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História
da Literatura Portuguesa
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A história da literatura portuguesa pode ser entendida em dois planos:
1. o da progressão temporal do cultivo da língua portuguesa com fins estéticos e culturais (que a teoria da história literária designa por evolução literária, v.g. Tynianov e os Formalistas Russos);
2. o da consideração do modo de encarar essa progressão, através das perspectivas críticas e metodológicas que a condicionam.
Em 1., há que sublinhar:
a) que a evolução de uma comunidade se processa em correlação com a das comunidades vizinhas, ou com a daquelas com as quais se entretecem relações mais chegadas (no caso português, algumas literaturas europeias, como a espanhola, a francesa, a italiana e outras, conforme as épocas e os tipos de relacionamento; mais tarde, a literatura brasileira e a literatura norte-americana, por razões de intercomunicação ou de relação indirecta);
b) que essa evolução se processa num quadro artístico, cultural, sócio-político e económico mais geral, do qual a literatura não resulta apenas passivamente mas com o qual interfere por vezes de forma activa;
c) que tal evolução se toma perceptível em fases (ou séries, como lhes chamavam os Formalistas Russos), que os manuais de história literária reduzem em termos de periodização, a escolas, a gerações e a movimentos (e que por vezes o são, quando há programas doutrinários assumidos pelos autores, assim como uma certa consciência de grupo com afinidades), mas que de facto raramente são uniformes, embora manifestem com mais clareza, para a percepção da leitura e da crítica, os traços que os identificam.
Grupo dos 10: grupo de intelectuais de que faziam parte Eça de Queirós, Carlos Mayer, Guerra Junqueiro, António Cândido, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Carlos Lobo d'Ávila, conde de Arnoso, marquês de Soveral e conde de Ficalho |
Será difícil compreender a literatura portuguesa sem a articular, na Idade Média (séc. XII a XV), com o lirismo provençal, e sem entender que ele se liga a uma expressão cultural galaico-portuguesa; durante o período clássico (séc. XVI a XVIII), com o Renascimento italiano, o Barroco espanhol e o Iluminismo francês, que fazem ressaltar a especificidade do Maneirismo camoniano e a peculiaridade da nossa literatura de viagens; no séc. XIX, com o Romantismo, o Realismo, o Simbolismo e outras sensibilidades estéticas europeias; no séc. XX, com o Modernismo e restantes manifestações de vanguarda e de pós-modernismo.
Em 2., deveremos considerar as personalidades que tentaram dar conta deste evoluir histórico, escrevendo-o, e assim se inscrevendo na história também, e que dividiremos em três grupos:
a) os carreadores de materiais, que reúnem informação e dados conjunturais, ex. Barbosa Machado (séc. XVII), João Gaspar Simões (séc. XX);
b) os historiadores da cultura, que encaram a literatura de uma perspectiva predominantemente historicista (integrando a produção literária na periodização genérica ditada pelas ciências históricas), ex. Teófilo Braga (séc. XIX), António José Saraiva (séc. XX);
c) os historiadores da literatura, que encaram a literatura de uma perspectiva predominantemente crítica (orientando-se por critérios estético-ideológicos), ex. Fidelino de Figueiredo, Adolfo Casais Monteiro, Jacinto do Prado Coelho e Óscar Lopes (todos do séc. XX ).
© Instituto Camões, 2001