Albernaz, Família

Albernaz, Família
Albernaz, Família Esta família de cartógrafos entronca-se na dos Teixeira, sendo os irmãos João Teixeira Albernaz (I) e Pedro Teixeira Albernaz filhos de Luís Teixeira. Além de outros autores de trabalhos menores, como Estevão Teixeira, integra também esta família João Teixeira Albernaz (II), neto do seu homónimo. O primeiro membro referido, João Teixeira Albernaz I, terá desenvolvido o seu trabalho já no século XVII, tendo recebido carta de ofício a 29 de Outubro de 1602, tendo sido examinado pelo cosmógrafo-mor João Baptista Lavanha, e três anos depois é nomeado cartógrafo da Casa da Mina e Índia. No Arquivo das Índias, em Sevilha, um documento regista a presença deste cartógrafo e de seu irmão Pedro em Madrid, a fim de executar as cartas náuticas representando os Estreitos de S. Vicente e Magalhães. Numa relação de viagem levada a cabo pelos irmãos Bartolomeu e Gonçalo Nodal, aos referidos Estreitos, existe uma carta executada por Pedro Teixeira Albernaz, que contou com a colaboração de seu irmão João Teixeira. Ainda em relação ao seu percurso profissional, poderemos acrescentar que em 1622 apresenta uma petição para ser provido do lugar de Cosmógrafo-Mor, tendo sido preterido a favor de Valentim de Sá, com quem colabora no ano seguinte ao fazer parte do júri que passará carta de ofício a João Baptista de Serga. Em finais do século XVII, num parecer emitido por Manuel Pimentel sobre o Atlas do Brasil de 1642, existente na Biblioteca da Ajuda, este advertia para erros constantes na primeira carta do referido Atlas, o qual não respeitava a linha de demarcação acordada entre Portugal e Espanha. Concluía Manuel Pimentel que o livro não tinha mais que boas pinturas e iluminações. A obra deste cartógrafo tem um acentuado interesse, tanto pela sua amplitude e variedade, como pelo registo do progresso dos descobrimentos e explorações, quer marítimas quer terrestres, mormente, no que respeita ao Brasil. A sua produção conta 19 Atlas, um grupo de 4 cartas, 2 cartas soltas, para além de uma incluida num Atlas de outra origem. Existem mais 8 cópias de dois dos 19 Atlas, num total de duzentas e quinze cartas, mais duas gravadas. Algumas destas obras são dignas de registo: na Biblioteca Pública Municipal do Porto, existe uma cópia do códice intitulado “Rezão do Estado do Brasil”, de c. de 1616, de autor anónimo, mas atribuido a João Teixeira Albernaz I. Segundo a opinião de Varnhagen, Köpke e Hélio Viana, apenas as cartas deste códice são da autoria de JoãoTeixeira, sendo o texto da autoria do sargento-mor Diogo de Campos Moreno; o “Livro que dá Rezão do Estado do Brasil”, de c. de 1626, contém 22 cartas, constituindo uma cópia do anterior, mas de maiores dimensões; o Atlas do Brasil, de 1631, existente, em 1960, no Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro, abrange 36 cartas, que têm a particularidade de exibir quadros para legendas, e para escudos dos donatários ou da Coroa, que não estão preenchidos. Terá sido mandado organizar por D. Jerónimo de Ataíde, donatário da Capitania dos Ilhéus. Contém muitos elementos que nos dão informação sobre a indústria açucareira, para além de representar os estuários dos rios Prata e Amazonas, evidenciando os padrões de demarcação entre Portugal e Espanha; composto de 32 cartas, um outro Atlas do Brasil, de 1640, do qual existem sete cópias, encontra-se à guarda do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. Tem a particularidade de cada carta ser precedida de uma folha com texto explicativo; o Atlas Universal, de 1643, com 8 cartas, é uma obra de excepcional valor artístico, e é bastante diferente dos outros Atlas do mesmo autor, porque tem um carácter basicamente hidrográfico. Estas são algumas das obras mais significativas da autoria de João Teixeira Albernaz I. Seu irmão Pedro Teixeira, nasceu em Lisboa nos finais do século XVII, tendo desenvolvido a sua actividade em Espanha, a partir de 1619, quando aí se dirigiu com seu irmão João, a fim de cartografarem os locais constantes da relação de viagem dos irmãos Nodal. Enquanto seu irmão regressou a Portugal, findo o trabalho, Pedro optou por ficar em Madrid, onde viria a falecer em 1662. É escassa a sua produção conhecida, mas sabemos que desapareceram várias cartas deste cartógrafo. Entre elas, é justo destacar uma que continha a representação do Delta do Amazonas, para além da descrição da costa de Espanha, da qual existem várias cópias, mas que não incluem as cartas. Em 1623 vêmo-lo, juntamente com seu irmão, a examinar João Baptista de Serga. Dedicou-se principalmente a executar levantamentos topográficos, talvez por influência de João Baptista Lavanha. A sua produção compõe-se: da Carta dos Estreitos de S. Vicente e Magalhães, de 1621, executada em colaboração com seu irmão; de uma Planta de Madrid, de 1656, existente na Biblioteca Nacional de Paris; e da Carta de Portugal, gravada em Madrid em 1662. Em 1722 Manuel de Azevedo Fortes, afirmava que esta última ainda era a melhor carta de Portugal. Foi acabada no ano da sua morte, mas os levantamentos necessários teriam sido executados entre 1622 e 1630. Desconhecemos porque motivo levou tanto tempo a elaborar esta carta, que serviu de modelo a várias cartas de Portugal impressas no estrangeiro. São escassos os dados biográficos sobre o cartógrafo João Teixeira Albernaz II, sendo que alguns já foram referidos quando tratamos de Albernaz I, que, por vezes, se confundem na documentação. No parecer de Manuel Pimentel a que já fizemos referência, este indica que João Teixeira Albernaz II, é neto de Albernaz I, dizendo, também, que fazia cartas com perfeição. Sabemos igualmente que ainda se encontrava vivo em 1699. Na sua obra, nota-se a grande influência recebida de seu avô, que foi seu mestre, mas o traçado da letra e iluminuras são menos cuidados. Os Atlas do Brasil repetem, embora com alguns progressos, o que seu avô já tinha desenhado, embora tenham o mérito de ter influenciado a cartografia holandesa. A sua obra mais importante é o Atlas de África de 1665, única no seu género, tendo sido encomendada por um francês, o que demonstra a procura da cartografia portuguesa no estrangeiro, ainda nesta época. Uma carta sua foi usada na Conferência de Badajoz (1681), a propósito da questão da Colónia do Sacramento, afirmando os seus membros que João Teixeira Albernaz II era conhecido em toda a Europa. É bastante vasta a sua produção cartogáfica, sendo de destacar as seguintes Cartas: a Carta de 1655; a Carta de 1665; a Carta de 1667, que terá influenciado, possivelmente, o desenho holandês da Terra Nova; a Carta de 1675; a Carta de 1676, que tal como a de 1655, representa o Atlântico e o Índico, na qual estão marcadas as posições de um navio, o que indica que foi usada para a navegação; a Carta de 1677; a Carta de 1679, que foi usada na Conferência de Badajoz; e um fragmento de uma Carta de 1681, existente em Évora. Para além das cartas atrás referidas, vários Atlas são da sua autoria: o Atlas de África, de 1655, que se encontra em Paris, é bastante preciso e o seu levantamento foi feito por ordem Real. Esta obra de 62 folhas e 29 cartas foi usada para publicações francesas; o Atlas do Brasil, de 1666, com 31 cartas, encontra-se no Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro; o Atlas de c. de 1666 contém 29 cartas, fez parte do códice de Diogo Barbosa Machado, Mappas do Reino de Portugal, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. É muito semelhante às outras obras deste autor, mas não está assinado; um Atlas de c. de 1675, composto por 32 cartas, que pertenceu ao Cosmógrfo-Mor Manuel Pimentel. Os quatro Atlas são muito semelhantes, abrindo com uma carta geral do Brasil, seguindo-se depois as particulares. João Teixeira Albernaz II segue em geral o padrão desenhado por seu avô, João Teixeira Albernaz I. Augusto O. Quirino de Sousa Bibliografia CORTESÃO, Armando, e MOTA, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vols. IV, V, Lisboa, INCM, 1987. MOTA, A. Teixeira da, Cartas Portuguesas Antigas na Colecção de Groote Schuur, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga/Junta de Investigações Científicas do Ultramar, 1977. VITERBO, Sousa, Trabalhos Náuticos dos Portugueses, Séculos XVI e XVII, Lisboa, INCM, 1988.

Cartografia náutica portuguesa

Cartografia náutica portuguesa
Cartografia náutica portuguesa Armando Cortesão definiu quatro grandes marcos na história da ciência náutica e da cartografia: o desenvolvimento da carta‑portulano, no século XIII, no Mediterrâneo; a invenção da navegação astronómica e consequente introdução da escala das latitudes nas cartas, em finais do século XV; a descoberta da loxodrómia e a sua representação por uma linha recta na carta desenhada segundo a projecção de Mercator; e por último o aperfeiçoamento do cronómetro, pelo inglês Harrisson, em finais do século XVIII, que permitiu a determinação da longitude no mar. Entre estes passos, o segundo é quase exclusivamente português, enquanto que em relação à projecção de Mercator podemos afirmar que ela deve muito aos estudos realizados pelo grande matemático Pedro Nunes, que descobriu o conceito de loxodrómia e cuja obra seria certamente conhecida de Mercator, que nela se teria inspirado para conceber a projecção que celebrizou o seu nome. A representação cartográfica dos lugares, que iam sendo descobertos pelos navegadores dos séculos XV e XVI, foi fundamental para o estabelecimento de viagens regulares para esses mesmos locais. Só com um conhecimento mais ou menos rigoroso das condições de navegação se pode realizar esta em segurança. A cartografia foi, entre diversos outros factores, um dos elementos fundamentais para o sucesso dos Descobrimentos portugueses. Herdeira das escolas cartográficas do Mediterrâneo, centro a partir do qual se desenvolveu a cartografia na Idade Média, a cartografia portuguesa teria recebido essa influência a partir da vinda de Mestre Jaime de Maiorca, a pedido do Infante D. Henrique, durante o primeiro quartel do século XV. No entanto, deste século são conhecidos poucos exemplares cartográficos de origem portuguesa, embora existam diversas referências nos textos da época que nos permitem deduzir que as cartas eram uma das ferramentas ao dispor dos homens do mar de então para garantirem uma navegação mais segura. Se em relação ao século XV os dados disponíveis sobre a cartografia produzida em Portugal são escassos, a situação relativa ao século seguinte é completamente diferente. São conhecidas centenas de cartas, reunidas por Avelino Teixeira da Mota e Armando Cortesão na obra Portugaliae Monumenta Cartographica. Está identificada a maioria dos autores destas obras, embora ainda existam algumas desenhas de cartas sobre as quais não foi possível descobrir a identidade do cartógrafo que a realizou. Sendo a cartografia uma arte, no sentido medieval de trabalho de artesão, não admira que as técnicas utilizadas no desenho e reprodução fossem transmitidas de pais para filhos. Por esta razão encontramos diversas famílias de cartógrafos como a família Reinel, a família Homem ou a família Teixeira. Podemos considerar a existência de duas grandes vertentes na cartografia daquela época. Por um lado, uma cartografia de características eminentemente práticas, destinada a uma utilização a bordo dos navios que, todos os anos, em largo número, viajavam nas diversas carreiras praticadas pelos Portugueses. Estas cartas teriam na sua grande maioria destruídas pela sua utilização normal a bordo desses navios. O outro tipo de cartas que seriam produzidas teria um fim diferente. Eram destinadas a uma utilização sumptuária e decorativa. Tratava‑se de autênticas obras de arte. São deste último género praticamente todas aquelas que chegaram até nós, uma vez que como não foram usadas a bordo e como eram consideradas preciosidades pelos seus detentores, foram devidamente conservadas, facto que impediu a sua destruição. Uma análise atenta de todos os exemplares cartográficos portugueses conhecidos datados daqueles séculos permite‑nos conhecer alguns elementos sobre a evolução das técnicas de construção utilizadas e sobre o rigor da informação contida nas cartas. A técnica base de construção era a das cartas‑portulano, caracterizadas por terem uma “rede” de direcções irradiando a partir de determinados pontos da carta para que os seus utilizadores pudessem facilmente conhecer a direcção que unia quaisquer dois locais representados na carta. A posição de um navio no mar, em qualquer instante, pode ser conhecida se soubermos qual a direcção em que ele navegou e qual a distância percorrida desde uma posição anterior. Este método é conhecido entre os historiadores da náutica com de rumo e estima. Daí que fosse fundamental que as cartas possuíssem os elementos necessários para que os marinheiros conseguissem marcar essa direcção. No entanto, com a progressão das navegações portuguesas, ao longo da costa africana, as distâncias percorridas no alto‑mar, sem avistar terra para rectificar a posição, foram sendo cada vez mais extensas. Os erros associados à determinação da direcção e da distância percorrida vão‑se acumulando ao longo do tempo. Assim, as posições obtidas recorrendo apenas ao rumo e estima eram afectadas por erros tanto maiores quanto maior fosse o intervalo de tempo decorrido para rectificação da posição. Os Portugueses resolveram este problema, ainda durante o século XV, adaptando técnicas astronómicas para uso a bordo dos navios, técnicas essas que permitiam um conhecimento rigoroso da latitude do navio. As cartas passaram a reflectir este avanço que se verificou a nível da Arte de Navegar, passando a conter uma escala apropriada para determinação da latitude dos diversos lugares nelas registados. A introdução da escala das latitudes e a recolha sistemática de elementos “hidrográficos” para inserir nas cartas levou a um aumento do rigor da informação contida nas mesmas. A representação do mundo herdada da obra de Ptolomeu foi completamente ultrapassada. As concepções do grande sábio grego, baseadas em elementos que em muitos casos não tinham sido confirmados por observações práticas, foram substituídas por outras que resultavam da observação directa realizada pelos Portugueses que viajavam com uma frequência cada vez maior por quase todo o mundo. Além da sua principal função que seria a marcação das posições dos navios no mar, as cartas teriam outro tipo de utilidade. Nelas eram representadas informações diversas, com intuitos decorativos ou com um interesse prático bastante acentuado. Serviam, por exemplo, como suporte para representação de imagens dos habitantes, da fauna e da flora das terras que iam sendo descobertas. Ou seja, as cartas eram uma das formas possíveis de representação do exótico, desses mundos novos, tão ao gosto do homem do Renascimento. Por outro lado, nas cartas eram inseridos muitos dos elementos que serviam para a condução da navegação, tais como representações gráficas ou tabelares dos regimentos e das regras práticas de que os pilotos se serviam para determinação de elementos de interesse náutico. Em muitas delas eram ainda representadas vistas de algumas regiões costeiras ou ainda informação de interesse político como é o caso dos elementos que atribuíam a posse de um determinado território a um dado reino europeu. A cartografia portuguesa da época das grandes descobertas servia perfeitamente para as exigências das técnicas de navegar daquele tempo. No entanto, apresentavam duas grandes limitações que só posteriormente foram resolvidas, fora de Portugal. A primeira tem a ver com a existência duma escala de longitudes. As cartas portuguesas não apresentavam esta escala pelo simples facto de a determinação desta coordenada não ser possível naquele tempo. O problema apenas foi resolvido no século XVIII. Quanto à segunda limitação prende‑se com a representação de uma superfície esférica num suporte plano. Uma vez que a Terra tem uma forma aproximadamente esférica a sua representação sem distorções apenas é possível sobre um globo. No século XVI esta foi uma das hipóteses consideradas pela cartografia. No entanto, o uso de globos apresenta duas grandes limitações. A primeira tem a ver com as dimensões. Como num globo se representa sempre a totalidade da superfície terrestre o seu tamanho teria que ser bastante grande para que fosse possível representar essa superfície com o detalhe suficiente para que o globo tivesse alguma utilidade, o que tornava impraticável o seu uso. Por outro lado, a medição ou o traçado de direcções ou distâncias sobre uma esfera, fundamental para o conhecimento da posição do navio, é bastante complexo, razão pela qual os globos nunca tiveram qualquer utilidade prática no mar. Pedro Nunes identificou praticamente todas as limitações que as cartas daquela época apresentavam na representação da superfície terrestre. A ele se deve a noção de que a distância mais curta entre dois pontos da superfície terrestre é uma linha curva. Percebeu que a técnica utilizada para marcar direcções nas cartas implicava que os meridianos fossem paralelos entre si, quando na realidade eles convergem todos nos pólos. Compreendeu que devido a essa convergência uma linha recta representada numa carta, ou seja uma direcção que faça sempre o mesmo ângulo com todos os meridianos, não corresponde a uma recta sobre a superfície do globo mas sim a uma espiral que termina nos pólos. O resultado dos estudos de Pedro Nunes tiveram certamente influência no trabalho de Mercator que concebeu uma projecção que permitiu ultrapassar essas limitações das cartas daquele tempo. António Costa Canas Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de “Cartografia Portuguesa”, in Luís de Albuquerque [dir.], Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, pp. 213‑216. CORTESÃO, Armando, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols., Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1969‑1970. MOTA, Avelino Teixeira da, “Cartografia e cartógrafos portugueses”, in Joel Serrão [dir.], Dicionário de História de Portugal, vol I, Porto, Livraria Ferreirinhas, [s.d.], pp. 500‑506. MOTA, Avelino Teixeira da, CORTESÃO, Armando, Portugaliae Monumenta Cartographica, 6 vols, Lisboa, 1960.

Gibraltar, Estreito de

Gibraltar, Estreito de
Gibraltar, Estreito de Conhecido pelos gregos como os “Pilares de Hércules” foram, no entanto, os árabes a vulgarizar o nome pelo qual é hoje conhecido Gibraltar. Resulta o topónimo da corrupção do nome árabe “Jabel Tarik” (a Montanha de Tarik), concedido ao local em honra de Tarik-ibn-Zeyad que primeiro ocupou a área no seguimento da conquista árabe da Península Ibérica. O Estreito de Gibraltar é, ainda hoje, um local estratégico na ligação de dois mares: o Atlântico e o Mediterrâneo. A actividade marítima entre Portugal e o Norte de África é uma realidade desde muito cedo com os primeiros ecos no século XIII. Esta é a altura em que Luís Adão da Fonseca define como a da "abertura do Estreito". No século XVI a pirataria na área cresce na exacta medida em que os centros de apoio se multiplicam e a Tetuão se juntam Larache, Salé, Argel, Tunes ou Tripoli e as rotas comerciais se diversificam. Por esta zona passava um comércio avultado entre as costas de Itália, Sicília e Espanha e a Europa do Norte, tornando-o num alvo apetecível para piratas.. Após a conquista de Ceuta e com a extensão da presença portuguesa no século XV e inícios do XVI estas rotas alargaram-se e caíram quase todas nas mãos de cristãos o que obrigou as comunidades árabes e berberes a intensificar a pirataria como forma de quebrarem o bloqueio nas costas magrebinas. Também os portugueses vão tornar mais constantes os seus ataques, em especial ao reino de Fez. Por esta altura surge no Mediterrâneo Ocidental um novo adversário temido e conhecedor das tácticas e técnicas portuguesas: os Turcos. Estes vão tornar-se um precioso auxílio para os piratas locais trazendo navios maiores e uma outra dinâmica à guerra de corso. Em 1517 o célebre corsário turco Barba Roxa percorre o Estreito com catorze navios de remos. Contra esta armada envia o Rei de Castela uma poderosa frota que no entanto não consegue capturar o famoso pirata turco. Este divide os navios, indo parte para Larache e outra para Argel. A intervenção espanhola e esta fuga para Larache vão assumir uma importância fundamental no desenrolar da actividade marítima da região. A primeira vem dar consistência às crescentes preocupações dos monarcas espanhóis para com a segurança das suas costas. O segundo facto transformou Larache num grande porto de piratas que em muito prejudicaram as ligações de Portugal com o Norte de África. Toda esta actividade corsária terá sido um dos motivos que levou D. Manuel a prover esta região com uma armada permanente. É a partir da sua criação oficial, em 1520, que a actividade naval portuguesa toma foros mais consistentes. D. João III altera todos estes parâmetros impondo uma nova política Ultramarina que passava pelo "desinvestimento", abandonando as praças mas também na constatação de que um país como Portugal não poderia manter a mesma estrutura imperial, expansionista e em crescimento em três continentes diferentes (Ásia, África e América). Essa constatação levou o monarca português a conservar no Norte de África as praças indispensáveis à segurança do Estreito ao mesmo tempo que aliciava Carlos V a intervir mais directamente nesta missão, pedindo-lhe que enviasse forças navais para a zona. No ano de 1552 um assento régio define a constituição e alcance das diversas armadas. Portugal recua a sua armada para o Algarve podendo eventualmente fazê-la rumar até Gibraltar. Consegue mesmo que a responsabilidade directa dessa defesa passe para a parte espanhola. Estava consumado o recuo necessário que fez com que os portugueses apenas se preocupassem directamente com esta área quando as suas praças eram ameaçadas. Rui Godinho Bibliografia FONSECA, Luís Adão da, Navegacion y Corso en el Mediterraneo Ocidental. Los Portugueses a medianos del Siglo XV, Pamplona, Universidad de Navarra,1978. GODINHO, Rui Landeiro, “A Armada do Estreito de Gibraltar no século XVI”, Actas do Colóquio Vasco da Gama os Oceanos e o Futuro. Escola Naval, 23 a 27 de Novembro de 1998, [s.l.], Escola Naval , 1999, pp.182-190. GUERREIRO, Luís R., O Grande Livro da Pirataria e do Corso, [Lisboa], Círculo de Leitores, imp.1996. RODRIGUES, Bernardo, Anais de Arzila, Ed. David Lopes, Vol. I, Lisboa, Academia de Ciências de Lisboa, 1915.

Lasso, Bartolomeu

Lasso, Bartolomeu
Lasso, Bartolomeu A primeira referência a este cartógrafo quinhentista, é uma carta régia, datada de 17 de Maio de 1564, na qual o monarca autoriza Bartolomeu Lasso a exercer a sua profissão de cartógrafo, por ter sido "achado auto e suficiete para fazer cartas de marear e estrellabios e agulhas". Refere a mesma carta ter o cartógrafo sido examinado pelo cosmógrafo-mor Dr. Pedro Nunes, tendo por assistente o cartógrafo Jorge ReineI. Mais tarde, em 24 de Janeiro de 1591, Bartolomeu viria a assistir ao exame do cartógrafo Francisco Luis. Mais dois documentos nos dão notícia deste cartógrafo: um, o "Livro do lançamento" de 1565, do Arquivo da Câmara Municipal de Lisboa; o outro é uma carta de perdão, de 2 de Maio de 1570, na qual o monarca comutava uma parte da pena do seu exílio em Almada, ocasionado por um diferendo que Lasso tivera com o seu colega de profissão João Galego. Da obra cartográfica deste autor, são conhecidas quatro Cartas Atlânticas, não datadas, mas à quais se atribuem os anos de c. de 1575, c. de 1584, c. de 1586 e C. de 1588, como datas prováveis da sua composição, e um Atlas incompleto, composto de oito cartas, onde, numa das cartas que o compõem, se lê a seguinte inscrição: "Este libro. de cosmographia. Denavegar. Fez. Bertholamev Laso. Anño. De. 1590 Emlix.Boa.". Num trabalho publicado em 1915, no Boletin de la Real Sociedad Geografica de Madrid, Antonio Blàsquez dava notícia deste Atlas classificando-o de "una joia de la cartografia del siglo XVI". O referido Atlas foi adquirido por W. A. Engelbrecht e, posteriormente, doado ao Maritiem Museum "Prins Hendrich". A obra cartográfica de Bartolomeu Lasso contribuiu em larga medida para o desenvolvimento da cartografia holandesa em finais do século XVI, conforme consta do texto de uma carta-patente emitida pelos Estados Gerais em 1592, autorizando Cornelis Claesz, editor de Amsterdão, a imprimir ou desenhar à pena todas as vinte e cinco cartas náuticas (hoje, apenas são conhecidos os monumentos cartográficos referidos). Conforme menciona o mesmo documento, as cartas náuticas foram obtidas por indicação do cartógrafo holandês Petrus Plancius a "Bartolomeo de Lasso, cosmógrafo e mestre de navegação do Rei de Espanha". A obra cartográfica de Lasso terá exercido enorme influência na execução dos trabalhos do cartógrafo holandês, nomeadamente na elaboração do seu grande planisfério de 1592, de acordo com a opinião de F. C. Wieder, cartólogo e director da Biblioteca da Universidade de Leiden, em 1916. As cartas náuticas de Lasso devem ter sido as primeiras a ser utilizadas pelos holandeses nas suas viagens a outros continentes. O rigor e a precisão, nalguns casos quase real, com que este cartógrafo registava nas suas cartas a geografia então conhecida, são-nos demonstrados pela inclusão nos seus trabalhos de "todas as costas marítimas de todo o mundo, com todas as profundidades e baixos, bancos, recifes, cabos, promontórios e portos, todos colocados na sua correcta elevação do Polo ou graus de latitude, distâncias e rumos...", como é mencionado no documento emanado dos Estados Gerais. O piloto Gaspar Ferreira Reimão refere em dois diários de navegação dos finais do século XVI ter utilizado uma carta de marear deste cartógrafo, na qual marcava o ponto. A obra cartográfica de Bartolomeu Lasso teve também, deste modo, uma função utilitária, dada a sua utilização prática tanto por pilotos portugueses, como por holandeses. Augusto O. Quirino de Sousa Bibliografia CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses doS Séculos XV e XVI, Vol. II, Lisboa, Seara Nova, 1935, pp. 285-289. CORTESÃO, Armando e MOTA, A. Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vol. llI, Lisboa, INCM, 1987, pp. 87-100. VITERBO, Sousa, Trabalhos Náuticos dos Portugueses. Séculos XVI e XVII, Int. de José Manuel Garcia, Lisboa, INCM, [1988], pp. 169-171.

Martellus, Henricus

Martellus, Henricus
Martellus, Henricus Sobre este cartógrafo pouco se sabe, dada a escassez de dados biográficos existentes sobre o mesmo. Sabemos ser de nacionalidade alemã, pois ao seu nome latinizado acrescentava o aposto “germanus”. Henricus Martellus Germanus operou em Itália, na cidade de Florença, no último quartel do século XV, na oficina do gravador e impressor de cartas náuticas, Francesco Rosselli. Alguns autores, entre os quais Roberto Almagià, admitem que Martellus tenha trabalhado em associação com Rosselli, concluindo aquele estudioso italiano que uma parte da obra cartográfica de Martellus Germanus se radica na obra de Rosselli, não obstante Armando Cortesão admitir que “apenas se pode conjecturar” a eventual associação entre os dois cartógrafos. De importância fundamental para a história da cartografia quatrocentista, avulta o planisfério de raíz ptolomaica, da autoria de Henricus Martellus, datado de c. 1489, inserido no Insularium Ilustratum Henrici Martelli Germani, de que se conhecem quatro cópias: no British Museum, na Biblioteca da Universidade de Leiden, no Musée Condé de Chantilly, e na Biblioteca Laurenziana de Florença. A raíz ptolomaica na obra deste cartógrafo foi observada por O. A. W. Dilke a propósito do grande mapa-mundi manuscrito, datado de c. 1490, com assinatura “Opus Henricus Martellus Germanus”, que se guarda na Biblioteca da Universidade de Yale, divulgado em 1963 por Alexandre Vietor. Dilke deduz que o cartógrafo, ao utilizar a Segunda Projecção de Ptolomeu na execução desta carta, foi “aparentemente a primeira pessoa que optou por este procedimento”. Na carta de Martellus, de c. 1489, encontram-se registados os resultados da segunda viagem de Diogo Cão, quando este navegador, em 1486, erigiu o seu quarto padrão em “c. de padrom” e chegou a “serra parda”, bem como as consequências da viagem de Bartolomeu Dias de 1487-88, no decorrer da qual descobriu a costa africana para além do término da última viagem de Diogo Cão, dobrou o Cabo da Boa Esperança e, tendo passado pela “ilha de fonti”, aportou a “rio do Infante” à entrada do Oceano Índico. Neste planisfério, as viagens efectuadas pelos dois navegadores portugueses são evocadas por três legendas. Na legenda inscrita sobre o Golfo da Guiné, diz-se: “Hec est Uera forma moderna affrice secundum discripcione Portugalesium Jnter mare Mediterraneum et oceanum meridionalem”. Esta legenda é bastante ilucidativa da moderna configuração do continente africano, entre o Mediterrâneo e o Índico. Uma segunda legenda ilucida-nos sobre a colocação do referido quarto padrão no Cabo do mesmo nome, quando da última viagem de Diogo Cão, e refere: “Ad hunc usq; montem qui vocatur niger per venit classis secundi regis portugalie cuia classis perfectus erat diegus canus qui in memoriam rei erexit colunam marmorea cum crucis ab mõte nigro et hic moritur”. A terceira e última inscrição, diz respeito à dobragem do Cabo e à chegada de Bartolomeu Dias à “ilha de fonte” e observa a data de 1489, portanto, imediatamente a seguir à viagem deste navegador. Reza a legenda: “ Hunq usq ad Ilha de fonti pervent ultima navegatio portugalesium. anno. d. ni. 1489”. Como refere Inácio Guerreiro, este monumento cartográfico da autoria de Henricus Martellus inscreve-se num grupo de cartas vulgarmente designadas por “luso-ptolomaicas”, que procuram conciliar uma cartografia de natureza prática, que tem por base a observação directa dos lugares e uma cartografia de raíz erudita e humanística, que ainda prevalecia nas oficinas dos cartógrafos onde Ptolomeu era modelo a observar. O facto de Martellus Germanus ter elaborado o seu mapa-mundi a partir de originais portugueses desaparecidos, realça o seu excepcional valor, dada a escassez de monumentos cartográficos portugueses executados no século XV por um lado, e, por outro, vem contribuir para a desmistificação da polémica questão da “política de sigilo”, pois, como observa Luís de Albuquerque, esta tese deve ser apenas encarada como hipótese de trabalho. Dada a abundante presença de estrangeiros na corte de Lisboa, interessados no comércio das nossas espécies cartográficas, o pretenso cuidado dos monarcas portugueses teve limitados ou nulos efeitos. Segundo Armando Cortesão, baseado em estudos de H. Winter e E. G. Ravenstein, Martim Behaim ter-se-á inspirado no mapa de Martellus na construção do seu Globo. Augusto O. Quirino de Sousa Bibliografia ALBUQUERQUE, Luis de, “A Cartografia Portuguesa dos Séculos XV e XVI”, in História e Desenvolvimento da Ciência em Portugal, vol. II, Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa, 1986, pp. 1061-1084. CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos XV e XVI, Lisboa, Seara Nova, 1935. IDEM, História da Cartografia Portuguesa, vol. II, Lisboa, 1970, pp. 204-209. GUERREIRO, Inácio, “A viagem de Bartolomeu Dias e os seus reflexos na Cartografia Europeia Coeva,”, in A Viagem de Bartolomeu Dias e a Problemática dos Descobrimentos, Actas do Seminário realizado em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta, de 2 a 7 de Maio de 1988, pp. 133-143.

Cartografia náutica medieval

Cartografia náutica medieval
Cartografia náutica medieval A concepção que os homens medievais tinham do mundo era bastante condicionada por factores de ordem religiosa. Como consequência deste facto, a maioria das representações do planeta, naquela época, eram essencialmente simbólicas. São exemplo dessa visão os famosos mapas T‑O, nos quais se representava mundo conhecido como um círculo, “O”, com um “T” no seu interior. Este último representava o Mar Mediterrâneo e os rios Nilo e Don que separavam os três continentes conhecidos, Europa, Ásia e África. No centro do mundo estava a cidade santa de Jerusalém. Os mapas acima referidos não tinham, como é óbvio, qualquer utilidade prática. Ainda durante a Idade Média foi‑se desenvolvendo um tipo de cartas com grande utilidade para os navegadores, as chamadas cartas‑portulano. Estas não são mais do que a representação gráfica, de informação náutica que circularia numa forma descritiva, nos portulanos. Embora “descendendo” de uma tradição já existente na Antiguidade, nos chamados périplos, podemos constatar que este género de informação, direcções e distâncias entre diversos pontos das costas do Mediterrâneo é contemporâneo das cartas‑portulano. Estes elementos, que circulavam em suporte escrito ou era transmitidos por via oral, e as cartas eram complementares entre si. O mais antigo portulano conhecido, Il Compasso da navigare, teria sido redigido em 1296. Da mesma época que o portulano referido, finais do século XIII, será a mais antiga carta‑portulano conhecida. Designada por “Pisana”, pelo facto de ter sido encontrada na cidade de Pisa, teria no entanto sido desenhada em Génova. Tendo como suporte o pergaminho, nela está representada a bacia do Mediterrâneo e parte da costa atlântica até à região da Flandres. Contudo, verifica‑se que o rigor da representação do Mediterrâneo é muito superior ao rigor da parte atlântica. O carácter prático e com um objectivo bem definido destas cartas, que era o de facilitarem a navegação marítima, pode ser deduzido do facto de nelas não existir praticamente nenhuma informação sobre a parte terrestre. Apenas encontramos registado o nome dos diferentes locais costeiros, não existindo qualquer género de informações sobre o interior. Uma das características mais típicas das cartas‑portulano é a “teia” de linhas, irradiando a partir de determinados pontos da carta, característica esta que se manteve na cartografia náutica da Idade Moderna. Estas linhas não são mais que os diversos rumos possíveis, correspondendo portanto às direcções indicadas pelas bússolas. O desenvolvimento desta cartografia estará certamente ligado à introdução das bússolas a bordo, facto que permitiu aos navegadores determinarem com muito mais rigor a direcção para onde dirigiam os seus navios. Numa primeira fase, esta rede de rumos era composta por dezasseis linhas irradiando desses pontos, mas posteriormente passaram a ter trinta e dois rumos, número que se manteve por vários séculos. Outro aspecto importante a registar relativamente a este tipo de cartas é a inexistência de um qualquer tipo de projecção subjacente às mesmas. Alguns autores tentaram propor vários tipos de projecção a partir dos quais estas cartas seriam construídas. Alguns quiseram relacioná‑las com a projecção de Marino de Tiro, sobre a qual dispomos de pouca informação credível. No entanto, estas cartas não seriam construídas obedecendo a um qualquer sistema matemático de projecção. A informação nelas registada seria simplesmente a direcção, conforme fornecida pelas bússolas, e a distância, estimada pelos navegadores, entre os diferentes locais. Estamos perante uma representação semelhante àquela que se utiliza para efectuar levantamentos topográficos expeditos. Dada a relativamente pequena área da superfície terrestre coberta por estas cartas, os erros cometidos ao ser adoptado este procedimento eram pequenos. Os principais centros produtores deste género de cartas situavam‑se no Mediterrâneo, conforme já indicámos. Génova, Maiorca e Veneza foram os principais centros náuticos onde foram elaboradas cartas‑portulano na época medieval. A partir destes locais foram sendo difundidas as técnicas tendo as mesmas chegado a outros locais do Mediterrâneo e inclusivamente das costas do Atlântico. Em relação à sua introdução em Portugal é difícil definir uma data, uma vez que não são conhecidas cartas portuguesas anteriores ao final do século XV. No entanto, existe um facto documentado, que nos permite afirmar que certamente se produziriam cartas‑portulano em Portugal, pelo menos a partir do início desse século. Estamo-nos a referir à vinda para o nosso país, cerca de 1420, por iniciativa do Infante D. Henrique, de um mestre cartógrafo, Jaime de Maiorca. Certamente que o principal objectivo do convite que lhe foi dirigido seria que ele ensinasse a portugueses as mais avançadas técnicas cartográficas da época, para que elas fossem aplicadas no registo das novas terras que iam sendo descobertas pelos portugueses. E essa aplicação era certamente realizada pois são diversos os cronistas que fazem referência a esse registo, em suporte cartográfico, de novas terras conhecidas pelos portugueses. António Costa Canas Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de “Cartografia da Idade Média”, in Luís de Albuquerque [dir.], Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol I, Lisboa, Círculo de Leitores, 1994, pp. 212‑213. JOURDIN, Michel Molat du, RONCIÈRE, Monique de la, Les Portulans. Cartes Marines du XIIIe au XVIIe siècle, [s.l.], Office du Livre, [s.d.]. RANDLES, W. G. L. Da Terra plana ao globo terrestre, Lisboa, Gradiva, 1990.

Dourado, Fernão Vaz

Dourado, Fernão Vaz
Dourado, Fernão Vaz A África no atlas de 1571 de Fernão Vaz Dourado [Clique na imagem para a ampliar] O Historiador da Cartografia Armado Cortesão inclui este cartógrafo no que chamou o "terceiro período da cartografia portuguesa". Este período receberia o nome de Lopo Homem, e caracterizar-se-ia pelo fim da influência de Ptolomeu na representação do Extremo Oriente, e por um maior rigor na representação das terras e continentes. As grandes legendas desaparecem para surgirem nomes de locais e pequenas indicações e descrições históricas. Aparecerem agora os Atlas e quarteirões, enquanto que as grandes cartas se vão tornando cada vez mais raras. Ora esta escola, segundo o mesmo autor, teria início em Lopo Homem (que lhe dá o nome), mas podemos dizer que o seu expoente máximo é Fernão Vaz Dourado, cuja obra denota a presença de todas as características imputáveis à escola.. Da sua biografia sabemos pouco, sendo as as datas extremas dos trabalhos que lhe conhecemos 1568 e 1580. Sabemos ainda com certeza que foi Fronteiro da Índia, pois é assim que se identifica em alguns frontispícios dos seus Atlas. Alguns outros documentos dão-nos pequenas indicações do que poderá ter sido a sua vida: Assim, supõe-se que seria filho de Francisco Dourado, que aparece num documento como indo para a Índia em 1513, casando-se aí em 1519. Teria pois Fernão Vaz nascido pelos anos de 1520. Em 1547 temos a certeza que está presente no 2º Cerco de Diu, pois é ferido na explosão do baluarte de S. João (a documentação aponta-o como ferido nas pernas). Por esta altura viaja até Bengala com Vasco da Cunha, ou em 1543-44, ou em 1547; o certo é que a viagem é referida nas "Derrotas de Portugal para a Índia e desta para Malaca, Java, Sunda, Molucas, etc", do Livro de Marinharia de João de Lisboa. As indicações dos frontispícios dos seus Atlas dão-nos algumas informações, como já foi dito: se de alguns temos a certeza que foram feitos no Estado da Índia, o de 1575 foi feito no Reino, e dedicado a D. Sebastião. Aqui terá corrigido alguns erros junto de colegas e cosmógrafos, pois neste Atlas apresenta já as preiamares em horas e quintos, em vez de quartos, como antes fazia. Em relação às obras que nos legou, podemos ainda salientar a firmeza e perícia do seu traço e o elevado gosto artístico das suas iluminuras. Opta pela produção de Atlas com cartas regionais em vez de grandes cartas de todo o mundo. Outra característica importante da sua obra é que apresenta, pela primeira vez, cartas especiais do Ceilão de do Japão. Em relação ao arquipélago japonês terá utilizado as mesmas fontes de Lázaro Luís, mas Dourado é mais pormenorizado a representá-las. Estas cartas aparecem no primeiro Atlas que lhe conhecemos, de 1568, e que terá sido feito para D. Luís de Ataíde. Segue-se cronologicamente outro de 1570, e aqui, em relação ao Brasil, apresenta os sistemas hidrográficos do rio da Prata Amazonas e Maranhão interligados, formando este território uma ilha. Em 1571 terá feito um novo Atlas, que pertenceu à Cartuxa de Évora, embora na folha de rosto apareçam as armas dos Costa. Encontra-se actualmente na Torre do Tombo. Infelizmente já não está completo, mas Varnhagem descreve-o em 1851, antes de estar mutilado e assim ficamos a saber que lhe falta a folha correspondente ao Mediterrâneo. O desenho deste Atlas não é tão perfeito em relação a outros seus trabalhos. Em 1575 faz o seu Atlas mais belo e ricamente iluminado. Dedicou-o a S. Sebastião e destinar-se-ia ao Monarca com o mesmo nome. Temos no ano seguinte um Atlas que lhe é atribuido, mas que não está assinado. É o que se encontra na Biblioteca Nacional de Lisboa. Em 1580 faz outro trabalho, já na Índia mas de muito menor qualidade; podermos dizer que já não estaria na posse das suas melhores capacidades. No entanto vemos que continuou a evoluir e a aperfeiçoar-se, pois conseguiu seccionar melhor as várias partes do globo representadas, fazendo um número menor de cartas, evitando assim repetições de lugares. João G. Ramalho Fialho Bibliografia CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos séculos XV e XVI, 2 vols., Lisboa, Seara Nova, 1935. IDEM, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols, Lisboa, Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar/ Agrupamento de Estudos de Cartografia Antiga, 1969-1970. IDEM, e MOTA, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Reimpressão, vol. III, Lisboa, INCM, 1987. COUTO, Monsenhor Gustavo, O Cosmografo Fernão vaz Dourado Fronteiro da Índia e a sua Obra, Lisboa, Tipografia Carmona, 1928.

Homem, Família

Homem, Família
Homem, Família Vários elementos da família evidenciaram-se nas mais variadas áreas, como na actividade literária, no desempenho de cargos eclasiásticos e, principalmente, no cumprimento de funções políticas nas Ilhas da Madeira e dos Açores, em África e no Oriente, ou exercendo outros ofícios ligados à expansão portuguesa, como, por exemplo, navegadores e cartógrafos. Foi na ciência e arte de compor cartas náuticas que três elementos desta família mais se notabilizaram: Lopo Homem e seus filhos André e Diogo. Lopo Homem inicia o que Armando Cortesão denominou de “terceiro período ou escola” da cartografia portuguesa, que corresponde ao desaparecimento das concepções ptolomaicas. Tal influência vinha-se fazendo notar no traçado de várias regiões, como, por exemplo, o Oriente (entre outras), que aparecia mais alongado do que era na realidade. O primeiro membro desta família é, como já referimos, Lopo Homem. Como é habíto, porém, no que respeita às biografias dos cartógrafos, os documentos conhe-cidos são pouco esclarecedores. Uma carta de D. Manuel, de 31 de Março de 1497, contém a primeira referência à sua pessoa. É-lhe concedida a administração de uma Capela na Vila de Punhete, que, segundo se supõe, pertenceria ao seu sogro, João Álvares. O documento também nos informa que a sua mulher se chamaria Isabel Álvares. Por alvará de 16 de Fevereiro de 1517, D. Manuel concede-lhe o privilégio de fazer e corrigir todas as agulhas, ou seja, é o responsável pela elaboração dos instrumentos necessários à navegação, cartas de marear para as armadas reais e, além disso, tinha a responsabilidade de examinar os instrumentos produzidos por outros. Outros documentos nos indicam que este cartógarfo foi bastante interventivo na política expansionista da coroa, nomeadamente nas campanhas militares no Norte de África, chegando a ser nomeado cavaleiro da casa real. Foi também conselheiro da Junta que se reuniu em Badajoz-Elvas, no ano de 1524. Esta deveria averiguar se o arquipélago das Molucas se situava dentro da área de influência espanhola ou da portuguesa. A sua posição nesta conferência ainda não está completamente esclarecida. Um documento do embaixador de Carlos V em Portugal refere um suposto Atlas, que estaria a ser elaborado pelo cartógrafo, o qual não seria favorável às pretensões portuguesas. Este testemunho tem vindo a ser considerado suspeito pelos historiadores da especialidade, pois Lopo Homem recebeu uma tença pelos bons serviços prestados na Junta. Não sendo muito extensa, a obra cartográfica de Lopo Homem é considerada bastante perfeita, e de grande qualidade gráfica. Compõe-se pelo conhecido Atlas Homem-Reinéis, de 1519, o qual contém um mapa-mundi assinado e datado; por uma carta náutica de c. 1550, assinada e datada; por outra do mesmo ano, anónima, mas cuja autoria lhe é atribuida; e, um planisfério assinado e data do de 1554. Da biografia do seu filho Diogo Homem pouco se sabe, mas chegou até nós um número considerável de trabalhos seus. Por uma carta de perdão de 4 de Agosto de 1547, temos conhecimento que foi obrigado a sair do Reino para Inglaterra, devido ao seu envolvimento num homicídio. Por esta razão terá desempenhado a sua profissão naquele país. Depois de D. João III lhe ter perdoado o crime regressou a Portugal, mas optou, por fim, por voltar a trabalhar em Inglaterra, para onde terá levado a técnica de elaborar cartas que aprendera com o seu pai. De entre os seus vários trabalhos podemos salientar um dos Atlas de 1558, no qual, para além de desenhar algumas partes do orbe, fornece várias noções cosmográficas. Num outro seu Atlas, do mesmo ano, e guardado em Paris, aparece uma nova forma de representar o Japão, já fruto das informações aí recolhidas pelos portugueses, e distanciada das anteriores, ainda bastante fantasiosas. Em cartas posteriores continua a aperfeicoar a representação deste arquipélago. Além da obra acima referida, este autor produziu mais dez cartas individuais, e onze Atlas, dos quais seis não estão assinados. Menção especial merece a carta-portulado de c. 1566, que em boa hora, Marcel Destombes doou à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Comenta este historiador que as obras deste cartógrafo são “hautemement décoratives, mais surtout parce qu’elles sont très détailles et relatuvement exactes”, e “les corrections de Diogo Homem sont si nombreuses (...) qu’en fail, il n’y a pas deux cartes de Homem absolutement semblables poul le dessin et la nomencalture ». Em relação André Homem, tanto Sousa Viterbo, como Armando Cortesão, não dando certezas, aceitam a probabilidade deste ser parente dos anteriores, e mesmo filho de Lopo Homem, hipótese que Léon Bourdon veio confirmar. Em relação à sua vida sabemos que antes de 1559 ter-se-á exilado em França, ao tempo de Francisco I, afirmando-se seu cosmógrafo. Uma sua carta para o representante da Corte em França indica-nos a sua vontade de regressar ao reino, juntamente com uns seus irmãos, Tomé e António, também eles cartógrafos. Estes acabaram por voltar, tendo André optado por continuar a trabalhar em França. A única produção cartográfica conhecida, de sua autoria, é um Planisfério datado de 1559, e que se encontra à guarda da Biblioteca Nacional de Paris. Augusto O. Quirino de Sousa Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de. “Homem, Diogo”, in Luis de Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Vol. I, Lisboa, Círculo dos Leitores, 1994, pp. 500-501. IDEM. “Homem, Lopo”, in Luis de Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Vol. I, Lisboa, Círculo dos Leitores, 1994, pp. 501-502. CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos Séculos XV e XVI, Vol. I, Lisboa, Seara Nova, 1935, pp. 307-389. IDEM, e MOTA, Avelino Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, Vols. I e II, Lisboa, INCM, 1987. DESTOMBES, Marcel, “Une Carte Inédite de Diogo Homem, circa 1566”, in AAVV, Um Portulano de Diogo Homem (c. 1566) na Biblioteca Geral da Universidade. Homenagem a Marcel Destombes, Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, 1988, pp. 21-36. GUERREIRO, Inácio, “Homem, André”, in Luis de Albuquerque (dir.), Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Vol. I, Lisboa, Círculo dos Leitores, 1994, pp. 499-500. VITERBO, Sousa, Trabalhos Náuticos dos Portugueses, Séculos XVI e XVII, Lisboa, INCM, 1988.

Maiorca, Jaime de

Maiorca, Jaime de
Maiorca, Jaime de As notícias sobre a vinda, por iniciativa do Infante D. Henrique, de um cartógrafo chamado Jaime, oriundo da ilha de Maiorca, são‑nos fornecidas por Duarte Pacheco Pereira. João de Barros ampliou as informações e atribui‑lhe também a capacidade de construir instrumentos náuticos. A maioria dos historiadores, baseando‑se na investigação levada a cabo por Gonçalo Reparaz Filho, na década de 30 do século XX, considera que este Mestre Jaime de Maiorca seria o célebre cartógrafo maiorquino Jafuda Cresques. Filho do não menos célebre cartógrafo, Abraão Cresques, Jafuda teria nascido cerca de 1360. Devido à perseguição que foi movida contra os judeus de Maiorca converteu‑se ao cristianismo tendo mudado o seu nome para Jaime Ribes. Na década de 20 do século XV mudou‑se para Portugal ficando ao serviço de D. Henrique. Investigações mais recentes levantam dúvidas sobre a identificação deste Mestre Jaime, referido por Pacheco Pereira, com o célebre Jaime Ribes. De acordo com a tese do catalão Jaume Riera Sans o cartógrafo que trabalhou para o Infante D. Henrique não poderia ser o tal Jafuda Cresques pois este teria falecido antes de 1410, tendo neste ano o Infante apenas 16 anos. De qualquer modo, a crer nas palavras de Pacheco Pereira, e não existem razões para que não acreditemos, realmente existiu um Mestre Jaime, cartógrafo, oriundo da ilha de Maiorca, que teria estado ao serviço do Infante para transmitir os seus conhecimentos na arte da cartografia. E esta arte encontrava‑se bastante desenvolvida em todo o Mediterrâneo, portanto esse mestre teria transmitido aos Portugueses os mais avançados conhecimentos que na época se conheciam sobre o assunto. António Costa Canas Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de, “Maiorca, Jaime de”, in Joel Serrão, [dir.], Dicionário de Hsitória de Portugal, vol IV, Porto, Livraria Figueirinhas, [s.d.], p. 141.

Mauro, Fra

Mauro, Fra
Mauro, Fra Foi monge dos Camaldulenses em Veneza, no Mosteiro de S. Michele de Murano. Aí desenvolveu o seu trabalho de cartógrafo (temos notícia de em 1443 estar a elaborar um mapa da Istria,), chegando mesmo a deixar discípulos importantes, como é o caso de Andrea Bianco. É comumente considerado o melhor cartógrafo erudito me-dieval, mas poderemos dizer que apenas se encontra num estádio de maior avanço técnico e científico que muitos anteriores. A sua obra situar-se-á assim num momento de transição entre a Idade Média e a cartografia do Renascimento. A cartografia medieval, de um modo geral até ao século XIV, era basicamente esquemática e simbólica, sendo os seus mapas conhecidos por T–O, pois o mundo era apresentado por um circulo, em que no seu interior o T, formado por três rios, divide a Ásia, ao cimo, a Europa e a África, em baixo. Jerusalém situava-se quase sempre no centro. Este tipo de esquema vai-se tornando cada vez mais complexo e começa a surgir o Mediterrâneo mais ou menos correctamente representado, assim como as informações e legendas de carácter económico ou social se vão multiplicando pelos vários continentes representados. Ora, o planisfério de Fra Mauro é profícuo em tais características, o que leva a considerar que o seu autor represente o culminar deste tipo de cartografia, como já dissemos. O Planisfério de Fra Mauro, terminado em 1459, foi uma encomenda do Rei de Portugal, D. Afonso V. Sobre o seu pagamento temos alguns documentos na Torre do Tombo e no Arquivo de Murano. Em Lisboa temos uma carta de quitação (Chan-celaria de D. Afonso V, Lv. 1, fl.2) onde está inscrita a verba de 30 ducados para pagar aos pintores do mapa de Veneza. Em Murano aparecem 3 assentamentos relativos a pagamentos. Temos um de 28 ducados, de 8-II-1457, e outros dois de 1459 (17 de Março e 24 de Abril), um refere 2 ducados, e o outro afirma que o mapa está pronto. Vejamos agora as princípais características de tão famoso mapa-mundo. As suas dimensões são bastante grandes, com 196 cm de diâmetro, ainda o podemos considerar um T-O, com a forma circular e um oceano a toda a volta, e invulgarmente está ori-entado para Sul, ou seja o topo do mapa corresponde ao Sul, ou ao fim de África, o que David Woodward considera ser influência árabe. Relativamente ao centro temos o Mediterrâneo que está mais ou menos correcto, o que se deverá à influência dos portulanos e das informações de Ptolomeu. Os desenhos da Ásia, embora incorrectos, aparecendo bastante maior do que na realidade (outro dado de Ptolomeu), têm im-portantes legendas e informações de carácter comercial. Estas devem-se aos escritos de Marco Polo, que influenciam bastante o cartógrafo. Assim, aparecem referenciados o Cataio, o Cipango e a Insulíndia descrita por Polo. Na China aparecem os vários «rei-nos» e indicações acerca da Rota da Seda. Outra zona a que Fra Mauro atribui bastante importância é a da costa oriental de África, e o Índico em geral, embora a Índia esteja bastante mal representada. Isto deve-se às fontes que utilizou, as informações dos comerciantes e viajantes árabes. Assim, interessa-se bastante pelo comércio e navegação dos muçulmanos até Sofala. Será este conjunto de informações que o levará a pensar que o Índico não é um mar fechado, e é por isso que representa a África, a Sul, desligada de qualquer continente. Ora, tal facto é bastante importante, pois como o mapa se destinou a Portugal, será bem provável que a ele se tenha devido o plano de atingir a Índia das especiarias através da Costa Ocidental Africana, e não apenas o reino de Preste João. Outro dado importante deste Planisfério é a referência às viagens portuguesas, princípalmente ao Golfo da Guiné. Diz que a exploração daquela zona se deve ao Rei de Portugal, e que recebeu cópias de cartas portuguesas com as novas in-formações geográficas. Tais dados levam Fra Mauro a afirmar, ao contrário de Ptolomeu e outros autores que a navegação e sobrevivência nas zonas tórridas era possivel. Assim se verifica a importância deste Planisfério, pois mostra aspectos da cartografia medieval tradicional, que tenta conjugar com os novos dados da observação e das viagens que os portugueses e outros iam fazendo. João G. Ramalho Fialho Bibliografia ALBUQUERQUE, Luís de, Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses, 4ª Ed., Mem Martins, Europa-América, [s.d.]. CORTESÃO, Armando, Cartografia e Cartógrafos Portugueses dos séculos XV e XVI. (Contribuição para um estudo completo), vol.1, Lisboa, Seara Nova, 1935. IDEM, História da Cartografia Portuguesa, 2 vols., Lisboa, Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar/ 1969-1970. GONÇALVES, Júlio, Motivos Portugueses no Planisfério de Fra-Mauro, Lisboa, Aca-demia das Ciências, 1961. NORDENSKIÖLD, A. E., Periplus. An Essay on the Early History of Charts and Saling-directions, Estocolmo, P. A. Norstodt & Söner, 1897. WOODWARD, David, HARLEY, J. B., The history of Cartography. Volume One. Cartography in Prehistoric Ancient and Medieval Europe and the Mediterranean, Chicago/Londres, The University of Chicago Press, 1987.