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Vai o menino só na estrada grande, «Conto». |
Estava nos princípios dum longo, longo, sinuoso processo que porventura ainda não terminou, porventura não terminará ou não tem solução, mas eu acreditava já estar sendo uma definitiva tomada de posições. Começara a ler António Sérgio; e, sem o poder ainda aprofundar, o seu racionalismo ou idealismo impunha-se-me. A sua clareza seduzia-me. Também lia a Vida de Jesus de Rénan. E muitos outros livros e muito diversos, entre quais os Evangelhos, o Velho Testamento, e fragmentos da Imitação de Cristo. [...] José Régio, Confissão dum Homem Religioso. |
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Imitação de Cristo, tradução de José Régio.
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Desenho de José Régio: «Cabeça de Cristo».
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A evolução literária de José Régio, disciplinada pelas exigências medievais da Lusa Atenas, foi travada perante o sinal da Cruz, ou seja, detida pelo valor do Cristianismo. O tradutor da Imitação de Cristo merece ser considerado como um grande poeta católico, talvez superior a Claudel. Álvaro Ribeiro, «A minha admiração por José Régio». |
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Da novela que na adolescência concebera à volta de Maria Madalena, e que acabou por destruir, como o ouvi confirmar, só resta o fragmento, final dum capítulo, que publicou em Tríptico, revista em que nos seus tempos de Coimbra colaborara. No trecho não aparece sequer o mais pequeno vestígio de Jesus, pois o corpo morto do velho, «perfumado de aloés, enfaixado em linhos brancos, de pé no seu largo sepulcro aberto na rocha», não permite qualquer inequívoca identificação. Mas o Rabi da Galileia devia irromper, com que força e cambiantes ignoramos, nessa ficção que acusa, neste naco publicado, nítidas sugestões de leitura da Bíblia, Flaubert e Eça, onde a fantasia do jovem Régio forragearia imagens e informações históricas, a fim de caracterizar ambiente e personagens. João Francisco Marques, |
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José Régio, «Maria Madalena».
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Óleo de Ventura Porfírio: «José Régio».
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Foi precisamente sob a influência do autor de Salammbô que Régio, ainda adolescente, empreendeu «o projecto de um romance que se chamaria Maria de Magdala e Jesus de Nazaré» Isso o obrigou «a minuciosas consultas dos Evangelhos» que, não muito surpreendentemente, o levaram à descrença na divindade de Jesus. Eugénio Lisboa, José Régio - A Obra e o Homem. |
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«Oh, Flaubert! grande senhor de quem me sentia uma espécie de parente bastardo e pobre! Flaubert foi uma das minhas paixões juvenis. Mas até meus últimos instantes espero amar, admirar, venerar esse incompreendido Mestre na arte de fazer viver as palavras e os seres (...) É que nesse profundo artista da palavra, no seu tenso e como sufocado esplendor, não eram fúteis jogos de palavras os que já então se me impunham: jogos, sim, e de palavras; mas graves, poderosos, temíveis jogos em que Édipo e a Esfinge se defrontam. Sim, os mundos de sensações, de sentimentos, de sugestões e ressonâncias, que o Mestre sabia condensar numa frase simultaneamente escultural e música». José Régio, «Introdução a uma obra». |
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Gustave Flaubert, Salammbó.
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Gustave Flaubert, 1821-1881.
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Os Poemas de Deus e do Diabo afirmavam uma nova sensibilidade. Eram, por um lado, como que uma síntese de várias correntes: o intimismo do Só e o sarcasmo de Gomes Leal; mesmo a incisiva ironia de Cesário, vinham fundir-se com elementos até aí nunca vistos na poesia portuguesa. Adolfo Casais Monteiro, «Sobre os Poemas de Deus e do Diabo». |
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José Régio, Poemas de Deus e do Diabo.
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Autógrafo de José Régio ilustrado por António Vaz Pereira. Edição especial de Távola Redonda.
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© Instituto Camões, 2007