idiomático

N.º 6, Agosto de 2006
Editorial
Português como Língua Não-Materna e Cidadania
O estatuto do PL2 no Sistema Educativo português
Alunos dos PALOP - dificuldades concretas no PE
Ficha técnica
Números publicados
N.º 1 - Abril 2004
N.º 2 - Outubro 2004
N.º 3 - Dezembro 2004
N.º 4 - Abril 2005
N.º 5 - Agosto 2005
N.º 6 - Agosto 2006



Maria Manuel Chitas *

FCSH - Uiversidade Nova de Lisboa
Escola Secundária José Afonso - Loures
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Palavras-chave: Alunos, PALOP, Desvios, Português Europeu


Este relatório tem como objectivo dar conta do trabalho desenvolvido no âmbito do projecto de investigação aplicada subordinado ao tema Alunos dos PALOP - dificuldades concretas no Português Europeu, apresentar uma síntese e os resultados obtidos.

O meu estudo centrou-se em alunos matriculados no 3º Ciclo do Ensino Recorrente por Unidades Capitalizáveis da Escola Secundária José Afonso, Loures. Esta escolha baseou-se no facto de neste ciclo de ensino os alunos parecerem ter, à priori, mais dificuldades no domínio da Língua Portuguesa do que no secundário. A opção por este estabelecimento de ensino em particular impôs-se por ser a escola a cujo quadro pertenço e por ter, consequentemente, uma maior proximidade quer em relação aos alunos quer em relação às estruturas organizativas, o que me facilitou a realização dos inquéritos e a recolha dos testes que constituem o corpus. A preferência pelo ensino nocturno deve-se à minha ligação a este tipo de público, pois a minha actividade docente tem-se desenvolvido principalmente com esta faixa da população escolar. Acresce ainda a estas motivações uma outra de carácter iminentemente pragmático, que num trabalho com a duração de apenas um ano e em que a data do seu término não pode ser prorrogada se afigura decisiva na concretização do mesmo, a saber, a existência em arquivo de trabalhos escritos realizados pelos alunos, os testes referentes às unidades capitalizadas nos anos lectivos anteriores.

Comecei por realizar um inquérito por questionário que teve como objectivo principal, relativamente aos alunos provenientes dos PALOP, indagar acerca da nacionalidade, da língua materna (LM) e do conhecimento de outras línguas. Coloquei também algumas questões sobre a profissão, tanto dos próprios como dos progenitores, e sobre o grau de instrução destes últimos que me permitiram esboçar o enquadramento socio-económico do aluno. Inquiri também sobre a idade, a data de chegada a Portugal, se houve ou não, no percurso escolar, interrupção dos estudos e se frequentaram a escola no ano lectivo anterior.

O questionário apresentado aos alunos lusos, que constituíram o grupo de controlo, incidiu sobre aspectos que possibilitaram o seu enquadramento social e a definição do seu percurso escolar.

Os dados recolhidos permitiram ver se existia ou não alguma afinidade quanto ao meio socio-económico a que maioritariamente pertence cada um dos grupos e tomar conhecimento das diferenças no que respeita ao seu meio linguístico.

Os questionários 1 resultaram de uma versão prévia que foi pré-testada junto de quatro elementos que integram o grupo dos alunos inquiridos e submetida a alterações, tendo em conta as dificuldades encontradas e uma necessidade de maior clareza relativamente a determinadas questões.

Os questionários foram fornecidos por mim aos alunos no acto de matrícula e imediatamente preenchidos e entregues. Prestei alguns esclarecimentos e clarifiquei o conceito de LM para que as respostas dadas fossem tão fiáveis quanto possível. Nos casos em que tive dúvidas relativamente a um ou outro dado e sempre que me foi possível voltar a contactar o aluno fi-lo com o intuito de obter informações que de facto correspondessem à realidade. Inquiri todos os alunos provenientes dos PALOP que se matricularam no 3º Ciclo do Ensino Recorrente por Unidades Capitalizáveis e que se mostraram disponíveis, inclusivé os que realizaram a matrícula na Escola Secundária José Afonso, Loures pela primeira vez, e alunos lusos que escolhi aleatoriamente entre os que já tinham efectuado pelo menos uma matrícula na escola, no referido ciclo de estudos, em anos anteriores.

Seguidamente, procedi ao tratamento dos questionários, o que consistiu basicamente na sistematização da informação neles contida sob a forma de quadros.

Essa informação permitiu-me antes de tudo a identificação dos alunos e a recolha dos testes existentes no arquivo morto da escola, assim como a constituição de sub-grupos dentro do grupo de alunos cuja produção constituiu o corpus em análise (Corpus A) de acordo com a sua proveniência.

Por outro lado possibilitou-me uma análise comparativa, ainda que superficial, da faixa etária e do extracto social a que maioritariamente pertence cada um dos grupos.

Para garantir o anonimato dos alunos, os mesmos foram identificados com um código composto por um número que lhes atribuí arbitrariamente e uma letra que corresponde à(s) inicial/-ais do país a que pertencem, a saber, P para Portugal, A para Angola, G para a Guiné, M para Moçambique e ST para São Tomé.

Procedi seguidamente à caracterização dos dois grupos de alunos através da sistematização dos dados dos inquéritos nos quadros A e B que figuram em anexo.

O grupo constituído pelos alunos dos PALOP contém 17 inquiridos e o dos alunos lusos, 24. Esta disparidade deve-se ao facto de ser necessário poder ter à partida uma certa flexibilidade quanto à constituição do corpus do grupo de controlo (Corpus B), pois um mesmo número de alunos não conduz, nas condições em que fiz a recolha, a uma quantidade idêntica de produção escrita. Por outro lado, dada a heterogeneidade dos alunos lusos que frequentam o ensino recorrente nocturno, achei ser vantajoso diversificar a sua produção.

Seguidamente, recolhi os textos que vieram a constituir o corpus objecto de trabalho, Corpus A, e o de referência, Corpus B. Tanto o Corpus A como o Corpus B resultaram da recolha de testes produzidos pelos alunos em estudo entre os anos lectivos de 1998 -1999 e 2001-2002 (à excepção dos alunos 4A e 5G que se encontravam matriculados pela primeira vez e não realizaram em tempo útil testes de avaliação). Dado a produção dos alunos dos PALOP ser mais escassa coligi mais testes destes relativos aos anos de 1998-1999 e 1999-2000 do que os referentes aos alunos lusos. Recolhi ainda alguns testes de alguns alunos dos PALOP realizados no ano lectivo de 2001-2002, pois não existiam testes da sua autoria no arquivo da escola.

No passo seguinte, estabeleci e organizei os corpora. O Corpus A é constituído por 45 testes da disciplina de Português, 1 de Electricidade e Electrónica, 2 de Ciências do Ambiente, 1 de Ciências Sociais e Formação Cívica e 1 de Administração, Serviços e Comércio, num total de 50 (cerca de 16 800 palavras), produzidos por 14 alunos. Para efeitos de análise o Corpus A foi divido em quatro sub-corpora, de acordo com os países de origem dos alunos. Assim, o sub-corpus A1 compreende a produção dos alunos angolanos, o A2, a dos guineenses , o A3, a dos moçambicanos e o A4, a do são-tomense. O Corpus B é formado por 44 testes da disciplina de Português (também cerca de 16 800 palavras) realizados por 24 alunos. O número de alunos que integra cada um dos grupos difere, porque um dos objectivos foi constituir dois corpora com um número de palavras idêntico, ou seja, ter para análise uma quantidade semelhante de texto produzido por cada um dos grupos. Visto que o número de testes efectuados pelos alunos das Unidades Capitalizáveis depende do ritmo de trabalho individual, a forma que encontrei para atingir o objectivo acima referido foi constituir grupos com um número diferente de elementos. Por outro lado, creio que o alargamento do grupo de alunos lusos possibilitou a recolha de uma produção mais representativa da população portuguesa do 3º ciclo do ensino nocturno da escola em questão e esbater as idiossincrasias da escrita de cada um. Como a quantidade de texto escrito produzido por cada aluno em cada um dos testes também é variável e, em geral, os alunos dos PALOP são mais sintéticos, o número total de testes destes é superior ao dos alunos lusos.

Na digitalização dos textos, mantive-me o mais fiel possível ao original e assinalei as palavras que se apresentaram ilegíveis. Perdeu-se, no entanto, algumas particularidades da mancha gráfica dos manuscritos, nomeadamente o frequente desrespeito pela margem.

Tendo como referência a norma do Português Europeu, procedi ao levantamento e categorização dos desvios que surgem em cada um dos testes constituintes dos corpora, desprezei, porém, as estruturas desviantes que me pareceram

• ser resultado de distracção (por exemplo, na seguinte frase “Se nada fizermos para reduzir essa poluição acaba-se a vida na atmosfera.” (27P/C) em que parece ter sido usado o vocábulo atmosfera em vez de terra.

• acumular vários problemas simultaneamente (como por exemplo em “Mais mesmo assim alegria era grande o pai feliz desse ao filho vou mandar um telegrama, para a familia.” (14A/A)),

• não ser passíveis de uma aproximação à norma sem que tal implicasse a sua completa reescrita (por exemplo, “(...) Foi conversar directamente com o filho uma conversa séria e o conquistou que, nunca deve chorar mesmos com as tristeza das outras. (...)”, (11G/ B)).

Não tive em conta os desvios no que respeita à pontuação, dado estes serem praticamente omnipresentes.

Também não realizei correcções que se relacionassem com os conteúdos específicos das disciplinas testadas e desprezei as questões relativas ao uso de abreviaturas que não são comummente usadas e aceites.

Em casos esporádicos, houve palavras que não foram levantadas e corrigidas, por não ser possível, mesmo no contexto, compreender o que o aluno queria expressar, como por exemplo em “correspondeu com os pais melhor o camarada a suvida” (2A/A).

Categorizei e sistematizei os desvios que apresentei em quadros com a seguinte configuração:

Sistematização e categorização de desvios levantados do  Teste de Português, Unidade 4, realizado em 11/12/2000 pelo aluno 20P

Tipologia do desvio

Palavra / Estrutura levantada

Freq.

Palavra / Estrutura corrigida

Aluno / Teste

A 2

dividas

 

dívidas

20P / A

A

electodomesticos

 

electrodomésticos

20P / A

A

importancia

 

importância

20P / A

A

tem

 

têm

20P / A

O

casa-de-banho

 

casa de banho

20P / A

O

rés do chão

 

rés-do-chão

20P / A

Lex.uso

Sobre os móveis têm fotografias e recordações de viagens

 

Sobre os móveis há fotografias e recordações de viagens

20P / A

Scontr.prep-det

o facto da mãe andar muito atarefada

 

o facto de a mãe andar muito atarefada

20P / A

No cabeçalho surge a identificação do aluno (20P) e do teste (Teste de Português, Unidade 4) assim como a data em que este foi realizado. Esta informação é repetida de forma sintética na coluna Aluno / Teste (20P / A). Este “código” irá permitir, quando da compilação de todos os desvios e da sua organização por ordem alfabética, encontrar a palavra ou estrutura no seu contexto de origem, ou seja, no teste de onde foi levantada. Na coluna da esquerda, sob Tipologia do desvio, surgem iniciais / abreviaturas que categorizam os desvios em análise e que são apresentados na coluna imediatamente à direita sob Palavra / Estrutura levantada e corrigidos na coluna Palavra / Estrutura corrigida . Temos ainda a coluna Freq. (Frequência) que só se encontra preenchida quando a ocorrência dessa palavra ou estrutura é superior a 1.

O levantamento e categorização dos desvios foram, numa primeira fase, feitos teste a teste. Logo a cada teste corresponde um quadro.

A informação contida na totalidade dos quadros resultantes do corpus A produzido pelos alunos dos PALOP foi compilada em quatro grandes quadros de acordo com os sub-corpora em que aquele se encontra dividido. Relativamente aos alunos lusos agrupei os desvios levantados num quadro único. Por falta de tempo, optei por não tratar as questões relativas à ortografia e à acentuação.

Nos quadros que se seguem apresento a sistematização dos resultados quantitativos obtidos relativamente aos dois corpora.

Nos Quadros 1 a 5, surge, por ordem decrescente de frequência, a contabilização dos desvios levantados dos testes.

Os Quadros 1, 2, 3 e 4 são relativos ao corpus A, isto é, aos alunos angolanos, guineenses, moçambicanos e são-tomense, respectivamente. O Quadro 5 sintetiza os resultados apurados para o corpus B, constituído pelos testes produzidos pelos alunos lusos.

Quadro 1

Contabilização dos desvios levantados do sub-corpus A1

Tipologia do desvio

Frequência absoluta

Frequência relativa

Sdet

60

16,1%

Sprep

45

12,1%

Sconc. det-N

44

11,8%

Sconect

27

7,3%

Sconc. adj-N

26

7,0%

Sconc.Suj-Pre

25

6,7%

StempV

20

5,4%

S-Sem Nsing vs Npl

19

5,1%

Lex.uso

18

4,8%

Spron

14

3,8%

Sconc.Suj-Predi

12

3,2%

Scol. pron-clítico

11

3,0%

Scategoria-compl

9

2,4%

Lex.uso/S-Semdupl

4

1,1%

Sconc. pron-ant

4

1,1%

SomiPred

4

1,1%

SomiSuj

3

0,8%

Mcontr. prep-det

2

0,5%

S é...que

2

0,5%

Sadv (loc.)

2

0,5%

Sconc. Suj-PPpassiva

2

0,5%

Scoord

2

0,5%

StempV/SpessSuj

2

0,5%

Econect

1

0,3%

Lex.uso/Scategoria-compl

1

0,3%

M/Scontr.prep

1

0,3%

Madv

1

0,3%

MplNcomp

1

0,3%

MV(não)-reflexivo

1

0,3%

Salt. suj

1

0,3%

Scol. Suj

1

0,3%

SformaVact/pass/StempV

1

0,3%

Somicompl.

1

0,3%

SpessSuj

1

0,3%

Sprep (conj. valor prep)

1

0,3%

Sprep / Sdet

1

0,3%

Sprep / SordS

1

0,3%

StempV / Sconc.Suj-Pre

1

0,3%

TOTAL

372

100,0%



Quadro 2

Contabilização dos desvios levantados do sub-corpus A2

Tipologia do desvio

Frequência absoluta

Frequência relativa

Sdet

71

23,9%

Sprep

33

11,1%

Lex.uso

23

7,7%

Sconect

20

6,7%

StempV

20

6,7%

Sconc. det-N

16

5,4%

Sconc.Suj-Pre

16

5,4%

Sconc. adj-N

13

4,4%

S-Sem Nsing vs Npl

11

3,7%

MV(não-)reflexivo

9

3,0%

Scol. pron-clítico

9

3,0%

Sconc.Suj-Predi

9

3,0%

Spron.

7

2,4%

Sconc. pron-ant

5

1,7%

SomiSuj

5

1,7%

Lex.uso/S-Semdupl

3

1,0%

Mcontr. prep-det

3

1,0%

Scategoria-compl

3

1,0%

Sconc.Suj-PPpassiva

3

1,0%

Madv

2

0,7%

Mpron.género

2

0,7%

Sprep / Sdet

2

0,7%

M N género

1

0,3%

Mpron

1

0,3%

Prag altern tu / você

1

0,3%

Scontr.prep-det

1

0,3%

Scoord

1

0,3%

Sdupl. compl.

1

0,3%

Sdupl. compl.dir

1

0,3%

Somicompl.

1

0,3%

SomiV

1

0,3%

SordS

1

0,3%

Sprep (conj. valor prep)

1

0,3%

StempV/Prag altern tu/você

1

0,3%

TOTAL

297

100,0%



Quadro 3

Contabilização dos desvios levantados do sub-corpus A3

Tipologia do desvio

Frequência absoluta

Frequência relativa

Sdet

11

57,9%

Sconc.Suj-Pre

2

10,5%

Sconc.Suj-Predi

2

10,5%

Madv

1

5,3%

Sconect

1

5,3%

Sdet/Sprep

1

5,3%

SomiPred

1

5,3%

TOTAL

19

100,0%



Quadro 4

Contabilização dos desvios levantados do sub-corpus A4

Tipologia do desvio

Frequência absoluta

Frequência relativa

Sconc.Suj-Pre

3

27,3%

Sdet

2

18,2%

Lex.uso/S-Semdupl

1

9,1%

Scol. pron-clítico

1

9,1%

Sconc.pron-ant

1

9,1%

Scontr.prep-pron

1

9,1%

Somi argumento

1

9,1%

Sprep

1

9,1%

TOTAL

11

100,0%



Quadro 5

Análise comparativa dos desvios levantados

Tipologia do desvio

Corpus A

Corpus B

 

Sub-corpus A1

Sub-corpus A2

 

Sdet

16,1%

23,9%

11,9%

Sprep

12,1%

11,1%

19,1%

Sconc. det-N

11,8%

5,4%

2,5%

Sconect

7,3%

6,7%

10,8%

Sconc. adj-N

7,0%

4,4%

1,4%

Sconc.Suj-Pre

6,7%

5,4%

10,8%

StempV

5,4%

6,7%

4,7%

S-Sem Nsing vs Npl

5,1%

3,7%

0,7%

Lex.uso

4,8%

7,7%

7,6%

Spron

3,8%

2,4%

2,9%

Sconc.Suj-Predi

3,2%

3,0%

0,7%

Scol. pron-clítico

3,0%

3,0%

2,2%

MV(não-)reflexivo

0,3%

3,0%

0,7%

TOTAL

86,6%

86,4%

76,0%


Os testes realizados pelos alunos oriundos de Moçambique e de São Tomé e consequentemente os desvios não são, a meu ver, em número suficiente para se poder tirar conclusões pelo que apenas me pronunciarei sobre estes de forma sumária.

Quanto aos restantes resultados analisei comparativamente não só os dos corpora A e B como também olhei para as semelhanças e diferenças entre o sub-corpus A1 e o A2, mas limitei-me aos desvios cuja frequência nestes dois sub-corpora é igual ou superior a 2,5%.

O aspecto que imediatamente se destaca respeita à quantidade de desvios levantados em cada corpus para um número total de palavras idêntico (cerca de 16 800), 691 para o corpus A e 278 para o B.

Se considerarmos apenas os desvios cuja frequência relativa é igual ou superior a 2,5% no sub-corpus A1 ou no A2, obtemos o seguinte quadro:

Quadro 6

Contabilização dos desvios levantados do sub-corpus A4

Tipologia do desvio

Frequência absoluta

Frequência relativa

Sconc.Suj-Pre

3

27,3%

Sdet

2

18,2%

Lex.uso/S-Semdupl

1

9,1%

Scol. pron-clítico

1

9,1%

Sconc.pron-ant

1

9,1%

Scontr.prep-pron

1

9,1%

Somi argumento

1

9,1%

Sprep

1

9,1%

TOTAL

11

100,0%


É de sublinhar que todos os tipos de desvios encontrados nos sub-corpora A1 e A2 com frequência igual ou superior a 2,5% também ocorrem no corpus B.

Se destacarmos os desvios cuja frequência relativa é quer no sub-corpus A1 quer no A2 pelo menos o dobro da do corpus B, obtemos a seguinte listagem:

Quadro 7

Análise comparativa dos desvios levantados

Tipologia do desvio

Corpus A

Corpus B

 

Sub-corpus A1

Sub-corpus A2

 

Sconc. det-N

11,8%

5,4%

2,5%

Sconc. adj-N

7,0%

4,4%

1,4%

Sconc.Suj-Predi

3,2%

3,0%

0,7%

S-Sem Nsing vs Npl

5,1%

3,7%

0,7%

TOTAL

27,1%

16,5%

5,3%


Verifica-se claramente que no uso da norma do Português Europeu a sintaxe da concordância entre o determinante, o nome e o adjectivo constitui uma das áreas problemáticas para os alunos guineenses e ainda mais para os angolanos, mas não tanto para os lusos.

Também a concordância do predicativo com o sujeito surge como uma dificuldade para os alunos dos PALOP.

É ainda de realçar que o uso do nome no singular ou o seu plural, em determinados contextos, não constitui um obstáculo significativo para os alunos lusos, mas afigura-se como uma questão que os alunos dos PALOP estão longe de dominar, sobretudo os angolanos.

Isolei no quadro que se segue o desvio catalogado com MV (não-)reflexivo por haver uma grande discrepância nas frequências relativas registadas nos sub-corpora A1 e A2 para este item. O uso dos verbos reflexivos constitui uma dificuldade para os alunos guineenses.

Quadro 8

Análise comparativa dos desvios levantados

Tipologia do desvio

Corpus A

Corpus B

 

Sub-corpus A1

Sub-corpus A2

 

MV(não-)reflexivo

0,3%

3,0%

0,7%

TOTAL

0,3%

3,0%

0,7%


O Quadro 9 resulta do Quadro 6 depois da extracção dos desvios que constam dos Quadros 7 e 8.

Quadro 9

Análise comparativa dos desvios levantados

Tipologia do desvio

Corpus A

Corpus B

 

Sub-corpus A1

Sub-corpus A2

 

Sdet

16,1%

23,9%

11,9%

Sprep

12,1%

11,1%

19,1%

Sconect

7,3%

6,7%

10,8%

Sconc.Suj-Pre

6,7%

5,4%

10,8%

StempV

5,4%

6,7%

4,7%

Lex.uso

4,8%

7,7%

7,6%

Spron

3,8%

2,4%

2,9%

Scol. pron-clítico

3,0%

3,0%

2,2%

TOTAL

59,2%

66,9%

70,0%


Verifica-se que algumas áreas da Língua Portuguesa põem problemas tanto aos alunos lusos como aos angolanos ou aos guineenses.

O uso do determinante (Sdet) é o ponto da gramática que se afigura mais difícil, sobretudo para os alunos guineenses representando 23,9% do total dos desvios levantados. Para os alunos angolanos esse desvio é 16,1% do total. É de realçar que também para os alunos lusos é significativa a percentagem de desvios integrados nesta tipologia, 11,9%. Logo a seguir surge a sintaxe da preposição (Sprep) com 12,1% e 11,1% para os angolanos e guineenses respectivamente e 19,1% para os lusos. Este tipo de desvio assim como a sintaxe do conector (Sconect) e a concordância entre o sujeito e o predicado (Sconc.Suj-Pre) são áreas que apresentam frequências mais elevadas no corpus B. A sintaxe dos tempos verbais (StempV), do pronome (Spron) e da colocação do pronome clítico (Scol. pron-clítico) e o uso do léxico (Lex. uso) são segundo os dados do quadro em análise campos que também se apresentam como problemáticos.

Dado a reduzida dimensão dos sub-corpora A3 e A4 , parece-me só ser pertinente falar dos resultados quanto à tendência geral que se desenha. Desse ponto de vista verifica-se que os desvios cuja frequência se afigura relevante, a saber, Sdet (57,9% em A3 e 18,2% em A4) e Sconc.Suj-Pre (10,5% em A3 e 27,3% em A4) e ainda Sconc.Suj-Predi (10,5% em A3) se integram no conjunto dos mais frequentes levantados para os outros dois sub-corpora.

Tendo em conta a sumária caracterização sociológica dos dois grupos, alunos dos PALOP e alunos lusos, verifiquei que os alunos dos PALOP são em média mais jovens, interromperam os estudos durante um menor período de tempo e provêm de famílias com um nível de escolarização mais elevado do que os alunos lusos. Posso, por isso, afirmar que o que mais pesa no maior afastamento da sua produção escrita relativamente à norma do Português Europeu será a influência de uma outra língua (o quimbundo no caso dos alunos angolanos e o crioulo no dos guineenses) e das características do Português falado nos países de onde são originários.

Como já frisei, todos os desvios que ocorrem com uma maior frequência no corpus A também surgem no corpus B.

Penso que os resultados mostram claramente quais deverão ser as áreas prioritárias de trabalho para os alunos em causa.

Embora os desvios relativos à ortografia e à acentuação não tenham sido analisados, tal não significa que não surgem como quantitativamente relevantes nos corpora em causa, logo também devem ser encarados como áreas a considerar na elaboração de materiais didácticos.

Realço ainda alguns aspectos que dizem respeito às convenções do registo escrito e que não são visíveis ou se esbateram na versão dactilografada dos testes, mas que são básicos e funtamentais e que a maioria dos alunos não tem interiorizados, a saber,

• o respeito pelas margens;
• a marcação de parágrafo;
• o uso das maiúsculas;
• as regras de translineação;
• o uso correcto dos sinais de pontuação.

Um dos objectivos da escolarização é conduzir os alunos no sentido de um domínio cada vez mais exímio da escrita, o que terá que passar obrigatoriamente pelo exercício da mesma. Sendo a escola, comummente considerada o local privilegiado na construção desse caminho e os testes de avaliação um dos documentos escritos que surgem no culminar das diferentes fases desse percurso, é imprescindível que neles se defenda e exija o respeito pelas regras básicas do registo escrito (em suporte de papel) e o uso do nível de língua adequado à situação de comunicação.

O teste, embora instrumento de avaliação, constitui-se como um tipo de texto característico do contexto escolar e deverá, por isso, ser objecto de estudo na disciplina de português tal como a carta, a acta ou o relatório.

Outra importante área de trabalho será a do léxico. Como ficou dito anteriormente, não fiz por razões de ordem prática um estudo estatístico dos vocábulos que ocorrem nos corpora. É porém evidente da leitura dos textos que o conhecimento que os alunos têm do léxico é reduzido.

Penso, de acordo com Zimmerman (1997), que o vocabulário “is central to language and of critical importance to the typical language learner” e “Nevertheless, the teaching and learning of vocabulary have been undervalued in the field of second language acquisition”, por isso tenciono desenvolver este trabalho nesse sentido e elaborar materiais que tenham como objectivo o alargamento e consolidação do vocabulário e por essa via intervir em áreas da gramática que se revelaram problemáticas.



* Maria Manuel Chitas frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde obteve uma licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português-Francês, e um mestrado em Linguística Portuguesa Descritiva. Actualmente é professora de Português e de Francês do 3º Ciclo e do Secundário na Escola José Afonso, Loures e encontra-se a realizar, na FCSH da Universidade Nova de Lisboa, uma pós-graduação em Ensino do PL2 e LE, área pela qual sempre se interessou e em que tem vindo a leccionar desde 1987 quer em Portugal quer no estrangeiro. No presente ano lectivo, está a desenvolver, no âmbito de uma Equiparação a Bolseira, um projecto de Investigação Aplicada subordinado ao tema Aquisição de vocabulário em PL2.


Notas

1 Encontram-se em anexo exemplares dos questionários.

2 As abreviaturas usadas na categorição dos desvios encontram-se especificadas em anexo no Quadro C. A categorização utilizada teve como principal objectivo ser minuciosa utiliza, mas é certamente discutível.


Referências Bibliográficas


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