e dobras e com referências ao universo cinematográfico. Manuel Baptista, na sequência de pinturas abstractas de cariz informalista, utiliza diversas técnicas, desde a colagem, relevos e pinturas-objecto de meados dos anos 60 até ao uso da monocromia e das telas recortadas. É neste período que João Vieira descobre a temática central de toda a sua obra: o alfabeto e a plasticidade da palavra, tanto na pintura como em instalações ou performances, com letras-objecto, introduzindo em Portugal os primeiros "happenings", resultado do contacto com Vostell na Malpartida de Cáceres.

 

Estes trabalhos prolongam-se numa via mais intelectualizada e conceptualizante, por exemplo, em Fernando Calhau, Pires Vieira ou, numa primeira fase da sua carreira, Michael Biberstein. Numa via de confluência com a prática da escrita e a referência à literatura desenha-se o peculiar percurso de Álvaro Lapa.

 

António Areal é figura de referência na história da arte portuguesa deste período, não só pela sua obra pictórica e escultórica, mas também pela reflexão teórica expressa em publicações como Textos de crítica e de combate na vanguarda das artes visuais (1970). Após uma fase inicial surrealista e gestualista, abordou a relação entre arte figurativa e arte abstracta em pinturas e objectos marcados por preocupações de ordem conceptual.

 

Joaquim Bravo, com formação literária, tal como Álvaro Lapa e António Areal, estende a sua actividade artística à pintura, escultura e desenho, produzindo, nos anos 60, uma assinalável série de esculturas.

 

Um filão reportável ao ambiente pop, entendido em sentido lato - incluindo o "nouveau réalisme" e a "figuração narrativa" - permite-nos citar em conjunto os trabalhos realizados em finais de 60 e começos de 70 por autores como Lourdes Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, António Palolo ou Eduardo Batarda, que depois evoluíram em direcções bem diferenciadas. Lourdes Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, Escada e João Vieira, em conjunto com Christo e Jan Voss, formaram, em Paris, o grupo KWY (Ka Vamos Yndo) e lançaram uma revista homónima, cujas soluções estéticas foram apresentadas numa exposição colectiva na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1960.

Nadir Afonso, Espacilimitado, 1958
Nadir Afonso, Espacilimitado, 1958. Óleo sobre tela, 80 x 147 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.

Artur Rosa, Entrada de Um Cubo Numa Malha Logarítmica (Explosão-Esfera), 1968/69.
Artur Rosa, Entrada de Um Cubo Numa Malha Logarítmica (Explosão-Esfera), 1968/69. Técnica mista sobre alumínio, 350 x 1500 cm (ext. 600 cm). Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Carlos Azevedo.

Ainda nesta linha pop podemos enquadrar a obra de Ruy Leitão, geralmente sobre papel, de cores vivas, com repetições de elementos, originando um rico e pessoal universo pictórico, que seria interrompido pela sua precoce morte em 1976. António Charrua, após uma fase de tendência expressionista, opta pela associação da cor e formas abstractas.

 

Rolando Sá Nogueira, pintor já activo nos anos 50, período em que optou por um figurativismo de certo modo naif, enveredou, na década de 60, pela estética pop, na sequência da sua estadia em Londres (1961-1964), realizando colagens de grande liberdade plástica.

 

Nikias Skapinakis, nos anos 50, tinha enveredado por um figurativismo de grande riqueza cromática, oferecendo uma alternativa consistente às correntes em voga no período, tanto ao neo-realismo e ao surrealismo como ao abstraccionismo. Nos anos 60 realiza uma série de paisagens e retratos de grupo, a modo de retratos sociológicos de uma época.

António Areal, Mês de Marte, 1966  

Sá Nogueira, Highlife, 1964

  Joaquim Bravo, The Hunting of the Snark, anos 60
António Areal, Mês de Marte, 1966. Óleo e esmalte sobre platex, 54 x 65 cm. Col. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
Mário de Oliveira.
 
Sá Nogueira, Highlife, 1964. Colagem e óleo sobre tela, 53,5 x 38 cm. Col. Centro de Arte / Col. Manuel de Brito.
DR/ Cortesia Galeria III.
 
Joaquim Bravo, The Hunting of the Snark, anos 60. Tinta industrial e colagem sobre papel colado em platex, 76,5 x 95 cm. Col. Maria de Lourdes Bravo.
José Manuel Costa Alves.


  Eduardo Nery, Estructura N.º 10, 1968
 
Eduardo Nery, Estructura N.º 10, 1968. Óleo sobre madeira com caixa em relevo, 125 x 100 cm. Fundação Calouste Gulbenkian / CAMJAP.
José Manuel Costa Alves.
   
  Ernesto de Sousa, Encontro no Guincho, 1969
 
Ernesto de Sousa, Encontro no Guincho, 1969. Ernesto de Sousa e o actor João Luís Gomes.
Manuel Torres / Cortesia Espólio Ernesto de Sousa.
 
 
 
Alberto Carneiro, O Canavial: Memória / Metamorfose de um corpo ausente (detalhe), 1968
 
Alberto Carneiro, O Canavial: Memória / Metamorfose de um corpo ausente (detalhe), 1968. Canas, fitas adesivas coloridas, ráfia, letras e algarismos, dim. variáveis. Col. Caixa Geral de Depósitos.
DR/ Cortesia Galeria Fernando Santos.

Noronha da Costa, um dos artistas mais importantes do período, para além de pintor, escultor, arquitecto e cineasta, intensifica as suas preocupações com a visibilidade e a fisicalidade dos objectos. As suas obras integram espelhos, numa exploração dos objectos enquanto tais, originando jogos de formas e espaços ora visíveis ora ocultos. No final dos anos 60, o autor dedica-se ao registo pictórico, mantendo estas explorações visuais, agora através de um sfumato ou uma atmosfera esbatida, deixando entrever fragmentos de pessoas, ambientes, paisagens, velas ou outros elementos de iluminação.

 

É deste período a série mais famosa de Costa Pinheiro - os Reis - apresentada pela primeira vez em 1966, na Alemanha, na qual o autor faz uma revisão pessoal da história nacional, com atributos iconográficos sugestivos dos vários monarcas, inaugurando assim a temática de personagens da memória colectiva nacional, como Fernando Pessoa, que marcaria a sua obra ao longo das décadas seguintes.

 

Um vocabulário figurativo de inspiração naif, exercitado com grande variedade de registos, referências e materiais, sempre renovados, caracteriza o percurso de José de Guimarães, que desde então vem construindo uma sólida e bem sucedida carreira em Portugal e no estrangeiro.

 

Um outro conjunto de artistas pode ser reunido em torno de formulações específicas da op art, cujas obras são marcadas pelo rigor matemático e elementos geométricos, com investigações no campo da percepção e da tensão óptica. Artur Rosa, também arquitecto, multiplica e desconstrói formas no espaço, com ritmos e movimentos que criam jogos de percepção e ilusão. Com uma obra diversificada que passa pela pintura, desenho, fotografia e intervenções em espaços públicos, também o trabalho de Eduardo Nery vive da repetição de elementos e da exploração do espaço, da luz e da ilusão óptica. Eduardo Luiz, residente em França durante vários anos, através do seu uso peculiar do ''trompe l'oeil" cria espaços tridimensionais em superfícies pictóricas, com alusões surrealistas à suspensão do espaço e do tempo.

 

No Porto, ligado à Escola de Belas Artes e à Cooperativa Árvore - espaço de experimentação alternativo aos patrocinados pelo regime - o grupo Os Quatro Vintes, composto por Ângelo de Sousa, Jorge Pinheiro, José Rodrigues e Armando Alves, entre 1968 e 1972, visa através da força de grupo alcançar uma acrescida visibilidade, chamar a atenção para a debilidade do ambiente cultural da cidade nortenha e reflectir sobre os novos conceitos de escultura, mas sem, no entanto, criar um programa plástico coerente e de conjunto, como fica demonstrado pela diversidade dos percursos individuais dos seus elementos.

 

No campo da escultura, João Cutileiro desenvolve temáticas relacionadas com o corpo humano e a sexualidade, e introduz diversas técnicas e formas inovadoras que resultam em figuras de guerreiros, árvores ou mulheres. Em 1966, o artista opta pelo uso exclusivo do mármore. A sua formação londrina na segunda metade dos anos 50 foi de grande importância para aproximar o artista, e consequentemente o país, de novas linguagens escultóricas, tornando-o um nome de referência para as novas gerações de escultores.

 
A década de 60 é referida por alguma historiografia como um período de ruptura. É por certo um momento de mudança. Trata-se de uma mudança acompanhada de continuidades mas é, ainda assim, o momento em que os artistas portugueses conseguem, em tempo certo e alinhado com as linguagens internacionais, introduzir pesquisas e formulações estéticas que, ao germinarem, resultariam em trabalhos amadurecidos e percursos individuais amplamente reconhecidos. Desenham-se e projectam-se nestes anos uma série de carreiras de artistas, muitos deles ainda activos, que viriam a assumir lugar de destaque no panorama da arte portuguesa contemporânea.


Eduardo Batarda, O Sr Professor C. J. P. Na Hora do Maior Movimento, 1965   Costa Pinheiro, D. Inês de Castro, 1966   João Cutileiro, Guerreiro com Caveira de Touro, 1963   Armando Alves, Jorge Pinheiro, Ângelo de Sousa e José Rodrigues, Grupo Os Quatro Vintes em 1970
Eduardo Batarda, O Sr Professor C. J. P. Na Hora do Maior Movimento, 1965. Acrílico sobre madeira, 100 x 60 cm. Col. Mário Cesariny.
José Manuel Costa Alves.
 
Costa Pinheiro, D. Inês de Castro, 1966. Óleo sobre tela, 170 x 135 cm. Col. Centro de Arte / Col. Manuel de Brito.
Carlos Pombo da Cruz Monteiro - Arquivo Nacional de Fotografia.
 
João Cutileiro, Guerreiro com Caveira de Touro, 1963. Polyester, pó de bronze e fibra de vidro, 65 x 24 x 13 cm. Col. Dr. Mário Soares.
João Cutileiro.
  Armando Alves, Jorge Pinheiro, Ângelo de Sousa e José Rodrigues, Grupo Os Quatro Vintes em 1970. Col. Galeria Alvarez Arte Contemporânea.
Ursa Zangger.

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