A PRONÚNCIA DO PORTUGUÊS EUROPEU

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Sândi Externo ou o Encontro de Palavras

Sāndi Externo ou o Encontro de Palavras

 

Denomina-se sândi um fenómeno de fonética sintáctica que ocorre quando uma vogal ou uma consoante, inicial ou final de sílaba, se encontra em determinado contexto. O sândi externo resulta do encontro entre dois segmentos separados por uma fronteira de palavra e depende das características das vogais e/ou das consoantes que entram em contacto.

Quando a palavra termina por ou e a palavra seguinte começa pela mesma consoante, ou quando termina por e a palavra seguinte se inicia pela outra vibrante, , a consoante final e a consoante inicial fundem-se normalmente numa única, mesmo em fala pausada.

 
 
vamos jantar
faz chegar
queres jogar
por regra
 

Em queres jogar a vogal final de queres é suprimida.

Se a consoante ficar em final de palavra por supressão da vogal final , dá-se a mesma simplificação.

 
 
bebe bem
disse sim
 

Quando se trata de duas sílabas seguidas, iniciadas pela mesma consoante e separadas, apenas, por uma vogal átona ( ou [u]) pode dar-se a simplificação das duas sílabas. Esta simplificação de sílabas denomina-se ‘haplologia’.

 
 
Campo Pequeno
Por amor de Deus
Faculdade de Letras
 

No que respeita ao encontro das vogais átonas finais de palavra (, e [u]) e as iniciais da palavra seguinte, podem ocorrer diferentes realizações. De um modo geral, a átona final é suprimida, ressilabificando-se a sequência das duas palavras – ou seja, as duas sílabas em contacto simplificam-se numa única. Nos exemplos, esta ressilabificação está sublinhada.

 

Vogal Final

 
 
gosta da amiga
começa a atrasar
vem para almoçar
vem da aldeia
a rapariga honesta
 

Vogal Final

 
 
disse à mãe
cheque à vista
deve abrir
 

 
 
parte homem
celeste olhar
grande urso
 

 
 
grande épico
disse hermético
disse imigrar
 

Note-se que a vogal átona que se segue a /s/ em disse imigrar, e que é suprimida, impede que a fricativa se realize como [z] como, por exemplo, em quis imigrar .

Quando uma forma verbal terminada em é seguida por um pronome átono [u] ou , a vogal final do verbo semivocaliza.

 
 
disse-o
  disse o pai
     
beije-o
  beije o menino
     
sabe-a
  sabe a lição
     
passe-a
  passe a camisa
 

A diferença de realização da vogal final entre as formas seguidas de pronome átono e as seguidas de artigo é consequência de os pronomes formarem, com as formas dos verbos, uma palavra prosódica, enquanto os artigos formam uma palavra prosódica com os nomes que se lhes seguem.

 

Vogal final [u]

 
 
salto alto
quarto acto
 

 
 
muito homem
muito obrigado
 

 
 
salto esta
salto este
salto isto
 

Se a frase se estender para além das palavras em sândi, e se essa extensão contiver o acento de frase, a sequência [u-E] pode realizar-se com supressão do [u]:

 

 
 
mato esta mosca
 

Quando a vogal precede a nasal realiza-se uma vogal nasal baixa, [ã], diferente das vogais nasais da norma-padrão.

 
 
a casa antiga
pela ambição
 

Nas poucas palavras terminadas em [i] e seguidas de outra iniciada por vogal, o [i] semivocaliza e realiza-se como [j].

 
 
táxi amarelo
júri aberto
 

Nas palavras gramaticais monossilábicas terminadas em (que, de, se) esta vogal normalmente semivocaliza se for seguida de outra palavra começada por vogal (no caso de que a semivocalização é considerada a pronúncia correcta na norma-padrão).

 
 
melhor que a Maria
antes de eu falar
se eu quiser
 

Os numerais têm algumas particularidades de pronúncia com respeito à vogal final átona. Onze, doze, treze, catorze, quinze e vinte têm semivocalização de final quando a palavra seguinte começa por vogal, qualquer que ela seja.

 
 
onze horas
doze horas
treze amigos
catorze euros
quinze euros
vinte horas
 

Note-se que uma sequência como três amigos distingue-se de treze amigos precisamente pela diferença na realização da sílaba final: três amigos vs. treze amigos .

A semivocalização não se verifica muitas vezes nos numerais sete, nove, dezassete, dezanove

 
 
sete horas
nove abelhas
dezassete horas
dezanove horas
 

 

Leituras complementares

Andrade, Ernesto d’ e Viana, Maria do Céu. (1992). Que horas são às (1)3 e 15?. Actas do 8º Encontro da Associação Portuguesa de Linguística. Lisboa.

Mateus, Maria Helena Mira e Andrade, Ernesto d’ (2000) The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press: 144-148.

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