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Número 1: A localização

A gestão de projectos de localização de software: princípios estratégicos para a elaboração do modelo genérico no processo de gestão do projecto
Olga Torres, UAB


Introdução

Um projecto de localização de software geral é constituído pelas seguintes fases: (1) a análise do material do programa que se deseja localizar, (2) a preparação técnica e linguística do material, (3) a tradução dos componentes do pacote de software (interface de utilizador, ajudas, documentação, actualizações, material de marketing, etc.), (4) comprovação final (teste), e entrega definitiva ao cliente.


Eis uma representação gráfica destas fases no esquema seguinte: [Fases do Projecto, segundo Torres (2002) ver esquema]


Um projecto de localização de software é um projecto de equipa. No processo que decorre desde o momento em que o cliente envia os arquivos para serem localizados até ao momento em que os recebe participa todo um conjunto de pessoas, encarregando-se cada uma delas de tarefas diferentes. O encarregado da organização efectiva destas tarefas e dos responsáveis de cada tarefa é o "administrador de projecto". As tarefas são organizadas num processo específico para cada projecto de localização. No entanto, pode-se elaborar um modelo genérico de processo que possa ser adaptado a cada projecto em concreto. Neste artigo, não será feita uma simples enumeração de tarefas, já que todos os projectos são diferentes. É preferível comentar uma série de princípios estratégicos que permitam elaborar um modelo genérico eficaz para o processo de gestão de projectos de localização de software.


Para que o modelo seja eficaz, o administrador do projecto deve poder adaptar o modelo genérico às tarefas diárias do projecto concreto a partir do primeiro dia. A eficácia modelo ficará demonstrada se a adaptação ao processo específico permitir gerenciar as lacunas entre os objectivos finais e a realidade que possa existir na organização. Isto é, a eficácia trabalho diário e a dos objectivos devem estar directamente relacionadas. Existem projectos que não funcionam de maneira satisfatória porque a planificação teórica não era realista.


Não obstante, a gestão do projecto não fica limitada à elaboração de um modelo genérico nem à adaptação a um projecto específico. A gestão do projecto também consiste em resolver todo o tipo de imprevistos relacionados com quaisquer das tarefas identificadas no processo.


De seguida, oferecemos uma série de recomendações gerais para resolver de maneira satisfatória as falhas entre o modelo teórico e a realidade diária:

  • Não especular. Estabelecer datas de entrega realistas, por exemplo.
  • Detalhar cada tarefa minuciosamente. Especificar a cada um dos participantes o que deve fazer de maneira muito detalhada para evitar confusões, por exemplo.
  • Analisar dados objectivos. Analisar os formulários de consultas e os relatórios enviados a todos os tradutores, por exemplo.


Desenvolvimento

Adiante, são analisados os princípios estratégicos que devem ser considerados na elaboração de um modelo genérico de processo de localização.


Princípio estratégico 1 - "Modelo baseado na prevenção"


Consideramos que a melhor estratégia para a elaboração de um modelo genérico é a prevenção. Um modelo é formado por procedimentos, tarefas, pessoas responsáveis, formulários, etc. Todos estes elementos podem criar uma estrutura pesada e pouco operativa se não houver um princípio estratégico que lhes possa dar sentido. Do nosso ponto de vista, todos os elementos do modelo devem ter como objectivo final a prevenção de problemas.


Princípio estratégico 2 - "Modelo ao serviço dos tradutores"


A indústria da localização é tão complexa e há tantos aspectos técnicos e empresariais interrelacionados que, às vezes, os tradutores não são levados em consideração, sendo eles as pessoas que, de facto, estão em contacto com o texto que deve ser traduzido. O seu trabalho não é nada fácil. Muitos arquivos de software são traduzidos sem contexto ou traduzem-se frases isoladas de um texto já traduzido não sendo preciso lê-lo novamente; além do mais, não há tempo suficiente, a tradução é feita com ferramentas que nem sempre se sabe utilizar adequadamente, etc. É difícil trabalhar com condições de trabalho tão complicadas.


Por este motivo, o modelo deve incluir certos mecanismos que permitam ter a opinião de todos os participantes no processo e deve-se estabelecer toda uma série de canais de comunicação entre os participantes. A comunicação é a base do processo já que cada elemento a ser localizado é diferente em cada projecto e a única maneira de conhecer realmente as características e as dificuldades do produto é ouvindo a opinião dos tradutores.


Dado o facto de cada tradução ser única e de os tradutores terem tantas coisas a dizer sobre o processo, também se pode deduzir que a qualidade profissional e pessoal dos participantes determinará a qualidade do produto final.


Princípio estratégico 3 - "Modelo de elementos plenamente inter-relacionados"

O administrador do projecto deve dividir cada etapa em tarefas, relacionar as tarefas entre elas e nomear um responsável para cada uma. Existem ferramentas informáticas que permitem a elaboração deste tipo de estrutura de projecto, como por exemplo o MS Project. Com esta ferramenta, pode-se elaborar um diagrama e definir os diferentes elementos do projecto: tarefa, responsável, formulários de controle, ferramentas de treino, indicadores de medida da qualidade, etc. O modelo genérico deve incluir todos os elementos do projecto, os participantes e as relações entre eles.


A elaboração de um formulário, no qual tudo ficará registado por escrito, pode ser uma boa forma de relacionar uma tarefa e a pessoa que a realiza. Com isto, se o responsável da tarefa não estiver presente por qualquer razão, a informação que possuir não se perderá. Contudo, não se trata de utilizar formulários de controlo de maneira indiscriminada nem de burocratizar a empresa desnecessariamente. O melhor processo de localização não será aquele que define mais formulários mas aquele que tem estritamente os necessários.


Num projecto de localização, entende-se tarefa como uma unidade de trabalho que pode ser identificada de maneira individual e que depois se pode verificar ter sido feita de forma efectiva.


Princípio estratégico 4 - "Modelo com identificação das actividades críticas"

Além de uma identificação de todas as tarefas e dos responsáveis, numa segunda fase deve-se identificar quais os pontos críticos em termos de qualidade e estabelecer as medidas preventivas e correctivas que deverão ser tomadas. Desta maneira, será possível detectar os pontos fracos do processo e prever formas de os resolver.


As actividades críticas são aquelas onde a qualidade da sua realização determina a qualidade final do processo de tal maneira que devem ser medidas e controladas.


Por exemplo, imaginemos que no processo teórico se identifica a coerência terminológica e estilística da tradução como objectivo de qualidade. Este objectivo geral é concretizado com a designação de uma tarefa chamada "elaboração dos glossários e do guia de estilo", e essa tarefa é atribuída a um responsável: "o coordenador linguístico". Mais adiante, identifica-se essa actividade como crítica, já que a qualidade final do projecto dependerá da sua eficácia. No modelo teórico, as actividades críticas diferenciam-se daquelas que não são críticas porque as primeiras têm uma medida de controlo específica.


Na etapa de tradução, pode-se identificar as três actividades críticas seguintes:


a) A elaboração de glossários e do guia de estilo.
A medida de controlo nesta actividade geralmente é a validação por parte do cliente dos glossários e do guia de estilo antes do início do projecto. Desta maneira, a empresa de localização garante que o cliente vai concordar com a terminologia e com o estilo que serão utilizados.

b) A tradução.
A medida de controlo na fase da tradução consiste na revisão da tradução por parte de revisores que sejam especialistas na matéria. Assim, os "erros humanos" que os tradutores possam vir a cometer involuntariamente por inexperiência, distracção, etc., serão controlados.

c) As consultas.
A medida de controlo das consultas é a resolução destas por parte do coordenador linguístico. Na folha de consultas pode-se ver como trabalha um tradutor. O coordenador pode detectar se o tradutor entende o original, quais são as dúvidas que tem, etc. As consultas são encaminhadas de formas diferentes (formulários, listas de correio, bases de dados em linha, etc.) Seja como for, a gestão de consultas deve ser feita sempre por escrito para que haja um registo de toda a informação que é intercambiada.


Princípio estratégico 5 - "Modelo em revisão contínua"

O processo melhora mediante uma análise contínua da sua eficácia. A melhoria do processo consiste na máxima redução do tempo e das despesas, assim como no aumento da qualidade. Para conseguir isso, é fundamental contar com a colaboração e a ajuda de todos os participantes no processo já que são eles que o conhecem e usam todos os dias.


O processo deve ser revisto constantemente para que possa continuar a ser melhorado. O facto de ser melhorado e, portanto, alterado, não é sinal de imperfeição mas de realismo. É preciso que o processo mude. A mudança não deve ser vista como um fracasso na consecução dos objectivos teóricos, mas como uma oportunidade de aproximação a partir da realidade.


Por exemplo, na etapa da tradução é necessário que haja uma comunicação constante entre os participantes e que, em função desta comunicação, se realizem mudanças no processo. Não se pode esquecer que quem detecta os problemas são os tradutores e os revisores que estão em contacto com o texto. Por esta razão, o responsável pelo projecto deverá ouvir e entender os comentários dos tradutores e dos revisores, em vez de impor um sistema irreal e fixo durante todo o projecto.


O processo de tradução melhora com a correcção dos defeitos e dos erros detectados pelos participantes em diferentes ocasiões, quando se comparam os objectivos estabelecidos no início, nas revisões internas, na comunicação entre os participantes e na validação do cliente.


Conclusão: um modelo de qualidade para o modelo genérico

A partir destes princípios estratégicos, convidamos os leitores a elaborar um modelo de processo genérico que garanta ao máximo a qualidade do produto final. É recomendável analisar as normas ISO de qualidade. A aplicação das normas ISO não garante a qualidade do produto final, mas garante que foi seguido um processo desenhado com cuidado e que contempla todos os factores que podem condicionar a qualidade do produto final. Portanto, se o projecto seguiu um processo deste tipo, a qualidade será bastante aceitável.


Para concluir este artigo, mencionamos os requisitos do sistema de qualidade da norma ISO 9000:1994 e fazemos uma proposta de paralelismo no âmbito da localização de software:

[Fases do Projecto, segundo Torres (2002) ver proposta]

Outubro 2002

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