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  Vida e obra

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Portugal

Camilo de Almeida Pessanha nasce em Coimbra, na freguesia da Sé Nova, cerca das 23:00 horas do dia 7 de Setembro de 1867, filho de Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira e de Francisco António de Almeida Pessanha (então estudante do 3o ano de Direito) (1).

O jovem Pessanha vive em várias partes do país, alguns anos nos Açores, acompanhando as colocações ou transferências do pai, juiz, de quem viria a seguir as passadas: em 1878, ainda em Lamego, completa a instrução primária; em 1884, já na cidade do Mondego, termina o curso liceal no Liceu Central e ingressa então no Curso de Direito da Universidade de Coimbra.

Ao longo do seu período académico, publica poemas (o primeiro, “Lúbrica”, datado de 1885) e outros escritos (2) em revistas e jornais, como “A Crítica” (Coimbra) ou o “Novo Tempo”, periódico de Mangualde dirigido por Alberto Osório de Castro, colega de curso e grande amigo, irmão da também grande amiga de Pessanha, Ana de Castro Osório (3). Durante estes anos, leva uma vida boémia que em muito terá contribuído para a sua debilidade física, tentando restabelecer energias nas férias, na Quinta de Marmelos, em Mirandela. A sua irmã, Madalena da Paixão Pessanha (4), recorda-o nesses períodos:

“Lembro-me de o ver chegar de Coimbra. Não sei agora se já estava formado ou não. Suponho que nessa altura andava a rondar a casa dos 30. Era bem apessoado. Tinha um ar triste mas era alegre. À noite passava muito tempo junto à lareira. Era onde a família se reunia. Ele deitava-se no chão e recitava versos. Fazia-o tão bem! Por essas alturas escreveu alguns mas logo os rasgava. Parece que os escrevia só para os decorar e depois fazia o papel em pedaços.” (5)

Camilo Pessanha reprova no 4o ano (1887/88), na mesma altura em que faz a acesa crítica ao “romanticismo decadente, pretensioso, mascarado de frases novas” (6) da obra Versos da Mocidade de António Fogaça. Não se matricula em 1888/89, no ano lectivo de 1889/90 encontra-se no 4o ano e recebe a 29 de Julho de 1890 o grau de bacharel. Em Fevereiro do ano seguinte, surgem as revistas rivais coimbrãs “Boémia Nova” e “Os Insubmissos”, divulgando em Portugal as correntes literárias Decadentismo e Simbolismo, cujas ideias o autor acolhe, agregando-se, apesar de casualmente, ao grupo dos Nefelibatas, constituído no Porto por elementos das duas revistas.

Em 1891, termina o curso de Direito e em Outubro do ano seguinte ingressa na magistratura, ocupando o lugar de procurador régio de Mirandela. Dois anos mais tarde, parte como advogado para Óbidos, com o juiz Alberto de Castro Osório. Talvez para “poder ajudar o seu irmão Francisco a formar-se” ou talvez devido a “uma tremenda decepção que a vida profissional inflingiu ao jovem subdelegado” (7), Camilo Pessanha apresenta-se a um concurso para professores no recentemente criado Liceu de Macau (Diário do Governo, 19/08/1893) e é nomeado em 18/12/1893 professor de Filosofia; entre outros nomeados encontramos Horácio Poiares, Mateus de Lima, João Pereira Vasco e, pouco antes, Wenceslau José de Sousa Morais. A 17 de Março de 1894 parte para Macau no barco a vapor espanhol, Santo Domingo.

Notas
(1) A união de natureza ilegítima dos pais, a par da condição de criada da mãe e por oposição à promissora carreira do pai aristocrata, reflectir-se-ia mais tarde em algumas das suas produções literárias, como por exemplo a novela Segundo Amante e o soneto “Madalena”. Vide SPAGGIARI, Barbara, O Simbolismo na Obra de Camilo Pessanha, pp. 20-30, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1982.
(2) poemas e outros escritos:
Outubro de 1885 – Lúbrica;
Abril de 1887 – Madrigal (“Gazeta”, Coimbra);
Agosto de 1887 – publicação do primeiro dos sonetos “Na pasta de Abel Aníbal”, tríptico “Caminho” na Clepsidra;
Setembro de 1887 – Soneto de Gelo (“Gazeta”, Coimbra);
Janeiro de 1888 – publicação de todos os sonetos da trilogia “Na pasta de Abel Aníbal” (“A Crítica” , Coimbra);
Março de 1888 – Crónica da Alta (“A Crítica” , Coimbra);
Dezembro de 1889 - Crónica da Alta (“Novo Tempo”, Mangualde);
Dezembro de 1889 – Interrogação (“Novo Tempo”, Mangualde);
Dezembro de 1889 – publica um poema desconhecido na revista do Porto “O Intermezzo”;
Dezembro de 1889 – Crepuscular (“Novo Tempo”, Mangualde);
Janeiro de 1890 – Estátua (“Novo Tempo”, Mangualde).
(3) Sobre Camilo Pessanha e Ana de Castro Osório sugerimos a leitura do artigo de António Osório "O Segredo de Camilo Pessanha e Ana de Castro Osório", revista Colóquio-Letras, Fundação Calouste Gulbenkian, Nº 155/156, Janeiro-Junho 2000, Lisboa.
(4) Maria do Espírito Santo Duarte Nunes Pereira e Francisco António de Almeida Pessanha tiveram cinco filhos: Camilo Pessanha, Madalena da Purificação (falecida em 1875, com apenas 5 anos), Francisco, Manuel Luís e Madalena da Paixão.
(5) Germano Silva, Jornal de Notícias, 14 de Setembro de 1967 – in Homenagem a Camilo Pessanha, org., prefácio e notas de Daniel Pires, IPOR, Instituto Cultural de Macau, 1990, pág. 88.
(6) in “Crónica da Alta”, publicada n’ “A Crítica”, Ciência, Literatura e Crítica, 1a série, n o 2, Março de 1888, 1a página (Biblioteca Nacional, J. 3578, pág. 241).
(7) António Dias Miguel, Diário Popular, 19 de Outubro de 1967 –  in Homenagem a Camilo Pessanha, org., prefácio e notas de Daniel Pires, IPOR, Instituto Cultural de Macau, 1990, pág. 107.

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Camilo Pessanha
Uma breve apresentação

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