Adolfo Coelho
Alexandre Herculano
Almeida Garrett
Antero de Quental
António Nobre
Basílio Teles
Eça de Queirós
Gomes Leal
Jaime Batalha Reis
Lopes de Mendonça
Moniz Barreto
Oliveira Martins
Pinheiro Chagas
Rafael Bordalo Pinheiro
Rebello da Silva
Teófilo Braga
Abel Salazar
Adérito Sedas Nunes
Adolfo Casais Monteiro
Agostinho da Silva
Alexandre O'Neill
António Gedeão
Aquilino Ribeiro
Augusto Abelaira
Bento de Jesus Caraça
Bernardo Marques
Borges de Macedo
Carlos Ramos
David Mourão-Ferreira
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Fernando Gil
Fernando Lopes-Graça
Fernando Pessoa
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Florbela Espanca
Guilhermina Suggia
Helena Vaz da Silva
Hernâni Cidade
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Jaime Cortesão
João Gaspar Simões
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Jorge Peixinho
José Augusto Seabra
José Cardoso Pires
José Gomes Ferreira
José Rodrigues Miguéis
Leonardo Coimbra
Lindley Cintra
Luís Albuquerque
Luís de Freitas Branco
Manuel Antunes
Manuel Viegas Guerreiro
Maria Archer
Maria de Lourdes Belchior
Maria Lamas
Mário Botas
Mário Eloy
Mário Sottomayor Cardia
Miguel Torga
Orlando Ribeiro
Paulo Quintela
Raul Brandão
Raul Proença
Sílvio Lima
Sophia de Mello Breyner Andresen
Teixeira de Pascoaes
Vergílio Ferreira
Viana da Mota
Vieira da Silva
Vieira de Almeida
Vitorino Magalhães Godinho

por Carlos Leone
Borges de Macedo

Jorge Borges de Macedo (Lisboa, 1921 - Lisboa, 1996)

A figura cultural de Jorge Borges de Macedo tem uma influência em Portugal que ultrapassa em muito a sua área académica por excelência, a História. Com efeito, é mesmo legítimo dizer que, tal como Vieira de Almeida excedeu a Filosofia e deixou marca em História e nas Ciências Sociais em geral, também Borges de Macedo exerceu um magistério com influência em numerosos cientistas sociais e filósofos de hoje, para além dos historiadores. Tal influência deveu-se a: capacidade argumentativa, em particular filosófica, invulgar; percurso político problemático, «da Esquerda para a Direita»; extraordinária capacidade de trabalho, sempre com originalidade.

Fazendo parte de uma geração de historiadores decisiva no aggiornamento teórico e metodológico da historiografia portuguesa contemporânea, Borges de Macedo pertenceu ao «Grupo de Lisboa» (Oliveira Marques, cf. Referências bibliográficas) que, no final dos anos 1940 e início da década seguinte incluía também, entre outros, Vitorino Magalhães Godinho (com quem colaborou na tradução e divulgação das correntes então inovadoras da historiografia europeia) e Joel Serrão (tendo contribuído com vários ensaios, sobre temas de relevo, para o Dicionário de História de Portugal). O seu primeiro trabalho de fundo, A situação económica no tempo de Pombal (1951), marca o tom das suas obras iniciais, que se destacam pelos avanços que representam para a historiografia portuguesa contemporânea na área da História Económica, e que culminam com Problemas de História da Indústria em Portugal no Século XVIII (1963). Durante este período, a formação marxista (que mais tarde o próprio qualificaria como «hegeliana») transparece quer em conceitos quer em interpretações, sem esquecer ocasionais actividades extra-universitárias, como a participação (discreta) na chamada «polémica interna do neo-realismo» nas páginas da revista Vértice dos anos 1950 (na sequência de várias intervenções anteriores na imprensa «progressista» do anos 1940). Mas rapidamente a sua carreira académica intensa o afasta das polémicas políticas do tempo e, em 1969, obtém a posição de catedrático da Faculdade de Letras, sendo igualmente seu director. Inequivocamente próximo do regime de Caetano, em 1974 é afastado compulsivamente da Faculdade, à qual regressará apenas em 1980. A sua ligação à Universidade Católica Portuguesa data desta época. Estes sobressaltos deveram-se tanto ao período histórico como ao temor que suscitava junto de alunos, embora mesmo entre estes os seus maiores críticos lhe reconhecessem uma capacidade intelectual fora do comum. O mesmo se verificará quando, após a sua aposentação por limite de idade, exerce o cargo de Director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (desde 1990 até 1996, morrendo em funções), no qual foi particularmente controverso o regime de acesso de investigadores aos documentos da PIDE/DGS.

Além da História Económica, também a Teoria da História, a História Política e Diplomática, e aspectos literários da História da Cultura foram objecto de trabalhos seus, que, desde a década de 1960, mas sobretudo a partir da década de 1970, são publicados cada vez mais na forma de prefácios, artigos, conferências, etc. Estes textos, apesar da sua curta extensão, quase sempre são extremamente originais, muito bem documentados e proporcionam ao leitor um ponto de vista original sobre temas em que, aparentemente, nada mais haveria a dizer. Para dar apenas um exemplo, que nos é particularmente caro pois o tema há muito que não conhece desenvolvimentos significativos, a conferência de 1974 «Estrangeirados: um conceito a rever». Nela encontramos uma crítica muito veemente à tradição historiográfica filiada em Sérgio, dirigida explicitamente ao artigo «Estrangeirados» incluído no Dicionário de História de Portugal e dando, por um lado, um manancial de informação documental, biográfica e bibliográfica habitualmente esquecida e, por outro, indicações metodológicas concretas (termo privilegiado por Borges de Macedo) quanto ao correcto procedimento historiográfico (por oposição ao polemismo sergiano) a empregar na sua análise. Tal como sucede noutros textos seus, Borges de Macedo exprime aqui não apenas, e diríamos mesmo nem sequer fundamentalmente, uma oposição a correntes dominantes na historiografia do seu tempo (o que também faz, e com interesse) mas vai mais longe e expõe a sua concepção de História – algo que, em Portugal, talvez só Vitorino Magalhães Godinho elabora com igual mestria. Mesmo para aqueles que têm das ciências sociais e humanas um concepção anti-teórica, algo comum em Portugal, esta dimensão filosófica da sua Obra não pode deixar de impressionar pela positiva, quer pelo rigor posto em fundamentá-la, quer pela capacidade polémica da sua escrita tensa, densa e marcada por um estilo austero mas em nada datado.

Todos estes elementos conheceram alguma notoriedade pública quando, após décadas de prestígio intelectual na Universidade, a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia e a normalização do regime suscitaram em diversas instituições (como o Instituto de Defesa Nacional) e nos meios de comunicação social a procura da sua análise e opinião sobre questões internacionais. Nesta última fase, destaque para História Diplomática Portuguesa: constantes e linhas de força (1987) e Portugal-Europa: para além da circunstância (1988).

Como é quase inevitável em Portugal, e apesar dos cargos de relevo que ocupou toda a sua vida, a originalidade de Jorge Borges de Macedo impediu que se formasse em torno da sua vasta e diversificada Obra uma «Escola» ou um conjunto de seguidores. Não obstante, como afirmámos no início, o facto de a sua actividade ser tão intensa e variada, e ter decorrido numa época em que a História e a Filosofia ainda estavam reunidas na Universidade e as Ciências Sociais ainda estarem a emergir, bem como, ainda, a sua ideologia ter mudado ao longo da vida de forma nítida, em muito contribuíram para que seja dos investigadores mais influentes da vida universitária portuguesa, que continua a recorrer muito ao seu trabalho.


Referências bibliográficas:

Barata, Maria do Rosário Themudo, Elogio do Professor Doutor Jorge Borges de Macedo (1921-1996), Academia Portuguesa de História/Colibri, Lisboa, 2004. [inclui bibliografia de JBM e ainda textos de Humberto Baquero Moreno e Joaquim Veríssimo Serrão].

Marques, A. H. Oliveira, org., Antologia da historiografia portuguesa, Publ. Europa-América, Lisboa, 1974 (2ª ed.).

Mendonça, Manuela, Jorge Borges de Macedo: itinerário de uma vida pública, cultural e científica, Colibri, Lisboa, 1991.

Serrão, Joaquim Veríssimo, dir., Estudos em Homenagem a Jorge Borges de Macedo, INIC, Lisboa, 1992.


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