Dicionário de Tradutores e Intérpretes de Língua Portuguesa
Damião de Góis
(1502 - 1574)


   Natural de Alenquer, onde nasceu em 1502, Damião de Góis é um dos humanistas portugueses de maior renome. A sua vida e a sua obra têm sido alvos do interesse de numerosos estudiosos e investigadores, que realçam em Góis sobretudo o humanista, mas não deixam de referir o musicógrafo ou o diplomata. Não é tarefa fácil, por conseguinte, idealizar um verbete que corresponda ao prestígio da figura e aos trabalhos da investigação já realizada e conhecida.
    Até há pouco tempo, pensava-se que Damião de Góis havia publicado apenas uma obra traduzida – Livro de Marco Túlio Cícero chamado Catão Maior ou da Velhice dedicado a Tito Pompónio Ático –, em Veneza, no ano de 1538. Mas, em 2001, o Professor T. F. Earle, da Universidade de Oxford, anunciava ter encontrado na Codrington Library de All Souls College, em Oxford, encadernada juntamente com a obra atrás mencionada, uma outra, intitulada Eclesiastes de Salomão, com algumas anotações necessárias, e também ela publicada em Veneza, no mesmo ano e pelo mesmo editor. Uma e outra podem ser lidas em edições fac-símile recentes. A primeira foi publicada em 2003 pela Biblioteca Nacional, acompanhada de um estudo a cargo de João José Alves Dias; a segunda, em 2002, pela Fundação Calouste Gulbenkian, com um profundo estudo de T. F. Earle.
    A viver no estrangeiro de 1523 a 1545 enquanto escrivão da feitoria de Antuérpia, cargo para o qual fora nomeado pelo rei D. João III, Damião de Góis pode contactar e conviver com muitos dos intelectuais do seu tempo, dos quais devem destacar-se os nomes de Lutero e Erasmo, também eles tradutores ilustres. A lição de Erasmo parece ter sido seguida por Góis, ao elaborar as suas traduções, a quem faz referência na Dedicatória inserida no Livro de Marco Túlio Cícero chamado Catão Maior ou da Velhice, para além das menções, que devem assinalar-se, ao próprio Cícero e a S.
Jerónimo (tradutor da Vulgata):

Nem deixarei de recitar o que daquele prudentíssimo e gravíssimo Erasmo Roterdano, neste nosso áureo e doutíssimo século Príncipe de toda doutrina e eloquência, sobre este negócio algumas vezes, juntamente com outras muitas santíssimas confabulações (por espaço de cinco meses que com ele em Friburgo de Brisgoia pousei) entre nós passadas ouvi. Afirmava não ter achado no estudo cousa mais árdua que trasladar, nem digna de mor louvor, fazendo-se bem, nem pelo contrário de mor repreensão. Que cousa, dizia, pode ser de mor glória que amostrar aos latinos, em sua própria língua, a elegância e prudência gregas e aos gregos a latina? E assim das outras linguagens. Nem que cousa mais abominável que o caluniar das línguas, declarando-as sem o sabor, doçura e doutrina que nelas há?


    De regresso a Portugal em 1845, Góis ocupara os cargos de Guarda-mor da Torre do Tombo e de Cronista-mor do reino. Data de 1566 a publicação da sua Crónica do felicíssimo rei D. Manuel, fonte preciosa para o investigador que procura a relação dos línguas do reinado do Venturoso.
   A Inquisição há-de atormentar os últimos anos da vida do tradutor. Espera-se a edição crítica do seu Processo, já anunciada.


Fonte: Francisco Leite de Faria, Estudos Bibliográficos sobre Damião de Góis e a sua Época, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura, 1977;

ACTAS do Colóquio – Pedro Nunes e Damião de Góis, Dois Rostos do Humanismo Português – Lisboa, Guimarães Editores, 2002;

ACTAS do Congresso Internacional – Damião de Góis na Europa do Renascimento - Braga, Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, 2003

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| Número 3 | Dezembro 2003 |
Editorial
Artigo
As notas de rodapé na obra traduzida
Dicionário
Gaspar, língua de Sofala
Damião de Góis
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Dolores Vilavedra
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