N.º 1, Abril de 2004
Editorial
A correcção do erro
Ensinar com concordâncias
Pedagogia mediatizada
Competência em Português
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Ficha técnica
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Pedagogia mediatizada: enfoque na interacção
professor/aluno


Marco Maia Ferreira
Instituto Superior de Educação e Ciências

A experiência de aprendizagem mediatizada baseia-se numa relação em que o professor (mediatizador) interage com o aluno (indivíduo mediatizado), de forma a seleccionar, mudar, ampliar ou interpretar os estímulos, utilizando estratégias interactivas, centradas na mediação verbal, com o objectivo de produzir significação para além das necessidades imediatas da situação.

Na pedagogia mediatizada, o propósito do professor não é apenas proporcionar a vivência de uma situação, mas promover situações onde o aluno interaja com as tarefas propostas de forma dinâmica de modo a valorizar os seus processos e as suas estruturas cognitivas. Sem mediatização, a experiência ou a informação é captada pelo aluno de forma difusa e fragmentada, pondo em risco a sua integração adequada. A mediatização pobre ou a sua privação tende a afectar as estruturas cognitivas da criança e do jovem, tornando o seu comportamento cognitivo assistemático e episódico, em vez de elaborado, preciso e ajustado.

Na aprendizagem de uma língua, o comportamento cognitivo dos alunos deve ser constantemente elaborado através de estímulos linguísticos com ênfase nas vivências pessoais.  O professor ajuda o aluno a criar modelos explicativos das suas experiências, facilitando a sistematização de observações, o teste de hipóteses e a aplicação de regras numa vasta variedade de circunstâncias.

Os mecanismos de pedagogia mediatizada são especialmente úteis para ajudar os alunos a reorganizar os processos de pensamento e para a restruturação dos processos cognitivos. Os procedimentos mais utilizados pelos professores são:

processos de questionamento;
processos de transferência de conhecimentos;
provocar ou solicitar justificações;
enfatizar a ordem, a predictabilidade, a sistematização e a sequencialização de acções;
processos de generalização;
e o uso de estratégias cognitivas (processos de atenção, de memória e de problem solving).

(Beltrán, 1994; Sternberg, 2002)

Por exemplo, nos processos de questionamento, o professor deve conduzir e dirigir o diálogo de forma a orientar os alunos no espaço e no tempo, parafraseando, refazendo perguntas, argumentando, ouvindo, etc., de acordo com os seus objectivos iniciais, sem no entanto impedir o contributo de todos os alunos para o debate.

A pedagogia mediatizada coloca em prática um conjunto de estratégias pedagógicas que levam os próprios jovens a mediatizarem-se mutuamente até tais interacções se constituírem como um potente suplemento à mediatização do professor, algo que permite criar um ecossistema relacional e afectivo que é indispensável para provocar um enriquecimento cognitivo. Visa ainda potencializar o desenvolvimento cognitivo e metacognitivo dos alunos, envolvendo a mudança dos seus processos de pensamento, fornecendo-lhes estratégias de aprendizagem e ensinando-os a tomar decisões (Segal, Chipman & Glaser, 1985). Desta forma, activa e dinâmica, os alunos podem construir o deu conhecimento de determinados significados e conceitos e aprender a expressá-los.

Actividade a desenvolver conjuntamente com os alunos

As aulas de línguas fornecem uma multiplicidade de oportunidades que o professor pode aproveitar para desenvolver algumas das ideias ligadas a vivências pessoais, situações problemáticas, conflitos entre os alunos, interesses divergentes entre alunos e professor e tomadas de decisão com repercussão ao nível da turma. Assim, a actividade que se segue pretende desenvolver aptidões de interacção social e skills cognitivo-verbais, tomando em consideração as experiências pessoais de cada aluno (sentimentos de realização, de competência, de afectividade, etc.),
Em grupo, o professor pode promover o desenvolvimento conceptual e linguístico dos alunos através da apresentação de uma lista de palavras. Por exemplo, pode explorar a relação entre as palavras que se seguem.

Lista de palavras a trabalhar com os alunos:

INTOLERANTE AMÁVEL DESAPONTADO DETESTÁVEL SEDENTO CONTENTE FRESCO INFELIZ GRAVE TRISTE INTRÉPIDO VAIDOSO ADMIRADOR OPTIMISTA ATERRORIZADO FATIGADO ORGULHOSO CORAJOSO FELIZ DESESPERADO AFECTUOSO MISERÁVEL ENCANTADOR CANSADO

Relações possíveis entre os conceitos: ex. optimista e contente
Sinónimos: ex. amável e encantador
Antónimos: ex. cansado e fatigado
Sentimentos positivos e negativos: ex. contente e desapontado
Conceitos mais ou menos fortes: ex. intrépido e corajoso
Sensações agradáveis e desagradáveis: ex. satisfeito e sedento
Situações vivênciadas pelos alunos: ex. uma viagem memorável
Contextos possíveis (reais e imaginários): um assalto presenciado ou umas férias em Marte

As situações que se criam a partir das combinações possíveis entre palavras ajudam a desenvolver as capacidades de comunicação dos alunos e a enriquecer o seu repertório linguístico. As estruturas do raciocínio lógico e do pensamento inferencial, o imaginário e a descrição de experiências servem de suporte à expressão linguística.

Referências Bibliográficas:
Beltrán, J. M. (1994). La Mediacion en el proceso de aprendizage, Ed. Bruno, Madrid.
Feuerstein, R. (1980). Instrumental Enrichment, Ed. Univ. Park Press, Baltimore.
Segal, J.; Chipman, S., & Glaser, R. (1985). Thinking and Learning Skills, Ed. LEA, Hillsdale.
Sternberg, R. J. (2002). Estilos de Pensamento, Ed. Replicação, Lisboa.


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