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O arcanjo de asas pandas de granito |
A compreensão e a aceitação da obra de José Régio estão sujeitas, como todas as grandes obras, aos múltiplos equívocos que implica a tentativa para exprimir o inexprimível. [...] Tendo sido o mais admirado poeta depois de Pessoa, mas mal senão totalmente incompreendido como ficcionista e dramaturgo, irritando quase todos pela sua crítica à qual um ideal ingénuo de objectividade o tornava incómodo a gregos e troianos a obra de José Régio terá que esperar, segundo creio, muito tempo, pelos seus verdadeiros leitores. |
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José Régio com Adolfo Casais Monteiro, em Coimbra.
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Não convivi com José Régio. No entanto, os antagonismos de geração [...], e talvez ainda as disparidades temperamentais, em nada impediram que, desde cedo, eu me tivesse alistado entre os seus leitores fiéis. Decorei-lhe poemas e poemas, em que os desesperos e as duplicidades da condição humana me pareciam sublimados num confessionalismo exorcizador e contagiante [...]. |
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Fernando Namora, 1919-1989.
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Foi em 1942 que me vieram às mãos, pela primeira vez, versos seus o «Fado»; depois li as «Encruzilhadas» e todos os outros seus livros até ao «Príncipe com orelhas de burro» e os seus livros foram para o pé de aqueles que me são mais queridos. Passei a contar aos seus versos os meus desgostos ou as minhas alegrias, com a mesma sinceridade com que eles me contam os seus; e como também fazia meu poemazito, parece que muito fui aprendendo consigo. Carta de Sebastião da Gama para José Régio, |
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José Régio com Sebastião da Gama, em Portalegre.
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Ler José Régio Poeta é encontrar uma força de querer um ideal que se desdobra e aprofunda em variados caminhos dentro de uma unidade sem quebras. Folheando agora mansamente as suas páginas encontro aquele ser humano que tive o bem único de pessoalmente conhecer […] com o reconhecimento do muito que lhe fiquei devendo por ter podido aproximar-me da sua força de viver. Matilde Rosa Araújo, «José Régio e a Mulher |
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Matilde Rosa Araújo, 1921-.
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Quando fiz dezasseis anos e vivia em Lourenço Marques, um amigo e colega de liceu ofereceu-me, como presente de aniversário, o primeiro volume de A Velha Casa, aparecido pouco antes. Li Uma Gota de Sangue com verdadeira paixão. No ano seguinte, já a viver em Lisboa, fiz vergonhas para adquirir o segundo volume acabado de sair , As Raízes do Futuro. A paixão não foi, desta vez, menor. Poucas obras de ficção, na literatura portuguesa, me têm sido tão importantes, pelo que dizem e pelo modo como o dizem. |
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Eugénio Lisboa, 1930-.
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[…] Apenas posso dizer o que, não somente como leitor mas também como escritor, José Régio representou para mim. Com ele pensei pela primeira vez na especificidade, na autonomia da literatura. Isto no plano teórico, porque no plano da realização artística os Poemas de Deus e do Diabo e As Encruzilhadas de Deus logo se me apresentaram como dois dos mais belos livros de poesia da língua portuguesa. Sem esquecer Jogo da Cabra Cega que, pelo menos hoje, já não posso considerar um grande romance mas que foi para mim uma extraordinária revelação. Nunca tinha lido um romance assim e, escusado será dizer, escrevi imediatamente algumas histórias a imitá-lo. Imitá-lo fez parte da minha aprendizagem. |
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Augusto Abelaira,
1926-2003. |
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Foi [...] em Angola e Moçambique que a influência de Régio se fez sentir mais profunda e duradouramente. A tal ponto que, ainda hoje, tantos anos já passados, alguns dos seus poetas não lhe podem negar a raiz, apesar de outras ideias, outras estéticas e influências terem surgido e insinuado novos caminhos, desde a «presença» para cá. Orlando de Albuquerque, «José Régio e os poetas do Ultramar Português». |
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Que é do anjo das asas rutilantes Reinaldo Ferreira, "Visitação". |
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Reinaldo Ferreira,
1922-1959. |
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Foi talvez Armando Cortes Rodrigues quem, decerto espantado com a ignorância poética de quem já lera autores em prosa de estofo como Proust, Gide, e outros, me emprestou o primeiro livro de poeta que me caiu nas mãos: os Poemas de Deus e do Diabo, de José Régio. O impacto foi tremendo; abandonei ali as ambições em prosa para todo o sempre. Os horizontes abriram-se para o significado e o valor da poesia, aquela primeira leitura germinou em vocação que até aí se escondera adormecida algures serenamente. |
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Egito Gonçalves,
1920-2001. |
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C. Reis Poesia que o levou a escrever poesia... Carlos Reis, Diálogos com José Saramago.» |
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Carlos Reis com José Saramago.
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Cecília Meireles [...] inscreve no seu livro Mar Absoluto e Outros Poemas a seguinte dedicatória: «A José Régio, essa veemente voz da poesia do mundo, com estima». A tónica é posta pois na veemência, na força interior que atravessava o verbo de Régio, autor que ela entendia fazer parte da poesia do mundo, do universo da escrita maior que era o seu timbre. Para quem conhece a obra de Cecília Meireles, toda ela percorrida de atenção ao absoluto, percebe o que lhe subjaz e de que matéria é feito esse olhar e essa admiração. Nicolau Saião, «Régio e os escritores brasileiros». |
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Cecília Meirelles,
1901-1964. |
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Foi com quase indizível emoção que ouvi recentemente a grande Maria Betânia declamar num seu espectáculo ao vivo esse genial grito individualista que é o «Cântico Negro» (incluído aliás, num disco gravado pelo também talentoso actor brasileiro Paulo Gracindo) o que tudo tem o significado bem gratificante de que José Régio já não é grande só entre nós. Ernesto de Oliveira, «José Régio um homem atento e raro». |
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Cecília Meirelles,
1901-1964. |
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«Adeus!, adeus! cá vou, que vim com pressa... Isabel Cadete Novais, Jacob e o Anjo: a Construção do Texto Dramático em José Régio. |
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© Instituto Camões, 2007