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Quanto ao termo língua, ele é dominante em toda a época da Expansão e Descobrimentos Portugueses. O termo refere não só o intérprete, com competências comunicativas através do uso de duas ou mais línguas, mas também aquele que fornece aos portugueses informações sobre a geografia, gentes, costumes e riquezas das zonas descobertas. Em numerosos casos, o processo de descoberta não poderá dar-se por concluído sem essas informações.
O termo língua tomou o lugar do termo turgimão na escrita dos cronistas. Se Azurara, na obra já mencionada, narra as viagens de descobrimento realizadas até ao reinado de D. Afonso V, utilizando, como constatámos, o termo turgimão, os cronistas dos reinados seguintes utilizarão o termo língua, o que quer dizer que o termo se implantou ainda antes do século XVI ter o seu início. Rui de Pina utiliza o termo na sua Crónica de D. João II na descrição que faz da viagem ao Congo levada a cabo no reinado do Príncipe Perfeito (D. João II 1481-1495).
Para além das obras de Rui de Pina e de Garcia de Resende, todos os cronistas do século XVI utilizarão o termo. João de Barros, que na sua Década Primeira narra as viagens que foram também objecto da pena de Azurara, coloca o termo língua onde Azurara colocara o termo turgimão. Barros utiliza a língua em uso no seu tempo para descrever os acontecimentos de um tempo que não viveu. Veja-se a descrição da viagem de Valarte a Cabo Verde, realizada em 1447, descrita pelos dois cronistas. O Infante (D. Henrique) (...) mandou logo armar uma caravela, o mais cumpridamente que se pode fazer, dizendo que se fosse a Cabo Verde, e que vissem se poderiam haver segurança do rei daquela terra, porquanto lhe fora dito que é mui grande senhor, mandando-lhe suas cartas (...).
Não podemos, como se compreende, continuar a referir as numerosíssimas fontes de estudo do século XVI que mencionam o termo língua. O termo língua está presente na escrita do século XVI sempre que se trata de assinalar a presença do sujeito que realiza o acto interpretativo em determinado acontecimento, efectuado quer de forma esporádica, quer por determinação de um cargo de que se recebera a incumbência tendo em vista uma missão concreta, quer por dever de um ofício de intérprete, existente nas repartições públicas das cidades, fortalezas e possessões conquistadas e mantidas pelos portugueses.
Não será despropositado lembrar que o leque das línguas nas quais a interpretação tinha que realizar-se sofreu as alterações necessárias de modo a acompanhar o trajecto da Expansão. Ao Árabe, provavelmente a principal língua de trabalho do turgimão, para além do Português, juntaram-se as línguas africanas e as línguas do Oriente. Os línguas competentes no Árabe eram indispensáveis na parte oriental da África, na costa do Malabar, em Goa e em Malaca, mas cedo encontramos línguas competentes nas línguas autóctones, que não necessitam de utilizar a língua franca (o Árabe) e que contribuem assim para a implantação da nova língua franca o Português. O termo língua é ainda utilizado pelos relatos das viagens à China e ao Japão e pelas cartas e relatórios dos homens que se dedicaram à missionação, tanto em terras do Oriente, como nas terras do Brasil, além de continuarmos a encontrá-lo nos documentos de Chancelaria dos reis que governaram durante o século XVI. Datados dos meados do século passado (XX), encontramos textos legislativos de Macau que ainda utilizam o termo língua.
Carlos Castilho Pais
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| Número 1 | Maio 2002 | Artigo . Nomear o Intérprete - Turgimão - Língua - Jurabaça Dicionário de tradutores e intérpretes de Língua Portuguesa . João Garrido . João Rodrigues de Sá Citação . Susan Bassnett Notícias . Associação de Informação Terminológica - AiT . Revista Discursos - série "Estudos de Tradução" . Lexicografia de Língua Portuguesa . Cimeira Mundial sobre Terminologia Ligações a outros sítios . Algumas ligações úteis Coordenadores Carlos Castilho Pais Margarita Correia Números publicados N.º 1 - Maio 2002 N.º 2 - Fevereiro 2003 N.º 3 - Dezembro 2003 N.º 4 - Maio 2004 N.º 5 - Dezembro 2004 N.º 6 - Abril 2005 N.º 7 - Junho 2005 N.º 8 - Abril 2006 N.º 9 - Agosto 2006 N.º 10 - Novembro 2006 N.º 11 - Abril 2007 |
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