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Alta comédia misteriosa, a Vida |
All the world's a stage William Shakespeare, As you Iike. |
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O teatro de José Régio [...] funde três linhas nele destacáveis [...]: o alegorismo poético do post-simbolismo [...], o realismo-naturalismo […] e o experimentalismo das formas expressionistas [...]. Com efeito, se Jacob e o Anjo continua a linha de António Patrício, Três Máscaras prolonga o diálogo de Pierrot e Arlequim de Almada Negreiros, como Benilde reflecte o expressionismo e a superação do realismo efectuada por Alfredo Cortez e por Raul Brandão. |
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Sim, bem sei que o tablado em que figuro |
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José de Almada Negreiros, Pierrot e Arlequim.
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Snr. Milhões, de pé, altivo e transfigurado. |
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Gesticular, compor, dizer, fingir, |
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Cena da representação de Três Máscaras.
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Raul Brandão, Volume de Teatro.
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Toda a obra dramática de José Régio parece ter uma ligação estreita com as tensões do grande teatro pirandelliano, em particular Três Peças em Um Acto, onde o parecer e o ser constituem o primeiro núcleo da dramaturgia da personagem que se exprime através duma alquimia verbal destinada a legitimar as razões do sentimento com as razões da lógica. Manuel Simões, «O duplo obscuro, ou seja, a tensão entre o ser e o parecer no teatro de José Régio». |
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Luiggi Pirandello, 1867-1936.
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Luiggi Pirandello, Um, Ninguém e Cem Mil.
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A presença do texto literário na filmografia de Manoel de Oliveira pode ser considerada como o seu suporte estrutural. [...] O convívio com José Régio estimulou este aspecto da sua personalidade criadora, e esteve na origem de um sempre renovado processo de busca de assuntos, no alfobre inesgotável da literatura portuguesa e estrangeira. Os seus admiráveis, densos e cuidados longos planos, ditos parados, consentâneos com a dimensão dos textos debitados são tão dinamicamente reveladores de profundezas interiores como de infindáveis horizontes simbólicos. João Francisco Marques, «Manoel de Oliveira: a sedução do texto literário». |
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José Régio com Manoel de Oliveira e Lopes Fernandes, na casa de Portalegre.
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O Meu Caso é, justamente, O Meu Caso, o dele Régio, o teu, o meu o nosso caso. O de cada um de nós e o de nós todos. Do mundo e do seu futuro, do nosso futuro. Do nosso devir. De todas as coisas e de coisa nenhuma em particular. Do «Tudo. Nada». Manoel de Oliveira, «O Meu Caso no caso de Régio». |
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A Morte pode, com efeito, significar uma ignorância integral, um «nada, nada se sabe»... Não, porém, com José Régio [...] é no El-Rei Sebastião que ela reveste as características de autêntica imortalidade, que ela se transforma numa espécie de «vocação». [...] Na dureza implacável de uma tal apoteose, haverá alguma coisa da alegria nietzscheana de Zaratustra, alguma coisa do «salto sobre o abismo»? Decerto um pouco do tumulto de Wagner se exibe neste delírio; porém, é o rosto de Parsifal que nele sobretudo se espelha, de Parsifal que achou o Graal perdido mas se esqueceu do seu nome. |
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Cena do filme de Manoel de Oliveira, O Quinto Império, inspirado em El-Rei Sebastião.
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Em Jacob e o Anjo, José Régio foi buscar à tragédia do nosso Rei D. Afonso VI, impotente e mentecapto, a ossatura exterior da peça mas retirando-lhe todo e qualquer nexo com a História através da inespacialidade e intemporalidade que lhe confere. [...] Na mitologia de Régio, e nisto é ele bem irmão de Dostoievski o sofrimento e a derrota podem ser instrumentos de progresso moral. Na medida em que se despe do que em si é mesquinho, na medida em que perde, ou, mais tendenciosamente, na medida em que algo de si morre é que o indivíduo ascende a um outro grau de vida, a do Espírito. |
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Autógrafo de José Régio: «Jacob e o Anjo».
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Altíssima e originalíssima criação, o Bobo, com as suas asas-barbatanas, as mesmas do Anjo [...] e o afanoso tautear do rei. [...] |
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Gravura da representação de uma peça de Gil Vicente.
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© Instituto Camões, 2007