A PRONÚNCIA DO PORTUGUÊS EUROPEU

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Características Fonéticas do Português Europeu VS Português Brasileiro
O Acento de Palavra no Português
A Sílaba no Português Europeu
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A Importância da Prosódia
O Acento de Palavra no Português
O Acento nos Nomes e Adjectivos
O Acento nos Verbos
Acentos Secundários

O Acento de Palavra no Português

O Acento nos Nomes e nos Adjectivos

 

Fonética e Fonologia

O que chamamos ‘acento’ numa palavra ou frase resulta da intensidade de uma vogal que, em determinado ponto da sequência, apresenta valores relativamente mais elevados e marca uma sílaba mais “forte” ou proeminente na palavra. A intensidade de que o falante tem percepção é uma propriedade física inerente aos sons e está relacionada com a amplitude da onda sonora: quanto maior for a amplitude de vibração das partículas, maior é a quantidade de energia transportada por estas e maior é a sensação auditiva de intensidade do som.

Dado que o acento envolve toda a palavra – porque ao incidir numa sílaba tem consequências nas outras que não são acentuadas – e dado que ele contribui para o ritmo de uma língua marcando as sílabas acentuadas e os espaços entre elas, o acento é estudado na prosódia, tal como a entoação e a duração dos sons.

 

O acento nos Nomes e Adjectivos

A gramática tradicional classifica as palavras do Português, relativamente ao acento tónico, com base na sílaba em que incide o acento no nível fonético: ‘agudas’ ou ‘oxítonas’ quando a sílaba tónica está em último lugar (como papel , romã , calhau , café ou herói ), ‘graves’ ou ‘paroxítonas’ quando se encontra em penúltimo (como casa ou casinha ) e ‘esdrúxulas’ ou ‘proparoxítonas’ quando se encontra em antepenúltimo lugar (como dúvida ). Existe, porém, uma regularidade de incidência do acento tónico em Português que relaciona a sílaba em que ele ocorre com a estrutura morfológica das palavras, e mostra que as palavras agudas e graves se incluem no mesmo grupo, sendo as esdrúxulas as únicas excepções ao lugar da sílaba tónica do Português. Essa regularidade é a da ocorrência do acento tónico na última vogal do radical das palavras da língua portuguesa.

Na verdade, se considerarmos que uma palavra é constituída por um radical seguido, ou não, de sufixos, verificamos que na palavra casa, por exemplo, uma parte é comum a outras da mesma família (casinha, casota, casebre etc.). Essa parte comum é o radical, e as partes diferentes são os sufixos. Estes podem formar derivados (cas-inha) ou podem simplesmente marcar o grupo a que pertence a palavra (cas-a). Os nomes e adjectivos que têm estes ‘marcadores’ dividem-se em três grupos, em Português: os terminados em –a (como casa), os terminados em –o (como quadro) e os terminados em –e (como fome). A separação entre o radical e os sufixos ‘marcadores’ representa-se com o sinal [+]

Vejamos agora as palavras de (1-2) que, tradicionalmente, são denominadas palavras ‘graves’. Se utilizarmos o sinal [+] para separarmos o radical do sufixo marcador, vemos que o acento incide na última vogal do radical embora, no nível fonético seja a penúltima da palavra (nos exemplos, a sílaba acentuada está precedida do diacrítico ['] embora este diacrítico não faça parte da ortografia das palavras).

 
 
1) 'cas+a 2) ca'sinh+a
  fanta'si+a   fantasi'os+o
  'leit+e   leita'ri+a
  'caix+a   cai'xot+e
  'lind+o   lin'dez+a
 

Os nomes leite e caixa têm o acento na última vogal do radical que, com a semivogal que se lhe segue, constitui um ditongo (respectivamente, e [aj]). O acento tónico incide, portanto, na última vogal do radical.

Além destas, também as palavras de (3-7), consideradas tradicionalmente ‘agudas’, têm o acento na última vogal do radical que é, igualmente, a última da palavra no nível fonético.

 
 
3) pa'pel 4) ro'mã 5) ca'lhau
  lu'gar   jar'dim   ju'deu
  alti'vez   a'tum   la'drão
  portu'guês   bom'bom      
        cangu'ru      
6) ca'fé 7) he'rói      
  a'vó   cara'cóis      
  pa'pá   cha'péu      
  'baú   pa'péis      
 

Nas palavras destes grupos, o radical não está seguido do sufixo ‘marcador’ As palavras de (6) (terminadas em <á>, <é>, <ó> <aú>) e as de (7) (terminadas nos ditongos <ói>, <éu> e <éis>) têm acento gráfico na vogal tónica.

As palavras do grupo (8), tradicionalmente ‘esdrúxulas’, são a excepção, por razões históricas, à regularidade indicada, pois têm o acento na penúltima vogal do radical. Dado o seu carácter excepcional, essas palavras têm acento gráfico na vogal tónica. Vejam-se os exemplos de (8).

 
 
8) dúvida
  ágape
  aeródromo
  bígamo
  catástrofe
  catastrófico
  cáfila
  etíope
  hipódromo
  lindíssimo
  ovíparo
  ómega
  público
  zéfiro
 

Existe ainda um outro grupo de excepções, também historicamente motivadas, que não têm sufixo ‘marcador’ e são acentuadas na penúltima vogal do radical. Nestas palavras a sílaba tónica está igualmente marcada por um acento gráfico. Veja-se (9).

 
 
9) órfão
  açúcar
  automóvel
  lápis
  fútil
  frágil
 

Algumas palavras que poderiam ser incluídas no grupo (8) têm pronúncia variável: a sílaba tónica é a penúltima do radical (a) ou a última (b)

 
 
9) rúbrica b) ru'brica
  boémia   boe'mia
  logótipo   logo'tipo
  hieróglifo   hiero'glifo
  túlipa   tu'lipa
 

Pode-se concluir, portanto, que em Português o acento está relacionado com a estrutura morfológica das palavras e que a vogal tónica nas palavras regulares é a vogal que está incluída na última sílaba do radical. Nas excepções à acentuação regular, que têm causas históricas, a vogal tónica está incluída na penúltima sílaba do radical.

 
 
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