Nasceu no Montijo, onde iniciou os estudos de piano com sua tia Judite Rosado. Estudou Composição no Conservatório Nacional, em Lisboa, com Artur Santos (1948-1954) e Jorge Croner de Vasconcellos (1954-1956). Terminou em 1958 o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional, onde trabalhou com Fernando Laires, tendo também frequentado brevemente a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Como bolseiro da Fundação Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Composição em Roma entre 1959 e 1961 com Boris Porena e Goffredo Petrassi, adoptando então o cromatismo integral e o atonalismo serial como base para a assimilação de novas técnicas criativas. Na Holanda, em 1960, familiarizou-se com as possibilidades oferecidas pelos estúdios de música electrónica. Trabalhou ainda com Luigi Nono em Veneza e com Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen em Basileia, tendo frequentado, na década de1960, os cursos internacionais de composição de Darmstadt, onde participou em obras colectivas orientadas por Stockhausen.
Em Lisboa, Peixinho divulgou, com grande escândalo, a música de John Cage (1961, 1964); dirigiu cursos de música contemporânea em colaboração com Louis Saguer e Pierre Mariettan (1962-1964): desdobrou-se como pianista, crítico musical, conferencista e ensaísta; e participou ainda em estrepitosos "happenings" multi-media (1965, 1967). Em 1970, fundou o influente Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que dirigiu até à sua morte, tendo-se apresentado com ele em diversos países da Europa e da América do Sul; o GMCL abriu uma janela sobre a criação contemporânea internacional e permitiu que nomes como Constança Capdeville e Emmanuel Nunes, entre outros, se fizessem ouvir.
Na obra de Peixinho, a crescente influência de Stockhausen é detectável a partir de 1963, culminando na acentuada componente aleatória de "Eurídice Re-amada" (1968). De 1969 em diante, a música de Peixinho ganhou um lirismo particular, facilmente reconhecível, baseado no entretecer de citações, na distensão temporal e no refinamento tímbrico. No início dos anos oitenta, o compositor passou a privilegiar a falsa citação e a auto-citação e a explorar universos sonoros estilisticamente "impuros", que testemunham a influência pontual da sensibilidade pós-moderna, com a qual teve uma relação ambígua. A sua influência foi grande no meio nacional; compositores como Clotilde Rosa, Paulo Brandão ou Isabel Soveral devem-lhe um impulso decisivo para a sua evolução artística.
BIBLIOGRAFIA SELECCIONADA
1) De Jorge Peixinho:
"Música e Notação" (separata de Poesia Experimental-2, Lisboa: Cadernos de Hoje, 1966)
«Canto de amor e de morte. Introdução a um ensaio de interpretação morfológica» in III Ciclo de Cultura Musical: Fernando Lopes-Graça. Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa/ Agência da J.M.P., 1966.
"Música sem fantástico ou música arte-fantástica?", in O Fantástico na Arte Contemporânea, Lisboa: Gulbenkian, 1992, pp. 219-22
«Lopes-Graça: nova luz sobre uma figura ímpar da cultura portuguesa» in Uma homenagem a Fernando Lopes-Graça, Matosinhos, Edições Afrontamento/Câmara Municipal de Matosinhos, 1995, pp. 6-15
2) Sobre Jorge Peixinho:
Mário Vieira de Carvalho, Estes sons, esta linguagem, Lisboa: Estampa, 1978
Sérgio Azevedo, A invenção dos sons. Uma panorâmica da composição em Portugal, hoje, Lisboa: Caminho, 1998
José Machado (coord.), Jorge Peixinho in memoriam, Lisboa: Caminho, 2002
Manuel Pedro Ferreira (coord.), Dez compositores portugueses do século XX, Lisboa: Dom Quixote, 2006
Cristina Teixeira, Música, Estética e Sociedade nos escritos de Jorge Peixinho, Lisboa: Colibri, 2006
DISCOGRAFIA DA OBRA DE PEIXINHO
Música I (Cinco pequenas peças, Collage I, Estudo I, Harmónicos, Sucessões Simétricas I). Jorge Peixinho e Filipe de Sousa, pianos. LP: Tecla, 1972 (reed. CD: Jorsom, 1994)
CDE,. Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, dir. Jorge Peixinho. LP: Sassetti, 1974 (reed. CD: Strauss, 1995)
Elegia a Amílcar Cabral, música electrónica. LP: Sassetti, 1978 (reed. CD: Strauss-PortugalSom, 1997)
As Quatro Estações. Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, dir. Carlos Franco. LP: Sassetti, 1982 (reed. CD: PortugalSom, 1991)
Music of Portugal, series of 20 LPs, 2nd subset of 5, LPs 4106, 4109 (inclui Sucessões Simétricas I, Episódios). Fernando Laires, piano; Manhattan String Quartet. Educo (USA), [1984]
Koellreutter (inclui Greetings für Koellreutter), Grupo Juntos Música Nova. LP: Fundação Nacional de Arte/ Memória Musical Brasileira, 1985.
Música Portuguesa Contemporânea Obras para guitarra (inclui L'Oiseau-Lyre). José Lopes e Silva. LP: PortugalSom, 1985 (reed. CD, 1995)
Daniel Kientzy (inclui Sax-Blue). Daniel Kientzy, saxofone. LP: Poly, 1988.
Jorge Peixinho: Sobreposições, Políptico 1960, Sucessões Simétricas II, As Quatro Estações. Orquestra Sinfónica de Budapeste/ GMCL. CD: PortugalSom, 1991.
Música Portuguesa Contemporânea Obras para clarinete (inclui O novo canto da Sibila). António Saiote, clarinete. CD Strauss-PortugalSom, 1995.
Jorge Peixinho: Concerto para saxofone alto e orquestra, Sax-blue, Passage intérieur, Fantasia-Impromptu. Daniel Kientzy, saxofones /Filarmonica Transilvania et al., CD: Nova Musica, 1996
Música Portuguesa Séc. XX (inclui À flor das águas verdes e Nocturno no Cabo do Mundo), Grupo de Música Vocal Contemporânea, dir. Mário Mateus /Jorge Peixinho, Francisco Monteiro e Jaime Mota, pianos, CD duplo: Numérica, 1996
Lov (inclui Lov II). Trio Lov. CD: AM&M, 2002
Jorge Peixinho Música para piano. Miguel Borges Coelho, piano. CD duplo: Numérica, 2005