Fonética e Fonologia
Se a fonética descreve as propriedades articulatórias e físicas de todos os sons que ocorrem na produção linguística, a fonologia estuda os sons que têm uma função na língua e que permitem aos falantes distinguir significados – os fonemas da língua – e analisa a sua organização em sistema.
A Fonologia
Um som é entendido como um fonema da língua quando, ao ser substituído por outro numa palavra, provoca uma alteração de significado. As vogais e consoantes que estão incluídas nos Quadro 1 e 2 são fonemas no Português Europeu. Assim, nas palavras bela e bala , as vogais abertas e [a] correspondem a fonemas do português porque a substituição de uma por outra na mesma sequência cria palavras com diferente significado. Da mesma forma, podemos identificar as consoantes oclusivas, fricativas, as nasais e as líquidas por comparações entre palavras. Vejam-se os seguintes exemplos (convencionalmente, os fonemas de uma língua apresentam-se entre barras [//]): |
A identificação dos fonemas de uma língua faz-se, assim, por comparação entre palavras que se encontram ‘em oposição distintiva’ porque, ao diferirem apenas num som, diferem também no significado. Pelo facto de os fonemas serem elementos fonológicos que distinguem palavras denominam-se unidades distintivas. Os pares de palavras que servem para determinar estas unidades são os pares mínimos. Utilizando este método, podemos identificar os fonemas de uma língua.
A partir da identificação dos fonemas (que são, do ponto de vista fonológico, elementos abstractos com correspondência no conhecimento intuitivo e mental dos falantes), a fonologia procura determinar quais as alterações que eles manifestam no nível da pronúncia da língua em consequência de vários factores (por exemplo, o contexto de vogais ou consoantes em que estão integrados, a posição na sílaba ou na palavra, a relação com a entoação). No nível fonético, as realizações dos fonemas denominam-se fones.
No Português Europeu, por exemplo, a consoante lateral /l/ em início e em fim de palavra e de sílaba tem diferentes pronúncias: no início, como em lata ou pala, a pronúncia da consoante corresponde à descrição das laterais (língua baixa com a ponta tocando os alvéolos e o ar saindo pelos lados), enquanto no fim de palavra ou de sílaba, como em mal ou malta, a sua pronúncia implica que a parte posterior do corpo da língua se levante em direcção ao véu palatino, razão por que esta lateral se chama l velarizado, representando-se como (entre parênteses rectos porque se trata de um fone do nível fonético).
Estas variações de pronúncia denominam-se variações combinatórias porque no início de palavra (ou de sílaba) temos sempre a pronúncia com o dorso da língua baixo, e no fim de palavra (ou de sílaba) temos sempre a elevação posterior do dorso da língua.
Leituras Complementares
Callou, Dinah e Leite, Yonne (1990) Iniciação à fonética e à fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Laver, J. (1994) Principles of Phonetics. Cambridge: University Press.
Mateus, Maria Helena Mira, Falé, Isabel e Freitas, Maria João (2005) Fonética e Fonologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta. Parte I. |