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Torcendo as mãos, pensei: «Que esses amigos «Lúcifer». |
Em torno da poderosa personalidade de Leonardo Coimbra gravitavam eles [professores e alunos]; e nunca mais deixaram de o admirar, e à sua obra, e sempre ficaram gratos à memória do Mestre que neles soubera atear o fogo do Espírito. Tanto mais é isto notável, porquanto, não obstante certos traços comuns, vieram depois a afirmar personalidades tão individualizadas e diferentes como as de José Marinho, Álvaro Ribeiro, Delfim Santos, Casais Monteiro, Sant'Anna Dionísio, etc. Por sua vez criaram estes discípulos ou continuadores independentes, originais. Nem o prestígio de Leonardo nem a perspectiva da camaradagem com estes meus amigos me desviaram da opção por Coimbra. De resto, [...] a personalidade de Leonardo Coimbra nunca se me impôs tão poderosamente como se impunha aos meus amigos. José Régio, Confissão dum Homem Religioso. |
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O Grupo do Porto: Sant'Anna Dionísio, José Régio, José Marinho, Rodrigues de Freitas e Casais Monteiro.
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Eis, porém, que estes dons ultra-humanizam, «Libelo». |
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Teria eu lucrado se tivesse ficado no Porto? Teria lucrado em ter ido para Coimbra? Em que medida se ressentiram, ou ressentiriam, a minha vida e a minha criação literária de uma ou outra opção? José Régio, Confissão dum Homem Religioso. |
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O Grupo de Coimbra: José Régio, João Gaspar Simões, Albano Nogueira, Fernando Lopes Graça e Adolfo Casais Monteiro.
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Uma vez, José Marinho, com quem eu mantinha um estreito convívio que me foi muito fecundo, pois me ajudou a desenvolver-me sem me alterar, ofereceu-me esse belo livro injustamente mal conhecido que é A Alegria, a Dor e a Graça com a seguinte dedicatória: Ao Reis Pereira (eu ainda não era o José Régio) do Mestre para o futuro discípulo. E eu escrevi ao lado, a lápis, esta coisa ingénua e pretensiosa: O Reis Pereira não quer ser discípulo senão de si mesmo. José Régio, Confissão dum Homem Religioso. |
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Leonardo Coimbra, A Alegria, a Dor e a Graça. Obra oferecida por José Marinho a Régio.
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Se não fora eu que apresentara Dostoievski ao José Maria [...], por minha mão conhecera ele não só algumas das principais obras introspectivas de André Gide La Porte Étroite e Les Faux-Monnayeurs mas também o Tolstoi da Guerra e Paz, o Tolstoi da Morte de Ivan Ilich, o Tolstoi pouco menos que desconhecido entre nós antes da Presença, antes de eu próprio o recomendar a José Régio. João Gaspar Simões, José Régio e a História do Movimento da «Presença». |
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Comprei, devido a Você, o que lhe agradeço, o «Journal des Faux Monnayeurs». É curiosíssimo e precioso para quem sonhe entrar na intimidade de Gide. Também tenho lido bastante Dostoievski. «O Idiota» exaltou-me. Não cheguei a concluir «Os Irmãos Karamazov», e o livro ia-me subjugando de página para página. Confesso, no entanto, que a impressão que me causa «O Idiota» [...] é muito mais profunda. Tentando já falar como critico, «O Idiota» parece-me dos livros mais bárbaros, menos construídos, do Autor, mas talvez um pouco por isso mesmo dos mais completos, complexos e originais. Todo ele está cheio da alma e até da vida de Dostoievski... Sob vários pontos de vista, o livro chega a fazer-me mal: Eu andava a tratar de concertar (sic) os nervos, e andava a escrever uma novela... Carta de José Régio para João Gaspar Simões, de 10 de Setembro de 1927. |
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Léon Tolstoi, 1828-1910.
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Léon Tolstoi, Guerra e Paz.
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Fiodor Dostoievski, O Idiota.
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Fiodor Dostoievski, 1821-1881.
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Refiro-me à nota em que se desculpa de citar, a propósito do José Régio, vários autores célebres, em sentido de comparação psicológica. [...] Meu querido Gaspar Simões, nunca peça desculpa de nada, sobretudo ao público. E quem lhe diz que a história definitiva da literatura não levará o José Régio tão alto, ou mais alto, que o Tolstoi ou o André Gide, ou quem mais v. citasse? Não me custa nada a admitir essa possibilidade, sobretudo em quem, sendo tão jovem como o Régio, já tanto conseguiu adentro da sua sensibilidade. Carta de Fernando Pessoa para João Gaspar Simões, de 20 de Novembro de 1931. |
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O poeta simbolista-expressionista de Os Poemas de Deus e do Diabo, o dramaturgo obcecado por bobos-anjos e anjos-bobos de expressionístico recorte, como projecção da sua interioridade dramática que em última análise são, enquanto ensaísta parece ter sempre desejado conciliar em si a lição pré-freudiana de Dostoievski e a lição racionalista de António Sérgio. Eduardo Lourenço, A nau de Ícaro. |
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Por mim, se dois ou três homens portugueses me foram mestres naquela idade juvenil em que os não dispensamos, [...] decerto foi António Sérgio um. [...] Ele próprio, António Sérgio, me ensinou depois, pelo exemplo, e a doutrina das suas obras, a discutir, até a contrariar, alguns dos seus juízos, pontos de vista ou soluções. Como todos os verdadeiros bons mestres, ele próprio me ajudou a libertar-me de qrr lquer subserviência intelectual, e a descobrir a minha pessoal maneira de ver. [...] Nunca, porém, o vivíssimo interesse com que o lia quando mal principiava a entendê-lo se me desfaleceu. Nunca, mesmo quando o não aplaudisse, ou, até, o controvertesse, deixei de achar considerável qualquer seu ponto de vista. Nunca, até hoje, ele deixou de me dar a sua ajuda na dificílima aprendizagem de pensar. José Régio, «Mestre» [António Sérgio]. |
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© Instituto Camões, 2007