Adolfo Coelho
Alexandre Herculano
Almeida Garrett
Antero de Quental
António Nobre
Basílio Teles
Eça de Queirós
Gomes Leal
Jaime Batalha Reis
Lopes de Mendonça
Moniz Barreto
Oliveira Martins
Pinheiro Chagas
Rafael Bordalo Pinheiro
Rebello da Silva
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Adérito Sedas Nunes
Adolfo Casais Monteiro
Agostinho da Silva
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António Gedeão
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Bernardo Marques
Borges de Macedo
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Fernando Gil
Fernando Lopes-Graça
Fernando Pessoa
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Jorge Peixinho
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José Cardoso Pires
José Gomes Ferreira
José Rodrigues Miguéis
Leonardo Coimbra
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Luís Albuquerque
Luís de Freitas Branco
Manuel Antunes
Manuel Viegas Guerreiro
Maria Archer
Maria de Lourdes Belchior
Maria Lamas
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Mário Eloy
Mário Sottomayor Cardia
Miguel Torga
Orlando Ribeiro
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Raul Brandão
Raul Proença
Sílvio Lima
Sophia de Mello Breyner Andresen
Teixeira de Pascoaes
Vergílio Ferreira
Viana da Mota
Vieira da Silva
Vieira de Almeida
Vitorino Magalhães Godinho

por Carlos Leone
Basílio Teles

Basílio Teles (Porto, 1856 – Porto, 1923)

Poder-se-ia dizer que se comemoram este ano os 150 anos do nascimento de Basílio Teles, um dos pensadores mais originais e considerados do final do século XIX e início do século XX em Portugal. Contudo, tal seria uma grosseira sobrestimação das actividades que ocorreram em 2006, e sem surpresa, pois Basílio Teles há muito é um autor quase esquecido. Com efeito, os estudos sobre a sua Obra sempre foram raros e muito desiguais, e em 2006 o mais relevante que se fez (a não foi pouco, atendendo ao panorama) foi um colóquio na Universidade Católica do Porto (em Dezembro) e a publicação num só volume (também surgido em Dezembro) dos seus ensaios filosóficos (Ensaios Filosóficos, com prefácio de António Braz Teixeira). A sua actividade política constante e a diversidade da sua Obra poderiam fazer esperar uma maior atenção sobre pensador, mas o grau de elaboração dos seus textos provavelmente intimidam estudiosos, apesar da sua escrita ser verdadeiramente palpitante.

Se a posteridade regista sobretudo o filósofo (cf. “TELES (Basílio)”  na Logos, v. Referências), o facto é que o seu trabalho dividiu-se entre essa faceta, os assuntos económicos, a actividade de publicista muito crítico da I República e a actividade política intensa. Depois de estudos incompletos, primeiro na Academia Politécnica do Porto e, depois, na Escola Médico-Cirúrgica também na sua cidade, dedicou-se ao ensino não universitário enquanto desenvolvia actividade política intensa e relevante no Partido Republicano. Chegou mesmo a ter de se exilar na sequência do seu envolvimento na tentativa falhada de implantação da República, lançada no Porto, de 31 de Janeiro de 1891. O momento central deste percurso perfaz mesmo o título de uma obra que publicará mais tarde, Do Ultimatum ao 31 de Janeiro (1905), título sintomático de um sentir republicano altamente patriótico e de extrema exigência que rapidamente o tornará um dos críticos mais severos da experiência republicana de 1910 a 1926 (a morte em 1923 poupou-o a ver o termo ditatorial desta, que não o surpreenderia, decerto). Lendo-o os seus artigos na Imprensa desses anos será possível, até fácil, esquecer o quanto aquelas críticas eram motivadas pela imensa esperança num futuro melhor sob a República, procurado logo em 1891 apesar de todas as dificuldades. E, ainda que não alcançada, nunca relativizada ou reduzida ao “portugalório” que ele tão ostensivamente desprezava.

Da sua Obra, refira-se O Problema Agrícola, de 1899, Estudos Históricos e Económicos, de 1901, Introdução ao Problema do Trabalho Nacional, de 1902, e, já a título póstumo, as suas Memórias Políticas (1969, com longo ensaio introdutório do editor literário, Costa Dias) e os estudos resgatados ao esquecimento a que o próprio autor os tinha votado em vida por sua mulher e publicados em 1961 sob o título Figuras Portuguesas: como escreve, na Nota Prévia, Amorim de Carvalho, “sem pretender a erudita exaustão biográfica e histórica das figuras tratadas (Pedro Álvares Cabral, Vasco da Gama, Francisco de Almeida e Fernão de Magalhães), Basílio Teles procurou fixar-lhes apenas a fisionomia moral até onde elas se ergueram – se puderam erguer-se – acima do homem vulgar; e, no quadro epocal em que as quatro figuras se movimentaram, até onde se ergueram, valorizando-se humanamente, acima do que Basílio Teles considerou com que o acume paroxístico dum mercantilismo desnacionalizador, que teve como resultado a perda da independência em 1580. São tratadas pela ordem de tal valorização, culminando esta em Fernão de Magalhães.” Registe-se o interesse sério em Magalhães, durante tanto tempo, e ainda à época em que Teles escrevia, desamado pela sua pretensa traição. Mas aqui não será o local adequado para explorar a leitura da História Política e Económica de Portugal elaborada por Basílio Teles, para o que seria necessário integrá-la numa tradição de debate que remonta, pelo menos, a Herculano.

É todavia forçoso mencionar a complexidade da sua reflexão filosófica, também ela filiada em percursos anteriores (sobretudo o de Sampaio Bruno). A sua filosofia organiza-se em torno de dois grandes temas, a metafísica do mal e a teoria da ciência. Na primeira, dialogando com Antero de Quental, rejeita a concepção de uma evolução do Universo em sentido moral e reduz a realidade à imanência, dando a transcendência por incognoscível. E por motivos racionais, de resto bem próximos da sua personalidade, é levado ao ateísmo, negando a possibilidade de Deus existir e permitir o mal. Desta linha de argumentação ética (aqui apenas indicada, como é evidente), Teles partiu para uma argumentação epistemológica complementar que, de certo modo, substitui a ciência à religião. Não se trata de Positivismo, na medida em que mantém um idealismo filosófico que distingue a Filosofia, enquanto síntese de saberes, dos conhecimentos científicos especializados. Assim, as noções científicas de Espaço, Matéria e Energia  ganhariam o seu sentido último na noção, esta já filosófica, de Universo. Em rigor, é possível afirmar que o seu pensamento é em última análise cosmológico. Embora alguns dos seus estudiosos, como Luís Salgado de Matos, lhe denunciem escassas leituras, o facto é que a sua cosmologia e o seu significado ateísta são dos sistemas filosóficos mais consistentes alguma vez elaborados em Portugal, atraindo a atenção de investigadores até hoje.



Referências:

Braz Teixeira, A., “TELES (Basílio)” in VVAA, Logos - Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Editorial Verbo, Lisboa, São Paulo, 1989, vol. 5 (50-2). (Texto revisto e ampliado enquanto prefácio a Basílio Teles, Ensaios Filosóficos, INCM, Lisboa, 2006.)

Costa Leite, M., e Gaugeon, “No limiar da relatividade”, Análise, 11, Lisboa, 1989.

Salgado de Matos, Luís, “Basílio Teles”, O Tempo e o Modo, 36, 1996.


© Instituto Camões, 2007