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Teatro

  

Cantigas de Amigo

 


Fragmento de canções do rei D. Dinis, descoberto pelo Prof. Harvey L. Sharrer. IAN/Torre do Tombo.

Constituem a variedade mais importante e original da nossa produção lírica da Idade Média, estas composições que se enquadram na poesia trovadoresca, mas que incluem a particularidade de conferirem estatuto de enunciação à mulher, embora sejam sujeitos masculinos a compô-las.



Um tipo peculiar de cantigas de amigo é o das paralelísticas, que aliam uma simplicidade de motivos e recursos semânticos ao elaborado arranjo da sua expressão, através de um esquema de repetitividade que enriquece o sentido pelo tom de litania e sugestão encantatória, muitas vezes magoada, perplexa ou interrogativa, que cria. Típicas da poesia galaico-portuguesa, encontram-se também nas cantigas de amor e noutras variedades poéticas medievais, persistindo até muito tarde na literatura medieval. O rei D. Dinis é um dos seus mais famosos cultores:

Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?

(...)                                                             

D. Dinis

 

João Zorro,
poeta do mar como Martim Codax, é autor de uma barcarola célebre, em composição também paralelística:

Em Lixboa sobre lo mar
barcas novas mandei lavrar,
     ay mia senhor velida!

Em Lisboa sobre lo lez
barcas novas mandei fazer,
     ay mia senhor velida!

Barcas novas mandei lavrar
e no mar as mandei deitar,
     ay mia senhor velida!

Barcas novas mandei fazer
e no mar as mandei meter,
     ay mia senhor velida!

João Zorro

© Instituto Camões, 2001