Autores e antologia

Eça de Queirós

Eça de Queirós
Eça de Queirós (1845-1900) É considerado o grande romancista da literatura portuguesa, quer pela sua amplidão temática (dominada pela crítica da sociedade contemporânea e pelos desmandos do amor sensual, ex. O Crime do Padre Amaro, 1875, e O Primo Basílio, 1878), quer pela capacidade narrativa (manifestada na orgânica realista e decadente de Os Maias, 1888), quer pelo rigor e criatividade do seu estilo impressionista (que culmina na prosa animista de A Cidade e as Serras, 1901). Por toda a parte a água sussurrante, a água fecundante... Espertos regatinhos fugiam, rindo com os seixos; grossos ribeiros açodados saltavam com fragor de pedra em pedra; fios direitos e luzidios como cordas de prata vibravam e faiscavam das alturas dos barrancos; e muita fonte, posta à beira de veredas, jorrava por uma bica, beneficamente, à espera dos homens e dos gados... A Cidade e as Serras Lisboa. Café "A Brasileira" © Instituto Camões, 2001

David Mourão-Ferreira

David Mourão-Ferreira
David Mourão-Ferreira (1927-1996) Professor da Faculdade de Letras de Lisboa, deixou uma obra importante no domínio da crítica e da teoria literária (Hospital das Letras, 1966, Lâmpadas no Escuro, 1979) e demonstrou domínio notável na arte do conto (Os Amantes e Outros Contos, 1968), escrevendo um romance de êxito assinalável (Um Amor Feliz, 1986).Mas é na poesia que o seu talento se desenvolve com incomparável mestria composicional (A Secreta Viagem, 1950), aliando a experiência do sentimento (do tempo, do amor, da escrita, da cidade, da paisagem) ao virtuosismo da sua expressão poética, em obras como Os Ramos os Remos, 1985, ou Música de Cama, 1994. «Sombra»Antes de sermos fomos uma sombraDepois de termos sido     que nos restaÉ de longe que a vida nos apontaÉ de perto que a morte nos aperta Os Ramos Os Remos Quantas mãos     Quantos dedospara que em seda cedamas paredes Entre a Sombra e o Corpo, 1980 © Instituto Camões, 2001

Carlos de Oliveira

Carlos de Oliveira
Carlos de Oliveira (1921-1981) É um dos grandes poetas deste século, combinando a preocupação de intervenção social (neorrealismo) com a reflexão sobre a escrita no próprio processo da sua produção, o que confere à sua obra grande densidade e agudeza nos efeitos diversificados da sua leitura (Mãe Pobre, 1945, Entre Duas Memórias, 1971).O mesmo se pode dizer em relação aos seus romances, nos quais se deteta uma evolução da problemática neorrealista mais pura (Casa na Duna, 1943) até à sua elaboração através da sobriedade do sentimento e do protesto (Uma Abelha na Chuva, 1953), culminando na complexidade de Finisterra (1978), composto a partir de mecanismos de repetição ficcional e de decalque temático e descritivo, que emerge na fronteira da oscilação da modernidade na nossa história literária. Aço na forja dos dicionáriosas palavras são feitas de aspereza:o primeiro vestígio da belezaé a cólera dos versos necessários. Mãe Pobre seguindo o fioda tintaque desenhaas palavrase tentafugir ao tumultoem que as raízesgrassam,engrossam, embaraçama escritae o escritor: Micropaisagem, 1969 © Instituto Camões, 2001

Cesário Verde

Cesário Verde
Cesário Verde (1855-1886) Teve morte prematura, mas deixou-nos uma obra ( O Livro de Cesário Verde, 1887) onde emerge de maneira original o sentimento da modernidade oitocentista, ao modo de Baudelaire e dos parnasianos, patente na expressão lírica acompanhada da crítica poética dos seus exageros sentimentais e dos lugares comuns da sua retórica, tendo como objetivo detetar a poesia da matéria banal e comum, e assentando numa elaboração formal cuidada e cheia de inovações. Hoje eu sei quanto custam a criarAs cepas, desde que eu as podo e empo.A! O campo não é um passatempocom bucolismos, rouxinóis, luar. «Nós» E agora, de tal modo a minha vida é dura,Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos,Que sinto só desdém pela literatura,E até desprezo e esqueço os meus amados versos! «Nós» © Instituto Camões, 2001

Camilo Pessanha

Camilo Pessanha
Camilo Pessanha (1867-1926) Camilo Pessanha (postal, 1915) Conjuga, na sua poesia, as sensibilidades simbolista e modernista, através do anseio por ideais inalcançáveis e a sugestão de ambientes indefiníveis, expressos em musicalidade cuidada, por um lado, e, por outro, acentuando a materialidade da escrita com uma finalidade em si própria e praticando a fragmentação do discurso e a comunicação por planos intervalares e de referência objetiva parcial.Na Clepsidra (1920), estes processos asseguram a temática do escoamento do tempo que absorve a identidade, incidindo na simbologia da paisagem e das águas como modo nominal de fixar a mudança e de exorcizar a melancolia. Macau, pintura de Pedro Barreto de Resende no Livro das Plantas de Todas as Fortalezas do Estado da Índia Oriental de António Bocarro (1635). Biblioteca Pública de Évora Passou o Outono já, já torna o frio...- Outono de seu riso magoado.Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...- O sol, e as águas límpidas do rio.Águas claras do rio! Águas do rio,Fugindo sob o meu olhar cansado,Para onde me levais meu vão cuidado?Aonde vais, meu coração vazio? © Instituto Camões, 2001