Traduzir do inglês (1)

Chest Pain

Maria do Rosário Durão,
Doutoranda em Estudos de Tradução



O uso da expressão chest pain é corrente em medicina, encontrando-se facilmente em textos publicados, quer em formato tradicional, quer electrónico.

Pretendendo traduzi-la, diríamos, do modo mais natural do mundo, ‘dor no peito', pois pain significa 'dor' e chest quer dizer 'peito'. No entanto, a tradução desta expressão para português europeu coloca alguns problemas quando se trata de traduzi-la em textos de natureza científica da área de medicina.

Neste pequeno artigo, procederemos a uma curta investigação documental, à semelhança daquilo que os tradutores normalmente fazem, no sentido de encontrar a expressão, ou expressões, que normalmente se usam em cardiologia para designar esta unidade.

 

1. As Palavras Chest e Pain  na Língua de Partida (LP)

 

Os termos que compõem a expressão chest pain surgem com frequência em documentos de saúde e medicina. Alguns exemplos são: chest wall, chest muscle, chest diseases, chest medicine, chest physician, chest journal e neuromuscular pain, acute pain, pain relief, pain syndromes ou pain research. Por este motivo, começaremos por fazer um levantamento dos sentidos de cada palavra e de expressões alternativas, em inglês.

O dicionário Webster’s define chest como o tronco do corpo e como thorax. Pain é associada ao sofrimento provocado por uma doença ou traumatismo, mas também é descrita como uma dor específica; por exemplo, uma dor nas costas. Além disso, pain é diferenciada de agony e anguish por se reportar a sensações físicas, e de ache porque não se aplica a dores prolongadas.

Chest pain refere-se, então, a uma dor de pouca duração que alguém sente na parte superior do corpo, também conhecida por tórax.

O dicionário da especialidade, Stedman’s Medical Dictionary, define chest como The anterior wall of the chest or thorax; the breast. SEE ALSO thorax (p. 321). Se nele procurarmos a entrada para thorax, encontraremos esta explicação:

The upper part of the trunk between the neck and the abdomen; it is formed by the 12 thoracic vertebrae, the 12 pairs of ribs, the sternum, and the muscles and fasciae attached to these; below it is separated from the abdomen by the diaphragm; it contains the chief organs of the circulatory and respiratory systems, as distinguished from the abdomen which encloses those of the digestive apparatus. (p. 1806).

Chest refere-se à parte superior do corpo humano, que é composta por vértebras e músculos, limitada pelo pescoço e pelo abdómen, e que contém órgãos fundamentais à respiração e circulação sanguínea. Isto quer dizer que, no contexto específico da medicina, chest corresponde à ideia de thorax que o dicionário Webster’s oferece. Chest designa, ainda, toda a parte da frente do tórax e/ou a zona mais pequena ocupada pelos seios.

O segundo termo da expressão é pain. O dicionário Stedman’s define-a como:

An unpleasant sensation associated with actual or potential tissue damage, and mediated by specific nerve fibers to the brain where its conscious appreciation may be modified by various factors. (p. 1282)

Pain é, portanto, a manifestação de uma ou mais patologias que provocaram ou irão provocar danos físicos, e que cada doente sente de forma diferente, uma vez que a intensidade e o tipo de dor dependem de aspectos que transcendem a mecânica da dor em si.

Durante as nossas buscas na Internet, encontrámos um excerto que nos parece importante referir aqui porque oferece discomfort como sinónimo de pain, ampliando a terminologia relacionada com a palavra, no âmbito da cardiologia:

 

Angina pectoris is the medical term for chest pain or discomfort due to coronary heart disease. (“Angina Pectoris”)

 

Nesta altura da busca documental, podemos dizer que chest pain é uma dor tipicamente breve que alguém sente em toda a extensão da parte superior do corpo, também conhecida por tórax, ou numa parte deste, principalmente na zona da frente, e que o médico tende a interpretar este tipo de dor como um sinal de danos físicos que já aconteceram, que estão a acontecer, ou que poderão vir a acontecer.

Mas também é possível afirmar que existe um leque bastante vasto de expressões equivalentes. Se chest corresponde também a thorax, e pain a discomfort, será lícito falar em chest pain, chest discomfort, thorax pain e thorax discomfort. Além disso, uma vez que chest descreve o local onde a pain se localiza, a palavra adquire o valor de complemento adjectival do nome, podendo ser substituída pelo sintagma preposicional in the chest. Isto quer dizer que também se poderão utilizar as seguintes expressões: pain in the chest, pain in the thorax, discomfort in the chest e discomfort in the thorax.

 

2. A Expressão da Língua de Partida (LP)

 

A tradução de qualquer texto reclama o conhecimento do sentido das palavras que temos à nossa frente. Importa, por isso, saber o que chest pain significa e qual a sua aplicação em medicina, sobretudo em cardiologia.

Chest pain é geralmente apresentada como uma queixa frequente, cujo diagnóstico nem sempre se circunscreve ao foro cardiovascular. Dois exemplos são:

Chest pain is one of the most common reasons that people visit the emergency department … Chest pain has many causes and one of the most dangerous is heart disease (“Disease Overview”);

Chest pain is a common symptom which can be caused by many different conditions. Some causes of chest pain require prompt medical attention, such as angina, heart attack, or tearing of the aorta. Other causes of chest pain can be evaluated electively, such as spasm of the esophagus, gallbladder attack, or inflammation of the chest wall (“Chest Pain”);

A pesquisa das oito expressões alternativas na Internet, através do motor de busca Google, gerou 456.000 documentos para chest pain. Chest discomfort e pain in the chest ocorreram menos (17.200 e 10.200) e discomfort in the chest apenas 1.680 vezes. Pain in the thorax  e thorax pain surgiram cerca de 50 vezes, e discomfort in the thorax e thorax discomfort nenhuma.

A proveniência e os contextos das expressões levam-nos a concluir que chest pain é o nome próprio de um estado clínico abrangente e complexo. Por isso, esta é a designação mais frequente e por isso encontramos vários centros e outros fornecedores de cuidados especialmente vocacionados para a chest pain, como The Society of Chest Pain Centers and Providers, diversos sítios que apenas são dedicados à cardiologia em geral e à chest pain em particular, como faz o Cardiology Channel, e algumas páginas que abordam as múltiplas dimensões da chest pain, como são as que encontramos em Chest Pain Perspectives.

Do ponto de vista terminológico, as citações que apresentamos a seguir sugerem que, no âmbito da cardiologia, chest discomfort e pain in the chest equivalem a chest pain. Os dois últimos excertos indicam, ainda, que pain in the chest é a expressão que mais se utiliza para falar deste tipo de ocorrência e da sua localização:

Chest pain ... Alternative names Chest tightness; Chest discomfort; Chest pressure (Cohen);

Subject: Mild Chest Discomfort - Angina or Musculoskeletal? (Tim);

The chest is the area where the heart and lungs are located. These organs are protected by the rib cage and breastbone. Many different conditions can cause pain in the chest (Brochert);

Jack is 55 years old, 5' 10" tall and weighs 85 kg. He is an unemployed factory worker. He and his wife row every day about shortage of money and she nags him about his heavy smoking. Leaving the house, after a particularly stormy argument, he collapses in the street with a gripping pain in the chest. (Dangerfield).

Pain in the thorax e thorax pain estão mais relacionadas com o diagnóstico da dor em geral. São também frequentes em páginas de medicina alternativa, como a homeopatia, sugerindo que a predilecção pela palavra thorax decorre do prestígio associado a um termo de origem latina.

Citamos agora alguns excertos de um livro em formato tradicional, Clinical Medicine. Escolhemos duas passagens do capítulo dedicado às doenças cardiovasculares:

Other causes of chest pain

The pain of pericarditis is felt in the centre of the chest and, like that of pleurisy, is aggravated by movement, posture, respiration and coughing, but may be relieved by sitting forwards. It is sharp and severe.

     Central chest pain that radiates to the back is characteristic of a dissecting or enlarging aortic aneurysm … and can mimic the pain of myocardial infarction. A dissection must be excluded since the administration of a thrombolytic agent in this circumstance is catastrophic.

     Left, submammary stabbing pain – known as ‘precordial catch’ – is usually associated with anxiety and is sometimes known as effort (Da Costa’s) syndrome. Occasionally, cardiac conditions such as mitral valve prolapse cause similar pain. Central chest pain similar to angina can occur with oesophageal disease and can be difficult to differentiate … (p. 707)

     The onset is usually sudden, often occurring at rest, and persists fairly constantly for some hours (often until diamorphine is given). Whilst the pain may be so severe that the patient fears imminent death, it can be less severe, and as many as 20% of patients with MI have no pain. So-called 'silent' myocardial infarctions are more common in diabetics and the elderly. MI is often accompanied by sweating, breathlessness, nausea, vomiting and restlessness.

     Patients with acute MI appear pale, sweaty and grey. There may be no specific physical signs unless complications develop… A sinus tachycardia, fourth heart sound and a raised JVP are common. A modest fever (up to 38ºC) due to myocardial necrosis often occurs over the course of the first 5 days.

     Diagnosis requires at least two of the following:

a history of ischaemic-type chest pain

evolving ECG changes

a rise in cardiac enzymes or troponins. (p. 114)

Estes, e outros, passos comprovam que chest pain é uma condição complicada. Ela requer a apreciação cuidadosa da história clínica e dos sintomas de que o doente se queixa, pois estes tanto podem indicar que se trata, apenas, de um estado de grande ansiedade, como de um enfarte agudo do miocárdio, cujas consequências podem ser fatais. Envolve a avaliação escrupulosa do aspecto físico do doente, desde a sudação à palidez, e uma ponderação zelosa em torno do chamado diagnóstico diferencial, pois é através dele que o médico chega a uma conclusão relativamente à doença que realmente esteve na origem da dor. O diagnóstico, por sua vez, requer o levantamento da história clínica do paciente, já que o tratamento de uma doença crónica exige cuidados que não se aplicam certamente a uma primeira vez, o recurso a meios auxiliares de diagnóstico, como análises ao sangue, eventuais intervenções cirúrgicas, e o acompanhamento medicamentoso do doente. Muitas vezes, cumpre também ao médico alertar os pacientes dos riscos que correm se continuarem com o anterior estilo de vida e sugerir que iniciem programas de reabilitação especialmente vocacionados para o seu caso.

Concluindo, tudo indica que chest pain é um conceito bastante complexo e que a ideia de localização para a qual chest aponta, numa primeira abordagem, é apenas uma parcela de um processo que envolve variadíssimos outros factores para além da pain que aí se sente.

 

3. Os Equivalentes de Chest e de Pain na Língua de Chegada (LC)

 

A primeira alternativa para a tradução de chest pain era ‘dor no peito’, correspondendo ‘dor’ a pain e ‘peito’ a chest.

Os dicionários de língua portuguesa, como o Dicionário Lello definem 'dor' como o sofrimento físico ou moral e 'peito’ como «Parte do tronco, entre o pescoço e o abdómen, a qual contém os pulmões e o coração. A parte anterior e externa dessa parte do tronco ... Os pulmões ... Cada um dos seios da mulher...». Estas descrições não diferem muito das que encontramos em inglês e ficamos a saber que os sinónimos portugueses de ‘peito’ são ‘tronco’, ‘pulmões’ e ‘seios’, e de ‘dor’ ‘sofrimento’. O senso comum aconselha-nos a excluir as palavras ‘pulmões’, ‘seios’ e ‘sofrimento’ do contexto da medicina cardiovascular. Consequentemente, as equivalências de chest pain na LC poderiam ser ‘dor no peito’ e ‘dor no tronco’.

O dicionário da especialidade, o Dicionário Médico editado pela Climepsi (uma tradução do francês, é certo, mas que conta com a consultoria científica e revisão científica do Dr. João Alves Falcato), oferece ‘peito’ e ‘tórax’ como equivalentes de chest (p. 741), confirmando a analogia que também os dicionários de língua inglesa instituem entre chest e thorax e sugerindo que também se poderá dizer ‘dor no tórax’.

Neste dicionário, encontramos duas entradas relacionadas com ‘peito’. Uma é ‘peito do pé’, que não se aplica ao contexto cardiovascular, e a outra o adjectivo ‘peitoral’: «Relativo ao peito. V. músculos grande e pequeno peitoral». Olhando para as definições destes músculos vemos:

músculo grande peitoral ... Músculo largo e triangular, situado na parte anterior do tórax e da cavidade da axila ... Aproxima o braço do tórax, virando-o para dentro;

músculo pequeno peitoral ... Músculo pequeno triangular, situado na parte superior lateral da face anterior do tórax. (pp. 408-40).

Se ‘peitoral’ remete para os músculos que se encontram em locais diferentes do tórax, teríamos uma quarta alternativa de tradução, a expressão ‘dor peitoral’.

Por outro lado, 'tórax' é descrito como:

 

tórax, s.m. (fr. e ing. thorax). Parte superior do tronco situada acima do diafragma, limitada pela parede torácica, que forma a caixa torácica (V. este termo), fechada pelos elementos musculares e aponevróticos da parede. A parede torácica abrange a caixa torácica. O orifício inferior do tórax é fechado pelo diafragma; o orifício superior é um local de passagem entre o pescoço e o mediastino. A cavidade torácica tem três partes: duas laterais, onde se aloja cada um dos pulmões (à esquerda também o coração), e uma parte mediana, o mediastino. (adj. Torácico.). (p. 595)

 

Este excerto levanta algumas questões: o conceito de ‘tórax’ aproxima-se dos conceitos de chest e thorax; a palavra portuguesa que se usa em medicina para designar o que vulgarmente chamamos 'peito' é 'tórax' e a insistência no adjectivo 'torácico' sugere que o termo mais indicado na LC talvez seja ‘torácica’.

 

4. A Expressão na Língua de Chegada (LC)

 

Começamos esta última parte fazendo uma pesquisa na Internet. Escolhemos o Copernic Agent Basic como motor de busca, porque ele é que mais páginas encontra em português europeu (sítios com a terminação .pt).

Dos resultados obtidos para ‘dor no peito’, apenas 5 têm que ver com as doenças cardíacas. Nestes documentos, a expressão é geralmente utilizada para descrever os sintomas da angina de peito e do enfarte do miocárdio (Pereirinha, Freitas) ou para definir a própria angina de peito (“Cardiovascular – Angina).

‘Dor no tórax’ surge apenas no artigo sobre dores torácicas, publicado em VivaSaudável, ao lado de expressões como ‘dor torácica’ e ‘dores torácicas’. Este é um texto destinado ao leitor comum que aí aceda à procura de uma informação rápida e fácil de compreender sobre as causas que poderão estar na origem da dor que o aflige. A expressão ‘dor no tórax’ não é, no entanto, utilizada para descrever as causas especificamente cardíacas do sintoma.

Os escassos documentos em que encontrámos ‘dor no tronco’ e ‘dor peitoral’ não estão relacionados com medicina e são escritos em português do Brasil.

A expressão mais comum e mais abrangente é, de facto, ‘dor torácica’, à semelhança do que acontece com chest pain, em inglês. Dela se fala em textos sobre doenças infecciosas, o cancro, o uso da cocaína ou a saúde reprodutiva, mas principalmente em programas de cursos de medicina e em aulas, como a aula sobre a “Dor Torácica” de um aluno do quarto ano da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, na sintomatologia do enfarte agudo do miocárdio que a enfermeira Mafalda Alves disponibiliza («A maioria dos doentes refere dor torácica frequentemente de forte intensidade e com duração superior a 30 minutos») e em artigos da edição portuguesa do British Medical Journal como em Maynard et al: «Angina instável – Dor torácica de tipo isquémica, que tem uma origem recente».

Um olhar sobre a bibliografia em formato tradicional mostra que 'dor torácica' é recorrente na obra O Coração, de HURST’s, Manual de Cardiologia (uma obra traduzida por médicos portugueses do Hospital de Santa Cruz). Como se pode ver no exemplo da página 1, que citamos a seguir, a 'dor torácica' remete para os diversos sentidos de chest pain:

 

Como em qualquer avaliação médica, a história clínica é o passo inicial na avaliação do doente. A queixa mais frequente nos doentes cardíacos é a dor torácica ... A dor torácica é a manifestação principal da isquemia miocárdica e o sintoma mais frequentemente mencionado. Os diagnósticos diferenciais da dor torácica são múltiplos (O’Rourke, p. 1)

 

Também num artigo publicado recentemente na Revista Portuguesa de Cardiologia, “Valor Prognóstico da Cintigrafia de Perfusão do Miocárdio Normal em Doentes com Dor Torácica e Bloqueio Completo de Ramo Esquerdo”, vemos ‘dor torácica’ e ‘doentes com dor torácica’. (p. 1241).

O artigo da enfermeira Mafalda Alves utiliza, no entanto, duas outras expressões: ‘desconforto torácico’ e ‘dor précordial’:

 

no enfarte agudo do miocárdio devem estar presentes pelo menos dois dos seguintes três critérios: história típica de sintomas de desconforto torácico ... Para a OMS, o enfarte agudo do miocárdio será diagnosticado se o paciente apresentar pelo menos duas das seguintes alterações: História típica de dor pré-cordial...

 

‘Precordial’ é descrito, mais adiante, como a «região retroesternal ou no epigástro e que irradia para ambos os lados do tórax (com predilecção pelo hemisfério esquerdo), braço esquerdo, ombro esquerdo ou ambos os ombros, para a mandíbula e região interescapular». Curiosamente, esta definição parece corresponder aos sintomas do enfarte agudo do miocárdio, tal como eles são descritos em O Coração, de HURST'S, Manual de Cardiologia:

 

Os sintomas clássicos do EAM envolvem desconforto torácico que é, habitualmente, de localização retroesternal ou precordial, e é descrito em qualidade como pressão, dor, ardor, choque, aperto, peso, dilatação, ou explosão. A localização da dor torácica é habitualmente pouco útil para diferenciar a isquemia/enfarte de outras causas, mas a dor torácica grave (ao contrário do desconforto vago) e a presença de sintomas associados (dispneia, náusea, diaforese e vómitos) estão mais frequentemente associados ao EM. O desconforto irradia sobre o peito e, frequentemente, até ao braço esquerdo ou ambos os braços (particularmente no terço médio) e/ou ao pescoço ou mandíbula. (pp. 279-280)

 

‘Precordial’ estaria, assim, relacionado com uma dor específica: a dor que se sente na zona precordial. ‘Desconforto’ distinguir-se-ia de ‘dor’ torácica por ser uma sensação mais leve, embora também pareça designar a dor no tórax em geral.

No Manual de Terapêutica Médica 1, o capítulo sobre cardiologia é da responsabilidade do Dr. José de Sousa Ramos, Director das Unidades de Cardiologia de Hospitais da CUF. Aí, fala-se em «dor anginosa ... dor ou desconforto no peito, maxilar, ombro, dorso ou braço ... doente com desconforto torácico recorrente» (pp. 3, 4, 18), mas raramente se utiliza a expressão ‘dor torácica’. Nós apenas a encontrámos uma vez, na parte dedicada às doenças do pericárdio, cujo autor é o Dr. Duarte Cacela: «Se houver dor torácica recorrente associar AINE» (p. 95).

Gostaria ainda de acrescentar que, ao perguntar a um dos médicos que me acompanha no Hospital de Santa Maria, o Dr. Joaquim Nunes, do serviço de obstetrícia, como ele costuma traduzir chest pain, a resposta foi, sem qualquer hesitação, 'dor precordial'.

 

5. Conclusão

 

No contexto profissional, o equivalente mais comum de chest pain, em português europeu, é ‘dor torácica’, talvez por influência da enorme quantidade de textos em língua inglesa que compõem a bibliografia de qualquer médico, e nos quais a palavra pain remete directamente para ‘dor’. Porém, à semelhança da língua de partida, também na de chegada, sobretudo nos textos escritos por médicos portugueses, se utiliza o termo 'desconforto'. Já o mesmo não acontece com a tradução de chest. Neste caso, prefere-se a palavra de origem latina, ‘torácico’. Por outro lado, como disse o Dr. Joaquim Nunes, acompanhando as suas palavras de um gesto largo e circular sobre o peito, especialmente a zona esquerda, ‘dor precordial’ também equivale a chest pain.

Em suma, com base na pesquisa documental que fizemos, ousaríamos afirmar que a frequência com que estas expressões são utilizadas na nossa língua segue a ordem ‘dor torácica’, ‘desconforto torácico’ e ‘dor precordial’.

 

 

© 2003, Maria do Rosário Durão

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

Alves, Mafalda Soares Teixeira, Enfermeira (2002). “Enfarte Agudo do Miocárdio”, página pessoal, Sapo.pt. 9 de Dezembro de 2002.  http://eam.no.sapo.pt/enfarte_agudo_do_miocardio.htm.

“Cardiovascular - Angina” (2002). A Sua Saúde. Laboratórios Pfizer. 26 de Janeiro de 2003. http://www.pfizer.pt/saude/cardio_angina.php.

“Angina Pectoris” (2002). American Heart Association. 10 de Janeiro de 2003. http://www.americanheart.org/presenter.jhtml?identifier=4472.

Brochert, Adam, M.D. (2001). “Chest Pain”. Diseases & Conditions Encyclopedia. Discovery Health Channel. 26 de Janeiro de 2003. http://health.discovery.com/diseasesandcond/encyclopedia/3064.html.

Carneiro, António Vaz (2002) “Cardiologia Baseada na Evidência - Princípios Básicos de Selecção e Uso de Testes Diagnóstico: Aplicabilidade” Revista Portuguesa de Cardiologia. Vol. 21, No. 1: 75-79.

“Chest Pain due to Angina and Other Causes”. MedicineNet. 26 de Janeiro de 2003. http://www.medicinenet.com/Angina/article.htm.

Cohen, Debbie, M.D. (2002). "Chest Pain". Yahoo! Health Enciclopedia. 20 de Janeiro de 2003. http://health.yahoo.com/health/encyclopedia/003079/0.html.

Dangerfield, P. H., M.D. (1999). “Module 8: Pain in the Chest”. The University of Liverpool. Faculty of Medicine. 24 de Janeiro de 2003. http://www.liv.ac.uk/FacultyMedicine/mbchb/resource/phase1/module8.html.

“Disease Overview: Chest Pain and Heart Disease”. Chest Pain Perspectives. 9 de Dezembro de 2002. http://www.chestpainperspectives.com/general/disease.html.

“Dor Torácica - Aula” (2002). Propedêutica Médica. Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. 10 de Dezembro de 2002. http://esculapio.fcm.unl.pt/ae/comissoes/4ano.htm.

“Dores Torácicas”. VivaSaudável. 13 de Dezembro de 2002. http://www.vivasaudavel.pt/produtoA.asp?categ=destaque0001&prod=0000000000000013765.

Freitas, João, Dr. “Angina de Peito”. 25 de Janeiro de 2003. http://pwp.netcabo.pt/0413553701/angina.htm.

Kumar, Parveen e Michael Clark (eds.) (2002). Clinical Medicine. Edinburgo: W. B. Saunders. 5ª.

Manuila, L. et al (1999, 2000) Dicionário Médico. Tradução José Nunes de Almeida. Consultoria científica e revisão científica Dr. João Alves Falcato. Lisboa: Climepsi Editores.

Maynard, S.J. et al (2001). "Tratamento das Síndromes Coronárias Agudas". BMJ - British Medical Journal. Edição em Língua Portuguesa. Vol. 10. Nº 9. 13 de Dezembro de 2002. http://www.bmj-pt.com/outubro01/revisao/revclinica2.htm. 

O’Rourke, Robert A. et al (2001, 2002) O Coração : Manual de Cardiologia. Tradução Drs. Carlos T. Aguiar, Diogo M. Cavaco, Jorge S. Ferreira e Katya Reis Santos. Lisboa: Editora McGraw-Hill de Portugal. 10ª.

Pereirinha, Armando, Prof. “Actividade Sexual e Doença Cardíaca”. 25 de Janeiro de 2003. http://homepage.oninet.pt/783mrm/jovem_sexodoensacardiaca.htm.

Ponce, Pedro (dir.) (2002). Manual de Terapêutica Médica 1. Lisboa: Lidel.

Stedman’s Medical Dictionary (1995). Baltimore, Philadelphia: Williams and Wilkins. 26ª.

Tim (2000). “Mild Chest Discomfort - Angina or Musculoskeletal?”. The Heart Forum. MedHelp International. 16 de Janeiro de 2003. http://www.medhelp.org/forums/cardio/messages/32314a.html.

 

| Número 2 | Fevereiro 2003 |
Editorial
Artigo
Traduzir do Inglês (1): Chest Pain
Dicionário
Fernão de Ávila
Gonçalo Madeira
Citação
Teixeira de Pascoaes
Notícias
AIETI
Tradução: novidades editoriais
Ligações a outros sítios
Algumas ligações úteis
Coordenadores
Carlos Castilho Pais
Margarita Correia
Números publicados
N.º 1, Maio 2002
N.º 2, Fevereiro 2003
N.º 3, Dezembro 2003
N.º 4, Maio 2004
N.º 5, Dezembro 2004
N.º 6, Abril 2005
N.º 7, Junho 2005
N.º 8 - Abril 2006
N.º 9 - Agosto 2006
N.º 10 - Novembro 2006
N.º 11 - Abril 2007
para imprimir este texto
© Instituto Camões, 2003